agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

quinta-feira, setembro 28, 2017

Lambe –lambe Primavera



Sábado, dia 23 de setembro, realizamos a ação Irmãos Lambe-lambe no Centro de Reeducação Social São Jerônimo em Belo Horizonte. Fomos convidados pelo artista e educador Davi Pantuzza, que também foi integrante do Obscena. Realizar a ação num espaço sócio-educativo para jovens do sexo feminino se configurou como um deslocar-se e desalojar-se. Primeiro porque a ação foi desalojada da rua para um espaço privativo. A ideia inicial era realizar o lambe numa praça da cidade: Praça da Liberdade. Mas por motivos de força maior, tal desejo não pôde se concretizar e então tentamos criar uma praça com flores dentro de um espaço prisional, o que se constitui como uma heterotopia.

Levamos flores com cores diferentes, além de tecidos, para que pudéssemos subverter momentaneamente o espaço duro da Unidade. Outro desafio foi não podermos utilizar nossa câmera fotográfica e nem ficar com as imagens feitas das jovens participantes, isso por serem menores e por questões institucionais e de segurança. Dessa forma, a câmera fotográfica utilizada foi a da Instituição e Davi ficou responsável de imprimir as imagens para serem entregues às jovens, enquanto nós enviaremos uma carta.


Uma característica muito marcante nessa experiência no São Jerônimo (o Obscena já desenvolveu um projeto lá também há alguns anos) foi a participação interessada das 05 jovens que já trabalhavam com Davi, que criaram diferentes e inusitadas composições com as flores, tecidos e corpos. De fato, a primavera se apresentou nessa experiência!!! Houve um momento no qual elas decidiram em como o Davi seria fotografado, criando arranjos com flores e tecidos. Isso para mim revela a força dos laços de afeto e proximidade que foram estabelecidos. Num ambiente cuja atmosfera é sempre hostil, vivemos momentos de alegria, criação e encontro.

Depois de feitas as imagens, tivemos um momento em roda com exercícios de respiração e conexão corporal. Elas partilharam textos trabalhados com Davi, mostraram seus cadernos de processo e juntos registramos num tecido nossas sensações, afetações, a partir de escritas, desenhos, e as flores também vieram se juntar a esse tapete colorido.


Foi um lambe diferente, até nossos sapatos foram retirados. Descalços pisávamos num território comum: o sensível e o humano. Isso me lembrou o texto do Nilton Bonder, no qual, o autor diz que os sapatos são como identidades que nos protegem do encontro com os outros na diferença. Ali vivíamos exatamente isso: diferença, desalojamento, menos identidade e mais ENCONTRO!

Num determinado momento, uma jovem pediu que juntássemos os dedos e formássemos o desenho de uma estrela. Alguém falou: a Estrela de Davi. Interessante porque simbolicamente, em várias culturas, este é um objeto e escudo de proteção. Acredito que a arte, como campo sensível, nos proteja do contato com o horror do real. Arte é metáfora, linguagem, tessitura, elaboração, reconexão e espiritualidade. Arte é utopia. Criação de um outro mundo paralelo ao mundo do concreto, ao mundo já estabelecido e às normas vigentes.



Foi um encontro muito bonito porque desalojado, trazendo poesia e inquietude, feito nas frestas, como a imagem deleuziana da flor que emerge em meio ao chão cimentado e cria uma linha de fuga. A flor que abre e transborda os espaços duros. Volta a imagem dos vagalumes do texto do Didi Hubermann. A realidade nunca está dada, há pequenas luzes que brilham em meio à noite! Há sobrevivências.... Práticas minoritárias, vagalumes, efêmeras, por isso potentes, se fazem, se desfazem, se refazem. Afirmam os possíveis. Não são prisioneiras do ideal, mas abraçam o real que nos desafia. Como estar à altura daquilo que nos acontece?

Como acolher o inverno e fazer dele primavera? Como viver inverno e primavera juntos? Como viver arte e produção de mundos? Como desalojar e realojar? Procuro-me ou Perco-me? Mas ao me perder encontro com os outros! Encontro as forças compositivas de um mundo possível. E a rua se criou num espaço fechado. Mas rua é diversidade, e lá tínhamos tal realidade. Certezas ou formas pré-estabelecidas podem ser grades que nos aprisionam. A liberdade talvez habite o risco, o não-saber, a aventura, o perder-se....


PROCURO-ME

PERCO-ME

ENCONTRO-TE!!!


domingo, setembro 03, 2017

"Nós levamos o mundo na nossa boca ao falar".

Cadeiras: corpo, palavra e espaço.

Cadeiras: cor, corpo, encontro, deambulação...



Cadeiras: atravessamentos, fala, buracos, vazios....

Na Ocupação A RUA VIVE!!!

Na Festival LIVRO NA RUA!!!!!

"falar é antes abrir a boca e atacar o mundo com ela, saber morder. O mundo é por nós furado, revirado, mudado ao falar (...) Nossa fala é um buraco no mundo e nossa boca uma espécie de pedido de ar que cava um vazio - e uma reviravolta na criação" ( VALERE NOVARINA. DIANTE DA PALAVRA).