agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

terça-feira, setembro 27, 2011

Fórum Diálogos Obscênicos

Foto: Clarissa Alcântara

FÓRUM DIÁLOGOS OBSCÊNICOS
Atualmente, o Obscena realiza seu projeto Corpos públicos, espaços privados: invasões no corpo da cidade em parceria com o CCUFMG, dentro do projeto Cena Aberta. Como parte da residência artística, fóruns processuais de compartilhamento da pesquisa têm sido realizados ao longo do ano. O terceiro fórum Diálogos Obscênicos terá lugar nos dias 29 e 30 de setembro e 01 de outubro, no Centro Cultural da UFMG e arredores.

3º Fórum Diálogos Obscênicos

29 de setembro, QUINTA-FEIRA: Mesa de debates

Tema: "As relações entre corpo, poder e espaço"
Horário: 14h30 às18h
Mediador: Matheus Silva (performer e pesquisador do Obscena)

Convidados: Clarissa Alcântara (filósofa e performer, ela coordena o N3Ps);
Luiz Carlos Garrocho (filósofo e artista, ele atua em pesquisa e criação cênica);
Marcelle Louzada (bailarina e performer, ela investiga relações entre corpo e espaço público).

O Obscena recebe os convidados com as seguintes provocações:
O que pode um corpo público?
O que pode um corpo privado?
Tá tudo dominado?
O que uma invasão pode provocar na ordem do mínimo?
O que uma invasão pode provocar na ordem do máximo?
O que seria uma "cidade subjetiva"?
E a arte no meio de  tudo isso?
Somos corpos proibidos e acorrentados?
Já podemos ter "alta"?

30 de setembro, SEXTA-FEIRA: Invasões Obscênicas. Intervenções simultâneas no centro da cidade

Horário: 14 às 18h
·         Bate papo sobre Hystérias: Erica Vilhena e Rosana Ferreira
·         Sem Juízo, experimentações para um roteiro: Lissandra Guimarães e Nina Caetano.
·         Corpo Acorrentado: Matheus Silva.
·         Lambe Lambe: Clóvis Domingos e Leandro Acácio.
·         Conduza-me: Erica Vlhena e Lucas Alberto
·         Depontonoponto: Admar Fernandes e Joyce Malta

01 de outubro, SÁBADO: Diálogos artísticos entre coletivos
Convidado: N3Ps, Núcleo Permanente de Pesquisa e Performance.

Horário: 09 às 18h
Manhã: experimentação de práticas do N3Ps.
Tarde: experimentação de práticas do Obscena.

Conduza-me


14/09 - Às seis começamos. Limpei o salão, já me aquecendo com o cuido do espaço, cuidar está muito relacionado com a condução, quem conduz cuida do conduzido e este cuida em saber em quem confia, assim fiam junto ações, experimentam a junção de seus corpos, criam dinâmicas de apoios e improvisam no espaço. Ambos estabelecem códigos de confiança e intimidade, o tempo de trabalho afina a escuta. Isolar a visão abre minha percepção, isto é claro quando a faixa cai e tenho de ficar de olhos fechados, se não entendo o que o corpo de Lucas me propõe abro para ver o movimento, a venda isola também a luz, daí tenho de ampliar minha percepção do espaço. Meu pique de trabalho está baixo, meu corpo muito preso e preguiçoso, tenho de intensificar os exercícios físicos para dar mais gás às nossas experimentações, percebo que desejo ocupar mais e mais espaços, dançar horas e horas neles, mas o fôlego está curto, para próxima semana tenho de criar uma rotina de caminhadas e alongamentos para recuperar ou recriar minha potência física.
Percebemos que as articulações dos pés têm de estar bem lubrificadas para a dança ficar mais leve, meu corpo fica mais leve quando uso bem os pés, principalmente a ponta quando ele me conduz e os três apoios quando estou mais distante do seu corpo, fico mais equilibrada e mais segura no espaço. Para o próximo encontro trabalharemos mais exercícios de base e enraizamento, Lucas quer experimentar outras dinâmicas como o Contato de Improvisação, eu ainda não me sinto apta...

