agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

segunda-feira, março 31, 2008

Relatos Obscênicos de Erica Vilhena, a Nêga.

Relato(´orio) Obscênico - O vazio 24/03/2008
Hoje, por fim, partimos para a prática. O grupo uniu-se para exercitar as propostas de Patrícia e minha. Cheguei atrasada. Nada positivo para quem trás consigo um dos motes do encontro. A chuva, o quebra-cabeça à procura dos objetos pertinentes. A ansiedade de ver os corpos a mover-se, corroendo-se no exercício de reinventar-se. Parte do grupo estava no Mezanino, como combinado e Patrícia chega propondo que fossem para o palco. Eu adentrei o Marília nessas condições. Com um saco de pipoca, uma sacola, uma super mochila e uma sombrinha nas mãos. Excitada e envergonhada. Fomos para o palco. Alojei a mochila e demais bagagens no banco e troquei idéias e beijos com os que chegavam. Troquei de roupa e cumprimentei Bacelar que estava ali com seus cabelos ao vento e eu a me perguntar: ué, num entendi? Alonguei-me como pude, Lica muito sabiamente colocou-me em meu devido lugar quando pedi mais tempo para me aprontar. Ainda bem que temos pessoas a nos acompanhar pela vida! Patrícia pede que desçamos do palco e façamos algo como um ‘groundin’ na frente da primeira fila. Inspirar descer enraizar-se expirar subir permitir que o chão nos impulsione. Subimos para o palco e em roda – groundin; ir para o chão = RELAXAR = ESPREGUIÇAR AS ARTICULAÇÕES – PASSAR PELOS PLANOS NESSA AÇÃO – em pé = sacudir – pêndulo – girar – mola + passar pelos planos nesse exercício. Enquanto todos, menos MAROCA BOBOCA, MARCHELO, IZA E CRIS MOREIRA QUE NÃO APARECERAM, foram tomar notas e água aprontei o espaço. Meia lua com os objetos. Os atuantes surpreenderam-se com as duplas e trio, por mim propostos, para o procedimento. Ofereci a Bacelar os objetos que seria de Iza e Cris, expliquei mais ou menos do que se tratava e preparei a câmera para registrar. Nina perguntou se haveriam indicações, _não, não há indicações. Façam, exerçam uma trajetória com o objeto + narrativa + o outro que o acompanha + o espaço que os compreende. Pode esse procedimento gerar uma ação cidadã? Desejo persistir nessa experiência, conto com a generosidade do grupo. Creio que tal procedimento é latente por que o indivíduo vê-se como dirigente da própria ação uma vez que lhe são entregues um ou mais objetos e um outro ser de sua espécie encontra-se a seu lado para agirem paralelamente dentro de um determinado tempo espaço. O modo como cada um se coloca diante do objeto e do outro trás referências da maneira como o ser humano organiza-se em comunidade. Podemos dizer que este exercício pode ser a tentativa de gerar um micro cosmo uma reverberação do todo socioeconômico e cultural que nos abarca, que gera e alimenta nossa realidade. Comportamentos são suscitados ao longo do procedimento e estes são evidentemente pertinentes a determinadas classes sociais – a imagem da mulher em cada uma delas, a função da mulher em cada uma delas, o ponto de vista feminino em cada uma delas. Da puta a casada. Do pregador ao apregoador. Do transvertido ao transtornado. Do solitário ao casado. Em todos os casos a mulher como bueiro do mundo. A mãe terra que sorve as mazelas do mundo e o transforma. A mãe terra cansada abatida frente ao homem capitalista, machista suvinista. E cansada também frente à mulher conformista reprodutora de mão de obra barata, romântica alienada de sua função nessa existência. Não há problema em ser puta ou freira ou casada desde quando essa é uma opção da fêmea e não do contexto socioeconômico. Que cada um exerça sua função nessa terra sem precisar escravizar-se ao outro, nem mesmo no exercício teatral. Por isso defendo uma postura de atuantes e não atores, em verdade somente mudo o conceito no intuito de nos desvencilharmos dos conceitos de interpretação e/ou representação. Uma pergunta a mais se coloca: é necessário tomar somente os objetos que ofereci como possíveis para o exercício? Creio que não. Esses foram somente impulsos que tive e desejei que reverberassem em todos. Os objetos que puderem somar nossa criação devem ser trazidos, pois já não domino mais esse procedimento compartilho-o com todos. Que ele seja instrumento de transformação perene em nosso agrupamento. O caos cultivado produzido exercitado apreendido concretizado assimilado fisicamente e novamente desconstruído ‘caotizado’ ‘caosficado’. Após a prática, que não descreverei aqui porque já temos a fita de vídeo com meu registro, fiz alguns apontamentos:
1- Somos fruto de uma contemporaneidade vazia, daí nossa dificuldade em compor no vazio?
2- Será que devemos compor e decompor as formas criadas com rapidez? Por que não degustamos mais o que fazemos?
3- Será que o outro que me acompanha é somente um monte de carne osso e músculos, um corpo que consumo e saio quando canso e/ou me sacio?
4- O objeto ofertado não é o que se esperava, o que fazer com o inesperado?
5- Será que estou compondo em meu corpo e ações aquilo que assimilo dos textos estudados e discutidos?
6- Como sair da representação e atuar no tempo espaço no qual me encontro?
7- O que faço se não represento e/ou interpreto? O que faço diante desse ‘vazio’? É a função de atuante uma estratégia para compor no tempo espaço ações pertinentes ao tempo contemporâneo e suas singularidades?
Creio que é isso... Saúde força e fé a nós OBSCÊNICOS.

