agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

segunda-feira, abril 21, 2008

Cronos


Cronos era um deus da mitologia pré-helênica que foi incluído, posteriormente, á Cosmogonia grega. Filho de Urano e Gaia, atormentado pela ameaça de uma profecia segundo a qual um filho o destronaria, Cronos passa a devorar todos os filhos de sua mulher Réia. Como é de costume na Grécia o destino cumprir um papel decisivo sobre a vida de homens e deuses, Cronos não escapa a sua profecia. Réia consegue salvar um dos filhos, Zeus; e cuida para que ele não seja descoberto enquanto cresce escondido em uma gruta em Creta. Mais tarde, já adulto, Zeus destrona o pai e o faz vomitar todos os filhos engolidos.

Se para Artaud, o teatro é o espaço do rito em sua esfera metafísica, a ação ritual, portanto, seria aquela capaz de resgatar o mito enquanto executada; considerando-se o ritual como o momento de manifestação do mito a partir de ações físicas codificadas para tal feito.
Assim, o teatro ritual surge como possibilidade de reconexão com as potências vitais, aproximando-nos, ao mesmo tempo, da instabilidade ameaçadora, do risco; atribuindo um outro sentido a palavras como “realidade”, “verdade”, “real”, “vida”, “representação”...
A escola durkheimeana deu grande ênfase à categoria de “representação”, utilizando-a na interpretação de diversos fenômenos ligados à religião, aos ritos e ás cerimônias de diversas espécies. As “representações” são entendidas como categorias que estruturam nosso funcionamento mental. Durkheim dizia que elas são a “ossatura da inteligência”, responsáveis pela estruturação das significações que damos às nossas experiências. A experiência enquanto fato bruto só adquirirá sentido para os indivíduos e para a coletividade na medida em que se articula como representação mental.
Durkheim entendia as representações como construções sociais.
A razão que as produz não é individual, mas social: trata-se do trabalho acumulado de muitas gerações, que cria uma espécie de capital intelectual, transmitido pela tradição. Nesse sentido, a idéia durkheimeana de representação coletiva tem certa proximidade da concepção peirceana de “símbolo”, como signo ligado à generalidade das leis, hábitos, costumes e convenções.

As pesquisas realizadas pelo Núcleo Obscena envolvem asseguradamente uma temática de cunho social: a mulher em seu universo marginal. E a utilização de um modelo “não-representacional” como vértice prático de tais pesquisas, sugere, de certa forma, uma busca por uma outra forma de representação, deslocada do sentido convencional. O signo social aparece embutido como alfabeto na tessitura de um código da cultura da margem, privilegiando a construção simbólica da temática cujas imagens deveriam denunciar a representação como um duplo codificado do real, e não a realidade itself, como ela é.

Sendo assim, penso no vômito.
O vômito é a expulsão forçada da porção inicial do intestino ou da boca do estômago.
Uma pessoa ao vomitar, pode eliminar alimentos digeridos ou não digeridos pelo organismo e também saliva, suco gástrico, bile e suco pancreático.
O vômito pode ser provocado por enjôos ou pela gravidez, infartos, remédios com efeitos colaterais, como os remédios utilizados na quimioterapia, infecções alimentares e gastroenterites agudas.
O vômito como ação surgiu como parte de minha investigação durante uma prática realizada no dia 25 de Março: o primeiro trabalho prático do ano para o Núcleo. A ânsia era provocada por membros de uma bonequinha de plástico mutilada dentro de um prato de metal. A isso adicionei groselha, no decorrer das práticas, que é um elemento que vem sendo utilizado por mim desde o ano passado.
Em suma, trata-se de um devorador de mulheres, um pregador acometido pelo pecado da gula.... e por que não: Cronos?
É possível fazer uma aproximação de conteúdo simbólico entre estas imagens. E é justamente a ação que me resgata o mito. Cronos come os filhos e depois os vomita.
Este homem mastiga membros femininos e tenta engoli-los até o momento da ânsia. Por enquanto, ainda não vomitou, mas talvez não demore muito. Está empenhado.
E, obviamente, as ações não estão sozinhas nesta aproximação.
É evidente que a relação de Cronos com seus filhos é diretamente proporcional ao papel social do homem diante da mulher. Mulheres representam uma ameaça numa sociedade predominantemente machista. Precisam ser engolidas.
Afinal, 52% da população mundial são mulheres, os outros 48% são seus maridos e filhos.
A ânsia é o vômito iminente. E não escapa da possibilidade da representação mítica de um costume transmitido por gerações: os homens devem se sobressair às mulheres, sempre. E se a sociedade contemporânea os coloca diante de uma realidade inesperada, a de que as mulheres estão virando o jogo, uma atitude precisa ser tomada.
É necessário mutilá-las, massacrá-las e engolí-las. Reduzindo-as ao seu lugar de bolo alimentar da cultura machista.

2 comentários:

Mariana Bernardes disse...

Puta que pariu , essa foto tá foda! Estou pensando duas vezes antes de abrir o blog. Estou perdendo até a vontade. Só podia ser você mesmo, né Moa , pra colocar essa foto bizarra e nojenta...Beijo sem vômito.

Moacir disse...

Fica brava não, meu bem. Uma boa imagem pode ser mais potente que qualquer alfabeto... sua reação é prova disso. Fico feliz, está reagindo... Grandes beijos.