agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

quarta-feira, maio 17, 2017

Carta Lambe- isso de repente é arte?

Belo Horizonte, 25 de abril de 2017.

Caro (a)

“A VIDA É A ARTE DO ENCONTRO”.

Desde 2011 realizamos a ação artística “Irmãos Lambe-lambe” nas ruas e praças de Belo Horizonte e encontramos com diferentes pessoas. Encontros sempre especiais porque repletos de afeto, alegria, memória e gestos de proximidade.

Encontro com uma cidade possível e que nos confirma a força do HUMANO!



A cidade somos NÓS!!! Nós construímos cotidianamente a cidade que desejamos viver!
Encontrar com desconhecidos e partilhar com eles um pouco de suas histórias de vida e fatos cotidianos e ainda registrá-los numa fotografia é sempre um momento especial e significativo quando vivemos tão apressados e pouco dispostos a conversar, a se arriscar a conhecer pessoas estranhas, a desacelerar...

ISSO DE REPENTE É ARTE?

Juntamente com o SESC PALLADIUM (em sua programação cultural desse mês) buscamos unir arte e cotidiano, vida e estética, corpo e coletividade. Uma arte que de repente nos traga surpresas e bons encontros! A arte como possibilidade de se considerar os outros como sujeitos fundamentais para uma cidade de fato comum, humanizada, de todos e para todos!

São esses encontros que nos revelam que é possível viver numa cidade que se procura em cada um de nós!

ISSO DE REPENTE É ARTE?
SIM! SE FIZERMOS A NOSSA PARTE!!!!

Obrigado pelo lindo encontro que tivemos e que está registrado nessa fotografia que te enviamos!

Abraços,


Irmãos Lambe-lambe (obsCENA- agrupamento de pesquisa cênica).

sexta-feira, maio 12, 2017

Nova carta "Irmãos Lambe-lambe" - despedida Casa de Passagem (GRUTA)

Belo Horizonte, 15 de abril de 2017.

Caro(a)

No canto do passeio
tinha uma cadeira.
Tinha uma cadeira
e um quadro
no canto do passeio.
No meio da cadeira
tinha um espaço vazio
à espera de uma PRESENÇA!
No meio do passeio

Tinha um grupo de pessoas
e uma cidade em movimento!
No meio da cidade
tinha uma rua com passeio, cadeira, quadro e gente:
eu, você, elas, eles, NÓS!



No meio da cidade
tinha um ENCONTRO
que poderia acontecer ou não
em meio ao inesperado!
No meio de uma tarde
tinha tanta coisa em volta
Mas nos encontramos
NO CENTRO DA VIDA!
Recebe agora essa fotografia
e relembra a ALEGRIA desse dia!


IRMÃOS LAMBE-LAMBE (OBSCENA- agrupamento de pesquisa cênica)

quarta-feira, maio 03, 2017

Quem tem medo da arte do desconcerto?

Quem tem medo da arte do desconcerto?


“Arte Contemporânea é a experiência do desconcerto: estamos confrontados com a dispersão dos locais de cultura, diversidade de obras apresentadas em seu número sempre crescente, o número crescente de artigos e revistas influenciados por críticos de arte e o público está no mínimo desconcertado” (CAUQUELIN, 2010).


Experiência do desconcerto e do risco. Assim vejo a participação do Obscena na programação do mês de abril do Sesc Palladium. Mais diferente do que afirma Anne Cauquelin, a parceria de uma importante instituição com um agrupamento de artistas independentes se efetuou numa poética da subversão. Explico: quem viveu mais intensamente o desconcerto dessa vez foi a arte. Ela, os artistas e locais de cultura foram questionados pelas pessoas comuns, da rua, e nessa operação de crise e intenso contato, acredito que todos saíram ganhando. 

A produção de cafés-conversas na rua mostrou que quando arte deixa de ser assunto de especialistas e se torna interesse comum, sua função social se expande consideravelmente. O Sesc Palladium se ampliou para a rua e a polifonia e diversidade urbanas ecoaram no prédio da instituição. Nesse jogo entre dentro e fora:  uma política dos Encontros. Mas foi necessário que instituição, artistas e transeuntes se abrissem à experiência do risco e do desconcerto. Dos conflitos, mais do que confrontos. Dos dissensos, mais do que acordos. Não eram aulas públicas sobre arte, eram debates nos quais perguntas eram mais importantes que respostas, posições e certezas eram colocadas em xeque e mais: todos podiam se expressar livremente.

Imagem de Marúzia Moraes


Como manter durante quatro encontros abertos a vibração dessas conversas e a criação de espaços nos quais diferentes saberes pudessem se cruzar? Como não cair no perigo de se “palestrar para os leigos” ou então não se banalizar o fazer artístico? Como de fato tornar pública uma conversa quase sempre restrita aos “iniciados”? Uma espacialidade horizontal e uma mesa de café posta no passeio de fato garantiriam a circulação da palavra e o desconcerto dos conceitos e preconceitos de todos os presentes? Então tudo poderia acontecer. Toda e qualquer pessoa poderia se integrar ao evento. Todos os ruídos da cidade poderiam compor. Não havia porta, grade, parede, segurança. Havia uma reunião de cidadãos interessados e gente que parava, escutava, tomava café, ia embora. HAVIA UM DESEJO DE SE ENCONTRAR E CONVERSAR! Havia um corpo coletivo. Havia uma ética do encontro. 


Quando a arte se aceita porosa aos questionamentos, críticas e dúvidas de todos, acredito que gestos de proximidade são instaurados. Isso certamente revigora o fazer artístico, o coloca mais perto da vida social. Arte desconcertada como bem comum. Artistas já “falam” através de suas obras e mesmo em debates com o público continuam mantenedores do discurso, falando mais do que escutando.

Comecei esse texto com uma citação de uma renomada crítica de arte e o termino com a fala de Gildete, frequentadora assídua de nossos cafés e importante debatedora, uma mulher do povo:

“Bem que eu desconfiava que saberia conversar sobre arte”.

Então fica a questão: “quem tem medo da arte contemporânea” ou: “que arte tem medo do desconcerto que pode ser criado pelo cidadão comum”?