segunda-feira, março 24, 2008

tecer corpo/espaço/objeto/narrativa

Partimos para a prática. O grupo uniu-se para exercitar as propostas de Patrícia e de Érica. Fomos para o Mezanino, como combinado, mas Patrícia pediu que fossemos para o palco. Patrícia pediu para o grupo descer do palco e fazer o alongamento em frente ao palco, na frente da primeira fila. Inspirar, descer, enraizar-se, expirar, subir, permitir que o chão nos impulsione. Subimos para o palco e em roda. Seguimos as instruções de Patrícia para trabalharmos alguns movimentos como: RELAXAR - ESPREGUIÇAR AS ARTICULAÇÕES – PASSAR POR TODOS OS PLANOS NAS AÇÕES – sacudir – pêndulo – girar – mola. Em seguida, Érica fez meia lua com os objetos. Os atuantes surpreenderam-se com as duplas e trio, por ela propostos para o procedimento. Érica explicou a proposta e nos ofereceu os objetos. Em seguida, ela foi registrando nossas improvisações através da câmera. Eu fiz minha improvisação com Nina. Como foi difícil! Eu recebi ataduras e mais ataduras... o que fazer com tudo aquilo? Nina começou a me enrolar nessas ataduras... “a mulher tecendo a vida com toda a sua dimensão e complexidade. O caos é instaurado no limite entre o que é real e que é fictício. Quando os movimentos se acabam, eu penso em outro ou eu deixo meu corpo ir? O silêncio talvez seja um dos maiores momentos de verdade, de não representação! Na minha improvisação com a Nina, os momentos em que eu mais aproveitei foram nos instantes de silêncio. Tarefa difícil! Como não representar, uma vez que os objetos por si só já são cênicos? Lutar com o inesperado, brincar com as sensações, com o não dito, dialogar narrativa + ações físicas e vocais + objeto, explorar o espaço, não ilustra, presentar ao invés de representar. Perguntas difíceis de serem respondidas nas práticas... é isso!
didi

sexta-feira, março 21, 2008

Sobre o pseudo

21/03/2008
Primeira prática
Findo o ECUM. Atrasado, cheguei correndo. Todos já aquecendo. Corpos espalhados pelo palco. Uma imagem. Patrícia conduziu o primeiro exercício chamado mais ou menos de dança criativa, embora haja dúvida sobre o nome exato da dança. A liberação dos corpos dos movimentos mecanizados e impostos sobre o desejo parecem os fundamentos das ações.
Em seguida, Érica passou a conduzir as dinâmicas narrativas com alguns objetos. Rapidamente, afoitos para mostrar serviço, quase todos nós fizemos imagens, movimentos, falas, discursos, loucuras e ousadias; tudo que atores bons sabem fazer: truques. Eu estava me achando o máximo. Quase gozando com tanta criatividade dentro só do meu corpo. Tudo se transformava, significações reverberavam em cadeias infinitas. Que vergonha!
Depois, Lissandra, (Lica) questionou, colocou em xeque, nossa facilidade em mergulhar nos universos supostamente desconhecidos. Dei uma gargalhada por dentro. É que não existia porra nenhuma de busca do desconhecido naquilo que havia feito. Caminhei por terrenos conhecidos, confortáveis, eu acho. O pior é que por um segundo pensei que tinha arrasado. “É difícil mesmo. Ouso dizer que tem que ser difícil”, disse Lissandra. O enunciado atenta-nos para a importância em cuidar, quase vigiar, nossas ações. Isso também não significa que temos que racionalizar antes de fazer. Mas, caso contrário, correríamos o risco de deixar que o anseio pelo pós nos lançasse num lugar cômodo, mas que, pelo caráter aparente de devaneio, supõe-se inovador. Que medo! Que susto!
Mas como sair do lugar sem perceber que está nele?

quarta-feira, março 19, 2008

Relatos Obscênicos de Erica Vilhena, a Nêga.

