Fragmentos
precários de uma experiência obscena – notas sobre corpo, cidade e tatuagens
4 dias de oficina, muitas
horas de trabalho, milhões de instantes de percepção, diferentes ações na
cidade, algumas imagens, pequenas descobertas, bons encontros, deslocamentos
poéticos, perdas e esquecimentos e a seguir uma série de fragmentos daquilo que se produziu, se afirmou, se
provocou, se criou, enfim: invenções tecidas pela generosidade dos
agenciamentos coletivos:
Imagem de Paulo Maffei
- Arte na cidade: seus
mal-entendidos ou bem vividos? Arte, manifestação, propaganda, loucura, vadiagem
ou macumba?
- Na rua: sem curadoria,
sem edital, sem galeria, sem placa-sinal. Efemeridade, sem especialidade.
- Dissenso, distende,
desatende o mercado. Desobediente.
- Arte “entre”: pode
entrar, pode tocar, pode falar, pode xingar, pode criar. “Arte-pode” e“arte-bode”.
- A intervenção urbana e
sua arqueologia: artes visuais. A intervenção urbana e sua corpografia: artes
corporais. A intervenção urbana e sua nomadologia: artes dissensuais.
- Caminhada performática:
cidade vulnerável que me vulnerabiliza. Criar outros tempos e inaugurar
espacialidades impensáveis.
- A cidade tatuada em
seus restos abandonados no chão.
- Trabalhos de amarração.
Sessão de descarrego. LaiCÚ - grita um
pedaço ateu da cidade.
- Azulejo morto é um bem
precioso.
- Essa oficina está muito
apolínea? Falta o deus Acaso?
- Deixei que a cidade me
penetrasse.
- Um bueiro: um berreiro
de nomes encontrados e vozes abafadas.
- Abraçar postes, prédios
e arquitetura duras, sujas e frias da cidade. A rigidez das formas e eu louca
aderindo aos corpos de pedra. Puro contraste. Louco viver. Eu era uma amante
dos espaços.
- Às vezes a cidade
engole a gente. Outras a gente morde um pedacinho dela. Uma relação nunca
pronta. Todo dia uma tentativa de conquista e possibilidade de encontro.
- Incrível nossa
capacidade de transformar um espaço numa casa construída com detalhes.
- Os moradores de rua têm
muitos cachorros. Os cachorros cuidam de muitos moradores na rua.
- Como se relacionar com
esses outros que já praticam a cidade? O artista não é um iluminado e não tem
nada a ensinar aos outros.
- MUVUCA: centro da cidade.
Con-fusão, mistura, muita gente.
- Uma placa subjetiva com
mais um discurso a ocupar a paisagem urbana.
- Enquanto houver amor
eles estarão fadados. Enquanto houver amor eles estarão fardados.
- DIA DA CRIANÇA INFELIZ!
- Como viver sem sentir
dor. Como morrer sem sentir dor. Pergunte-me COMO! Fala que eu te escuto.
Garantia absoluta.
- Como deter a velocidade
das pessoas na cidade?
- Não toque sem
permissão, não tem preço!
- Se você der respostas
sobre as ações na cidade as pessoas te descartam mais rapidamente?
- A cidade como lugar de
todo mundo e não de alguém.
- As cores gritam na cidade, mas ninguém as vê.
- Você é o trânsito com
teu carro e mais quatro lugares vazios dentro dele. Todos engarrafados.
- Arte como desvio.
- Como sobreviver à
invenção dessa oficina?
- “Todo mundo agora tem
um carro” – reclama a classe média ressentida.
- Vaca não é verde, é preta e branca.
- Nossos encontros no
obscena também são feitos de muitas conversas.
- Hoje vivemos a ditadura
da alegria.
- Existe gentileza
urbana?
- “Ria para o palhaço” –
ordena a mãe para seu filho doente.
- Até que ponto aceitamos
a intervenção da cidade sobre nós?
- RUA: sempre um encontro
acidentado, de risco, não previsto.
- Como desocupar a cidade
e criar espaços de respiro?
- Como abrir espaços e
não impor obras artísticas no corpo da cidade?
- “Olha aqui minhas
tatuagens”- um desconhecido estirando sua pele.
- Piquenique debaixo do viaduto, debaixo do céu
azul que ilumina a cidade. Partilhar espaços, comidas, leituras e afetos. Outra
forma de ocupar a cidade.
- Tão bom poder se sentar
e se deitar no chão da cidade e não sentir medo.
- Tatuagens ou “atuagens”
na cidade?
- Não é um decalque, é só
um traçado de rena pronto para ser lambido pelo calor do espaço aberto.
- Um pique, um piquenic,
um pique, uma picada no tempo objetivo e veloz que mercantiliza nossas
existências.
- a gente se esbarra por
aí na cidade que não (des)cansa...
- por uma política da amizade
na cidade, não da familiaridade!
- isso foi só um fragmento,
um momento, um acordamento, um AVIVAMENTO com a cidade.