agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

quinta-feira, maio 21, 2009

Re Construção da Imagem para futuras 'exposições'

Relato (´rio) 21 de maio de 2009
Hoje coloquei-me a trabalhar sobre a roupa de minha boneca. Estava germinando este labor há um tempo e desde os últimos apontamentos entrei num processo de busca de materiais como também de um novo olhar sobre a figura feminina que construo diante dos transeuntes. Mantive a maior parte dos elementos que já utilizava, retirei uns e somei outros. Assumi a imagem 'mulher dona de casa santificada', o martírio que leva à redenção. A tortura diária que leva à santificação, assim como ocorrera à Bárbara, santa católica cuja história alimenta minha pesquisa desde seu início. Mas, a roupa não está mais aplicada a meu corpo e sim duplicada através de um cabide em forma de corpo tronco feminino. Dependurado pelos meus dentes a imagem conserva a agressividade do trabalho. Uma imagem composta de pedaços de panos, um resgate dos retalhos de seda longamente utilizados na pesquisa em 2008. A roupa como armadura, como aquilo que se encaixa por sobre o corpo e nos conforma. Agora me falta colocá-la na rua e expô-la.




segunda-feira, maio 18, 2009

Trecho em obras



Praça 7. 16 de maio, às 11 horas da manhã
Mais uma vez empreendemos a investigação do experimento Baby dolls, uma exposição de bonecas. Uma ação em processo de pesquisa: uma provocação havia sido lançada, por Clóvis, em nossa última avaliação do trabalho. Que força ganhará a ação se, primeiro, instaurarmos a exposição de bonecas, permitindo um maior diálogo com o público transeunte para, num segundo momento, quebrar a primeira imagem com o desfile dos corpos mortos no chão?
Havíamos observado, a partir das colocações de um espectador crítico – Davi Pantuzza – que o tapete único, realizado na última interferência feita, no dia 25 de abril, ao causar uma impressão de fixidez, de imagem estática, de quadro, não atendia à imagem contida na proposta inicial, a qual deveria “configurar um único acontecimento: a exposição. Como se fossem nichos, prateleiras ou vitrines[1]”. Queríamos que as pessoas circulassem entre as bonecas, que tivessem liberdade e interesse em interagir com elas. A partir daí, foi possível perceber que, no lugar do tapete de Erica servir como nicho para as três, deveríamos pensar em nichos individuais e, mais, que estes deveriam refletir as bonecas que estariam neles expostas. Erica, assumindo totalmente a direção de arte do trabalho, propôs também uma maior definição visual das bonecas: para Joyce, vinil na roupa e tapete de pelúcia rosa. Para Lica, construir a roupa de noiva a partir de plásticos de embalagem, os quais deveriam, também, constituir o material para seu tapete.
“É teatro? Propaganda? Protesto?”
“Ela está vendendo o quê?” “Que isso que vocês estão fazendo?”
“Hoje em dia qualquer coisa é arte!”
Arte? Teatro? Performance? Teatro Performativo? Teatro pós-dramático?
As artes contemporâneas da cena têm buscado formas que extrapolam o cânone daquilo que, até o século XX, era conhecido por teatro. Ou, por outra, que do século XVI ao século XX, foi conhecido como teatro e que, na maior parte das vezes, se confunde com a noção de drama e de texto escrito, de obra literária. Quais os paradigmas contemporâneos que permitem mensurar se determinado experimento ou obra é arte? Ou se é teatro? Aliás, pós-cinema e pós-televisão – suportes que, em geral, elegem o modelo dramático como visão de mundo – qual seria a especificidade dessa arte presente e imediata? Qual seria o seu valor?
Sábado, 16 de maio. 11 horas da manhã. Praça Sete. O prédio do PSIU, sintomaticamente ele em obras também, estava coberto de tapumes cor de rosa. Bom augúrio.
Primeiro descemos Lissandra, eu e Erica. Já neste momento, a noiva – linda em seu vestido de plástico de proteger geladeira, branco, ela Branca de Neve – causa impacto. Ela sai pela esquerda: dará voltas na Praça, antes de instalar seu tapete/caixa/casa.
Erica começa a montagem do seu tapete de revistas e brinquedos de menina: brincar de casinha. Ela sugere: “escolha também imagens que você ache que o texto interessa. Pode também escolher pela palavra”. Ali, a escolher imagens para o seu tapete, percebo mais um canal de colaboração: como a criação vai engendrando formas coletivas para o trabalho. Essa textura, tecida a oito mãos, se enriquece a cada dia. A oito mãos, eu disse? Como esquecer as colaborações dos olhares espectadores que nos acompanham? Clóvis, sempre presente e perspicaz, hoje (infelizmente, infelizmente!) não estava aqui para ver o fruto de sua provocação.
Pois neste sábado, dia 16, as mulheres transeuntes brincaram de casinha e de bonecas. Ah, a menina, que encantada com a boneca obscênica Joyce, talvez tenha desejado levá-la para casa... Transeuntes, posaram com a noiva, secretamente a invejá-la, ela, a mulher mais feliz do mundo. Como posaram também os homens que, pais ou noivos, secretamente a desejavam: bela noiva de transparências e calcinhas vermelhas.
Neste sábado 16, uma síntese aconteceu: a ação, mais concentrada e direta, causou espécie (como diriam os literatos). Os escritos a giz ganharam uma relação imediata com cada um desses nichos/bonecas e puderam estabelecer redes de sentido entre um e outro. A partir da boneca de giz de uma, mulher morta no chão, construir significâncias para a outra. De bonecas a mulheres mortas. Samy, 20 anos, loirinha e sapeca como você gosta. Da noiva mais feliz do mundo à dona-de-casa, mulher de cama e mesa. Agradar. Sorrir. Seduzir. Brincar de bonecas. Domesticadas pela TV, sonhamos ser loiras e brancas. Silicone. Botox. Lipoaspiração. A mulher mais amada e desejada do mundo. Corpos blindados para um inventário de tarefas inúteis. Segurar. Casar. Servir sempre para servir melhor. Casar. Casar. Casar. Brincar de casinha. Amar. Apanhar. Perdoar. Esquecer. Não mais ser. Morrer. Ser morta. Destruída. Espancada. Estuprada. Excomungada.
Barbies quebradas. Prontas para o consumo imediato.

