Com isso, via inseminação artificial, um casal de lésbicas poderia procriar. Imagine agora se metade das lésbicas optasse por esse método para ter filhos. Ou melhor, filhas: homens têm um par de cromossomos XY e mulheres, XX; a união de dois gametas femininos só pode resultar no nascimento de uma fêmea.
Fizemos as contas para você: em apenas 350 anos, já haveria um desequilíbrio significativo, com dois terços das pessoas no mundo sendo mulheres. “Com o aumento da população feminina, podemos ter o relacionamento entre mulheres como uma regra social mais tranqüila. Cresceria, talvez, o número de lésbicas”, especula Débora Diniz, professora de bioética da UnB.
Para tudo isso fazer sentido, a fertilização in vitro precisa ser uma realidade acessível. Isso já começou a acontecer em alguns lugares. “No Brasil, o tratamento ainda precisa ser pago pelos pacientes, mas na França, por exemplo, ele é coberto pelos planos de saúde”, diz o médico Roger Abdelmassih, dono de uma clínica de inseminação artificial que pesquisa a criação de espermatozóides a partir de células-tronco.
Na Inglaterra, onde 1 em cada 100 crianças nasce de inseminação artificial, a procura de casais de lésbicas por esse método cresce mais rapidamente que entre heterossexuais. “É uma procura que os médicos não calculavam acontecer”, afirma a socióloga Martha Ramirez, pesquisadora de Novas Tecnologias Reprodutivas da Universidade Estadual de Londrina, Paraná.
Com o desequilíbrio populacional e uma maioria heterossexual, os homens sobrando iriam se dar bem. “Especulando de novo, a poligamia seria necessária. Talvez a população tivesse que apelar a esse tipo de estratégia”, diz Martha
A superioridade numérica das mulheres significaria também uma humanidade mais sadia, pelo menos no que diz respeito a doenças hereditárias cuja manifestação está relacionada ao cromossomo Y. “Haveria uma redução de doenças graves num primeiro momento, como daltonismo, distrofia muscular ou hemofilia tipo A. Mulheres podem ser portadoras, mas não têm essas doenças”, explica a professora de genética Maria Rita Passos-Bueno, da USP.
Do ponto de vista sociológico, é provável que postos de liderança começassem a ser ocupados por mulheres, refletindo a nova composição populacional. Isso significaria, para começar, governos menos autoritários e belicosos. “Pesquisas apontam que as mulheres gostam mais da colaboração e do consenso do que os homens. Elas têm grande disposição para prevenir e parar conflitos por serem motivadas a proteger os filhos”, afirma a ativista americana Marie Wilson, autora de Closing the Leadership Gap: Add Women, Change Everything (“Acabando com a Diferença na Liderança: Adicione Mulheres, Mude Tudo”, sem tradução para o português).
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