agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

quarta-feira, abril 30, 2008

Ávida obscênica

11/02/2008
Primeiro encontro

Discutimos sobre dois projetos, harmônicos, porém distintos: o Obscena e o projeto de lei. Devido aos prazos a serem cumpridos, o projeto de lei “As margens do feminino: tecituras teatrais da beira” não pode receber mais integrantes, já o Obscena permanece aberto a novos participantes no desenrolar das pesquisas.
O caráter de pesquisa dos dois projetos parece desafiador. Entende como processo prática teatral e reflexão teórica. Somente Moacir, Marcelo, Érica e Patrícia ainda não confirmaram participação no projeto de lei. Decidiremos na próxima reunião.
Combinamos para o próximo encontro a leitura do posfácil do livro do Lehmann: Teatro pós-dramático.


Ávida
Mulher obscênica anda grávida
Grupo que não pára de crescer
Obsceno ser
Ou não ser
Eis o tupi
Atores ita Mara ti

Oba obs cena cê / cena na / obs cê são
Oba obs cena cê / cena na / obs cê são

Vivências inegáveis no sujeito coletivo
Nem nasceu já ouve crivo
No ventre faz teatro
No ventre poesia
No ventre tem conceito
No ventre estreito
Que alarga aos poucos
Até o obsceno dia chegar
Sair, viver, amamentar

Oba obs cena cê / cena na / obs cê são
Oba obs cena cê / cena na / obs cê são

De luz
Que não contrasta com clareza
De luz
Que não suporta dia escuro
E um grupo sem certeza
Reveza o pão de cada dia
Vasilha espalhada sobre o vidro
Querido

Oba obs cena cê / cena na / obs cê são
Oba obs cena cê / cena na / obs cê são

sábado, abril 26, 2008

Delírios utópicos

Não consigo relatar a mostra sem deixar de refletir o que conversamos no dia 21 de abril, reflito quase obscessivamente por ter um desejo utópico de que as relações entre as pessoas sejam mais justas.

Ontem assisti um documentário sobre as 7 profecias dos Maias que relata alguns dos conhecimentos adquiridos por esse povo tão misterioso, entre eles o que mais me intrigou (talvez pela proximidade de datas) foi o dia galáctico. Para os Maias a nossa galáxia tem 4 ciclos de aproximadamente 5.125 anos, que os ciclos se dividem em manhã (maior proximidade da luz do universo), tarde, entardecer ou noite e madrugada, estamos agora em uma época de mudanças, nós encontramos exatamente no que eles chamam de não tempo que significa a transição entre a madrugada e o dia galáctico. Esse ciclo começou em 1999 e terminará no dia 22 de setembro de 2012, onde a humanidade escolherá se terá uma nova tomada de consciência ou partirá para a destruição completa.

Bem falei tudo isso para na verdade falar sobre o que conversamos na segunda a propósito dos debates ocorridos após a mostra, combinamos de não nos exaltarmos frente às opiniões dos espectadores, proponho então que como exercício façamos primeiro entre nós, penso que na verdade esse “ julgamento” de opiniões divergentes , essas exaltações de maior ou menor grau percorrem nossas vidas o tempo todo com as mais diversas pessoas. E não defendemos nós também a diversidade de opiniões? De modos de ser? Quando cito uma das profecias Maias acredito que estamos na melhor fase para realizarmos essas mudanças, não falo em apatia mais em tolerância.

Os Maias falam especialmente sobre os cuidados (ou a falta dele) com a nossa Mãe, Terra, mas a falta não é só com ela mais também com seus filhos, e as mães que estão me escutando sabem que amar seus filhos é como amá-las duas vezes.

Já que discutimos as relações de poder dos gêneros deveríamos pensar, sobre algo que a mulher tem de sobra que é justamente o sentido de preservação, o cuidado. Esse cuidado, a meu ver, deve ser praticado por todos em seus ciclos menores primeiro, já que a transformação é gradual e pequena. Como em nós e no nosso trato interno, de que adianta falar contra um poder autoritário “masculino” se nós mesmos estamos utilizando (em maior ou menor grau) com os mais próximos de nós, isso é pura hipocrisia. Todos nós estamos sujeitos ao erro, ao mau entendimento, a má conduta e tudo mais, afinal estamos todos nos ajustando, o tempo todo! Mas é tempo de mudança e como acredito que todos a desejam para nossa sociedade, que tal começar por nós?

De qualquer forma acredito e como me foi dito por uma espectadora que a palavra debate tenha sido um pouco indigesta e mal colocada com relação às expectativas, então por que não pensarmos em uma outra dinâmica, com a platéia, como foi sugerido, ou mesmo de uma outra forma?

Essa mudança é imprescindível já que também somos nós frutos dessa nossa sociedade injusta e coerciva, somos também em maior ou menor grau em algum momento, violentos, punitivos, levianos, etc.. E como podemos falar em transformar o outro ou os outros sem antes passarmos por essas transformações? Acredito que só podemos atravessar o outro se estamos atravessados... Somos frutos de nossas praticas, não é?

terça-feira, abril 22, 2008

enquete!

obscênicos,favor nao respondam á enquete!

Relatório respectivo aos dias 18, 21 e 22 de Abril de 2008

Transpor a realidade da cena, onde a ficção e a vida se confudem, aguçando a sensibilidade do espectador para que este reage aos estímulos dados pelo fazer teatral, têm sido uma pesquisa instigante, no sentido de buscas de respostas (seja por textos lidos ou por propostas de cenas) pelo grupo Obscena.
A partir do momento que propomos pequenos embriões de cena, sentimos a necessidade de desenvolvê-lo. Isso implica dizer que a vontade de parir é intensa, porém há que se induzir essa vontade, seja por jorros de masturbações intectuais ou por contato de carne versus carne.
Colocar o espectador mais próximo dessas carnes, convidando-o para degustar, tatear, envolver-se com os mais variados cheiros e formas dos músculos dispostos em uma vitrine de açougue, é presenteá-lo de forma simples. Algumas vezes essas formas de músculos causam estranhamento para aqueles que observam, talvez por um pequeno movimento de quadril, ou por um movimento de arreganhamento, em que se evidencia as partes genitais, às vezes nada compatível com toda aquela estrutura corporal.
Enfim, o que pretendemos foi desmistificar tabus, apresentar um ser extremamente dicotômico, que explora seus vários eus, em buscas de respostas, frente às suas necessidades. Como dizia Artaud, a teatralidade tem de atravessar e restaurar totalmente a “existência e a carne”.
E o que acontece quando ficamos presos aos vícios cotidianos, quando nossos sensos perpassam sempre pela mesma linha e caminho? E quando somos surrados por rótulos, convensões, conceitos? Translocar, subverter, desconstruir, fez-se elementos importantes para o grupo nesses três dias de amostra.
Buscar algo de real nas instalações, tornou-se ainda mais instigante durante nossa amostra. A procura de uma interpretação verdadeira, que correspondesse aos espaços a serem explorados, que alimentasse a sensibilidade e as sensações no público, tornou-se importante para a indução do parir em cada ator, diretor e dramaturgo no grupo.
Almejamos um teatro que nasça na própria desaparição do homem, ou seja, não é descrever o homem e o que ele faz, mas fazer desse teatro não só uma vitrine ou um julgamento de valores, declínios humanos, mas uma necessidade inelutável de afirmação, ou seja, a busca de uma força plena e permanente que nos mova, que nos faça sair da viseira de burro ( o cotidiano)
Nada de representar, mas presentar! Não queremos xerocar vícios! Não queremos expôr as máscaras, as futilidades humanas... é muito mais que isso! Precisamos transceder a esses conceitos e não nos mortificar com nossos paradigmas. É... não sei se estamos nesse caminho, mas estamos à busca!

segunda-feira, abril 21, 2008

Cronos


Cronos era um deus da mitologia pré-helênica que foi incluído, posteriormente, á Cosmogonia grega. Filho de Urano e Gaia, atormentado pela ameaça de uma profecia segundo a qual um filho o destronaria, Cronos passa a devorar todos os filhos de sua mulher Réia. Como é de costume na Grécia o destino cumprir um papel decisivo sobre a vida de homens e deuses, Cronos não escapa a sua profecia. Réia consegue salvar um dos filhos, Zeus; e cuida para que ele não seja descoberto enquanto cresce escondido em uma gruta em Creta. Mais tarde, já adulto, Zeus destrona o pai e o faz vomitar todos os filhos engolidos.

Se para Artaud, o teatro é o espaço do rito em sua esfera metafísica, a ação ritual, portanto, seria aquela capaz de resgatar o mito enquanto executada; considerando-se o ritual como o momento de manifestação do mito a partir de ações físicas codificadas para tal feito.
Assim, o teatro ritual surge como possibilidade de reconexão com as potências vitais, aproximando-nos, ao mesmo tempo, da instabilidade ameaçadora, do risco; atribuindo um outro sentido a palavras como “realidade”, “verdade”, “real”, “vida”, “representação”...
A escola durkheimeana deu grande ênfase à categoria de “representação”, utilizando-a na interpretação de diversos fenômenos ligados à religião, aos ritos e ás cerimônias de diversas espécies. As “representações” são entendidas como categorias que estruturam nosso funcionamento mental. Durkheim dizia que elas são a “ossatura da inteligência”, responsáveis pela estruturação das significações que damos às nossas experiências. A experiência enquanto fato bruto só adquirirá sentido para os indivíduos e para a coletividade na medida em que se articula como representação mental.
Durkheim entendia as representações como construções sociais.
A razão que as produz não é individual, mas social: trata-se do trabalho acumulado de muitas gerações, que cria uma espécie de capital intelectual, transmitido pela tradição. Nesse sentido, a idéia durkheimeana de representação coletiva tem certa proximidade da concepção peirceana de “símbolo”, como signo ligado à generalidade das leis, hábitos, costumes e convenções.

As pesquisas realizadas pelo Núcleo Obscena envolvem asseguradamente uma temática de cunho social: a mulher em seu universo marginal. E a utilização de um modelo “não-representacional” como vértice prático de tais pesquisas, sugere, de certa forma, uma busca por uma outra forma de representação, deslocada do sentido convencional. O signo social aparece embutido como alfabeto na tessitura de um código da cultura da margem, privilegiando a construção simbólica da temática cujas imagens deveriam denunciar a representação como um duplo codificado do real, e não a realidade itself, como ela é.