Nina Caetano.

[1] Email de 06/10/2008, no qual lancei a proposta de se fazer uma exposição de bonecas.

'Baby Dolls - uma exposição de bonecas'


Relato (´rio) Obscênico, sobre o trabalho de sábado, 16 de maio na Praça 7

Eram oito e meia da manhã e Joyce bate no portão de minha casa. Eu já ansiosa, o dia era especial, pois colocaríamos em prática diversos apontamentos feitos desde a última ‘exposição’. Em especial sentia-me feliz e excitada porque minhas propostas e ‘figurino e adereços’ seria experimentada pelas bonecas de Joyce e Lica. É estranho utilizar os termos figurino e adereço neste trabalho, mas por hora serão estes. Chegamos à casa de Lica e começamos a organizar o trabalho e demais necessidades, discutimos sobre a divisão do espaço a ser ocupado, nesta exposição escolhemos a parte da Praça 7 em frente ao Posto Psiu e para nossa alegria este está em obras e cercado de um tapume rosa! Ajeitei meus objetos no carrinho de feira que ganhei de Nina, que maravilha cabe tudo! Dou os últimos retoques na roupa de Joyce, ajudo Lica a montar a noiva e saímos. Devido ao tempo que gasto para montar o tapete, combinamos de eu e Nina iniciarmos a ação, Joyce e Lica viriam após um certo tempo. A participação de Nina na escolha das páginas de revista foi fundamental. A atenção que ela dá aos textos somou a minha composição e o tapete ficou mais conciso em sua mensagem. Decidi não trabalhar mais com a frase ‘destrua esta imagem’ por perceber que ela não trazia as mulheres para perto e sim as afastava do meu trabalho, logo, como meu desejo é alcançar o interesse feminino preciso ativar, aguçar sua curiosidade para minha exposição. Para tanto propus a Nina que trabalhasse em outra perspectiva, uma vez que ela é a mulher das palavras, convidando as mulheres a brincar de casinha, algo que eu já havia feito e que percebi ser mais potente a realização dos meus desejos.
Trabalhei frente ao tapume, equilibrei meu espaço entre um poste e duas latas de lixo. Dividi minha ação nas seguintes etapas:
1) Chegada e seleção do espaço para montar o tapete;
2) Busca de água para molhar as páginas de revista;
3) Seleção das páginas e início da composição;
4) Vesti o vestido, montar o tapete já com uma ‘roupa feminina’;
5) Seleção de uma frase para responder às perguntas dos transeuntes sobre o que se dava: _ estou montando um tapete.
6) Após a montagem inicio a construção da casinha. O primeiro a ser colocado é o castelinho, sempre à frente do tapete. Os cômodos foram ordenados da seguinte maneira: área de lazer, onde se encontram os bonecos; sala de estar; copa; cozinha; área gourmet.
7) Visto as outras duas peças de roupa, me coloco atrás do tapete, visto a calcinha no rosto, seguro o buque de flores, vassourinha e rodinho e me exponho ao público.
A reação foi de fato totalmente diferente. Percebi que as mulheres não se irritavam ao me ver e sim paravam para observar o que se passava. Admiravam a casinha, os objetos, comentavam entre si, mas ainda não se sentiam confortáveis para intervir nos objetos.