21/09 – Esta semana decidi retornar com meu antigo treinamento físico: caminhada de 1h e meia, alongamentos e contra minha vontade abdominais, que isso fique muito claro, rs! O corpo agradeceu, estava muito parada ultimamente, só trabalho trabalho... e nada de condicionamento físico. A mente também agradeceu. A cada encontro percebo o quanto fica mais tranqüilo aceitar a condução e criar com ele e, o quanto meu corpo está se atrevendo no espaço, que não vejo. Vez em quando ele me gira, assim como duas crianças de mãos dadas, eu grito, rio, é uma sensação muito boa e arriscada, não vejo nada, mas nossos dedos se seguram como garras e o corpo se solta. Quando paramos eu danço mais leve, creio que é porque perco totalmente a referência espacial, me sinto dançando num vácuo.
Lucas mantém algo que para ele é essencial e sempre toca neste ponto em nossos encontros: a delicadeza, a intimidade e o cuidado ao tocar meu corpo, é algo como sagrado, delicado, um toque que chega com muita sutileza e que ao mesmo tempo demonstra firmeza e confiança. Desta forma estamos criando códigos de comunicação sutis, enquanto nos alongamos e aquecemos mantemos os olhos nos olhos, gerando desde este momento cumplicidade. Neste encontro trabalhamos muito enraizamento e para leveza a dança dos ventos, os pés são fundamentais para o trabalho. Aos poucos vou arriscando mais, neste me soltei mais pelo espaço e deixei ele me guiar quando algum obstáculo aparecia, confiei, dancei só, aliás ele tem me deixado dançar só e vai se chegando, isso faz com que eu o perceba melhor também, dá para sentir sua movimentação à minha volta, cada encontro fica mais clara a comunicação entre nós e isso faz com que nos desafiemos mais e não nos acomodemos.
Tenho notado certas diferenças em meu feminino desde o princípio desta experimentação, estou menos ansiosa, há no contato com o masculino algo que gera um aterramento em certas histerias do meu feminino, o fato de Lucas ser quase da mesma altura que eu também me proporciona uma relação literalmente mais horizontal com um homem, percebi que convivo muito com homens bem mais altos que eu, aliás não é tão complicado ser mais alto que eu com meus 1,59m. Enfim, não tenho de olhar para cima e sim para frente, ele não tem de se abaixar para chegar até mim, estamos fisicamente próximos e isso é bom, me traz uma outra perspectiva, gera em mim outra forma de olhar o masculino. Outra alteração é no meu humor, sou conhecida pelo estopim curto, mas tenho aprendido a contemplar, esperar e a ser mais dócil, mesmo com toda minha acidez, há uma leveza na dança, mesmo que esta seja pesada, há um desprendimento que tem aplacado minha agressividade e trazido mais clareza aos meus atos, um novo eixo, um novo centro. Minha relação de posse com as coisas e pessoas também tem se desmanchado, tanto por este quanto pelos meus outros exercícios obscênicos, é essencial abrir mão do controle, deixar a situação se mostrar e só assim agir/reagir, tranquilamente ou imparcialmente ou cautelosamente.
Sexta próxima dançaremos na Praça da Estação, por volta das 17h, será nosso primeiro dia de RUA! 
Até lá!

segunda-feira, setembro 26, 2011


Palavras de Rosana Ferreira, atuante no processo 'Hystérias ou a Invasão do Y' em parceria com Erica Vilhena, vulgo Nêga Regina.

Belo Horizonte, 13/09/2011.

São 18:20 aproximadamente, tenho o compromisso em relatar sobre o tema intersexo,
onde me encontro inserida neste inter...
O começo é sempre o inicio...creio na primeira idéia exposta e o quanto é forte
em sua natureza. Ao analisar o tema, a própria ciência ainda não consegue
argumentar de forma sucinta o assunto ; as pesquisas em torno da matéria é algo mui
novo, e é provável que o processo de uma conjectura passe por caminhos já conhecidos:
engatinhar para dar os primeiros passos em algum lugar do futuro muito distante.O
estranho vira o “patinho feio” no mundo cientifico, e as divagações e reflexões chegam
ao ápice do absurdo nos consultórios médicos onde o analisado e o analisador se
deparam nas condições frágeis da questão e a falta de recursos para a efetiva resposta
levando-os ao um jogo do próprio inconsciente, onde se estabelece o mais forte para o
mais fraco, indo para um lugar ainda inexorável , por pender no alicerce da
medicina.A divagação é a luz tênue no fundo do túnel , mas o que se vê e o que se
sente é o sentido amplo da palavra: D E S C O N H E C I M E N T O.

