agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

quarta-feira, julho 27, 2011

Convite para a defesa da tese de doutorado de nina caetano

Tenho o prazer de convidá-l@s para a defesa da Tese de Doutorado de Nina Caetano.
ops! Elvina M. Caetano Pereira

Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes da USP

TÍTULO: TECIDO DE VOZES: texturas polifônicas na cena contemporânea mineira

ORIENTADOR: Profa. Dra. Sílvia Fernandes Telesi da Silva

BANCA EXAMINADORA:

Profa. Dra. Maria Lúcia Pupo – titular- ECA/USP

Prof. Dr. Antônio Araújo Silva – titular– ECA/USP

Prof. Dr. Fernando Pinheiro Villar – titular - UnB

Profa. Dra. Cecília Almeida Salles – titular - PUC/SP

LOCAL: Sala Egon Schaden (1º andar do prédio principal da ECA/USP).
Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443. Cidade Universitária. Butantã, São Paulo/Sp

Dia 03 de agosto de 2011 (quarta-feira, dia de iansã), às 14 horas.

domingo, julho 24, 2011

matéria feita por leandro alves, para a tv ufop sobre a oficina como se fabrica uma mulher?
a oficina foi realizada durante o festival de inverno de ouro preto e mariana, de 19 a 22 de julho de 2011, por mim e por lica guimarães.


sexta-feira, julho 22, 2011

Diálogos obscênicos

artigo publicado no caderno pensar, do estado de minas do dia 16 de julho de 2011.
foto: luciana falcon