Destas vez nós trabalhamos em acordo com uma proposta feita por Clóvis, primeiro montamos cada nicho das bonecas, estabelecemos a exposição e depois começamos a fazer as mulheres mortas, esta ação de fato tornou o trabalho mais claro. Ao me deitar senti forte o cheiro da cidade, o rastro das pessoas que passavam por mim. Fiquei um bom tempo deitada, Nina estava ocupada com outras escritas e isto foi fundamental para meu trabalho. Minha escuta da cidade se ampliou e percebi diversas características. A calcinha sobre meus olhos, por exemplo, me possibilita uma relação velada com as pessoas ao redor,um mascaramento, elas não se sentem coagidas com meus olhares e eu fico mais livre para observar o que se passa. Este elemento cria também uma imagem santificada, remete aos orixás com seus olhos encobertos, aquele que tudo vê sem ser visto, esta é uma relação que desejo aprofundar. Uma vez que a visão fica velada o corpo se abre para outras escutas. Desta vez estive muito mais sensível e flexível. Retirei do meu trabalho a postura agressiva que até então empreendia e percebi que isto faz com que as pessoas, principalmente as mulheres se aproximassem mais. Na segunda vez que me deitei uma senhora se aproximou, ela pensou que eu passava mal. Perguntou, mas nada respondi, ela saiu, mas voltou e me balançou, notei que ela andava com a ajuda de uma muleta, não vi seu rosto, somente senti seu toque o que trouxe para mim uma sensação enorme de conforto naquela posição em que estava, com o rosto colado no chão sujo e fedido da praça sentindo o movimento das pessoas à minha volta e principalmente a reverberação do trânsito e o tremor do chão. As outras mulheres que estavam em volta explicaram para a senhora que aquilo era uma apresentação e que eu não estava passando mal, senão elas mesmas já teriam me socorrido. A senhora se acalmou e saiu. Eu permaneci imóvel. Senti a cidade de maneira tão forte que todas vezes ao me levantar das mortas meu corpo estava remexido, fiquei meio trôpega, o chão me sugou e me cuspiu de volta, senti-me mais presente e integrante daquela arquitetura urbana. Num dado momento eu, Lica e Joyce fomos para o ponto central entre nossas instalações, nos deitamos e Nina pôs-se a nos desenhar. Ali configurou-se a exposição, um risco de três corpos que compõem a imagem do trabalho. As frases de Nina explicitando o teor de nossas inquietações, certamente fomos mais concisas.
Percebo que necessito criar dispositivos mais eficazes para trazer as mulheres para dentro do tapete. Nesta exposição somente uma se atreveu a brincar com os objetos. O que será que a fez vir? As frases convidativas? A minha ausência, uma vez que estava deitada quando ela se pôs a brincar? Ainda não tenho certezas, mas creio que a alteração da minha energia foi crucial à reação desta mulher, logo preciso de mais atrativos, meu especo precisa ser convidativo! Para o próximo trabalho apostarei no aumento dos objetos da casinha, quero entupir o tapete com miniaturas de eletrodomésticos. Quem sabe assim eu consiga a atenção e ação das mulheres?