Sendo assim, penso no vômito.
O vômito é a expulsão forçada da porção inicial do intestino ou da boca do estômago.
Uma pessoa ao vomitar, pode eliminar alimentos digeridos ou não digeridos pelo organismo e também saliva, suco gástrico, bile e suco pancreático.
O vômito pode ser provocado por enjôos ou pela gravidez, infartos, remédios com efeitos colaterais, como os remédios utilizados na quimioterapia, infecções alimentares e gastroenterites agudas.
O vômito como ação surgiu como parte de minha investigação durante uma prática realizada no dia 25 de Março: o primeiro trabalho prático do ano para o Núcleo. A ânsia era provocada por membros de uma bonequinha de plástico mutilada dentro de um prato de metal. A isso adicionei groselha, no decorrer das práticas, que é um elemento que vem sendo utilizado por mim desde o ano passado.
Em suma, trata-se de um devorador de mulheres, um pregador acometido pelo pecado da gula.... e por que não: Cronos?
É possível fazer uma aproximação de conteúdo simbólico entre estas imagens. E é justamente a ação que me resgata o mito. Cronos come os filhos e depois os vomita.
Este homem mastiga membros femininos e tenta engoli-los até o momento da ânsia. Por enquanto, ainda não vomitou, mas talvez não demore muito. Está empenhado.
E, obviamente, as ações não estão sozinhas nesta aproximação.
É evidente que a relação de Cronos com seus filhos é diretamente proporcional ao papel social do homem diante da mulher. Mulheres representam uma ameaça numa sociedade predominantemente machista. Precisam ser engolidas.
Afinal, 52% da população mundial são mulheres, os outros 48% são seus maridos e filhos.
A ânsia é o vômito iminente. E não escapa da possibilidade da representação mítica de um costume transmitido por gerações: os homens devem se sobressair às mulheres, sempre. E se a sociedade contemporânea os coloca diante de uma realidade inesperada, a de que as mulheres estão virando o jogo, uma atitude precisa ser tomada.
É necessário mutilá-las, massacrá-las e engolí-las. Reduzindo-as ao seu lugar de bolo alimentar da cultura machista.

Heroínas


Quando um homem está em perigo diante da louça suja.
Quando a sua virilidade se resume aos 45 do segundo tempo, mas a cerveja acabou.
Quando não há mais cuecas limpas. Quando as camisas estão todas amarrotadas.
Quando o mundo parece desarrumado e engordurado:
O céu se rompe para mais uma super-heroína: ela é a Fêmea Vaca Maravilha!
Ela passa, lava, cozinha, deixa o mundo das poltronas masculinas mais perfumado. E o melhor de tudo: sem taxas adicionais.

A Fêmea Vaca Maravilha está em todos os lugares ao mesmo tempo graças ao seu super poder de duplicação. Ela é calada, obediente, dócil e está sempre pronta para resolver os mais complicados problemas masculinos como, por exemplo, esquentar o almoço.

Dona de uma flexibilidade invejável no trato caseiro, Vaca Maravilha é o sonho de consumo de todo homem, seja ele clássico ou contemporâneo.
Na terça-feira, dia 15 de Abril de 2008, algumas pessoas, transeuntes da Avenida Alfredo Balena no centro da capital mineira, tiveram a oportunidade de testemunhar a eficiência da super heroína que estava exposta em vitrine fazendo uma demonstração de suas qualidades.
Acompanhada de outras “colegas de trabalho”, dentre elas a Mulher Mil e Uma Utilidades, a Costurinha, a Mulher Ajax; a Fêmea Vaca Maravilha arrancou suspiros da platéia enquanto limpava, esfregava, desinfetava o espaço corroído de mofo e tédio. Tudo isso numa ganância assombrosa pela limpeza e organização.

O lado de lá da vitrine era o distanciamento. Olhos curiosos, atentos, admirando a destreza com a qual as tarefas eram executadas;
Uma outra colega, notadamente a dona da voz daquelas mulheres in vitro, uma mulher cuja ação determinava os sentidos da imagem, trazia consigo uma caneta e com ela preenchia o vidro com palavras, frases... algumas vezes utilizando um léxico bastante comum aos homens. Ela estava do lado de fora, com a platéia, ocupando uma posição naturalmente não-representativa. Era uma artista plástica das palavras e o seu quadro estava vivo.

Mulheres domadas, não ofereciam risco algum, sob o controle dos olhares. Mulheres utilidade, sujeitas a teste de qualidade. Mulheres coleta seletiva: deposite neste orifício seu lixo orgânico. Mulher alcalina, da esponja de aço, da garrafa PET, do creme lubrificante... Mulher lipo-aspirador, da varanda, do quintal, do comercial de pneu, das graxas de graça desgraça...
Mulher tubo de ensaio: deposite neste corpo orgânico o lixo do seu orifício.

Fim. Um carimbo e um selo de garantia: Aprovadas.
Matéria-prima do produto: uma costela.
Válido enquanto durar o estoque.

YouTube - Violencia Doméstica - Violence Domestique.

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YouTube - GuAnTaMo Bay

YouTube - GuAnTaMo Bay

sábado, abril 19, 2008

Sei lá ! eu acho que é isso...

Sábado 00 horas de 12 de abril de 2008.Horário sugestivo para um experimento não convencional, que não é a mesma coisa que original. Espetáculo?Necessidade de delimitar, de dar nome aos bois ou as vacas como preferir.
Vitrine de exposição de carne, a nossa, a minha. Primeiro comando: Vocês são gostosas! Nossa que missão difícil, afinal nunca fui uma modelo da Playboy, agora então nem se fale, afinal nunca vi nenhuma revista masculina, com grávidas de capa, muito menos uma coelhinha grávida, filmes pornôs com grávidas são fetiches no mínimo comparados a zoofilia, sexo bizarro. E não é uma opinião só minha não, pode procurar na internet em sites pornôs “sexo com grávidas” o material é mínimo e aquelas grávidas não são nem um pouco atraentes. Bem eu não me sentia muito gostosa e olha que eu me esforcei (como cansa ser gostosa), não me sentiria a vontade de usar aquelas roupas naquele momento, o funk ajudou, mais levei como uma brincadeira. Olhares atentos, assustados, excitados do lado de fora um convite para entrar.
Erica, no saguão estátua sentada com braços fálicos, hummm sugestivo. E Nega com linha agulha e pano, pronta para espetar as mães e pais de meninas. A História de Santa Bárbara como mote, e um questionamento que viria no dia seguinte, as perguntas vêm de brinde com as respostas que se quer ouvir, mas afinal, não somos todos nós tendenciosos, parciais, sempre o tempo todo? (Mesmo nossos tão respeitosos telejornais que dirá de nós pobres mortais). Educação de gêneros somos diferentes sim, mas não somos todos nós independentes de gêneros , de cultura , raça e tudo mais que nos diferencia ? É claro que as diferenças biológicas influenciam em nossos comportamentos, mas não quer dizer que tenho que me encaixar nos estereótipos sociais. Grávida na companhia do marido e sem saber o sexo do bebe sou obrigada a ouvir que se for menina meu marido vai passar de consumidor a fornecedor e que ele vai pagar tudo o que ele fez. E eu? Não consumo, também? Sou uma presa, caçada, frágil, doce? Hahahahahahahah!!!! que ilusão! Por que o pensamento de que é preciso proteger mais a mulher?(eu mesmo tenho esse pensamento em muitas ocasiões) Por que somos mais fracas fisicamente, será? Esse resquício do homem caçador e da mulher domestica ainda nós persegue em 2008. Será que alguns homens ainda acham que para “pegar” uma mulher tem que bater bem forte na cabeça dela e arrasta-la para a caverna? Acho o procedimento provocador e dentro dos preceitos de não-representação e acredito que dialoga, com o procedimento que realizei logo a seguir.
Porão, último procedimento, o meu, preparei algumas questões relativas à violência domestica, educação de gêneros, religião e gênero etc.. Coloquei dois cestos de lixo com papeis fechados, dividido em dois momentos. E nos papeis pedi que os atores escolhessem alguém da platéia e criassem uma narrativa ou relatassem um caso do conhecimento deles ou mesmo dessem suas opiniões sobre o assunto. Gostaria de ter ouvido um por um, o que talvez possa ser interessante para um próximo momento, e achei que na rua o efeito pudesse ser mais interessante e os atores mais convincentes, afinal ali com todos a sua espera fica fácil prender a atenção, na rua a disputa é maior. Talvez por ser arte educadora ou pela maneira que compreendo essa pesquisa, penso sempre nesses procedimentos como um jogo (que acho mais convidativo), mais do que como uma cena a ser apresentada, por mais que a cena me provoque, ainda sim coloca o espectador nesse lugar passivo, por que é mais confortável e estamos acostumados assim, publico só entra quando convidado (e se possível tomara que eu não seja), mesmo o publico de atores, diretores e afins, afinal o teatro burguês reina ainda e temos que nos comportar como burgueses que somos. E por que não convidar a todos, como convidamos o moço lá na rua na terça feira? Sei lá acho que é isso...

sexta-feira, abril 18, 2008

A Sinestesia da dor

"Se permanecermos espectadores, se ficarmos sabiamente onde estamos, as catástrofes sempre permanecerão do lado de fora... tudo sempre parecerá ficção". Samuel Weber
As construções gradativas do exercícios, a ânsia de vômito, as vozes, os gritos, a mulher em seus lugares de tarefas inúteis, cenas multifaceladas... enfim: parir...
sair do lugar teórico para a pesquisa com o outro: " A união faz aguçar, a união faz o açúcar",
O preenchimento do ser, ver as mulheres fazendo suas tarefas diárias em um local deslocado do comum, fez as pessoas pararem! o dicionário de elementos mulherios, a xacota, a perversão, a cena em construção, aliás em comunhão à escrita, teci um jogo de significados que reafirmava o lugar feminino na cena contemporânea. A mulher que pariu, a chocadeira, voltamos aos gregos.. Será que é esta a herança que herdamos da antiguidade? Em meio à mulheres renomadas, donas de família, donas de empregos e agora: donas de suas vidas, de seus direitos de decisão!
Lutamos pelo adeus aos corpos massificados, obedientes, clareza? não sensações, isto se torna mais claro que as palavras... o feminino é dócil? o masculino é agressivo? quais a questões que devemos tentar nos responder? talvez as que passam pela dor... pois a dor humana é tão presente e constantemente real como nosso desejo de pesquisar, procurar...
As mulheres comandavam os homens nas vitrines! Evolução? Isto poderia sair do plano estético e caminhar nas vidas, não com ares de superioridade, mas de um encontro igual.
Talvez quando esta utopia se concretizar, partes dessas perguntas irão embora, e partes de nossos ossos também...