Relato(´rio) Obscênico – 17/03/2008
Hoje ela colocou um vestido preto com alças brancas. O tecido é trabalhado e debaixo dos seios ele se abre em cone, realça seus quadris e _sinto-me bem. Passa na Tupinambás, onde há muito tempo comprava ritualmente caixas de BIS, _naquela época ainda nem tinha o branco. Entra e seus _meus 14 anos se fazem naquelas prateiras, naquele cheiro doce misturado a tinta no papel dos enfeites de aniversário. Compra duas caixas de BIS, sendo que hoje ela pode pegar uma branca e uma preta. Sobe a Bahia novamente. Ao pé da escadaria há uma mulher, carrega sacos de lixo e arruma sua rua alargada pelos dias na rua. Há também um homem se ajeitando na escadaria, ambos se resguardam como podem _é, e será mais uma noite na rua. Ultrapassa o Palhaço das Artes e _me dá uma pipoca de um real. Ela sorri para aquela senhora que já tem poucos dentes na boca e pensa em como ela deve saborear sem garras afiadas. Saliva. A senhora coloca muito bacon, seu estômago fica feliz à ação da mulher com buracos no sorriso. Apanha do saquinho dá boa noite e sobe a Alameda feliz da vida. O vestido é longo e solto _ solto-me nessa roupa e nessa noite. Alcança as escadas. Entra no saguão e Crovito está encostado ao corre mão, está sério. _cansado? Lica, Moa e Cris sentados no chão, calor. Ela come e conversa.
‘_ são flores Nanã, são flores, são flores Nanã Buruque, são flores Nanã, são flores do seu filho Abaluaê. Nas horas de agonia quem é que vem me valer é seu filho Nanã é meu Pai ele é Abaluaê, é seu filho Nanã é meu Pai ele é Abaluaê.’
Entraram para sala de reunião. Sentaram-se e Lica já deposita na mesa a guloseimas a serem repartidas entre nossos paladares. Ela retira da bolsa a caixa do preto e oferece também o seu bocado. _é só falar no diabo e ele aponta o rabu... Saulo adentra a sala sorrindo, seus olhos brilham constantemente. Ele e Crovito trocam seus habituais lisonjeios e ela sente-se friccionada com a cena. Sorrisos no ar. Iza chega. Maroca (Boboca) também. Começaram a ler os relatórios. Ela já havia lido o de Moa pelo blog. Mas antes, Patrícia com seu sotaque paulistano e sua voz grave e tensa, fez a seguinte pergunta _e esta entrou em mim como uma lança me remexeu e por isso percebi seu valor e pertinência: _qual a razão de sairmos de nossa empreitada semanal para irmos assistir a abertura do ECUM? O que buscamos num grupo de dança quando nos dispomos a assisti-lo? De cara ela respondeu: _bem, Patrícia, meu objetivo é conhecer o grupo. Creio também que irmos a esse tipo de evento funciona como aditivo à nossa comunhão. Fortalecemos nossa imagem de agrupamento nesses agrupamentos. Enfim ela tem que pensar mais e mais nessas questões levantadas.
Crovito abre a sessão: pode o ator engajado suscitar tal ação no espectador? Para fundamentar tal questão recupera a imagem de Lica com a porta nas costas, uma experimentação do ano passado quando a Maldita ainda tinha essas mulheres em sua companhia. _ perderam, que pena! A mulher que não se desliga do doméstico? A mulher que mesmo exaurida não larga o lar a esmo. A mulher que vive a favor e em benefício do lar. Erica toma para si essa questão, mesmo porque hoje recebera um email do homem que a acompanhava até então dizendo-se muito incomodado em reembolsá-la os valores pertinentes à decoração+organização+fundamentação que promovera em sua residência. Nesse momento, Erica teve a extrema vontade de mandá-lo enfiar tudo pelo rabu, mas não. Ela simplesmente não mais reconhece esse lar. Esse lar de dois sozinhos. De dois que não agiram em comunhão.
Idê pega a bola e desencadeia suas idéias e apontamentos. Ele gosta dos textos de Erica. Acho que é porque ela é de Iansa, ele tem uma queda. Seus relatos são também exercício de narrativa, mas uma narrativa que não dispensa informações precisas de quem conta e não se esquece de ‘dar o ponto sem nó’.
Patrícia. _Ufa! Erica sente-se aliviada, pois sente o aliviamento dessa mulher. Primeiro se envergonha do tamanho de seu texto. Deseja selecionar o que seria compartilhado com os demais. _lê tudo. Permita-me comungar de si, da sua feminilidade!?
VERGONHA+TEMPO+MÉDICOS+FILHASGÊMEAS+BARTIRANECESSITADEMIM+ EUNECESSITODEMIM+OBSCENANECESSITADEMIM=CULPA POR NÃO SER MULTIPLICÁVEL. UMA MULHER ONIPRESENTE E ONISCIENTE. ‘VERGONHA, ESCONDERIJO DA CULPA’!
Saulo trabalhou concisa e objetivamente. Apontou verbos e adjetivos que nos nomeiam. Erica acha Saulo um menino bonito, jovem e disponível. Mas reconhece sua pertinente ansiedade. _acho que ele se chateou comigo. Peço desculpas mas digo que sou e sempre serei muito sincera, por favor responda-me sempre à altura da minha chatura.
Maroca me fez brotar água nos olhos. Sua descoberta diária de estar grávida e seu exercício de se tornar mãe. Esse reconhecimento ainda vem mais do outro que de si. Sua barriga ainda forma-se. Aluísio é o pai pata choca. Maroca tem jogo de cintura. Ganhou roupinhas pro bebê. _Peço que esse novo ‘ser’ venha com muita saúde. É uma dádiva vê-lo se formando em minha querida companheira de existência feminina.
Cris questiona e solicita os meios e comos que podemos criar para nos COMUNICARMOS com aqueles que irão receber nossas ações.
Iza não se colocou. Erica foi mais uma vez cruel em seu comentário: _amanhã a senhorita pode não estar viva viu!?
Bem, é um fato possível uma vez que todos irão morrer. Mas ela disse isso no intuito de dizer: _faça hoje porque amanhã é ainda depois de hoje, há tempo e ele deve ser utilizado em prol de nosso crescimento.
Lica reverbera emoções ações da Marcha. Estão inquieta. Quer sair da sala de reunião. Esse formato que formata. Enquadra e assenta. Devemos ir para a prática.
Fica marcado então na segunda-feira, dia 24, às 19h no Marília o trabalho de Patrícia – aquecimento – e Erica – procedimento.
Salve nossas forças.

segunda-feira, março 17, 2008

Almodovar ?


Teatro Marília
Segunda-feira
17 de março
Obscena


Encontramos para reorganizar a ida ao Ecum e assim foi: antes de partirmos em direção ao evento, conversamos a respeito das experiências que teremos com o público na ocupação que devemos realizar em abril.

Antes de partirmos para esse evento, Patrícia lançou algumas perguntas:
_ Por quais questões estou indo para o Ecum?
_ O que me interessa do espetáculo de Dança?

Fechamos algumas atividades para o dia 27 de março:
1 –(prática) Dança criativa
2- (prática) Trabalho com o objeto/ Narrativa e Ação.
3- No dia 07 de Abril _ Instalação por: Clovis e Idelino. (os proponentes desta instalação fizeram uma observação: ela pode acontecer em paralelo a outras atividades)

Para celebrar a abertura do Ecum foi apresentado o espetáculo: “De carne e sonho”.
Alguns integrantes do grupo de pesquisa Obscena saíram juntos do Marília e outros já estavam no evento.

Resposta aos estímulos da Patrícia:

Uma seqüência de tangos, uma banda executando ao vivo, sim, realmente algo meio Almodóvar no ar, a pista de dança enche de gente, dançam, e logo tudo se esvazia, feito a vida. A mulher vai para frente do espelho, a outra liga a televisão, a mais densa penteia os longos cabelos, e as bichas? Cadê as bichas?(gritando) Não tem bicha?
(irônico) Inspirado em Almodóvar e cortaram as bichas?