Confins, 22 de junho de 2011: 14:00 pm. Dentro de 10 minutos, embarcamos para Curitiba, onde iniciaremos nossa participação no Festival do Teatro Brasileiro – Cena Mineira. Integramos o Obscena agrupamento independente de pesquisa cênica e somos eu, Nina Caetano, escritora performer, e as atrizes Erica Vilhena, Joyce Malta e Lissandra Guimarães.
Quando iniciamos, em 2008, a pesquisa que culminou na intervenção urbana Baby Dolls, uma exposição de bonecas, não imaginávamos o fôlego que o trabalho teria, nem os desdobramentos que alcançaria. Éramos quatro pesquisadoras que, desejosas de colocar suas questões como artistas, queriam também colocá-las como mulheres. Em uma sociedade como a nossa, em que se multiplicam mulheres comida (mulher melancia, mulher jaca, mulher filé), em que as mulheres, como propriedades e objetos, são cada vez mais mortas, excomungadas e transformadas em bens de consumo, nosso desejo era produzir uma ação que pudesse desorganizar os estereótipos que se reproduzem em torno da imagem da mulher e da noção de feminino.
Baby Dolls é uma ação performática que tem como eixo de discussão a fabricação da mulher padrão, por meio da composição e transformação de três “bonecas” que transitam entre papéis sociais femininos ainda dominantes na sociedade contemporânea: a mãe, a prostituta, a noiva, a loira, a rainha do lar. Interrompendo o fluxo cotidiano do espaço urbano, essas bonecas terão, posteriormente, seus corpos mortos marcados a giz no chão e prenchidos com escritas.
Fizemos Baby Dolls nas ruas de Belo Horizonte e, posteriormente, em festivais pelo país. Em Recife, havíamos, pela primeira vez, ministrado uma oficina exclusivamente para mulheres e, agora, pelo Festival do Teatro Brasileiro – Cena Mineira, teríamos a oportunidade de levar o trabalho para as terras do sul, intervindo nos espaços urbanos de Curitiba e Porto Alegre e, ao mesmo tempo, ministrando oficinas em presídios femininos. Isso nos permitiria aprofundar outro aspecto da pesquisa que vínhamos desenvolvendo, pois, concomitante às intervenções urbanas que realizávamos desde 2008, a investigação temática do Obscena nos conduzira às mulheres marginalizadas, em especial aquelas em privação de liberdade.
Percebendo as instituições prisionais para mulheres como locais de potencialização das questões do feminino em relação à sociedade patriarcal e capitalista, o agrupamento realizou, de agosto a dezembro de 2009, um projeto com as adolescentes em privação de liberdade do Centro de Reeducação Social São Jerônimo. A partir dessa experiência, foi proposta ao FTB – juntamente com Baby Dolls – a oficina Diálogos Obscênicos, na qual visávamos a construção de um espaço relacional com 20 mulheres de instituições prisionais, em cada estado: um espaço para o afeto, para o toque, para a recuperação de identidades e auto-estima.
Em Curitiba trabalhamos com o CRAF – Centro de Regime Semi-Aberto Feminino, no qual tivemos, por parte das mulheres, uma acolhida surpreendentemente calorosa. Durante quatro dias, buscamos trocar experiências sensoriais, físicas, afetivas e proporcionar a nós e a essas mulheres – que, em sua grande maioria, foram presas a partir do envolvimento de seus companheiros com o tráfico de drogas e alijadas de suas famílias e do contato com seus filhos – a possibilidade de repensar nosso lugar social como mulheres e de exercitar nossa voz por meio da criação de um corpo cênico. Para isso, ao longo da oficina propúnhamos também, a partir de materiais diversos – de revistas e jornais a roupas, meias e maquiagem, de canetas e papéis a gravadores e câmeras – a construção de “objetos” ou de elementos expressivos e simbólicos que pudessem compor esse corpo cênico que atuaria, depois, em uma intervenção coletiva. Em Curitiba, acabamos realizando um grande desfile desses corpos-instalações para todas as mulheres do CRAF, ação novamente experimentada em Porto Alegre.
Na capital gaúcha, trabalhamos no presídio Madre Pelletier, em um espaço frio e inóspito, pouco propício às trocas e ao contato. Nesse presídio, de regime fechado e super lotação, em que muitas das mulheres não tinham sequer um cobertor para passar as noites que chegavam a 2 graus, tivemos que contar, mais do que nunca, com nossa potência feminina. Como salienta Erica Vilhena, “é muito difícil ser mulher e estar presa. Mais que o homem, a mulher sofre por estar afastada dos filhos e da família”. Por isso, mais do que abordá-las como atrizes, buscamos, como relatou Mendonça (jornalista que acompanhou nosso trabalho em Porto Alegre) chegar como mulheres que propunham, com doçura, destrinchar seus corpos a partir da redescoberta dos sentidos, há muito embotados pelos anos vividos nas galerias. Nossas “armas” eram massagens, relaxamento, a experimentação de cheiros e sabores comuns para nós, mas raros para quem vive na carência absoluta de tudo: morango, chocolate, leite condensado... Para nós, obscênicas, a experiência em ambas as instituições, foi transformadora.
Quanto às intervenções de rua, foi muito potente a troca que tivemos, principalmente, em Porto Alegre. Nessa cidade de povo aguerrido não passamos incólumes. A ação provocou reações, discursos exaltados, indignações e concordâncias. O chão liso de lajotas da maior parte das calçadas foi, para mim em especial, um presente: como uma lousa, o chão recebia os desenhos dos corpos mortos e a minha escrita amorosamente. 
Confins, 03 de julho de 2011: 22:34 pm. Foram dez dias de um trabalho maravilhoso e intenso. Agora, só quero ir para casa. 

terça-feira, julho 19, 2011

Ação "Lambe-Lambe" - cartas urbanas

Publico aqui a carta que eu e Leandro escrevemos e endereçamos (agora em Julho) às pessoas que participaram de nossa ação interventiva "Lambe-lambe" no evento Ocupe a Cidade do Galpão Cine Horto. Realizamos a ação de conversar e fotografar as pessoas, inicialmente no bairro Lagoinha e foi muito bom estabelecer com elas uma relação de proximidade, escuta e criação de um momento cênico-performático.
Uma etapa posterior foi a de mandar pelos correios a fotografia de cada um com uma carta de agradecimento e reflexões sobre essa ação.