TRANSAR MESMO SEM VONTADE

SÁBADO. 11 HORAS DA MANHÃ. OS TRANSEUNTES PASSAM PELA PRAÇA SETE. INTERMINÁVEIS. INCONTÁVEIS. A PRAÇA É UM ELO DE LIGAÇÃO CENTRAL. UM EIXO QUE CONECTA AS PESSOAS APRESSADAS. LICA, NINA, ERICA E JOYCE ESTÃO PRONTAS. CADA UMA EM SUA POSIÇÃO, TRIANGULANDO E FAZENDO DAR SENTIDO AO OLHAR INTEGRAL DA INTERVENÇÃO.
VEJO A BONECA COR DE ROSA DE JOYCE, ELA QUE TRAZ UMA EMPATIA MAIOR COM AS CRIANÇAS. NA ESCRITA DA INSTALAÇÃO DA ERICA HÁ: "BRINCAMOS DE CASINHA", MAS QUEM BRINCA É JOYCE, BRINCA DE BONECA, BRINCA DE SER LOIRA, BRINCA DE SER REVISTA DE MODA, BRINCA DE SER FELIZ. BRINCAR E FINGIR... PARECE UM SINÔNIMO TÃO PROFÍCUO NESTE LUGAR: BRINCAMOS DE FINGIR O TEMPO TODO NA LUTA DE UMA AUTO IMAGEM QUE NUNCA PODE SER DESTRUÍDA PELO TEMPO, DEVEMOS NOS PREOCUPAR COM O QUE O OUTRO PENSA. A RELAÇÃO É ESPECULAR: O ETERNO AZUL E ROSA QUE ABRE O ABISMO DESDE A INFÂNCIA ENTRE O QUE É SER MENINO E O QUE É SER MENINA. A BONECA DE JOYCE É LOIRA, FASHION, METALIZADA, MAQUIADA, DESEMPENHANDO UM PAPEL ADQUIRIDO PELAS BONECAS BARBIES: "CADA SEGUNDO UMA BONECA BARBIE É VENDIDA NO MUNDO...", ESTA CONEXÃO ENTRE A INFÂNCIA E A DOCILIDADE ESPERADA DE UMA MULHER, ASSIM COMO A FEMINILIDADE ESTÃO EXPOSTAS NA NOIVA DE LICA: "ALGUÉM MAIS FELIZ QUE EU"? NÃO HÁ, SEM DÚVIDA, POIS UMA NOIVA VAI ADQUIRIR O QUE FOI PROGRAMADA PARA SER: A DONA DE CASA QUE AMA E PERDOA, SILENCIOSA. A NOIVA ESTAVA COM UM COPO NA BOCA, COMO TODAS AS NOIVAS DEVEM SER: LINDAS, SERENAS E SILENCIOSAS: MONALISA SORRI , MAS SERÁ QUE ELA É FELIZ?
VEJO OS OBJETOS DE LICA NO CHÃO, EM UMA SOLUÇÃO HOMOGÊNEA E HIGIÊNICA, COMO TODA A NOIVA DEVE SER. SINTO FALTA DAS EMBALAGENS TEREM SIM NOMES: OMO DUPLA AÇÃO, CONFORT,ETC. SEI QUE FOI PENSADO NA PROPOSTA CONTRA A PROPAGANDA, TALVEZ PARA NÃO CONFUNDIR O TRANSEUNTE COM SE FOSEE ALGO ASSOCIADO AO COMERCIAL, MAS AS PROPAGANDAS FAZEM PARTE DE UMA DITADURA SEDUTORA PARA A MULHER, PARA A CASADA.
AS PROPAGANDAS NOS INVADEM COM SEUS CÓDIGOS DE BARRA.