nomenclatura sim: questão de identidade

O corpo feminino e suas tecituras, como a marginalidade da mulher, o corpo prostituído, o universo feminino construído, o machismo e a homofobia. O diálogo entre o voyeurismo e o local público/ privado, pois homens e mulheres se trocam dentro de uma vitrine saindo do local cotidiano para a construção da mulher vulgarizada, que está exposta aos olhares externos dentro do fetichismo do observador . Observar, às vezes é provocar, quem disse que precisamos de palavras, de contatos físicos para causar incômodo? Pensar no grupo, nas possibilidades de encontro, de diálogo, às vezes é um exercício diário, difícil para uns, quase impossível para outros, quase! As vestes femininas caminham entre o locus sensual e vulgar , estando no chão e em cena, e a troca de roupas para construção coletiva do acontecimento é feita em tempo real. Os atores e atrizes recebem estímulos musicais/sonoros, que ajudam na construção do corpo erotizado, prostituído (como músicas denominadas funk proibidos, músicas de erotização infantil, etc. Isto faz parte do que construí, do que sou e acredito... Acredito aliás em coisas que parecem banais... nomenclaturas sim! São elas que constrõem identidades... Isso que aprendi em lutas e em movimentos contra o preconceito! Isto importa como um grito rouco riscando o medo, alguns talvez insistam em negar... "ismo" doença psiquiátrica, "dade" orientação, esclarecimento.
Ordem natural, sem nomes não se constrõem individualidades, seres únicos...
Acredito na pesquisa coletiva, em que todos são instrumentos de todos, são pesquisados, como uma abertura, um rasgo na anatomia, e saber que, desta forma podemos nos modificar e construir uma relação profícua e não mais prolíxa de nos mesmos.
Ouvi palavras como: Pornográfo!
e outras como, isto foi bom para eu me valorizar com mulher , como ser!!

quinta-feira, abril 17, 2008

O nome do Jogo.



Enquanto isso, ao redor:

A Autoridade para a Fecundação e Embriologia Humanas (HFEA) do Reino Unido autorizou a criação de embriões híbridos entre animais e seres humanos para pesquisas com fins terapêuticos.
Os estudiosos do King's College London e da Universidade de Newcastle foram autorizados a injetar DNA humano em óvulos de vacas, de forma a criar embriões híbridos que são 99,9% humanos.

No Brasil, durante a segunda semana de Abril de 2008, mulheres-vacas invadiram, sem autorização, caixas de e-mail disponíveis na internet. De acordo com depoimentos, elas não estavam infectadas por nenhuma virose e anunciavam três mostras de pesquisa cênica.
As autoridades concluíram que os híbridos já estão entre nós. E são obscenos.

Sábado, 12 de Abril. Por volta do dia seguinte...

Uma câmera na mão e quatro idéias na cabeça dos outros.
Um metrô, uma estação central, diversos marginais...
Um teatro e um avarento. Um senhorio rico e mesquinho, dono de um lugar privilegiado nos históricos do teatro como literatura, daqueles tempos de atualmente quando as pessoas sentam pra assistir o que se passa na tela... no palco.
Marginal nenhum pode com ele; então, dá meia volta, junta uns trocados e toma uma pinga. Duas. Pra acalentar o espírito.

Avaros debandados: é hora da baixaria terceira classe.
Quando os gatos saem, os roedores anarquizam.

Narquia em quatro tempos:

Tempo Um: Obscênico Didi.
Espaço: Fachada de um hospital.

Ataduras e camisola rosa para compor. O corpo se enveredou pelas sombras, entre as ambulâncias. De onde eu estava ouvia o canto. No canto, três mulheres. Estavam ali já fazia um tempo. Seres da fachada, preocupadas com os pertences da dona da voz:

- Ela deixou a vela aqui, ó. Vão levar!

De certa forma, a presença destas mulheres dramatizou a intervenção do Didi. E a intervenção do Didi justificava a presença daquelas mulheres.
Comensalismo.
Não houve proximidade entre eles, no entanto, o fato de ocuparem a mesma geografia espacial possibilitou que o público se ocupasse em estabelecer relações entre as duas margens.

Tempo Dois: Obscênico Marcelo.
Espaço: Vitrine.

Vestes íntimas e vulgares para compor. Todos os pesquisadores presentes participaram. A tarefa consistia em se comportar como um produto para os pedestres da calçada: mulheres putas, piranhas travestidas, go-go boys, gay-gay boys... Música alta: funk.
De tempo em tempo, estímulos imperativos do proponente: Faça isto! Seja aquilo!
Evidentemente pessoas foram interrompidas. Dezenas de pessoas ocuparam a calçada. Uma viatura atrapalhou a trajetória de um ônibus circular na avenida. Movimento e agitação intensos do lado de fora.
Do lado de fora...
Particularmente, nada me ofereceu incômodo ou risco como pesquisador.
Não me importa, no momento, fazer parte de uma investigação na qual eu não tenha como desenvolver os objetos de minha pesquisa individual. Desde que seja possível desenvolver outra coisa. Qualquer coisa. Afinal, não me sinto altruísta. Não é de meu feitio deixar o outro gozar sozinho.
E até que ponto uma investigação é realmente eficaz e provocativa quando se presta a incomodar somente uma das partes envolvidas?
A natureza efêmera dos questionamentos levantados por esta prática me confunde e me sugere falta de clareza.

Tempo 3: Obscênica Érica.
Espaço: Hall.

Agulha, linha e pedaços de tecido para compor. Uma narrativa como instrumento. Uma narrativa como foco. A história de Santa Bárbara foi contada enquanto os ouvintes iam sendo amarrados numa teia feita de linha e tecidos.
Sugestivo: ninguém mais tece ou fia histórias.
O conjunto da ação me sugeriu Walter Benjamin.

A narradora entrevistou as mulheres. Sobre a natureza de sua criação e a maneira como ela era transmitida para as filhas.
As perguntas foram, na maioria das vezes, tendenciosas. É verdade.
Qual o sentido de perguntar quando já se sabe a resposta? Obviamente, quando se pretende colocar o interlocutor numa situação de desconforto na qual sua moral é posta em cheque, existe uma forma mais indireta e estratégica para isso. Quero dizer estratégica na formulação da pergunta;
A delicadeza da ação em conflito com a agressividade supostamente embutida no discurso pode gerar um elemento potente de pesquisa.

Tempo 4: Obscênica Mariana.
Espaço: Porão.

Nada para compor. Um exercício exclusivamente narrativo, dividido em dois tempos. Para cada um deles um motivo era oferecido em pedaços de papéis contendo indicações individuais. Todos os pesquisadores participaram.
As narrativas improvisadas deveriam ser direcionadas ao público presente.
Percebi este momento como uma proposta profícua para o exercício da não-representatividade. Na medida em que qualquer indício de representação pareceria falso e exagerado. Colocaria o esforço do próprio narrador em descrédito.
Precisamos mais disto. De coisas difíceis de se executar.
De situações que exijam mais de nós mesmos. Mais que o pseudo.
Por que quando não me sinto dramático, sinto-me pseudo não-representativo.
E isto é um problema meu. Que me aflige. Para o qual a solução eu mesmo devo procurar e perseguir os mecanismos necessários. Sem que ninguém me dirija, no sentido convencional da palavra..
Em suma, um bom exemplo de exercício para ser utilizado como procedimento geral.

Debate: uma forma de governo.

Com o término das narquias iniciamos um debate com os presentes.
Debate polêmico. Provocou a moral e o estado emotivo dos pesquisadores.
Catarse.
Tradição.
Faz-se necessária, além de várias idéias na mão, uma câmera na cabeça;
Para nos observarmos.

O fim de uma prática e o início de um debate não se constituem como dois momentos absolutamente díspares da pesquisa. Seria contraditório pensarmos desta forma. Sendo assim, o corpo de pesquisadores deveria permanecer o mesmo. O mesmo corpo distanciado da cena.
É engraçado que no momento de fazer, de mostrar, é conveniente para todo mundo ser um organismo provocador, ativo, despojado... no entanto, no momento de receber o troco pelas provocações ninguém se lembrar mais disso; deixa de ser conveniente calar-se para ouvir uma opinião, muitas vezes, articulada através do discurso de indivíduos que não dominam os conceitos nem a pompa dourada dos métodos.
Cabe lembrar que, pela primeira Lei de Newton, todo corpo mantém seu estado de movimento retilíneo uniforme ou repouso se não existirem forças resultantes, diferentes de zero, agindo sobre ele.
Desta forma, é imprescindível que todo corpo agente respeite a reação do corpo sobre o qual agiu.
A prática e o debate são distintos nisso: na primeira quem se manifesta é o provocador, na segunda é o provocado. E este último não é obrigado a se manifestar de acordo com o moralismo do provocador.
Ou alguém se preocupou com moralismos quando se manifestou na porta de um hospital, quando enfiou a bunda e acenou vulgaridades em espaço público, quando algemou braços com linhas ou quando despejou sobre mulheres do cotidiano, exemplos de violência doméstica?
Não interessa pra nós se dizem “espetáculo” ou “mostra de pesquisa”, se dizem “homossexualismo” ou “homossexualidade”. Nos interessa saber se o que foi visto foi entendido, e como foi entendido, com clareza de impressões.
Capeta, demônio, tinhoso, coxo, capiroto, cão, cramulhão, demo... não importa! Todos cheiram a enxofre.
E isso é o que importa: se o hálito do público corresponde ao sabor do alimento que lhe foi oferecido. Um alimento duro, mal cozido, dificilmente será bem digerido.

Certamente deve haver uma maneira não convencional de receber as críticas de um debate. E, no meu entendimento, a busca por esta maneira é também parte da pesquisa do Núcleo, está inserida nela como um dos procedimentos.
A platéia não é obrigada a ser compreensiva diante da imagem da realidade criada por nós mesmo, pesquisadores, nem compartilhar de nossas frustrações ou tensões pré-menstruais.

O silêncio é o período de gestação de uma palavra.
É tempo de gravidez no Obscena.

Bimbada!