"Belo Horizonte, 30 de Junho de 2011.

Prezado(a)

Agradecemos sua participação em nossa ação artística intitulada “A PRAÇA É NOSSA?” dentro da programação do evento OCUPE A CIDADE – Edição Especial de Teatro de Rua do Galpão Cine Horto (BH/MG) que aconteceu na região da Lagoinha em 28 de Maio de 2011.

Nós, artistas-pesquisadores do agrupamento OBSCENA juntamente com os coletivos OS CONECTORES e PAISAGENS POÉTICAS, buscamos desenvolver diferentes ações e performações cênicas tendo a CIDADE como cenário expandido e território de provocações, diálogos e conflitos. Foi muito bom encontrar e conhecer moradores e trabalhadores desse bairro que muito colaboraram com nossas ideias e inquietações.

Criamos espaços e pedaços de uma praça, pois acreditamos na revitalização do espaço público. Mas não apenas enquanto elemento arquitetural, mas principalmente como geografia humana dos infinitos tecidos que formam a cidade. PORQUE A CIDADE SOMOS NÓS!

Se a cidade hoje declara “PROCURO-ME”, no dia em que vivenciamos essa ação artística, ela pôde afirmar “ENCONTRO-ME” nas imagens das faces de cada um de vocês. A cara da cidade é a nossa cara! Daí a importância de ações poéticas interventivas que possibilitem o ENCONTRO, A GENTILEZA, A ALEGRIA E A CRIAÇÃO E INSTAURAÇÃO DE UMA CIDADE DOS AFETOS.

OCUPE A CIDADE!

CONVERSE COM AS PESSOAS!

FREQUENTE OS ESPAÇOS PÚBLICOS!

Abraços,

Clóvis e Leandro."

sexta-feira, julho 08, 2011

Vinte metros de liberdade (guest post)

Texto publicado por Renato Mendonça, jornalista de Porto Alegre responsável pela cobertura do Festival do Teatro Brasileiro - Cena Mineira, e gentilmente cedido para a publicação em nosso blog. 

 