SINTO FALTA TAMBÉM DE PRESENTES ACABADOS DE GANHAR, DADOS A UMA NOIVA: TALVEZ DENTRO DE UMA CAIXA DE PRESENTE SEMI ABERTO DEVE HAVER PANELAS, PANOS DE PRATO, ELETRODOMÉSTICOS, ACHO QUE FICA MAIS CLARA A RELAÇÃO DE MULHER E LAR: COM SE FOSSE ASSOCIADO DEFINITIVAMENTE O LAR- A MULHER: A CASA SER O AUTO RETRATO DA MULHER, NO SEU RG APARECE AO INVÉS DE SUA FOTO, O SEU LAR. PRESENTES SEMI GANHADOS SÃO IMPORTANTES PARA ESTA CONSTRUÇÃO, PRESENTES DE CASAMENTO.
A ESCRITA DE NINA É, SEM DÚVIDA ALGUMA, O QUE DÁ SENTIDO ÀQUILO TUDO, É O QUE DEIXA CLARO AS INTENÇÕES DO AGRUPAMENTO, É O TECIDO CONJUNTIVO DESTE CORPO.
A ESCRITA DE NINA NÃO ILUSTRA A IMAGEM, MAS A COMPLEMENTA, FINALIZA, UNE AS TRÊS OBRAS EM CONSTRUÇÃO.
A CÂMERA FILMADORA, AO MEU VER, DEIXOU CLARA A SITUAÇÃO REPRESENTACIONAL, POIS AS PESSOAS JÁ LIGAVAM DIRETAMENTE A CÂMERA À INTERVENÇÃO, E ESTA FICA FAZENDO PARTE TAMBÉM DA OBRA, NÃO CONSIGO DEFINIR SE ISTO, TÃO INTRINSECAMENTE, É INTERESSANTE OU NÃO.
A BONECADA ERICA, ESTRATIFICADA, EM UM CORPO COM CERTEZA MENOS REPRESENTACIONAL QUE AS OUTRAS BONECAS, APENAS UM CORPO MUDO, CALADO, COMO SE FOSSE ACOPLADO AOS OUTROS OBJETOS, PARECE QUE AS REVISTAS DE BELEZA NO CHÃO, AS BONECAS E SUAS CASINHAS SÃO A ERICA, TODOS SÃO COISAS, A ERICA TAMBÉM ESTÁ COISIFICADA, CAUSANDO UM ESTRANHAMENTO IMEDIATO, A CALCINHA NO ROSTO: SERÁ QUE OS HOMENS QUANDO OBSERVAM AS MULHERES SÓ VÊEM A SUA XOXOTA? ENTÃO NO LUGAR DO ROSTO A CALCINHA ESTÁ MELHOR... PARA QUE VER O ROSTO SE SÓ QUEREM VER CALCINHAS E XOXOTAS?
SINTO FALTA, NO ENTANTO DO FIGURINO COMPOSTO, NÃO VEJO UMA NOÇÃO CLARA DE BONECA EM ERICA, MESMO SENDO UMA BONECA DONA DO LAR, CALADA, ACHO QUE A COMPOSIÇAÕ DO FIGURINO FICA PRÓXIMO DEMAIS A ELA, DESTOA DAS OUTRAS BONECAS, FICA SEM UM ELO COGNITIVO, ACREDITO QUE SUA RELAÇÃO COM O FIGURINO DEVE SER MELHOR PENSADA, SENDO UMA BONECA DE PANO, RASGADA, MAS AINDA ASSIM UMA BONECA.
ACREDITO NA GRANDE TRANSFORMAÇÃO QUE SÁBADO NOS DEU. UMA FORÇA EM PLENO CORAÇÃO DA CIDADE, QUE DEIXOU IMAGENS A SEREM REFLETIDAS, E FRASES PARA NUNCA SEREM DESPREZADAS: A QUE EU LEVO PARA CASA É A "TRANSAR, MESMO QUE SEM VONTADE", ELA MARTELA EM MEUS PENSAMENTOS TORTOS.