Já foi o tempo em que as menininhas só pensavam na Barbie. Uma febre está ameaçando deixar a famosa boneca para trás. E mais: está deixando pais e defensores dos direitos das crianças de cabelo em pé na Grã-Bretanha, onde já tem 200 mil usuárias. O nome da moda atende por Miss Bimbo, uma boneca virtual com cara de sapeca e formas para lá de sensuais.
A boneca loura é grande sucesso entre as meninas, que tem entrado cedo no mundo de Miss Bimbo: aos 7 anos. Detalhe, "bimbo", na gíria americana, quer dizer "mulher promíscua".
No site, as meninas são incentivadas a competir umas contra as outras para se tornar "a bimbo mais fogosa, bacana e famosa do mundo".
Quando uma menina se cadastra no site, ela recebe uma personagem nua e começam a jogar. A primeira tarefa é enfrentar rivais em busca de bimbo-dólares. O dinheiro virtual será usado para completar missões estabelecidas pelo site.
Apesar de a inscrição ser gratuita, as usuárias precisam mandar mensagens de texto por celular para conseguir mais bimbo-dólares para gastar com as bonecas virtuais. Cada uma destas mensagens custa 1,5 libras, o equivalente a aproximadamente R$ 5.
Entre as missões, está uma cirurgia plástica para aumentar os seios, comprar lingerie ou chegar a um peso perfeito usando pílulas e outros medicamentos. O implante de silicone sai por cerca de 11.500 bimbo-dólares e a compradora ganha 2.000 bimbo-atitudes, uma espécie de combustível para o termômetro que dirá o quanto ela é popular!
Se a menina quiser abreviar o "sofrimento" para se tornar popular, o site recomenda que ela dedique todos os seus esforços apra fisgar um namorado bilionário. Assim, terá bimbo-dólares para todos os seus desejos. Uma das missões apresentadas é fazer com que sua Miss Bimbo se torne uma socialite e chegue ao topo da fama.
Os criadores de Miss Bimbo dizem que o site não passa de uma brincadeira inofensiva.
"Miss Bimbo não é uma má influência sobre as crianças", disse ao jornal "Daily Mail" Nicolas Jacquart, responsável pela boneca fogosa e de curvas generosas.

T r a n s - ação.


Mesmo antes de nascer, a filha de Thomas Beatie, o "homem grávido", já é uma celebridade. Para quem ainda não conhece, Thomas, de 34 anos, nasceu mulher (com o nome de Tracy Lagondino), mas resolveu mudar de sexo. Pois Thomas exibiu no programa da apresentadora americana Oprah, campeão de audiência nos EUA, a ultra-sonografia do seu bebê, que nascerá em julho.
Nancy Roberts, a mulher de Thomas, não tem condições de engravidar. Os dois, juntos há dez anos, vivem em Bend, no estado do Oregon.
Durante o programa, Thomas exibiu todo o seu orgulho maternal e era só sorrisos.
"Eu sou uma pessoa como outra qualquer e tenho o direito de ter minha filha biológica", disse ele a Oprah.
Thomas contou, ainda, que poucas pessoas manifestaram apoio à sua gravidez e que mesmo membros da sua família chamam o bebê que carrega no útero de "monstro". Ele também manifestou uma preocupação: "As pessoas podem tentar matar meu bebê".

Relatos Obscênicos de Erica Vilhena, a Nêga.


MANIFESTO OBSCÊNICO – 15/04/2208
Terceiro dia de mostra – público UFOP(iano) + público INVERTIDO + transeuntes + público conhecido dos outros dias...
Antes de relatar minhas impressões sobre o dia de trabalho irei fazer meu manifesto. Depois sim colocarei meu ponto de vista acerca dos procedimentos e materiais levantados no dia.
Sim! É isso mesmo. Não estou aqui para responder nada a ninguém. Como, se eu mesma estou e me questionar todos os dias? Então é isso FODA-SE a expectativa alheia e FODA-SE ao senso burguês do ‘bem acabado’ e FODA-SE ao meu tão necessário ‘bom senso’ e FODA-SE ao tão suscitado, por mim, saliento, exercício de escuta e FODA-SE às nossas hipocrisias salutares FODA-SE. Hoje e ontem e outrora minha condição de gênero e social tem me oprimido. Sinto-me fracassada. Estilhaçado está o espelho no qual me projetava. Reúno estoicamente cada caco daquilo que construí como minha imagem de mulher. E nesse momento não sinto PRAZER nenhum em sê-la. Não sinto minha buceta latejar por homem que eu ame ou poderia amar... Meu corpo está arredio e é claro para mim o universo competitivo das mulheres. Nós competimos umas com as outras pelo homem mais bunito da festa/bar/ou coisa que o valha, mesmo que ele não seja assim tão viril... Nós competimos em nossos apetrechos sensuais. FODA-SE! É isso mesmo. E FODA-SE também os estudantes, como eu também fui e sou, às gentes finas e intelectuais, como eu também sou, que ficam com seus glossários e com seus questionários e afins aferindo o que é V ou F acerca do foram assistir. Eu não estou aqui para oferecer um produto belo e bem acabado. Eu não sou uma mulher bela e bem acabada. Sou uma mulher com estrias e gorduras localizadas. E quero dizer um FODA-SE bem grande a toda a expectativa depositada sobre mim.
EU NÃO ESTOU AQUI PARA DAR RESPOSTAS, ENTÃO FODA-SE. E FODA-SE A MINHA NATURAL AGRESSIVIDADS, QUE EU ME FÔDA DE VERDE E AMARELO.
Obrigada.
Erica Vilhena, a Nêga recém batizada de Regina.

quarta-feira, abril 16, 2008

Relatos Obscênicos de Erica Vilhena, a Nêga.

Erica Vilhena, a Nêga.
Relato (´rio) Obscênico 14/04/2008
Mais um dia de experimentações junto ao público. Propostas de Marcelo, Will, Moacir, Idê, Crovito e Iza - que não veio. Hoje não fui pra vitrine, fiquei registrando o material. Rogério Santos, ex-professor da UFOP, veio nos acompanhar. Fora ele havia mais uma senhora a esperar no hall, Hilda. Cheguei em cima da hora. O dia fora muito bom, mas meio louco também, fui e voltei... Mas, consegui o que queria: OBRIGADA MARCHELLOOOOO!!! Conseguimos angariar mais alguns espectadores que estavam a transitar na rua e pararam para nos assistir. A vitrine primeiro ocupada pelo exercício de Marcelo, polêmico, mas eu não consegui ainda ver o risco nele. Depois Will com sua vitrine de homens, as mulheres manipulando-os como manequins e Nina a escrever no vidro a narrativa que gostaria de ouvir de um homem: ‘deixa eu te chupar vai, deixa, por favor!’ não há como não concordar com ela, rsrsrs!
Crovito conduziu o público para dentro do teatro, selecionou algumas pessoas do OBSCENA e do público para que simplesmente ‘estivessem’ ali, naquele espaço, sem representar. Depois deu um presente para cada um. Mais uma vez vi minha pesquisa reverberando na pesquisa do outro: bonecas(os) de plástico foram entregues e depois estas deveriam ser despachadas na rua, entregues ao acaso e à própria sorte.
Idê trabalhou com o universo dos cultos afro brasileiros, elementos como a bebida alcoólica, o cigarro, tecidos vermelhos e vistosos, uma máscara diabólica... ele um portal cacos de vidro fumaça álcool pelo chão. Sem sons. Sem músicas rituais. Somente a imagem de referência. Houve identificação com o público que já conceituou aquilo como macumba ou coisa que o valha.
Moacir continuou o trabalho com os objetos do procedimento somados à sua pesquisa pessoal – anatomia feminina. Somou uma narrativa retirada da bíblia acerca das regras femininas e suas implicações na vida cotidiana. Questionou as mulheres do público se eram mulheres e por que. Ofereceu um líquido vermelho numa taça – sangue(?)(!)
O debate já foi mais educado por nossa parte, nos exaltamos menos hoje. Rogério questionou o fato de não assumirmos ser um espetáculo... Mas, o que configura um espetáculo? O espaço? A presença de um atuante e espectadores? Rogério também salientou a ambigüidade das colocações. Mas, num é justamente o momento de sermos ambíguos uma vez que estamos no início de nossa caminhada?
O público ‘não-teatral’ fez sua leitura. Muito interessante por sinal, um senhor salientou a nossa realidade maquiada e a força do trabalho que ele havia presenciado ali. Alguns adolescentes colocaram-se com muito custo, mas o curioso que suas opiniões foram muito ricas para compreendermos como essa juventude assimila e recebe as informações.
Mais uma vez fomos butecar no Maleta e nossa noite consistiu em mais discussões sobre o fazer teatral e as relações humanas...

É necessário a frieza e é necessário a fé.
Erica Vilhena, a Nêga, mais recentemente batizada de Regina.
galera,tem um livro do "Barrio" numa exposiçao no palácio,na sala ao lado dos banheiros,se alguem de repente passar por lá,vale a pena dar um olhada no livro.Tem umas imagens bacanas do trabalho dele.
Idê!

Relatos Obscênicos de Erica Vilhena, a Nêga.