foto: Cris Livramento


Como parte da programação do Festival do Teatro Brasileiro, o grupo mineiro Obscena orientou uma oficina de três dias no Presídio Madre Pelletier, em Porto Alegre. Para mim, uma experiência difícil de esquecer – além de reviver meus tempos de repórter, me fez espectador privilegiado de um momento fugidio (ou não) de liberdade. Confira minhas impressões abaixo.  O FTB etapa RS tem patrocínio da Petrobras e copatrocínio da Caixa. Consulte a programação completa do festival no site da Liga www.liga.art.br e siga pelo twitter @ftb_rs.  
A oficina que o grupo mineiro Obscena orientou no Presídio Feminino Madre Pelletier, em Porto Alegre, pode ser resumido em duas cenas.
Cena 1: Quarta de manhã. 18 internas, escolhidas pelo serviço de valorização social do presídio, chegam para o primeiro de três dias da oficina Diálogos Obscênicos. Elas são carinhosamente recepcionadas pelas quatro atrizes do grupo, mas suas caras estão sérias, os corpos estão duros, o ambiente está frio – talvez pelos 7°C que resfriam a capital gaúcha
Cena 2: Sexta de manhã. O cenário é o mesmo – o frio e descarnado auditório da penitenciária. Mas, agora, ao se reencontrarem, internas e atrizes se abraçam carinhosamente, são amigas, juntas na expectativa do grand finale da oficina – um desfile de modas no figurino do Obscena, que terá 15 internas, entre 26 e 42 anos, como suas modelos.
O que ocorreu entre uma cena e outra, para que elas fossem tão diferentes. Erica Vilhena, do Obscena, tenta explicar:
- Queremos fazê-las repensar a imagem que elas têm de si mesmas. É muito difícil ser mulher e estar presa. Mais que o homem, a mulher sofre por estar afastada dos filhos e da família. Nós viemos aqui trazer doçura, destrinchar o corpo delas. Não chegamos como atrizes, chegamos como mulheres.
A receita para esta transformação passa pela redescoberta da autoestima e dos sentidos, embaçados pela vida nas galerias. Em um dos exercícios, as oficinandas ficavam deitadas de olhos fechados e tentavam adivinhar cheiros como de bergamota ou de cravo, gostos como o de leite condensado e de morango. As atividades sempre incluíam massagem nos pés e relaxamento. Um luxo para quem dispõe de um fino cobertor para se proteger do frio.
Outra etapa importante foi cada uma das oficinandas criar um cartaz, a partir especialmente de recortes de revistas e jornais, que iria carregar na “passarela”. Os cartazes misturavam sofrimento e dor: três deles traziam o recorte com a pergunta “Por quê?” (tirada de um comercial da Pepsi), outro trazia a foto de Claudia Leitte linda, leve e solta, de braços abertos, outro tinha o recorte “Fogo cruzado”, enquanto outro trazia escrito “Mesmo descabelada, continuo sendo mulher. Gorda ou magra, me amo e não vejo diferença”.
O clima pré-desfile expunha os resultados da oficina. Com a trilha de “É som de preto, de favelado, mas quando toca ninguém fica parado” e do rap gospel “Entra na minha casa / Entra na minha vida / Mexe com minha estrutura / Sara todas as feridas”, a modelos cantavam alegremente, se maquiavam com a ajuda das Obscenas e davam uma recauchutada no perfil. Se não tem silicone, enchiam um balão e colocavam debaixo da blusa para turbinar o busto, se não tem roupa de grife, veste uma meia-calça colorida e cola adesivos para enfeitar. A Obscena Lissandra Guimarães deu a dica para bem desfilar, apontando para a câmera de vídeo que registrava as atividades da oficina: “Imaginem que essa câmera é nossa janela”. Nesse momento, pouco interessava que todas as janelas do prédio fossem gradeadas.

 Foto: Cris Livramento

O desfile foi singelo, mas emocionante, tendo como público funcionárias do Presídio e algumas presas. Exibindo os cartazes, mesmo com os rostos muitas vezes exageradamente maquiados e com os sinais de feminilidade próximos da caricatura, os pouco mais de 20 metros de passarela bastaram para provar que as modelos do Pelletier se negavam a se depreciar. O humor estava lá também: uma das modelos usava um adesivo escrito “Proibido” sobre o busto, outra preferiu colar a etiqueta “Liberdade” nos quadris. No canto do auditório, se via uma bandeira do Brasil que foi usada como máscara por uma das internas durante o desfile. Seria essa a cara do Brasil? Seria liberdade de verdade ou máscara? O depoimento Tatiane, 30 anos, aponta para um final feliz:
- Escrevo poesias e um diário. Tenho certeza de que, hoje à noite, a passagem que vou escrever no diário vai ser uma coisa bonita.
Nas homenagens de praxe que encerraram o desfile, unindo direção do presídio, oficineiras e oficinandas, uma das presas tomou a palavra e mostrou que a lucidez também passeou na passarela.
- Não vamos sair daqui (da oficina e do desfile) transformadas, mas vamos sair atrizes bem-formadas.
Pode ser que a oficina Diálogos Obscênicos sobreviva na vida das internas/modeloss resumida a algumas linhas felizes em um diário. Ou seja esquecida em alguns dias pela ação da crueza do regime fechado. Ou então anime o sonho de alguém pelo resto da vida. Difícil dizer como serão as próximas cenas, mas, naquele sábado de manhã fria, uma janela se abriu. 

foto: Cris Livramento