quarta-feira, maio 13, 2009

"Construindo a Noiva"

A NOIVA


Ontem, 12 de maio, no mês das Noivas, eu e Lica colocamo-nos a produzir o seu vestido. Outrora este era composto por peças de outras roupas, agora ele é único e multiforme. Sem agulha e linha, sem tesoura ou botões, nós compomos sua veste cerimonial apenas com materiais de embalagens: plástico bolha - tapete; plásticos de embalagem - vestido e calda. A tiara não será esta. E a Noiva está pronta!



É crucial em nosso trabalho criar um estado colaborativo. Aprender a colaborar numa sociedade do consumo e da ordem. Compreender as necessidades do outro sem esquecer as suas. Fazê-las comungarem para assim criar um terceiro desejo: a criação de algo em comum e neste poder reconhecer a realização de um trabalho à tantas mãos forem necessárias.

Obrigada Bonecas Obscênicas! Tenho aprendido deveras com todas!

quinta-feira, maio 07, 2009

terça-feira, maio 05, 2009

Trajetórias

Relato (´rio) Obscênico – Fevereiro a Maio de 2009
O ano começou e Erica já em sua nova vida – operária. Sim. Operária do fazer teatral. Ela, aos cinco dias do mês de janeiro já estava a produzir, organizar, despachar, orçar e ‘planilhar’ todas as informações, cotações e disposições referentes aos projetos que é responsável no trabalho ‘seu de cada dia!’ Sente-se útil, mas a quem? Sente-se produzindo, mas para quem? Sim. É necessário não perder o tino. Isto não é uma reclamação e sim uma constatação. É uma mulher que precisa se manter e se manter significa ganhar dinheiro para entregá-lo a quem se deve, mesmo que devamos a quem nem sabemos quem é...
Os trabalhos do OBSCENA só começam em fevereiro e ela já se inquieta. Percebe que está lendo pouco, percebe que o tempo é cada dia mais escasso e as exigências são e serão maiores. É necessário progredir. 2008 fora um ano forte, de muita luta e muitos conflitos, mas e 2009? Ela está bem diferente. Envelheceu. Amadureceu. Perdeu e ganhou. Iludiu-se e voltou ao seu equilíbrio precário. Mas, quem é essa mulher que se apresenta em 2009? Quem é você Erica neste novo ano? Ela não sabe. Sua construção contínua continua. Há frutos já a se colher da pesquisa empreitada em 2008, observações pertinentes e proveitosas, mas ela se inquieta.
Os encontros recomeçam. Já há dificuldade no dia de encontro, ela decide fazer um curso técnico, Design de Interiores, é para trabalhar com cenografia, as ‘questões plásticas’ estão no seu foco deste novo ano. Estas já se faziam presentes em 2008 e agora tudo está mais claro em torno deste desejo. A imagem, ou melhor, a fabricação da imagem! É nisto que Erica quer investir. Ela cada dia mais se distancia da interpretação/atuação. Ela quer liberdade de expressão e não virtuosismo das formas. Sua saúde não anda nada bem. Erica sente-se fraca em fevereiro, isto a faz resguardar-se. Jura que não quer mais colocar seu corpo a serviço dos trabalhos até então desenvolvidos, mas os demais companheiros a questionam: _mas como você vai fazer o ‘mercado da buceta’ sem se instalar nele? Ela fica agressiva e ajeita jeitos desajeitados de reformular o que não tem como, não neste caso. Isto ela comprova no trabalho junto ao ARENA. No mês de Março o OBSCENA fez uma troca com os alunos dos projetos ARENA DA CULTURA/PBH, do qual Lissandra foi professora. Ao montar o ‘mercado da buceta’ Erica não resiste e se coloca na instalação, para sua alegria e alívio dos companheiros de trabalho. Seu medo passou. Sua força estava ali o tempo todo. Ela ama este trabalho, mas uma fraqueza diante da vida e dos seus intempéries a fizeram crer, momentaneamente, que não havia mais o que fazer no OBSCENA... BOBAGENS!