Relato (´rio) Obscênico – 12/04/2008
Hoje, após nossa primeira mostra sinto-me regaçada, ou melhor, arregaçada. Sábado, encontramo-nos no Marília. A fina flor do público belohorizontino está ocupando a escadaria e parte do hall. Eles esperam para assistir ‘o avarento’. Enquanto isso Moliere revira-se em sua catacumba. Coitado. Desejávamos começar às 21h, mas uma mensagem de Nina no celular dizia que somente às 22:20h teríamos o espaço liberado. Fomos então butecar enquanto isso. Pedi uma cerveja preta e beberiquei umas cachacinhas com Will... Ansiedade. Eu, de minha parte não estava assim. Mas, alguns sim, estavam. Eu ainda estava com ressaca da festa do niver de Moa, em casa. Ruminando os acontecimentos da noite anterior e burlando qualquer pensamento de esquematização de uma cena. Fiquei ali a jogar conversa fora e principalmente jogando fora qualquer necessidade de acerto e glória junto aos possíveis espectadores da noite. Deu a tão esperada hora e fomos para o teatro. Nem todos os Obscênicos puderam estar presentes: casamento, mambembe...
Primeira proposta: Marcelo – vitrine – ‘gostosas!’ : eu não estava me sentindo assim tão gostosa. Entrei e deixei o cheiro daquele ambiente me contaminar. Não fiquei a esmo e sim fui logo me despindo das roupas da Erica e colocando as possíveis peças de uma ‘gostosa!’. Uma saia branca com pregas, estilo colegial, chamou minha atenção. Um sutiã vermelho de veludo e uma faixa preta com brilho dourado. Essa foi a indumentária da minha ‘gostosa!’. Minha ação foi expor meu corpo, como um açougueiro que mostra a melhor peça de picanha ao cliente sedento pela carne assada, passada e salgada. Clóvis vestiu-se de noiva e quando o percebi tomei um batom vermelho e fui pintá-lo. Assim pintei a mim e aos demais, fazendo questão de borrar as bocas. Os homens da platéia eram um misto de excitação e auto repreensão. Eu joguei com isso. Mirava principalmente os acompanhados e eles reagiam, era nítida a mudança na musculatura: os ombros ampliavam-se e o quadril se prontificava. Mesmo que no rosto fosse forçosamente mantido um ar bom senso e distanciamento daquela putaria explicita. Marcelo indicou o fim do trabalho ordenando que nos tornássemos feias novamente. Tive dificuldade em abandonar o exercício, pois achei que o comando de Marcelo era na verdade uma provocação. Subimos para o hall, era o momento do meu exercício. Retalhos, linha, agulha e a narrativa do mito de Santa Bárbara. Agrupei o público na parte de cima do hall, bem na entrada dos banheiros, pedi que ficassem bem próximos uns dos outros. Comecei contando a história de Santa Bárbara e costurando os retalhos nas pessoas que tinham filhas mulheres. A partir daí puxei questionamentos quanto à criação e os modos de se educar as mulheres. Questionei os homens quanto aos requisitos necessários a uma boa esposa. Enfim, instiguei o público a se colocar, a se expor assim como eu estava. E assim costurava-os uns nos outros. Quando notei que as pessoas já estavam à vontade ali naquela situação interrompi e agradeci a colaboração de todos. Seguimos então para o trabalho de Maroca. Nossa como gostei de sua proposta. Ela colocou duas latas 1 e 2 com propostas a serem executadas ali com o público – narrativas, questionamentos... – reconheci em seu trabalho reverberações da minha investigação. Senti-me desafiada tendo que sentar-me em frente a um espectador e sem mais preparativos narrar a história de uma mãe que mata o filho recém nascido. Nesse exercício localizei o fato como algo que minha mãe havia me contado e isto ajudou a puxar a atenção da espectadora a qual direcionei meu discurso. Num segundo momento o desafio era questionar sobre o que era brinquedo de menino, uma pergunta que adicionei ao questionário de pesquisa de Maroca. Esta gerou um debate entre alguns espectadores. Muito produtiva a proposta de Maroca.
Partimos para o debate com o público. Provocações quanto ao tema abordado, quanto os meios utilizados para as intervenções. Muitas questões suscitadas. Um espectador colocou que a sociedade patriarcal é uma criação da mulher, pois ela é quem educa os homens. Outros questionaram a presença da figura homossexual masculina uma vez que o projeto visa trabalhar a mulher...Enfim, questões e mais questões.
Percebemos como é difícil calar-se diante às colocações o público. Não rebater é extremamente laborioso.
Tudo é um exercício.
Erica Vilhena, a Nêga.

Relatos Obscênicos de Erica Vilhena, a Nêga.

Relato (´rio) Obscênico – 07/04/2008
Hoje trabalho de ‘mesa’, não, não fomos estudar nenhuma dramaturgia e ou personagens. Detivemo-nos no planejamento da ‘mostra’ para a comunidade belorizontina. Primeiro leitura dos relatos e conversas duras e necessárias para colocar alguns ‘pingos nos i’s...’ Uma chuva muito forte atrapalhou minha chegada ao teatro e impossibilitou Nina de imprimir seus relatos. Quem somos diante às forças da natureza e sem nossos equipamentos tecnológicos digitais, nossos cérebros eletrônicos? (...)Para variar levantei uma polêmica: ‘várias questões estão sendo colocadas e nada está sendo feito para ‘solucioná-las’! Tanto no blog quanto na leitura dos relatos perguntas angustiadas são colocadas e a impressão que tenho é que estas ficam suspensas no ar. O que faremos diante delas?
Mais tarde, nesse mesmo dia, no buteco Crovito sem tecer julgamentos, mas antes tecendo seu ponto de vista, disse que meu jeito/personalidade inflamado e austero assusta ou pode retrair os colegas de pesquisa/trabalho. Sim. Sei que sou ferrenha com meus propósitos e inquietações teatrais e existenciais... Mas digo que essa é minha forma de manter a ‘busca’ acessa em mim. De fato sou 8 ou 80, será que é necessário um meio termo para VIVER?!?!?! Ainda não tenho ‘meio termos’ mesmo exercitando o bom senso diariamente.
É preciso muito cuidado. Há uma ansiedade por essa mostra como se fôssemos apresentar um pré-produto espetacular. Assim como Artaud denunciou no início do século passado: ‘_a cultura rege nossos mais ínfimos atos.’ Assim também percebo que há em nós ações regidas pelo costume com o ‘metiê’ do espetáculo ou da espetacularização. É difícil ser simples e simplesmente experimentar a relação entre os procedimentos e ações teatrais a que me proponho com o público. É difícil não ser agradável e/ou conveniente e/ou entreter aquele que veio ‘me’ assistir. É difícil ser quem sou. Tão exaltada diante da encruzilhada que eu Erica estou – AGIR E NÃO INTERPRETAR/REPRESENTAR.
Definimos com muito labor os dias e os modos de trabalho da mostra. Uma pergunta foi colocada – ‘será que público ficará para o debate?’ Eis uma dificuldade. Como não se prender a isso como tábua de salvação, mas também como construir um ambiente propício ao debate???
Imagens Obscenas.


São 02:42 min , estou aqui acordada , cansada, empolgada e principalmente indecisa são tantas imagens interessantes, que fica difícil escolher uma só para postar, não por mérito da fotografa e muito menos da câmera, mais por que foram momentos muito potentes. Espero não cometer nenhuma injustiça e logo mais os obescênicos terão acesso à todas as fotos. Ah! desculpem pela desordem mas é só o reflexo da minha cabecinha agora.Bem deliciem-se ...

Começando por sábado 12 de abril de 2008


























terça-feira, abril 15, 2008

diário de bordo, por nina caetano: MOSTRA OBSCÊNICA EM PROCESSO... ÀS MARGENS DO FEMININO

Preâmbulos...
Mostra obscênica em processo. Não segunda, mas terça-feira. Último dia. Para hoje, como planejamento geral, temos a ocupação da vitrine por mim e Lica e também por William. Patrícia com mezanino e saguão. Moacir e Saulo no porão. Assim como no sábado, Didi intervém sem aviso, um pouco antes do horário marcado, entre o hospital e o teatro.
Hoje, pela primeira vez, construo o relato de um segundo dia consecutivo de trabalho! Ontem, segunda, as propostas foram de William, Marcelo, Idelino, Clóvis e Moacir.

O Encontro.
Ontem tivemos nosso encontro com um público mais reduzido. Engraçado, havia considerado que o início da noite na Alfredo Balena era um horário em que conquistaríamos mais gente para dialogar conosco... Começaríamos o trabalho às sete e estava marcado para chegarmos às seis. Em função do menos tempo para nós, havia mais tensão no ar. Muitas pessoas chegaram atrasadas, havia o debate a resolver. Não conseguimos espaço para o nosso trabalho corporal. Também foi necessário reorganizar o dia de trabalho, por causa da montagem de rubros amanhã, no palco. Clóvis, então, passou para hoje. Estava prevista a participação de Iza, mas ela não veio.
A primeira vitrine foi de William. Proposta interessante: os homens, vestidos com camisetas brancas, saias variadas e chapéus eram como manequins de vitrines, a serem expostos para a venda. Três mulheres (Lica, Patrícia e eu) teriam cinco minutos cada para dirigir os rapazes. Poderiam usar música (havia cds disponíveis, música clássica e barroca) e propor o que quisessem. Senti falta das narrativas que William havia pedido que trouxéssemos (“o que você gostaria muito de ouvir um homem dizer”) e fiquei pensando em como incluir, em minha proposta, a possibilidade de trabalhar com a frase. Enquanto as duas trabalharam com eles, eu fiquei de espectadora junto ao público. Foi interessante poder pescar as reações de perto. Um senhor me perguntava se eles eram veados, enquanto uma mulher elogiava as pernas de William. Na minha vez, escrevi na vitrine: EU GOSTARIA MUITO DE OUVIR UM HOMEM DIZER. Embaixo, desenhei um balão de história em quadrinhos e dentro dele escrevi a fala: DEIXA EU TE CHUPAR, DEIXA... POR FAVOR! Então entrei na vitrine e começar a arrumar os homens em poses sensuais, sempre se exibindo para uma mulher escolhida no público. De vez em quando, pegava um e o colocava “falando” a frase acima, também para uma mulher que assistia ao trabalho.
Após essa, veio a do Marcelo, a vitrine de corpos expostos, prostituídos. Ontem tivemos um problema de logística: Mari atrasou, Erica gravava o trabalho. Não havia disponibilidade de corpos femininos. Dessa vez o pincel preto funcionou mais. Os escritos apareciam. Perdi, em função disso, a escrita nos corpos. Como também demorei a perceber que deveria referir-me aos travestis da vitrine, lançar escritos sobre eles. Comecei a experimentar um discurso mais crítico, frases como carne no açougue e mulher vende cerveja.
Depois passamos a Idelino, no porão. Quando descemos, uma instalação demoníaca no camarim seis. Uma imagem do demo pendurada à porta. Um pano de cetim vermelho construía um caminho da porta ao espelho. Ao redor, outros panos: pretos, vermelhos, rosa. Velas espalhadas, cigarros, bebidas. Idelino espalhou um balde cheio de água e cacos em frente à porta e passou a quebrar outras garrafas, de sidra, de cerveja, fazendo mais cacos. Depois acendeu cigarros, fumou, bebeu, espalhou bebida no chão, a cara sempre escondida pela imagem do demo. Eu o via, através do espelho, por trás da “máscara”. Achei isso interessante. Pisou nos cacos, causando comoção em nós, espectadores. “Nem eu que sou bruxa faço isso”, disse uma mulher. Mais tarde, no debate, ela comentou que tinha gostado muito do terreiro de macumba. Idelino pesquisa o universo das pombas-gira.
Iza não veio, passamos do Idelino ao Clóvis, dando a volta por fora do teatro, ocupando, simbolicamente, a trajetória que ela havia proposto. Voltamos ao teatro e Clóvis escolhe alguns de nós para subir no palco. Eu, Lica, Mariana, Patrícia, Saulo, e duas senhoras da platéia (estou com impressão que esqueci alguém...). A nossa ação, no palco, era: estar. Simplesmente estar, sem representar. Foi engraçado. Estar à vista, no palco, parecia dar um significado de “representação” para qualquer coisa feita. Dava vontade de falar e de fazer, como se tivéssemos que fazer algo. Ao mesmo tempo, ao fazer algo, tudo parecia excessivo. O que é representar? E o que é agir, sem representar?
Voltamos ao porão, para a proposta do Moacir. Descemos as escadas para o porão e nos deparamos com ele, enfiando uma perna de boneca de plástico na boca, meio provocando ânsias de vômito. Sentamo-nos à sua frente. Ele pediu que as mulheres anotassem os nomes em uma prancheta e começou a colocar seus apetrechos. Ele estava vestido de calça e com um avental de vaquinha. Pôs máscara higiênica, que arrebentou (“buceta!”), touca de nadador, luvas cirúrgicas. Buscou a caixa de isopor de onde tirou dois tubos de ensaio cheios de liquido vermelho sangue e derramou em uma taça. Depois buscou um embrulho de alumínio, do qual tirou um pão. “Em nome do pai, do filho e do espírito santo, amém”. Deu a “hóstia” molhada no sangue para todas as mulheres, que mordiam aquele pão com nojo. Era groselha. Falou, então, dos males que o sangue menstrual provoca e começou a chamar as mulheres que tinham anotado seus nomes. “Você é mulher?” Então, falava vários trechos da bíblia (levítico, gênesis) que descreviam a mulher como impura ou má. Então dizia: “Conceição, você é mulher? Por que, Conceição?”. Ao final, ele colocava todos os pedaços da boneca na boca, provocando novas ânsias de vômito. Moacir já vem desenvolvendo esse material continuamente, então já existe um arcabouço de ações construído. Ele trabalha a partir da visão bíblica, a pesquisa girando em torno da anatomia da mulher. Pareceu-me bem instigante essa pergunta: você é mulher? Por quê?
Muitas questões se apresentavam para o debate, mas o público de hoje é menor e mais tímido. Hoje veio Rogério Santos, que foi professor no Curso de Artes Cênicas da UFOP, junto comigo, e que agora está terminando seu doutorado na Espanha. Depois de nossa colocação inicial sobre o trabalho apresentado ser uma parte do processo de pesquisa, e não um espetáculo conforme anunciado no programe bh, Rogério perguntou por que negávamos que era um espetáculo aquilo que fazíamos, já que era.
Isso, para mim, suscita várias questões. O que define algo como espetáculo: a presença do público (um ensaio assistido por pessoas alheias ao processo de trabalho é um espetáculo?)? A localização em um aparelho convencionalmente destinado a apresentações (uma palestra dentro do teatro é um espetáculo?)? Ele também falou de dubiedades e ambigüidades dos trabalhos, de uma maneira geral. Algo em suas colocações me revela uma expectativa de acabamento típica de espetáculo. Apesar disso, foram interessantes porque nos permitem pensar outros aspectos. Como havíamos dito, não é um espetáculo... as coisas não estão decididas, prontas. Estão em processo de amadurecimento, percepção e escolha. Considero que, por um lado, é natural a ambigüidade nessa etapa do trabalho (uma vez que estamos no início de nossas pesquisas e muitas coisas, para nós, ainda são perguntas), mas, por outro, aponta para a necessidade, já percebida por nós, de maior clareza em nossos objetivos individuais de pesquisa, e maior relação entre isso e métodos e procedimentos usados.
Enfim, o trabalho continua...