As duplas se formam, começam aqueles velhos padedês, um homem, uma mulher, a primeira música, os parceiros se conhecem, a segunda, para se acostumarem uns aos outros, a terceira, eles, sei lá, gozam, desfrutam. Eu então ainda fico a imaginar: onde colocaram a bicha do Almodóvar?

Relatos Obscênicos de Erica Vilhena, a Nêga.

Relatório Obscênico – 10/03/2008
Hoje o encontro fora excepcionalmente emocionado. Após quatro encontros comungados recebemos mais duas colaboradoras, Cris Moreira e Iza, mais uma ufopiana, que orgulho. É claro. Enfim. Chegamos todos muito eufóricos. Sentamo-nos e a disciplina fora se instaurando tranquilamente. Nina puxou a leitura dos relatórios: 25/02 = relato sucinto e direto do encontro, com apontamentos acerca das demais escritas e suas particularidades, além de apontamentos como disciplina e comprometimento com a pesquisa. 03/03 = depoimento + relato + detalhista = apanhado muito bem elaborado tanto do ponto de vista técnico quanto da recuperação psíquica – sensual – emotiva, acerca do assunto abordado neste dia – encontro com Hozana ‘nas alturas’ MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES. Palavras que não se calam diante da mais profunda intimidade => ‘o que é ser mulher?’ ‘O QUE É SER MULHER?’ ‘o que sou?’ ‘MULHER?’ ‘Fêmea?’ ‘Domesticada fêmea?’ ‘dócil?’ ‘docilizada?’
Moacir causou-me inveja. Sua escrita de fato fora deliciosa (BICHA!). Amei! Instigou-me! Pôs-me a agir internamente à favor da comunhão entre minha capacidade técnica de escrever, ou seja, encadear palavras. Nas qualidades de sujeitos + objetos + predicados = infinitos. E eu tão finita. Minha capacidade de reflexão, minha capacidade poética e subjetiva = há organicidade em minha ação escrita?
Didi fez uma poesia. Quero ouvi-la e lê-la muito muito mais. Marcelo enfatizou a comunhão da vida. Do modo de vivermos em criação/comunhão. Maroca (BOBOCA)esqueceu seu caderno em casa. Patrícia tecera suas idéias no presente do encontro. CLÓVIS LICA IDÊ E WILL sempre tão suficientes em suas abordagens.
Fomos re-conhecer os espaços possíveis de apropriação no Marília. O porão não é exatamente um porão, isso me broxou um tanto, mas a área externa e a vitrine são excitantes. Após a turnê sentamo-nos para organizar as ações vindouras. A prática, o exercício dos procedimentos teatrais foi solicitada por todos. Os corpos estão necessitados. Isso já é latente. Propus então o seguinte procedimento:
(confesso – “_ de supetão, quando esta necessidade fora levantada, meu dedo ergueu-se e meu corpo pôs-se a compor um exercício e oferecê-lo a todos. Assim, tão simples como uma semente que tranqüila e valentemente rompe a casca de si e da terra que a acolhe. E ergue-se à procura da luz)
-01 narrativa trazida individualmente e decorada;
-acrescentada a objetos numa caixa, disponibilizados por mim;
= tecer uma ação narrativa como os objetos propostos somados às narrativas individuais.
Experimentar a ‘paciência’ da concepção e construção de uma ação objeto narrativo.
Assim, fomos nós mais uma vez para o Maleta butecar e prolongar nossas inquietações na salutar boemia.
Saravá!

Palácio das Artes

Relatório: 17 de março de 2008

No dia 17 de março de 2008, o grupo teatral Obscena, se reuniu no teatro Marília e cada integrante do grupo leu seus respectivos relatórios. Em seguida fomos para o grande Palácio das Artes assistir à abertura do ECUM ( Encontro Mundial de Artes Cênicas – edição 2008 ). Na primeira parte do evento os patrocinadores foram presenteados com troféus juntamente com uma apresentação “em vídeo” de toda a equipe de produção do ECUM. Na segunda parte foi apresentado um espetáculo de dança: “De Carne e Sonho”, espetáculo, que consistia num diálogo com a dança tradicional do tango atrelado às vertentes da dança contemporânea. No mais foi isso...

COCADA...

Relatório de encontro teórico do dia 10/03/08

O grupo recebeu duas novas integrantes: Iza e Cris.

Mulheres...

O sexo oposto está perdendo força e credibilidade... mesmo por que de oposto não tem nada.

Dispersão, pouca organização, várias vozes ao mesmo tempo, riso, arroto, Benjamin, escreve, inscreve, descreve, anuncia, Lehmann, confusão, proposta, procedimento geral, Sarrazac, e-mail, anticoreográfico, colapso, metatarso... Arthur Barrio.

E dále cocada na mesa!

Semana que vem tem prática: pra sossegar a língua e cansar o resto.
De Érica, vulgo Nêga: decorar uma narrativa qualquer, de interesse do obscênico, para trabalhá-la com objetos que serão retirados de dentro de uma caixa.

E no dia 6 de Abril, às 09:00hrs haverá um intensivo de trabalho físico, ministrado por Patrícia.
Uma experiência em Dança Criativa: uma lapidação da Dança Pura – Dança como arte independente e como proposta de exploração do sentido sinestésico.

No fim, desbravamos o Marília. Uma visita aos espaços que possivelmente serão utilizados pelas práticas: mezanino, porão, corredor, vitrine...

Hum, mulheres na vitrine: Quanto vale ou é por kilo?

sábado, março 15, 2008

desculpem-me,coloquei obcena,sem o "s",o certo é: apae.obscena@gmail.com
por favor,emails do obscena,mandem tb por este novo endereço: apae.obcena@gmail.com
bjos idelino!

quarta-feira, março 12, 2008

Relatos Obscênicos de Erica Vilhena, a Nêga.

MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES 07/03/2008
Depois do ato o meu ato narrativo
Eu, uma mulher de 28 anos, dos quais onze foram dedicados à minha família uma vez que aos dezessete minha mãe fora presenteada com mal de Alzheimer. Venho aqui oferecer meu ventre. Aos que para ele quiserem voltar seus cálidos olhos digo que não me comprometo com integridades alheias, até mesmo porque estou abrindo mão mesmo da minha. Sim. Recuso a integridade socializada, civilizada e opto pelo bem da minha integridade humana, feminina e autônoma. “_Mas por que tanta rebeldia, minha filha?” Alguns poderão perguntar... Digo tudo isso para que outras possam ler e comungar de minhas mazelas e conquistas, e assim a vida se passa de mão em mão, a colcha da cultura feminina em reconstrução. Olhando mais de perto confesso que desde os quinze construo minha vida e imagem fundamentadas não em meus reais desejos e sim para o bem daqueles que comigo convivem, inclusive um namorado que cultivei até os dezenove, com quem eu casaria e teria tido lindos filhos. Mas, não. Esvazie-me dele, do amor que por ele sentia, de todas as cartas com amor escritas, de todos os bichos de pelúcia angariados valentemente em máquinas de parques e fliperamas, não sou da época das lans houses... Abri mão de toda nossa história para ir atrás da minha. Mas isso durou até pouco, pois se iniciou outra fase. Entre os 20 e 21 anos, ouvi ostensivamente dos homens de minha família palavras de extrema delicadeza e sutil aniquilamento – pai e filho negando a parte histérica da família, eu e minha mãe adoecemos: o vírus da alienação feminina me contagiou e instaurou-se em mim. O Alzheimer ocupou-se em desconstruir a memória cultura hábitos e atos de minha mãe. Assim, prossegui desavisada da vida, entre tentativas às cegas de fuga da opressão que sentia e crises histéricas semanais. E uma pergunta não se cala: POR QUE AS MULHERES ENLOUQUECEM? Por que será? Enfim. Fui cair em Ouro Preto e meu mundim foi rompido de vez! Desvirginada novamente, só agora ao invés de um membro rijo, havia subidas e descidas escorregadias, becos escuros e inóspitos e uma imensa curiosidade no ar que levava a todos a se desprenderem de valores e princípios pra se beneficiar da liber(tinagem)dade que a cidade promove: ‘ouro preto é festa!’Comigo não fora diferente. Anestesia diária. Anestesia refratária. Anestesia pragmática. Anestesia primária. Anestesiar-se de si, do outro e do mundo. Outro homem surgira. Dessa vez uma paixão daquelas que tiram a gente do chão até porque nos passam a perna, literalmente. Entre mortos e feridos caminhei. Confusão mental, porta aberta para um lobo entrar e degustar de minhas histórias, medos, credos, fantasias e vísceras. Foi assim. E após um lobo a bonança. Em forma de mais um homem. Este estendeu-me a mão e não sei bem o preço desse ato até o presente momento. Parece a música de Chico Buarque: ‘_o primeiro me chegou...’ Enfim, o tempo ainda não é suficiente para dizer desse último, mas é o bastante para falar de mim. Eu, 28 anos. Eu e minha batalha por me encontrar erguer e seguir. Eu e minhas referências femininas. Eu a andar pelas ruas de BH em marcha, na MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES. A voz embargada frente à prefeitura com uma tropa de choque a garantir a tranqüilidade burocrática. Minha mãe, professora aposentada, mal paga, sugada pelo estado. Ela e tantas tantas tantas outras e eu ali. Eu, Lica e muitas outras a carregar bandeiras, palavras de ordem, seios, barrigas, bundas e bucetas a gritar por um desejo em comum: AUTONOMIA!. Pequenas e tímidas ‘ações diretas’ contra Carrefour, Bradesco e demais instituições capitalistas estaduais municipais. O sol muito quente e nós: eu e Lica – a carregar uma bandeira. Senhoras moças crianças e bebês sendo puxados em seus carrinhos. Já ali, tão pequenos e suspensos e presentes na luta de suas mães. Diversas classes sociais e movimentos revolucionários. Todas unidas por um bem comum ao nosso gênero. E assim foi. E assim se foi muito rico. Lembranças de tudo o que comporta meu nosso universo feminino.

terça-feira, março 11, 2008

MULHER: Uma questão de ponto de vista.


Sobre a mesa de vidro um caleidoscópio de frases assinadas por pseudônimos:
Sonhadora
Guerreira
Maremar
Zi Rebelde
Borboleta da Silva...

Aproximados pela concordância de gênero, uma coisa os une: são pseudônimos de mulheres. E tinham sua identidade esboçada no traço infantil das letras, no conjunto de palavras coloridas em lápis-de-cor ou giz de cera que inclusive poderia nos fazer crer, pela aparência, tratar-se de um trabalho feito por alunos do maternal.

Mulheres.

O que é ser mulher?
Para compreender o radicalismo desta questão, faz-se necessário, portanto, recorrermos ao início de tudo:

Depois de procurar dentre todos os seres da terra já criados e nomeados, não se achava uma ajudante para Adão, pelo menos uma que fosse semelhante a ele: Mandou, pois, o senhor Deus um profundo sono a Adão; e quando ele estava dormindo, tirou Deus uma das suas costelas, e pôs carne em seu lugar. E da costela que tinha tirado de Adão, formou o senhor Deus uma mulher, que Ele lhe apresentou. Então disse Adão: Eis aqui agora o osso de meus ossos, e a carne da minha carne. Esta se chamará Virago, por que de varão foi tomada. Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e se unirá a sua mulher: e serão dois numa mesma carne.

E logo mais abaixo uma nota de rodapé explica: O ter sido a mulher formada de uma parte tirada do corpo do homem, visa indicar a unidade do gênero humano e a dependência da mulher com relação ao marido.