A relação que os alunos do ARENA tiveram com a frase/comando: ‘Destrua Esta Imagem’ foi imediata. Uma mulher adentrou o tapete e com os pés derrubou o castelo e os cômodos da casinha, as outras a seguiram. Uma pegou a vassoura, rodo e pá e entregou aos homens para que ajudassem na tarefa. Enfim, após mudanças e mudanças... o resultado foi a reconstrução da primeira imagem com pequenas modificações, umas muito mais fixadoras do lugar da mulher na sociedade patriarcal capitalista do que transformadoras desta. Infelizmente estamos mais castradas do que parecemos. Infelizmente estamos mais fixadas do que desejamos. Infelizmente Artaud tinha e tem razão, ‘a cultura determina nossos mínimos atos’. Logo, parafraseando Nina, não é possível explicar é necessário agir. Somente a ação em seqüência nos faz ter maior entendimento da própria ação. É necessário fazer, fazer e fazer. Só assim concretizamos o que está introjetado em nós e o observamos de fora. As discussões após os trabalhos foram extremamente frutíferas. Creio que todos saímos de lá t(r)ocados.Os trabalhos do OBSCENA têm sido discutir as pesquisas realizadas em 2008. Os artigos resultantes destas. Erica envergonha-se de não ter escrito um. Ela está em divida consigo mesma, sim, é assim que se sente. Clóvis, pesquisador Obscênico, teceu uma monografia acerca do trabalho que Erica desenvolveu. Ao lê-lo ela pode perceber a trajetória construída, mesmo que de forma instintiva houve um crescente lógico entre a opção pelo mito de Santa Bárbara como ponto propulsor e as demais proposições de ocupação, instalação e abandonos. Até a chegada ao ‘mercado da buceta’ no qual ela exibe uma imagem da mulher domesticada e dócil, à mercê da ação alheia e totalmente moldável. É assim que ela vê as mulheres, de geração a geração a história só troca de protagonista, enquanto vivemos na era do botox, silicone e lipos nossas antepassadas estavam à mercê dos espartilhos...
Alguns integrantes saíram este ano, Fernando e Didi. Mas, João está firme. Somos 9.
As bonecas prosseguem. Dia 25 de abril foi dia delas se exporem na Praça 7. Incrível como as mulheres se indignam. Os homens param, olham, cobiçam, lêem, mas elas ficam nervosas. Passam. Riem nervosamente. Reclamam. Ignoram. Enfim, um misto de reconhecimento e repulsa. As meninas nos são caras. Elas sempre estão de rosa, assim como nossa exposição. É possível flagrar uma e outra com caixas da Barbie, estampas da Barbie, acessórios da Barbie. Tudo é Barbie. A mulher deve ser tão bonita, legal e transada quanto a Barbie, assim a vida muito mais rosa, não acham?




Após este trabalho Erica percebeu que é necessário trazer as mulheres transeuntes para dentro da sua exposição, seu nicho. Recuperar uma ação proposta em 2008, na qual ela convidou as mulheres do público para brincar de casinha pode trazer para sua ação mais efetividade do que a proposta do ‘mercado da buceta’ com a frase/comando: ‘Destrua Esta Imagem’. É necessário colocar as mulheres para repetir as ações inúteis do dia-a-dia e verificar se a partir disto se gera um pensamento crítico sobre as mesmas. A simples ação de brincar com os objetos em miniatura e cor-de-rosa pode trazê-las para um estado mais conectado consigo mesmas e assim a percepção da cultura patriarcal capitalista impregnada em seus corpos. Não há o desejo de se criar um fórum após a brincadeira para discutir seus valores e sim gerar nas mulheres algo que a princípio não se note, mas que silenciosamente se instale um incômodo e que este prossiga deteriorando imagens estáticas. Este é o desejo de Erica.