Nina Caetano

segunda-feira, abril 14, 2008

diário de bordo, por nina caetano: TEXTURAS TEATRAIS DA BEIRA, MOSTRA OBSCÊNICA EM PROCESSO

Preâmbulos...
Mostra obscênica em processo. Hoje, aniversário do Idelino, é o segundo dia. Trabalhamos no sábado, encontro marcado com o público à meia-noite... Nesse dia, as propostas eram de Didi, Marcelo, Erica e Mariana. Primeiras texturas teatrais da beira.
Para hoje, segunda, como planejamento geral, havia sido proposto que William ocupasse a vitrine, e teremos o trabalho de Idelino e Moacir no porão. Iza na lateral do teatro e, provavelmente, Marcelo na vitrine novamente. Será necessário encaixar Clóvis no palco hoje (logo depois de Iza, com o público entrando pela escada de incêndio?), porque talvez amanhã não seja possível. Parece-me que seria interessante jogar Saulo no porão, quer dizer, para amanhã, em função do tempo. Assim como a vitrine do Rocco.
Assim como no sábado, Didi intervém sem aviso, um pouco antes do horário marcado, entre o hospital e o teatro.

O Encontro.
Nosso oitavo encontro... E primeiro dia de encontro com o público. Sábado. Meia-noite. O trabalho estava previsto para começar às nove, quando deveríamos nos encontrar para preparar os espaços para a mostra e partir para o trabalho corporal. Chegamos ao Marília, mas o avarento estava ocupando nosso espaço até vinte e duas horas e vinte minutos. Os que chegaram resolveram tomar uma pinga para acalmar os nervos e pôr o corpo no lugar. Ansiedades.
Voltamos ao Marília (havíamos crescido, com aqueles que se juntaram aos primeiros na pinga) e lá encontramos Marcelo, Mariana, Patrícia e Didi, já a postos. Hoje não vieram Idelino nem Iza. Já eram dez e meia. Tínhamos menos tempo. Ocupamos o palco e fizemos o trabalho corporal com Patrícia.
Eu já não tinha chegado bem. Meu corpo cansado, pesado, sem vontade. A água e um gole na pinga tinham levantado o moral, mas o corpo ainda não estava bem. Achei difícil conseguir o eixo, minha cabeça vertiginosa e o calor. Mas consegui me manter em meu corpo, sem representações nem exercícios. Buscando ouvir-me e respeitando meu estado. Concentrei minhas energias, buscando sempre respirar ao longo da noite e estar atenta.
Havia trocado meu vestido de camponesa florida pela malha básica do trabalho. Agora trocava a malha pelo vestido preto, com o qual manteria meu posto de dramaturga atuante. Por baixo a roupa íntima vermelha. Para a vitrine...
O primeiro trabalho era o do Didi, intervenção na rua. As ataduras e a camisola rosa, com os quais havíamos trabalho no jogo com os objetos. Quando descemos, já de cara, três mulheres. Uma delas encostada a um canto da frente da escada do Marília, mijava (desculpem as mocinhas delicadas que dizem que mulheres fazem xixi, mas não poderia falar de outro modo nessa situação...), a intimidade devassada em público. Elas me tomaram e acabei não acompanhando o Didi um tempo, concentrada em me lançar à escrita, movida por elas... Por um lado, pensar na escrita no calor do momento, foi bom, mas, pelo outro, sinto que fez falta, para o desenvolvimento de um olhar sobre a pesquisa, ter visto o desenvolvimento que ele propôs, mas também penso que esse lapso fez parte de minha agitação interna.
Agora a vitrine. O comando: somos “gostosas”, cumprindo o papel de gostosas. Eu, claro, não sou atriz. Minha pesquisa é outra, de um olhar autor-espectador... então, me concentrei em perceber as possibilidades de diálogo com o público pela escrita... bem interessante... mas o material ainda não é o que usei, não teve muita nitidez... hoje vou experimentar o pincel preto. Se não der, amanhã vou atrás do pincel usado pra vender carro... talvez sirva pras mulheres.
Concentrei-me em perceber a reação do público, que aumentava a cada minuto. Os olhares ávidos masculinos, que variavam entre o desejo e a repreensão de nossa ação. O espaço vitrine permitiu uma certa diluição na idéia de representação, provocando a aparição da polícia. Algumas questões se apresentam para mim, pós-debate e conversas com o público: não estaria a vitrine embaralhando aspectos diferentes da discussão? A questão da exposição do corpo da mulher não é uma coisa e a questão homossexual, outra? A vulgarização do corpo não está ligada ao primeiro aspecto, tanto que, na vitrine, os homens eram travestis, homens vestidos de mulheres?
Construção da identidade feminina... O que é isso? Erica propõe uma tessitura de narrativas e depoimentos do público, juntando imagem poética (ela narra a história de Santa Bárbara, mote para as perguntas que lança ao público, enquanto costura os pais de meninas na linha da tradição) ao trabalho de confronto com as questões de criação e manutenção das tradições machistas, de conformação da mulher. Proposta interessante, que desperta a atividade do público...
Mariana também propõe atividades de contato direto com o público. Agora, somos nós que construímos narrativas, depoimentos que dialogarão com o espectador a partir de provocações que ela deixou na caixa um do porão. Para mim, foi “o que é ser homem?”. Escolhi uma mulher para quem narrei uma história sobre o comportamento de um casal, quando se separa, concentrando-me na conduta masculina, contando uma anedota sobre um professor separado que assedia alunas e que, ao se confrontar com a inteligência delas, solta a pérola, “o que estraga a buceta é a mulher”. Foi interessante ver como as propostas de Mariana, de criar narrativas e depoimentos para serem comunicados a um espectador gerou a possibilidade de diálogos com o espectador visado e com os vizinhos que, devido à proximidade das pessoas no porão, ouviam a narrativa e a conversa e acabavam entrando no assunto. Gerou atividade no espectador e diluiu a fronteira entre representação e vivência. Para mim, a questão, para as duas, é da fronteira entre vivência e teatralidade.
Muitas questões se apresentavam para o debate. Moacir colocou um pouco o propósito da pesquisa e da mostra e eu busquei completar, falando do propósito do debate. Abrimos para as observações do público, que logo provocou, em nós todos, reações.
Pelo menos em mim, Marcelo e Saulo. Depois que reagi, percebi que não era o melhor caminho, e busquei voltar para o público o debate. Mas já havia dado o mau exemplo... Acabamos por discutir as opiniões ideológicas do público, quase colocando-o em julgamento, e resolvendo, pela conversa e argumentos, um debate que deveria ainda poder gerar em nós frutos. Parece-me que fomos um pouco despreparados para o debate e parece visível a necessidade de um maior planejamento de todas as etapas do trabalho.
Do meu ponto de vista, penso que devemos planejar as perguntas diretrizes do debate, que serão lançadas ao espectador. Que devemos mais ouvir do que falar, mais provocar o público do que explicar ou justificar o trabalho feito. Que devemos ter um ou dois mediadores no máximo. Que estes conduzirão as perguntas, tempos de fala e o rumo da conversa. Que os outros obscênicos deverão se dirigir ao mediador para colocar questões que considerem pertinentes ou para abrir discussões conceituais ou teóricas acerca do tema. Que o debate deve se concentrar nos aspectos teatrais, da eficácia da proposta e da percepção do impacto provocado no espectador. Que o espectador terá o direito de colocar sua opinião livremente. E que nós devemos nos calar, mesmo que estejamos fervendo por dentro, porque essa febre e indignação é o combustível precioso do nosso trabalho.

quarta-feira, abril 09, 2008

diário de bordo. por nina caetano

Obscena, segunda-feira, dia 07 de abril de 2008.
Nina Caetano

Preâmbulos...
Chuva forte. Fiquei sem luz, sem computador. Logo, não consegui levar o relato do dia 31, onde havia um desenho, uma proposta para os trabalhos da mostra work in process. Esse dia foi estranho, esqueci meu caderno. Ou seja, sem lenço nem documento. A chuva atrasou vários, inclusive eu. Patrícia, Idelino e Clóvis aquecem seus corpos, provocação na sala da diretoria.