Trocando em miúdos é isso: ser mulher, nestas condições é ser um pedaço de osso rodeado de carne por todos os lados que serve e pertence ao homem.
Tais condições não irão variar muito com o decorrer de algumas dezenas, centenas de milênios... a única diferença é que nós compreendemos que não é legal julgar uma pessoa simplesmente pelo lugar de onde ela veio.

Por isso, de uns tempos pra cá, passou-se a conceder direitos à mulher. Afinal, todos estes anos de massacre, violência e abuso teriam de resultar em alguma coisa. Nem que fosse um parágrafo redundante nos arquivos da ONU.
E está lá, para quem quiser olhar. Data de 1993:

A Assembléia Geral das Nações Unidas definiu a violência contra a mulher como “qualquer ato de violência que resulta ou pode resultar em dano físico, sexual, psicológico ou sofrimento para a mulher, inclusive ameaça a tais atos, coerção ou privação arbitrária da liberdade que ocorra em público ou na vida privada”.

A clareza de alguns conceitos os torna medíocres.
Como se não bastasse as pancadas e os hematomas ainda é preciso masturbar essa necessidade rasa de acomodar situações fora do controle em conceitos.
Fora de controle, sim, para os descontrolados e inertes.
Numa terra de cegos quem tem olhos vive o perigo iminente de perdê-los. Pela opressão da maioria. Como fizeram com Kaspar Hauser.

Quer compreender as mulheres?
É simples: pegue uma dezena delas, tranque-as num galpão, ateie fogo e pronto. Deixe que o carbono 14 faça o resto do serviço. Quem sabe daqui alguns anos tenhamos em mãos um relatório completo e cientificista sobre o comportamento feminino de alguns anos atrás.
Por que parte da ciência da criação de conceitos se resume a isso: empoeirar pensamentos num tempo-espaço para que possam ser desempoeirados depois. A serviço da poeira, é claro. Considerando-se, em suma, que o problema não está nos conceitos, mas em quem os conceitua.
Da mesma forma aconteceu com Eva, coitada, e com suas descendentes.
O problema não está na mulher, mas em quem a concebeu.
Por que sim, se Deus fosse unissex não teria dado falta da mulher no instante da Criação.

Ademais, não nos interessa aqui encontrar ou determinar um culpado.
O ter sido a mulher formada de uma parte tirada do corpo do homem não tem nada a ver com o ter sido a mulher inferiorizada em relação a ele, com o ter sido a mulher desclassificada em relação a ele, com o ter sido a mulher prostituída, torturada, queimada, estuprada, decepada, coisificada, e abençoada depois em relação a ele.
Seria tudo isso ocasional... não fosse o gerúndio.
O continua sendo...

Graças a isso hoje nós podemos ser marginais com uma causa.
Graças a Deus nós possuímos uma causa.
Para continuar lutando, enfrentando, debatendo, conceituando... para continuar formando os pontos de vista que hão de surgir no futuro, da aglomeração excessiva de poeira...
Assim como surgem as pérolas.
Assim como surgiram as galáxias, as estrelas, os planetas e os meteoros que os destroem.

O que é ser mulher?
É ser Sonhadora, é ser Guerreira, ser Maremar, Zi Rebelde, Borboleta da Silva.
É ter diante de si, numa mesa de vidro, um caleidoscópio de frases assinadas por pseudônimos:

Uma questão de ponto de vista.

Relatos Obscênicos de Erica Vilhena, a Nêga.

Encontro Obscênico – 03/03/2008
O encontro com Hozana Passos, representante do movimento Marcha Mundial das Mulheres, à princípio me intimidou. Eu desconhecia tal luta e tive receio de aparecer de partidarismos sorrateiramente envolvidos... Surpreendi-me com sua simplicidade e responsabilidade quanto à sociedade. Uma cidadão em pleno exercício. A pergunta que não se cala: ‘o que é ser mulher pra você?’; as respostas que atormentam: ‘ser mulher é ser dona de casa, cuidar da família, mãe...’; ‘ser mulher é ser amorosa’; ‘eu queria é ser homem’ e por aí vai...Há um vírus,uma doença na imagem feminina e sua propagação e manutenção se dá já quando nascemos: nossas roupinhas são invariavelmente rosa com motivos delicados e românticos a enfeitar onde iremos habitar ou os objetos que nos são oferecidos pela indústria do brinquedo são pedagogicamente elaborados pra fortalecer a idéia da mulher princesa, da mulher cuidadosa, da mulher dona de casa... A manutenção dessa imagem gera a alienação feminina: o desconhecimento do seu valor em sociedade e de si mesma. Vários meios de comunicação se fortalecem ao manter e explorar a imagem feminina como mercadoria e/ou outdoor de venda de produtos variado: O CORPO FEMININO VENDE DE ÓLEO DIESEL À FERRARI. Meninas não se vestem como crianças e sim como “mini-sexy’s girls”: calça jeans com cintura baixa+bustiê+sandália de salto = bundinha empinada e barriguinha de fora = sensualidade/sexualidade precocemente animadas = PROLIFERAÇÃO DE MÃO DE OBRA BARATA E/OU ESCRAVA. Lembro de ‘para acabar com o julgamento de deus’ de ARTAUD. Há um prólogo ou epílogo, não me lembro, no qual ele em 1938,creio, já denunciava o plano dos governos dos EUA: produção desenfreada de seres humanos para a manutenção da economia baseada na guerra. Soldados que mantêm suas famílias com sua vida na trincheira. Financiamento da cultura da miséria com a vida desses meninos e meninas. A gravidez é garantia de estatus na cultura da rua, da favela, dos bairros periféricos, dos burgueses e da nobreza, só que cada qual com suas intenções, não é mesmo?! No cotidiano dos menos validos ter um filho no ventre significa privilégios como: não apanhar, comer, ter onde dormir, ter um espaço, ter privacidade, ter identidade – mãe – e por aí vai. A mulher que se tornou melhor por carregar no ventre o filho de um homem.

