agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

domingo, outubro 25, 2015

isso foi só um fragmento, um AVIVAMENTO com a cidade

Fragmentos precários de uma experiência obscena – notas sobre corpo, cidade e tatuagens


4 dias de oficina, muitas horas de trabalho, milhões de instantes de percepção, diferentes ações na cidade, algumas imagens, pequenas descobertas, bons encontros, deslocamentos poéticos, perdas e esquecimentos e a seguir uma série de fragmentos daquilo que se produziu, se afirmou, se provocou, se criou, enfim: invenções tecidas pela generosidade dos agenciamentos coletivos:


Imagem de Paulo Maffei


- Arte na cidade: seus mal-entendidos ou bem vividos? Arte, manifestação, propaganda, loucura, vadiagem ou macumba?

- Na rua: sem curadoria, sem edital, sem galeria, sem placa-sinal. Efemeridade, sem especialidade.

- Dissenso, distende, desatende o mercado. Desobediente.

- Arte “entre”: pode entrar, pode tocar, pode falar, pode xingar, pode criar. “Arte-pode” e“arte-bode”.

- A intervenção urbana e sua arqueologia: artes visuais. A intervenção urbana e sua corpografia: artes corporais. A intervenção urbana e sua nomadologia: artes dissensuais.

- Caminhada performática: cidade vulnerável que me vulnerabiliza. Criar outros tempos e inaugurar espacialidades impensáveis.

- A cidade tatuada em seus restos abandonados no chão.

- Trabalhos de amarração. Sessão de descarrego. LaiCÚ -  grita um pedaço ateu da cidade.

- Azulejo morto é um bem precioso.

- Essa oficina está muito apolínea? Falta o deus Acaso?

- Deixei que a cidade me penetrasse.

- Um bueiro: um berreiro de nomes encontrados e vozes abafadas.

- Abraçar postes, prédios e arquitetura duras, sujas e frias da cidade. A rigidez das formas e eu louca aderindo aos corpos de pedra. Puro contraste. Louco viver. Eu era uma amante dos espaços.

- Às vezes a cidade engole a gente. Outras a gente morde um pedacinho dela. Uma relação nunca pronta. Todo dia uma tentativa de conquista e possibilidade de encontro.

- Incrível nossa capacidade de transformar um espaço numa casa construída com detalhes.

- Os moradores de rua têm muitos cachorros. Os cachorros cuidam de muitos moradores na rua.

- Como se relacionar com esses outros que já praticam a cidade? O artista não é um iluminado e não tem nada a ensinar aos outros.

- MUVUCA: centro da cidade. Con-fusão, mistura, muita gente.

- Uma placa subjetiva com mais um discurso a ocupar a paisagem urbana.

- Enquanto houver amor eles estarão fadados. Enquanto houver amor eles estarão fardados.

- DIA DA CRIANÇA INFELIZ!

- Como viver sem sentir dor. Como morrer sem sentir dor. Pergunte-me COMO! Fala que eu te escuto. Garantia absoluta.

- Como deter a velocidade das pessoas na cidade?

- Não toque sem permissão, não tem preço!

- Se você der respostas sobre as ações na cidade as pessoas te descartam mais rapidamente?

- A cidade como lugar de todo mundo e não de alguém.

- As cores gritam na cidade, mas ninguém as vê.

- Você é o trânsito com teu carro e mais quatro lugares vazios dentro dele. Todos engarrafados.

- Arte como desvio.

- Como sobreviver à invenção dessa oficina?

- “Todo mundo agora tem um carro” – reclama a classe média ressentida.

-  Vaca não é verde, é preta e branca.

- Nossos encontros no obscena também são feitos de muitas conversas.

- Hoje vivemos a ditadura da alegria.

- Existe gentileza urbana?

- “Ria para o palhaço” – ordena a mãe para seu filho doente.

- Até que ponto aceitamos a intervenção da cidade sobre nós?

- RUA: sempre um encontro acidentado, de risco, não previsto.

- Como desocupar a cidade e criar espaços de respiro?

- Como abrir espaços e não impor obras artísticas no corpo da cidade?

- “Olha aqui minhas tatuagens”- um desconhecido estirando sua pele.

-  Piquenique debaixo do viaduto, debaixo do céu azul que ilumina a cidade. Partilhar espaços, comidas, leituras e afetos. Outra forma de ocupar a cidade.

- Tão bom poder se sentar e se deitar no chão da cidade e não sentir medo.