O Encontro.
Sétimo encontro. Hoje eu trouxe o Hospício é Deus para o Didi, que não veio. Também não vieram Saulo e Lica, que já havia nos avisado de sua ausência, na semana anterior. Hoje é dia de planejar a mostra e não trabalharemos a prática. Começamos pelos relatos. Várias questões se apresentam. Anoto as idéias que surgem, sugestões de bibliografias, um possível planejamento para a mostra... e mais, algum planejamento da reunião, no sentido de dinamizar nosso trabalho. É preciso lembrar da equipe de registro e divulgação, de pedir sugestões de bibliografia...
E mais... levantar os pontos para as futuras práticas e discussões, a partir das questões colocadas nos e pelos relatos. Dentro do relato do Marcelo, gostaria de destacar o interesse no material produzido pelo pessoal do Ecum, mas não como relato. A prática de relato diário, acompanhando os trabalhos, me parece objetiva e clara. De qualquer modo, os textos são bem-vindos, basta que sejam disponibilizados para leitura. Sugiro ao Marcelo que passe por email. Podem fortalecer nossas discussões.
Nega provoca: não estamos nos deixando contaminar pelas questões colocadas! Eu, particularmente, até concordo, apesar das minhas anotações para a reunião de hoje incluírem pensar o dia da mostra como uma busca, na pesquisa, de respostas a essas perguntas. Alguns reclamam do aspecto “objetivo” ou “ditatorial” de algumas colocações. Eu penso, pelo meu lado, que falta rigor com a pesquisa, por parte de todos nós.
A prática da Patrícia fortalece a pesquisa por um corpo em ação, sem representação. Todos que foram ao dia de prática, ontem, domingo, estão radiantes e empolgados com o trabalho. Os relatos manifestam a repercussão dele. Sobre o trabalho do dia anterior, parece que as questões giram em torno dos mesmos aspectos: a forma recorrente, condicionada, codificada. A manifestação dramática, ou representacional, como índice desse código dominado, sedimentado. Involuntário até.
Em relação ao desenvolvimento, em pesquisação, dessas questões, pensei que devíamos considerar, para a mostra, um procedimento geral, que abarcasse/nos provocasse para pesquisar a questão acima colocada, e que já fosse relacionado à pesquisa de ocupação do espaço. Propus, então, ocupação/instalação como procedimento geral. Gostaria de discutir um pouco o conceito, pensar nisso a partir de uma perspectiva não representacional, ou seja, como performatividade (Josette Féral: olha o Ecum reverberando....). Mas não houve muito eco...
O que é a idéia do não representacional? Parece-me que passa, sobretudo, pela idéia de uma ação concreta, não a representação da ação de um personagem. É possível pensar em elementos de jogo entre ação, corpo/objeto/espaço/”médiuns: fontes sonoras, câmeras etc. Em elementos de jogo entre ação e textos, narrativas, fragmentos. Daí o interesse na atuação rapsódica...
Às vezes, tenho impressão que esses elementos não são claros para os pesquisadores. Estarão eles lendo o material teórico, alinhados com o projeto de pesquisa? Às vezes, tenho dúvida. Penso, então, em oferecer ao Obscena a oficina que ministrei em Ipatinga, pode ser legal. Penso que devemos, também, desafiar mais a pesquisa. Ou seja, que cada um proponha dinâmicas de trabalho, procedimentos, diretamente relacionados ao material teórico de base, para provocar a criação dos outros. Pareceu-me que, ano passado, quando trabalhamos com a tese da Nara, a partir da proposição dos pesquisadores, deu para avançar em procedimentos comuns. Nesse sentido, parece-me que a questão do material e dos procedimentos é uma discussão necessária.
Em função disso, na reunião, acabei por insistir em discutir o conceito que nortearia o trabalho dos dias de mostra. Toquei no assunto algumas vezes, mas sem reverberação. Penso que a idéia de ocupação/instalação deveria abarcar outros elementos da pesquisa. Legal, pois algumas propostas caminharam nesse sentido. Apesar disso, parece difícil para os pesquisadores, não misturar a pesquisa individual com procedimentos gerais. Confunde-se o fato de propor elementos de improviso dentro da pesquisa individual para o trabalho dos outros, como atores, com procedimentos gerais, ligados aos conceitos gerais pesquisados, que ajudem a desenvolver os materiais de cada um. Exemplo (sem querer parecer perseguir qualquer obscênico...): se a minha questão está diretamente ligada ao espetacular, propor que os pesquisadores tirem e coloquem roupas na vitrine, é desenvolvimento do material individual do diretor pesquisador, pois somos atores do seu experimento.
Isso não é um problema, óbvio: a idéia, para a mostra, é essa mesmo: como cada pesquisador se joga na pesquisa do não representacional a partir do conceito de ocupação/instalação? Mas isso também não é um procedimento geral, que abarque a pesquisa de todos. Em função disso, ela terá um espaço de desenvolvimento em colaboração com espaços de desenvolvimento de outras propostas individuais. Ou seja, é necessário ter espaço para todos desenvolverem suas pesquisas nesses três dias.
Em relação aos procedimentos gerais, parece-me, que nesse sentido, temos o trabalho corporal da Patrícia, a proposta da Nega com os objetos, e a proposta de pensar o conceito de ocupação/instalação como o provocador das pesquisas individuais de materiais. Sendo um dos conceitos-chave da pesquisa, ele permite desenvolver, em seu bojo, a busca por uma atuação não representacional.
A partir do conceito provocador, foi possível pensar as ações que nortearão os trabalhos dos três dias: no sábado, Marcelo ocupará a vitrine, Erica o hall e Mariana, o porão. Na segunda, como planejamento geral, foi proposto que William ocupasse a vitrine, e teremos o trabalho de Idelino e Moacir no porão. Iza na lateral do teatro e, provavelmente, Marcelo na vitrine novamente. Para a terça, a princípio, eu e Lica ocupamos a vitrine. Temos Patrícia no mezanino, Moacir no porão. Clóvis é mistério. Marcelo quer ocupar a vitrine, novamente. É necessário pensar espaços para os trabalhos de Didi e Saulo, na segunda e na terça, e guardar espaço para os debates que ocorrerão, todos os dias, após os trabalhos. São de fundamental importância, assim como o registro das atividades. Para isso, já escalamos a equipe responsável pela registro audiovisual: Erica, Moacir e Mariana.
É necessário eleger alguém para a equipe técnica do Obscena, para se responsabilizar pela relação com a equipe técnica do teatro. Quem sabe os diretores se interessam? São muitas coisas a pensar, para o bom andamento dos trabalhos. Talvez por isso o ar ditatorial... na verdade, estou tentando ser objetiva e conseguir resolver tudo até às dez, contemplando os desejos individuais, mas permitindo que o coletivo de pesquisa se manifeste. Tentar manter a fertilidade do terreno é necessário... sem que fertilidade implique em maternidades. Já somos mães de muitas coisas...

FEiTO



O palco não foi nosso desta vez... Azar o dele.

Como é de costume dos marginais ocuparem as camadas mais infeirores, estávamos lá... no porão. E não atoa: quanto mais se cava a terra, mais calor se encontra. Os esgotos estão para os ratos assim como o peito está para o coração.

Toda cabeça conhece bem o travesseiro sobre o qual descansa e sonha. E a minha não tem passado bem... Pesadelos.

Eu nasci hoje, sabe. Hoje minha mãe resolveu cumprir o seu papel de mulher e me pariu. E a parte de mim que não tem passado bem descansa e sonha sobre um leito de hospital por que resolveu mandar a vida pra puta que o pariu.

Foi desse jeito que eu cheguei: precisando emprestar a alguém os meus "muitos-anos-de-vida!".

Os parabéns não. Não empresto.

Azar o dele.

Estávamos lá... e não atoa.


Agora eu quero ver: cabeça à mil e uma prática a cumprir.

Onde está Brecht quanto mais se precisa dele?


Por um instante noto que não sou o único netsa situação. As expressões parecem levemente desapontadas. Um tom pastel colore os olhos e não há calor neste esgoto, nem disposição para cavar mais.

Porra... eu nasci hoje, sabe.


Nada parece sair do lugar. O mundo permanece desta forma.

A produção é pouca. Não é ruim, mas é pouca. É morna.

Ninguém é obrigado a produzir vinte quilos de ação por encontro, afinal.


Elementos e relações interesantes apontamcaminhos. Dediquei-me mais aos meus objetos. Consigo eliminar os menos convenientes. daí, então, a mulher começa a surgir como uma receita. Como algo produzido a partir da mistura de algumas, digamos, especiarias. Um produto simples e barato, porém exótico.


Afirma-se o desejo de reduzir a mulher a sua própria anatomia: buceta e sangue.

Há, certamente, uma idéia sobre a Alquimia. Sobre a conjugação de símbolos. Há uma outra sobre Religião. Tudo sugerido pelo espaço e pelos objetos.
Uma fábrica de mulheres.

Um açougue.

Carne. Pão, vinho e carne. E bonecas, sim.


Por que as ações me interessam mais, neste momento, do que a narrativa?


Sinto estar no lugar adequado às minhas questões.
Posso não ter ido adiante com elas, mas também não retrocedi.

Existem caminhos a percorrer. Comodidades para perder.

Existem relações a esclarecer. Tempo pra destruir... muitos anos de vida a cavar e uma cabeça pra descansar.

Perdão, "oque provoca é mais que o acontecimento".

Às vezes, há pouco a declarar.