Diário de Bordo de Nina Caetano

Obscena, segunda-feira, dia 03 de março de 2008.
Preâmbulos...
Hoje meu pai faria 75 anos se estivesse vivo. Ele morreu há onze anos. No ano seguinte, minha mãe morreu. Eles viviam separados há treze anos, meu pai já tinha segunda esposa que servia comida no prato para ele. Bem diferente da minha mãe que nunca foi mulher de verdade. Pois minha mãe não parava em casa, não sabia cozinhar direito e não tomava conta dos filhos. Minha mãe era enfermeira, trabalhava fora. Mas o problema é que ela tinha nível superior e ganhava mais que meu pai, um pobre contador filho de cachaceiro. Meu pai, então, batia na filha do fazendeiro. Quebrou-lhe um braço. Internou-a no hospício. Hoje vem Hosana.
Hosana nas alturas!
Hosana na luta. Na marcha.

O Encontro.
Quarto encontro. Os relatos começam a ser lidos... mas eis que chega Hosana, da Marcha Mundial das Mulheres. Pequena, bonita. Simpática. Acabamos não nos preparando bem. Deu pra gravar em vídeo pouca coisa e apenas gravar a fala dela, tão importante. O bom é que Moacir conseguiu captar o material interessante que Hosana trouxe, vinda de uma oficina: papéis em que as mulheres haviam respondido, antes de qualquer coisa dita ou trabalhada, à questão: o que é ser mulher?
Fortaleza fragilidade mãe mulher companheira doçura esteio=sustentação da família Geradora de vida. Amor. Carinho. Benção. Ser divino. Luz do Mundo.
Ser mulher é ser como sempre uma escrava de quase tudo. Sou feliz como mãe. Como mulher não.
Ser mulher é muito importante porque ela é a Rainha do Lar.
Ser mulher tem que ter responsabilidade com a família, com o esposo. Ser mulher vem da responsabilidade desde o dia da gravidez porque todos dependem da mulher.
A mulher cuida das crianças, dos filhos, da casa. É dar respeito para ser respeitada.
Ser mulher pra mim é saber se calar mesmo querendo extravasar. É ser forte, mesmo nos momentos de dor.
Ser mulher é ser dona de casa, ser mãe de família, ser paciente, ser cuidadosa, ser conselheira, ser trabalhadeira, ser cuidadosa, ser bonita.

Hosana tocou em vários pontos interessantes e nevrálgicos da nossa discussão, trazendo-nos outras dimensões, talvez mais concretas. Depois de localizar historicamente a marcha – como um movimento internacional, feminista e anticapitalista, que abrange 68 países e que tem como foco construir a solidariedade entre as mulheres, embora a discussão atinja as questões sociais como um todo; ela foi enfatizando o que significava isso como construção coletiva, pois faz com que a marcha seja construída pelas mulheres das vilas, das comunidades, dos movimentos sociais, como aquelas do coletivo hip hop feminista ou as mulheres do MST. Mostrou como nem sempre a questão social abarca as questões feministas. Foi polêmica a questão do protagonismo, exemplarmente desenhada a partir do causo do carro de som!
Mulher apêndice. Mulher sem boca, sem voz. Representada, sempre. Reprodutora. Reprodutiva. Res publica. Coisa. Pública. Puta. Ah, as enfermeiras, fazendo biquinho com aquele dedinho sobre os lábios... Cuidadosa. Delicada. Frágil e silenciosa.
Mulher parcela da humanidade. Receptáculo de filhos. Complemento do macho.
Até que ponto responsáveis pelo machismo? E a opressão de gênero? Homem não chora!
Isso foi importante: opressão de gênero NÃO é machismo.
Foi importante pensar na autonomia do corpo, da voz, da mente. Do trabalho. Do salário. Do ser: individual e completo.
Somos irreversíveis e incontornáveis.
Acabaram aparecendo também várias referências de livros e filmes para incrementar a discussão: As mulheres de Kabul; Dez (filme iraniano); Cidade do Silêncio, Maria cheia de graça e Pão e Rosas.
Houve a marcha, no dia 07 de março. Amarelei. Piriri.



Obscena, segunda-feira, dia 25 de fevereiro de 2008.
Preâmbulos...
Relatos foram lidos. Ainda somos indisciplinados, nem todos fizemos. Uns foram curtos e lacunares, outros extensos e mais rigorosos. Outros extensos e não tão rigorosos. Lica pontua a necessidade de rigor.
Hoje a discussão é sobre o narrador. O que nos interessa nessa forma (a épica)? Como afetar, atravessar? Estamos entre o pós-dramático e o épico, ou entre Artaud e Brecht? Os desejos apontam para a rua. Apontam para a instalação. Como juntar os desejos às questões teóricas? Como relacioná-los?
Saulo confirma a Marcha Mundial para semana que vem. Nosso primeiro material. Para os desejos que também revelamos hoje.