- Tatuagens ou “atuagens” na cidade?

- Não é um decalque, é só um traçado de rena pronto para ser lambido pelo calor do espaço aberto.

- Um pique, um piquenic, um pique, uma picada no tempo objetivo e veloz que mercantiliza nossas existências.

- a gente se esbarra por aí na cidade que não (des)cansa...

- por uma política da amizade na cidade, não da familiaridade!

- isso foi só um fragmento, um momento, um acordamento, um AVIVAMENTO com a cidade.


sexta-feira, outubro 16, 2015

sigamos, amores, obscenos!
nosso fora
nosso ar
cena do corpo pelo avesso
que não para de funcionar.


segunda-feira, outubro 12, 2015

Corpos que se encontram

Fragmentos e imagens da oficina Tatuagens Urbanas- inscrições no corpo da cidade


Diferente de uma vida segregada, a vida compartilhada é uma espécie de saúde coletiva.




Da cidade vulnerável à minha vulnerabilidade na cidade.


 Imagens de Matheus Silva

sexta-feira, outubro 02, 2015

Tatuagens obscenas e primeiros rabiscos para uma experiência

Sobre essas tatuagens:

Considerar a cidade um CORPO: extenso, poroso, espaço para ser percorrido, tocado, acariciado e perfurado. Delicadas cicatrizes. Cidade: corpo repleto de tatuagens. Superfície-pele habitada por marcas, relevos, linhas, formas, grafias, cores, parte alta, parte baixa, parte erógena.

Considerar as coreografias dos passantes, seus gestos e ações, suas corporalidades, suas movimentações - rabiscos provisórios a criar diferentes camadas, velocidades e lentidões, pausas, danças automatizadas, pequenos desvios.

Considerar ações, intervenções, composições, ocupações artísticas como desenhos que tatuam PRESENÇAS, conflitos, afetos, memórias, estranhamentos nesse corpo. Tatuagens móveis e poéticas a riscar o corpo urbano e inscrever o pequeno, o sutil, o incerto, o desconhecido e o obsceno.

Imagem de  Tiago Franco

Considerar a cidade com suas cidades: a pública, a privada, a comum, a revelada, a disfarçada, a maquiada, a mapeada, a rejeitada. Tem sempre algo tatuado nessa carne. Tatuagens obscenas por ainda se fazerem atos humanos, instauração de encontros, criação de furos e fendas na parte dura desse corpo. Mas não sangra. O que escorre é sempre vida, potência, alegria, pequenas gotas e leves respiros.

Considerar essas tatuagens como tentativas de desorganizar esse organismo que se chama cidade. Numa intenCIDADE, poetiCIDADE, multipliCIDADE de pequenas ações alimentadas por utopias. Fazer amor com a cidade? Levar seu corpo a suar frio, gozar quente, gemer baixinho. 

Considerar o embate que se trava entre o orgástico e o orgânico: tecer desvios, resistências, "perder tempo para ganhar espaço", tentativa de tornar esse corpo mais vibrátil, vulnerabilizar esse corpo em sua parte adoecida para que o poder estabelecido dance novas paisagens. Desproteger certezas, caminhar mais tranquilo, subverter os discursos de medo e os imperativos do consumo, criar uma cidade lúdica e possível, ainda que momentaneamente.

Considerar esse corpo da cidade como um corpo sujo e se sujar com ela e nela. Ações para se tatuar e depois apagar. Possibilitar o comum, o singular, a fresta, a festa, o sensível em meio ao invisível. Não impor nada. Mas com-por, dispor, despudorar. Perder espaço para ganhar presença. 

Considerar e recuperar essa ideia de tatuagem como algo marginal: inscrições nos corpos dos navegadores, viajantes e piratas. Sinais de uma vida outra  que corre paralela ao cotidiano ordinário. Há uma pirataria submersa nesse mar aparentemente controlado. Trazer nossos navios para o espaço. São de papel, fragilidade pura, não para conquistar espaço, mas para colorir e tentar criar heterotopias.

Considerar esse corpo-cidade sempre por se fazer. E nessas ações poéticas somos o lado perdedor. Perder autoria para dialogar com as pessoas e espaços. Perder o lugar de artistas para nos vulnerabilizarmos como cidadãos. Cantar para a cidade "quero ficar no teu corpo feito tatuagem, prá te dar coragem quando a noite vem..." E com medo sempre reiniciamos!