domingo, setembro 25, 2011

O homem bomba e a mulher burka passeiam pelo centro da cidade

quinta-feira, dia 22 de setembro de 2011. Um homem bomba e uma mulher burka passeiam pelo centro da cidade. cruzam ruas, observam. às vezes eles param e apreciam algum elemento da paisagem urbana: uma loja, um carro forte, um banco, homens jogando damas na praça sete.
eles andam de mãos dadas.
de repente, ao cruzar a praça sete, eles são abordados por dois policiais militares, com arma em punho:
"mão na cabeça!" eles ordenam. o homem bomba rapidamente ergue suas mãos.
"você também!". também ergo as minhas. eles revistam o homem bomba, nos ordenam que coloquemos o rosto à mostra. pedem documentos. verificam nossa ficha criminal, fazem perguntas:
"vocês são punks?" "por que estão assim?" "o que estão fazendo?"
explicam que houve uma denúncia de punks e skin heads na praça, causando confusão. pergunto se é proibido andar vestido daquela forma, com o rosto coberto. eles dizem que não. a tensão inicial se dissipa e eles nos dispensam. mas aquilo já gerara o acontecimento: o circo já está armado na praça. as pessoas param, acercam-se, filmam e fotografam com seus celulares a cena de filme americano. a representação furando a realidade.

sábado, setembro 17, 2011

Sobre Dentro/fora "entre", Somos Cores e Formas e Sonoridades Obscênicas

Tempo de intensas produções obscênicas! E o que se expressa nestes espaços? Forças! Quando o risco risca nossos corpos, somos capazes de borrar a cidade com cores, formas, velocidades... somos capazes de botar nossos blocos de intensidades nas ruas e abrir nossos mares para o acaso.

Dentro, fora/ "entre" - espaços de performação:

Era 04 de agosto. Bandos de branco correm a cidade ao encontro de objetos sólidos, líquidos e indefinidos. Era preciso catar, selecionar nossos lixos, luxos, caprichos. Que gesto é este? Ao escolher estes objetos, guardávamos conosco. Eram nossos e de ninguém ao mesmo tempo. Seguíamos. Um fluxo ainda não vivido lançava-nos para cantos sujos, fedorentos, frios e outros que acabavam de ser varridos. Acumulávamos coisas. Nosso banquete para entrar no SESC era aos poucos preparado. Era preciso voltar a escutar meus gestos, meu corpo, minha respiração, a cidade e seus transeuntes. Muitos corpos corriam fixos em seus lugares.
Entramos: os de fora entraram com seus sacos de lixo coloridos! Os estrangeiros, em procissão, acompanhados por uma Ave-Maria, adentraram o espaço com suas trouxas repletas de surpresas. Um não-lugar passa a acontecer, a existir. Nada a explicar, apenas fazer. Já não tão brancos, o bando se espalha. Cheiro ruim, não é mesmo, minha senhora? Entre nós e aquelas pessoas lá presentes, um espaço aberto. E, com muito respeito, conforme observa Clóvis, escorremos entre o amontoado de restos, criando uma nova relação, informe por natureza. Na saída, carrinhos de compras de supermercados: o que habitualmente se carrega alí?

Somos Cores e Formas:

Havia um evento no dia 11 de agosto, o Festival de Performance. Nosso interesse era chegar no viaduto Santa Tereza. Desta vez fui de vermelho. Que bando de gente mais esquisita! Correm pela praça da estação, clamam por uma estátua nua, que gente mais obscena!! Sim, queríamos pintar o sete! Na rua, vidros quebrados, meninos que fumam, nada de novo. Porém tudo é tão novo quando queremos é deslocar, transmedir, desproteger o espaço blindado. Ocupar a cidade do concreto com afetividades pulsantes, com cores que berram porque se amontoam com outras, criando novas formas, novas maneiras, novas observações... tudo tão vasto e cortante como um jato de tinta.

Sonoridades Obscênicas:

A libido é instrumento de agenciamento. O tesão nos move pelos terreiros desconhecidos, porque assim foi desejado um 02 de setembro preto, vermelho e branco! Que bom é poder entrar em grutas para comemorar a vida, o pau duro, as ciganas, os sinos, as correntezas fortes! Que bom é poder transitar por gêneros com um salto bem alto! Ferragens, microfones, violinos, taças, molas e tapete vermelho: glamour das larvas! Glamour de divas do mundo outro! Música, muita música para poder transversar visões, confundir fronteiras entre nós. Tira a ideia presa daí que eu tô cansado das convenções! Quero mesmo é dançar, porque o tesão corporeia e grita por liberdade e menos servidão! Alívio!