Meus parabéns.
RELATO DO DIA 31/03/08 – I.D.E.L.I.N.O

Ontem foi um dia difícil. Cheguei fudido,depois de algumas horas de viagem e com apenas 2 horas de somo. Altera corpo...mente...bagunça tudo...estava fudido este dia. Joelho fudido,E como se não bastasse,neste dia em específico tinha duas opções no cardápio da noite:ficar e comer ou ficar sem comer e ir pro ensaio.O resultado vocês já sabem, né?
E pra somar o volume das desgraças,segunda feira ,dia de viagem,é um dia difícil,de grande excitação sexual.E chego assim excitado mesmo,ativo,pronto para devorar aquilo que primeiro vier...neste caso,o processo.Estava pronto para fazer,mesmo não querendo o corpo.
Embora "desgraçado" - como diria uma pomba gira em noite de gira -sem brilho,sem luz...queria lançar-me ao mar de criações, como uma bonequinha de sal que se deixa levar pelo mar.Veio Patrícia,sua prática,nossa prática inicial.Que aliás tem me agradado muito pela abordagem simples e eficaz...suficiente ao meu momento atual.Na seqüência,Erica propõe novamente a continuação da exploração com objetos.Dos objetos propostos,eu quis apenas os colares,a guia,as velas...Acrescentei ontem,a saia branca,o tecido vermelho.Ao contrário de segunda passada,ontem eu queria principiar uma construção(que construção?) com objetos,a fim de desenvolver minha idéia de instalação.
Queria,sem pré-conceitos ou precipitações(os conceitos sim,vivos na memória e revisitados no fazer prático e incorporados á prática)e consciente de ser o foco no não representacional.Deixei ser conduzido livremente pelos caminhos da intuição.Se o grupo, na grande maioria,está praticamente há um ano experimentado e com algum material já mais palpável,entendo que preciso começar um pouco antes pra me igualar aos demais.Ainda que num processo mais rápido,sinto vontade de gastar um pouco mais.Queria antes de tudo,me “sentir parte”,”entrar de corpo”,colocar o corpo,começar pelo corpo,deixar-me atravessar pela idéia,trazer a idéia no corpo e lançá-la no espaço como forma,como cor,como organização,como estética,como experimentação,como vivência,como sensação...até para que eu não pudesse me enganar mais á frente ou me esquivar do meu foco.Dessa forma,não consigo entender o trabalho,ainda que seja uma instalação,algo que não passe primeiro pelo meu corpo,que eu tenha experimentado primeiro.
Organizei os objetos em uma trouxa,que se encaixou em meu rosto e cobriu-o.Assim como a voz que emitia a narrativa.O corpo vibrou e deixei-me ser guiado pela vibração.Primeiro a voz,a narrativa,a cara coberta possibilitava uma deturpação vocal.Uma alteração física diferenciada.
Comecei pelo chão,onde concentra a energia das Baras,das mulheres da terra.,onde concentra a energia de Exú. O tecido vermelho e fino,possibilitou que eu testemunhasse,tudo que acontecia de fora.Não resisti ao terceiro olho,aquele de quem olha e logo vê uma imagem,uma situação possível no trabalho do outro(o do diretor).Porém, sentia-me apenas abusando do corpo e do som.
Clóvis,que iniciara mas acabou fuçando fora, interagiu.Seu corpo em contato com o meu.Nao sei oq eu percebera quando da interação, mas eu,logo me senti como um “cavalo”,uma “matéria” dando passagem á entidade,que passou a conduzir meus movimentos.E fomos assim:corpo colado,mesmos movimentos,mesmo corpo.Embora dois,estabeleceu-se a relação possível entre entidade espiritual x corpo mediúnico.Percebido isto, abandonei e fui buscar outras possibilidades e espaços possíveis.
Quis inetrferir em todos.Atravessar o espaço,com a mesma liberdade das Baras,donas dos caminhos.Sem pedir licença,tentando desfazer,desorganizar,desarticular,levar para outros espaços,os corpos em criação.
Veio Moacir,recpetivo.Interagiu verbal e corporalmente.Casamos narrativas distintas, corpos distintos, e no momento oportuno, abandonei-o.
Veio Didi, corpo envolto em faixas.Interagi.Tentei desarticulá-lo, desmontá-lo. Clóvis me surge novamente,agora próximo ao meu ouvido.Parece estimular-me com a leitura de sua narrativa.Sinto vontade de dançar a narrativa proferida e danço.O tecido, saindo do rosto, ganha movimento, vida.O corpo que antes apenas um corpo, parece representar algum comportamento das Baras, nas giras, algumas ações próximas...Erica sussurra.É hora de terminar.
Termino com a sensação de ter feito algo, de ter descoberto algum fio possível.Algumas coisas vieram como sopro divino: de fato não quero reproduzir comportamento dessas entidades.Quero um “espaço”dinâmico,vivo,que se transforme com o contato.Quero o meu corpo neste espaço, distanciado e ao mesmo tempo, dentro,como parte dele sem que precise teatralizá-lo. Quero “privilegiar” as relações dentro deste espaço que iremos propor.Transformá-lo num espaço de celebração, de acontecimento.Os corpos em “tentativa” me levaram pra uma possível “gira” onde todas as mulheres que vi embrionar-se neste dia,me soaram bem próximo das mulheres quimbandeiras.De repente me toquei para o fato de que “são elas”, as mulheres em construção desejadas, desvalidas,em comportamento e imagem, as mulheres de quem quero falar. Seria possível? Interessante?Viável? reunir,incluir,expor,propor todas estas mulheres em processo,no espaço final que tentaremos(eu e Clóvis) construir?É possível dialogarem, mediante suas estruturas,dentro do espaço proposto? Em procedimento e desenvolvendo material para ambos:nós e vocês?
Nada como a prática pra nos fazer repensar sobre nossa própria proposta.Procedimento ou material?Penso como possível as duas propostas.Vamos repensar isto novamente.
Quarta feira 02/04 – Vender sandálias e roupas femininas, neste momento , me possibilita estar em contato com mulheres.O trabalho está no meu corpo, na minha mente e deles querem habitar no externo. Não saberia racionalmente explicar o por que mas, quero desenvolver um material teórico-prático, pelo depoimento dos que nada sabem,dos que sabem distanciados e dos que praticam e sabem. Privilegiando o depoimento de mulheres comuns indiscriminadamente,mães e filhas de santo. Vender me proporciona este contato...exponho o tema, apresento o grupo, inicio o assunto e, naturalmente, a polêmica surge.O comportamento é um só: O sussuro toma conta das bocas, como se as paredes não pudessem ouvir o assunto de que falamos.Caras e bocas, representam, no rosto, o medo ou algum receio de alguém que se não conhece já teve o contato.O senso é comum:primeiro o sinal da cruz e em seguida “um Deus me livre...”e um corpo alterado de quem parece estar diante de algo tenebroso.As mulheres discutem sobre Pomba Gira.Colocam suas impressões.Certamente a visão católica cristã sobre o fato.A conversa torna-se independente de mim,passamos das salas ás cozinhas e,depois de vendidas algumas sandálias,tomamos café e elas continuam a destrinchar o assunto. Agora, sem mim,contam situações vividas, presenciadas...pergutam-me sobre o trabalho, propõe elementos, situações, possibilidades.Querem ver o trabalho (que nem bem começou).Desta forma,o trabalho se projeta, se constrói também nesta experiência única. O trabalho foge de mim, e estes indivíduos começam a ser também parceiros nesta empreitada.

segunda-feira, abril 07, 2008

Encontros públicos, reclames privados

Reunião obscênica.
Entramos, Idelino estava estirado sobre o sofá. O que está virando essa sala? Bobagem.
Leitura dos relatos. Idelino descreveu minuciosamente suas ações e gastou quatro folhas de papel com letras impressas em vermelho. Isa estava menstruada no domingo. Desculpem, essas coisas não devem vir pra cena.
Erica falou sobre o risco, o abismo. “Primavera, verão, outono, inverno e primavera” para aceitar as coisas. Tempo para aceitar as coisas.
Pensei mais ou menos isso: não estou bem! É sério! Quero nascer hoje. Moacir, me ensina! Quero falar, relatar, mas não sai. Tempo? Não sai. Meu corpo anda triste. Patrícia ajudou a sorrir ontem. Frescura; falta de laje pra bater.
Nenhuma fala substituiria o que fizemos no domingo. Mas tivemos que falar. Será que não há outra forma de organização burocrática além da fala?
Quando chegar em casa, quero assistir pornografia na internet. Ficar de pau duro e bater punheta vendo homem velho metendo. Não tenho o pau grande, mas quando está duro dá pra segurar com a mão fechada, subir e descer até gozar. Mais ou menos 17 centímetros que gosto de enfiar na bunda dos coroas, de preferência, gordinhos. Eu gozo muito e grosso. Meu pau não é muito nem grosso, mas a porra é. Algo tem que compensar. Nunca reclamaram nem do tamanho nem da porra. Gosto de pau também. Não gosto de porra, nem grossa, nem fina. Bom, tenho que pensar no encontro com a platéia. Não dá pra ter mais subterfúgio.
O que vamos fazer? Quem vai fazer o quê? Como vamos fazer? Acho que houve rodeio demais pra fazermos essas perguntas. Erica estava sem paciência, em partes, com razão. Eu também, mas ela fala na lata.
Marcelo quer ouvido, quer boca. Nina quase não dá. Dá, mas toma depois. Insegurança não é sempre bem vinda. Pesquisa é. Tenho dúvidas se todos entendem a palavra pesquisa da mesma forma. Oh, povinho forte! Ficaram pra mim as seguintes perguntas: como lidar com um processo quando falto de algum encontro? Intervir ou acatar?
Clóvis quer saber sobre a transgressão.
Sobre o fim de semana. Marcelo, Lica, Nina e William ficam com a vitrine. Erica vai narrar com objetos no hall de entrada. Moacir, no porão. Mariana preparará uma caixa de depoimentos ou coisa do gênero; acho que fará no porão também. Patrícia lidará com vozes no mezanino. Isa narrará da varandinha. Idelino e Clóvis eu não me lembro. Não entendi direito. Didi e Saulo não se colocaram.
O que vamos fazer com a platéia no encontro do final de semana? Como encontrar público sem fazer cena?
Eu proponho uma vitrine com homens de saia expostos para venda. Por que saia? Não sei ao certo. Mas algo relacionado com perversões com o universo feminino. As mulheres venderão esses objetos (homem) expostos. Três mulheres do grupo dirigirão a vitrine de acordo com seu desejo. Elas manipularão os corpos de acordo com suas intenções de venda. Poderão usar as narrativas que pedi: “o que você gostaria que um homem dissesse para e por você?” Cenas, imagens, narrativas, não interessa. Penso ser interessante trabalhar com o jogo de sugerir e esconder. Prendo-me em atividades que pegam de forma desviada e deslocada. Não me interessa muito a realidade nua. Cada uma terá cinco minutos para organizar a vitrine. Portanto, quinze minutos no total. As demais conversam, assistem, observam as possíveis reações, registram falas, etc.