Fotos: Daniel Botelho eThiago Franco

quarta-feira, setembro 07, 2011

"Uma Piriguete com Salto Alto Fuleiro!" parte 01


Sexta-feira, dia 02 de setembro, sobe ‘no tapete vermelho da gruta’ o pocket show poético musical “Sonoridades Obscênicas” (Obscena) e nele estou eu, Erica Vilhena, vulgo Nêga Regina de shortinho curto e salto agulha, muita make up e rabo de cavalo.
Neste trabalho canto, danço e louvo as entidades da Rua e às ações obscênicas que empreendemos no baixo centro de BH. Sou um corpo obscênico que provoca, engendra e excita os demais corpos que compartilham o espaço. É um trabalho extremamente prazeroso e meu desafio era me manter de pé e performando com o bendito salto alto e roupas curtas apertadas, Nina me presenteou com uma coleirnha, não poderia haver melhor acessório.
Estamos os doze componentes do “Sonoridades...” num espaço de 3x4, uma saletinha da Gruta! todos muito agitados, uma energia sexual fortíssima, minha bunda naquele shortinho foi alvo das mais incógnitas mãos, maquiava o pessoal e me aquecia, respirava sexo.
Calçar a sandália é alterar corpo, o quadril gira, a bunda se empina, o seios apontam, não há como não ficar GOSTOSA. A evolução do salto passa pela minha cabeça enquanto experimentava o desequilíbrio dos 15 cm a mais. As chinesas dos pés de lótus, o próprio scarpin, enfim, dos pés de 8 cm às costelas comprimidas pelos espartilhos, as bundas vão ficando cada vez mais empinadinhas, as letras de funk nos dizem bem desta realidade, o corpo da mulher, classificada segundo sua experiência na cama (cachorras, preparadas e afins) é o modelado segundo aquilo que o homem quer comer.
Entrei para a apresentação sendo puxada pela guia da coleira, Leandro tomou-a e se implicou na ação, adentramos o salão, os olhares que estavam excitados pelos demais obscênicos se depararam com aquela mulher sendo guiada e sua resistência ao ver outros corpos, mirava os no salão e ia para eles ainda de uma forma delicada e sutilmente sensual, mas ia! Ganhei e dei beijos, passadas de mão, enfim... um corpo em brasa, foi assim que me senti, em brasa, deliciosamente excitada e provocando os demais. Neste estado senti a piriguete que exala energia sexual e a direciona ao rapaz mais convidativo ou mais abonado do salão, só que no meu caso eu disparei para todos e todas que cruzaram seus olhares e corpos com o meu. Não há juízo de valor, a questão é expor o desejo e jogar com ele, a questão é que vindo de uma mulher este jogo se torna mais delicado de um modo geral os homens heteros têm dificuldade em lidar com esse assédio feminino, em BH isto é claro, por sua vez as mulheres se colocam como as presas da noite, lindas, educadas e com 3º e especialização, mas raramente se expõe ao ponto de cantar um homem ou chamá-lo para jantar de forma prática e objetiva. A mulher engendra a situação para o homem a convide a fazer algo e, assim de maneira sutil e sorrateira ela dá a laçada, mas é claro que é sempre ele quem está no controle da situação.

Ação do Espelho em banheiros femininos de bares de BH - Projeto "SCARPIN-ME : jogo de imagem e desafio"

Ontem recebi as imagens da ação dos espelhos espalhados em alguns banheiros femininos de bares de BH. Essa ação faz parte do Projeto "Scarpin-me: jogo de imagem e desafio" que é uma residência artística do Obscena com a Urucum - dança e teatro de Vitória (ES). A mesma ação foi realizada em Vitória e pode ser conferida pelo link: http://scarpin-me.blogspot.com/

Aqui em BH os responsáveis pelo trabalho foram a Erica e Saulo, queridos obscênicos.



Troquei algumas impressões com a pesquisadora de lá, Flávia Macedo:

"Gente, que interessante!!!! o espelho no Cine Horto revelou pra mim mulheres mais fortes e referências artísticas femininas (tem até Maria Bethania), já no Xoc Xoc. falou a mulher do povo, as piriguetes (hein, nega?), uma escrita mais bagunçada, confessional e bem mineira (entre a santa e a puta)...kkkkkk

adorei!!!!

isso aparece até nas imagens: do Cine Horto, uma bela moldura e cortina, no Xoc. Xoc, bem cru, rabiscado mesmo...falaram as "pretendentes" a atriz e do outro lado As piriguetes...ambiências diferentes provocam escritas muito particulares, né?..."

Clóvis Domingos, 06/09/2011


"Oi Clóvis,complementando o que vc pontua, algo que compareceu nos botequins de Vitória e Vila Velha foi o grande número de palavrões ( cu, bunda e afins), além de nomes de mulheres. Altamente catártico e profano!"

Flávia de Macedo, em 06/09/2011

...

"Que legal, hein, adoro esse descaramento, essa liberdade, essa escrita selvagem, popular, menos domesticada...o mais bacana dessa ação para mim é a possibilidade de algumas mulheres "grafitarem" suas vozes e desejos...o espelho seria então esse muro, esse palco, um espaço cênico público para confissões femininas particulares... lugar de brincar, espaço do imaginário...o próprio bar é muito legal: espaço do prazer, dos excessos, dos vícios, muitos perigos...

fora que é uma bela instalação, cria um cantinho performático, plástico e diferente dentro de um banheiro...convida, provoca, seduz...chama: " espelho, espelho, meu...quem vc gostaria de ser tão bela como eu?"

sobre as escritas femininas: isso me lembrou uma ação performática que fiz no OBSCENA, que era escutar narrativas de dor e amor de mulheres desconhecidas dentro de um banheiro de teatro...mas a ação do espelho é potente também pelo fato de tornar a ação desse projeto uma ação pública, invadindo os espaços da cidade e do cotidiano...

Espelho: espaço de uma "pública ação", ou melhor: espaço de escrita e publicação feminina."

Clovis Domingos em 06/09/2011


terça-feira, setembro 06, 2011

Conduza-me – quarta-feira, dia 31 de agosto de 2011


Ele me pede para chegar 30 minutos mais tarde, perto das 20h a porta da Gruta se abre. Eu estava mais aberta à sua presença, de certa forma ansiosa para a prática, ao longo da semana pensei muito sobre minha feminilidade e suas más formações ou seus desequilíbrios... dançar com este Rapaz me possibilita reaproximar-me dum corpo masculino, observando quais formas de tocá-lo, senti-lo e trocar com este de maneira harmoniosa e produtiva.

Durante estes sete dias que separaram nossa prática identifiquei inúmeras falhas no meu entendimento do que é ser mulher, do que é ser mulher em relação a um homem, o que é sustentar meu corpo frente a este masculino sem sucumbir, sem achar que devo me submeter para ganhar sua atenção, sem me iludir e forjar um príncipe encantando. Sua estatura se harmoniza com a minha, nossos corpos são pequenos e fortes, fica mais fácil acompanhar seu ritmo, seu quadril está próximo ao meu e percebo o fluxo da dança com mais clareza.

Ele estava decidido: _ me passa seu computador e HD pra eu fazer a lista de músicas.

Adorei!

Começamos com Billie Holiday e Louis Armstrong, uma doce canção, ele me conduziu com as pontas dos dedos e eu me soltei, quanto mais leve era o toque mais fácil era compreender qual direção seguir, qual ritmo empreender, onde me colocar, em qual parte de seu corpo eu deveria me orientar, foi preciso, suficiente. Em seguida um heave metal, ele então segura firmemente meus dedos com os seus e me puxa, corremos pelo salão, os dedos se agarram e é mais fácil quando ele está lado a lado comigo, nossos pés não se cruzam assim, seguem paralelos. A experiência foi maravilhosa, pus-me a pensar quantos e quantos passeios públicos podemos usar para sair correndo e correndo, os olhos vendados, tudo é possível, a adrenalina sobe sobe sobre... eu me rio, falo palavrões e meu corpo se solta no espaço, só os dedos só os dedos.

O chão é um local generoso de exploração, apoios, encaixes e sobreposições – criação de formas carnais afetivas e dinâmicas.

Sobre a intimidade. Esta é concretamente colocada, sinto-me em postas. Ele está muito perto, percebe todos os movimentos do meu corpo, quando me travo, quando me perco, quando me empolgo, não há como fugir ou fingir, é humano, é ritmo, é pulso. Percebo as imagens femininas em mim construídas pela cultura machista patriarcal é visível, são estas falhas e ausências minhas que preciso reorganizar. Preciso destruir e reconstruir outros símbolos, signos para estas relações, para as minhas afecções. Enfim, amanhã é feriado ainda não sei se dançaremos.

Hystérias ou a Invasão do Y

Retornamos aos trabalhos, Rosana e Eu. Ontem, no CCUFMG nossos corpos se puseram em exercícios de enraizamentos, os sons da cidade vinham das janelas cerradas e nos afetavam. Exploramos apoios e impulsos, o desgarramento do chão, subir, articular-se para ramificar-se no espaço, assim como as imagens que vimos das organizações cromossômicas – xx xy xyy xxy

Propus a Rô que experimentássemos um corpo órgãos aterrados e enterrado. Uma massa de carne terra que se propõe ao remodelamento e que está neste exercício. O Y que invade e instaura uma re organização do sistema até então empreendido. “Como você se sente tendo este par de peitos e sendo um homem?!” eis a questão que não devemos nos afastar, quem é este ser sexual/sensual/erótico que aqui se instaura e se re instaura. Quem é esta mulher formulada num corpo (interno) e hormonal masculino?

Rosana está no meio da sala, encolhe-se o máximo que pode, ela é grande, volumosa e arredonda-se, busca seu umbigo. A qualidade dos seus movimentos são também andrógenos são doces, pesados, leves e ríspidos. Ela manifesta suas qualidades fêmea macho e eu penso na terra que cobrirá este corpo. Este será nosso material de re instauração deste corpo ambíguo, não binário.

Hoje iremos navegar pelos links abaixo:

http://vilamulher.terra.com.br/transexuais-secundarios-e-treinamento-9-5080510-112085-pfi-luizaeduarda.php - (aculturação com gestos femininos)

http://vilamulher.terra.com.br/comunidade/mostra-frame.php?url=http%3A%2F%2Fwww.bccclub.com.br%2Fbcc.htm (crossdressers)

http://transexualeodireito.blogspot.com/ (blog de advogada que se especializou em casos de redefinição de nome e estado sexual)

http://vimeo.com/24371272 - (programa com Dr. Ronaldo Pamplona – Os Onze Sexos)

segunda-feira, setembro 05, 2011

"Uma Piriguete com Salto Alto Fuleiro!"


Relato Projeto Residência Scarpin-me – Cia Urucum de Teatro Dança-ES e OBSCENA-MG

Desejo começar meu primeiro relato no Blog do Projeto Scarpin-me dando asas à minha imaginação: Qual a outra mulher que você gostaria de ser? Eu? Eu, Erica de Vilhena Queiroz, que respondo por Nêga e poderia ter sido batizada como Bartira? Bom, eu tenho a dizer que meu anseio é ser ‘uma piriguete com salto fuleiro’. Sim, daquelas com micro shorts, bustiês e batom vermelho na boca. Dessas que se encontram pelas baladas, dançando no salão desvairadamente e se jogando em quem é o alvo do seu desejo! Esta imagem me levou a uma busca do significado da palavra piriqguete e sua origem, os links abaixo são no mínimo instrutivos:

http://revistatpm.uol.com.br/reportagens/sera-que-voce-e-piriguete.html

http://www.manualdocafajeste.com/2008/11/30/como-uma-santinha-vira-uma-piriguete/

http://desciclopedia.ws/wiki/Piriguete

É incrível os discursos sobre as piriguetes e o mal que elas fazem à sociedade e, o mais incrível é que ninguém menciona o bem que o machismo faz ao mundo com essa massa de homens há séculos usando as mulheres, engravidando-as e pulando fora para comer outras e outras amém. Bom, indignações à parte e sem levantar a bandeira do piriguetismo creio que esta imagem feminina muita pano dará para minhas investigações junto à Cia Ururcum de Teatro Dança, no projeto de Residência com o Obscena, agrupamento independente de pesquisa cênica.

Assim sendo experimentarei daqui de BH meu corpo piriguete e proponho um primeiro objeto de modificação corporal = um salto alto. Eu literalmente não sei caminhar com este artefato e será para mim uma aculturação piriguetista. Experimentarei este no trabalho que desenvolvo junto ao Obscena, especificamente no trabalho ‘Sonoridades Obscênicas’, um misto de música e poesia num tom erótico erudito, uma exploração espetacular dos materiais que coletamos em nossas intervenções urbanas.