O Encontro.
Terceiro encontro. Os relatos foram lidos. Questões interessantes. Lica fala do trabalho que virá. A necessidade de disciplina e rigor. Sua fala me parece muito importante. É para nos lembrarmos. Idelino levantou alguns dos pontos discutidos, sobre o texto do Lehmann, no encontro anterior. Pontos para discussões futuras. Parece ser necessário que voltemos ao texto. Didi também coloca algumas questões nesse sentido. Mas o texto de hoje é O Narrador, de Walter Benjamin. Erica inicia a discussão. Como reavivar a instância narrativa?
Para mim, um ponto forte do texto é a oposição que Benjamin cria não só entre a narrativa e o romance burguês, de natureza individual, mas principalmente entre narrativa e informação.
Oral x escrito... a narrativa é tecida pela experiência (conselho). A imagem de tecer a matéria, de pensar a narrativa como tapeçaria na qual somos costurados pela trama, amarrados em seus nós, é bem sugestiva...
Essa narrativa sem psicologia, sem explicação... que parece pedir o engajamento, a dimensão coletiva, a distância e a distensão do trabalho, nos remete ao Lehmann novamente. Pontes começam a aparecer...
Começam a pulular outras referências: textuais, fílmicas.
Precisaremos organizar nossas idéias, para organizar nossos estudos e encontros...
Sugestões que apareceram: Mais estranho que a ficção (filme). A sociedade de espetáculo, de Debord. Foucault também foi lembrado: História da Loucura, História da sexualidade, Microfísica do poder...
Os desejos também voltam à tona... aproveitamos para saber o que quer cada um de nós.
Patrícia tem interesse em desenvolver nossa preparação corporal... ela já havia, inclusive, proposto uma oficina. Recolhe os dias disponíveis de todos. Seu tema é a prostituta e tem uma idéia de intervenção a partir da construção de jornais.
Erica amplia a questão da construção da mulher para a relação entre espaço/corpo/objeto, que será seu foco. Tem a dimensão plástica – cenografia figurinos – como interesse concreto para, a partir dela, desenvolver a idéia trabalhando com o material dos outros.
Moacir amplia a relação de anatomia para a construção de um corpo colagem. Um Frankenstein costurado de vários materiais, inclusive de contribuição/materiais dos outros obscênicos. Seu interesse se aproxima da performance, é atuante e compositor do próprio material.
Ao Marcelo interessa a direção. Interessa o jornal como matéria-prima, principalmente os sensacionalistas. Interessa o trabalho com ONG´s. O material transgênico e a intervenção na rua.
William, nosso ator dramaturgo, foca a experimentação de uma dramaturgia fragmentada tematicamente relacionada com o homem à margem do feminino, com interesse na intervenção de rua.
Idelino, focando a direção, vai trabalhar com as pombas-giras e interessa todos os elementos relacionados ao universo marginal da umbanda como matéria para a pesquisa: objetos, discursos, gestual.
Eu, Nina, me interesso por pesquisar a edição documental, a intervenção no real, os labirintos temporais, a memória. A construção da mulher. Uma anatomia, para lembrar o Moacir, construída com objetos normalmente ligados ao universo da mulher. interessa a mulher que transborda, que escapa às fôrmas, me interessa a loucura. O que cabe e o que não cabe.
Didi também quer falar da loucura e o atrai a narrativa fragmentada, a fragmentação temporal. A idéia da intervenção bem como a de um confinamento, as antíteses e o grotesco. Atuará ator compositor.
Clóvis busca o acontecimento, discutir a representação. Artur Barrio é um foco de interesse, bem como a performance. Quer absorver materiais e propostas de todos para a sua atuação.
Mariana localiza a questão da violência no campo mais amplo da construção do feminino, na educação da mulher. Mas também no seu oposto: na construção do masculino. Interessa todas as formas de repressão/reprodução. O material documental é foco da pesquisa de atuação: depoimentos, observação, jornais.
Saulo tem forte interesse em centrar sua pesquisa de atuação na narrativa e nos mecanismos épico-dramáticos. Tematicamente, seu foco são os transgênicos.
Lica se interessa em atuar a partir da investigação de uma intervenção concreta no cotidiano do espectador. Interessa as fronteiras entre realidade e ficção, e vários são os temas possíveis, pois, tematicamente, seu foco é a mulher e o feminino como matérias gerais.







Obscena, segunda-feira, dia 18 de fevereiro de 2008.
Preâmbulos...
Ainda questões administrativas a resolver. Conseguimos fazer o planejamento. Já sabemos quem somos (ou quem estamos...)
Ficaram todos que já estavam! Importantes aquisições: Clóvis e Idelino! Os trabalhos começam. A discussão anda pouco. Os atores querem fazer... mas fazer o quê? Como? Para quê? Para mim, essas são as questões.
Na tentativa de instigar, falo muito. Outros se calam. Vou me calar.

O Encontro.
Segundo encontro do ano. Mas parece o primeiro. Somente Saulo fez o relato do dia anterior e nos dá tapas em luvas de pelica. Como não estamos todos ainda, resolver adiar a parte administrativa para o final. Partimos para a discussão do Lehmann. Marcelo pontua que o texto revelou coisas novas para ele. Salienta a questão da interculturalidade. Discutimos um pouco esse aspecto do texto. Diversos outros aspectos aparecem, principalmente a questão da ruptura: a idéia da transgressão, atravessamento, negação da representação. Como desconstruir todo o logos, todo o discurso, todo o teatro de tese? Como atingir de fato o espectador. Começamos a pensar nas possibilidades de ação política e o que desejamos (ou como desejamos provocar esse atravessamento). A possibilidade de uma ação política concreta e real, no sentido da transformação, é possível?
Buscamos o político? Que atravessamento/transformação é desejado?
Qual espaço abarca essa experiência? O teatro? A rua? Espaços alternativos? Como construir tal ação no Marília?
Saulo pondera que não devíamos discutir tanto, que devíamos partir para a prática, mas a maioria concorda que a discussão teórica é necessária, bem como a socialização do saber...
William salienta a relação entre pesquisador e criador. Salientamos as relações entre representação e sociedade de espetáculo. Parece uma leitura necessária. Parece também necessário levantar os focos de pesquisa e criação de cada um.
Erica: como construir uma mulher?
Mariana: violência doméstica.
Nina: loucura, interesse compartilhado por Didi.
Saulo: transgênicos, interesse compartilhado por William.
Idelino menciona as pomba-giras, mas o tempo é pouco e precisamos partir para a discussão administrativa.
Somos muito e mais virão. Que haveria abertura para entrar para o Obscena... que haveria abertura outros desenvolverem ações dentro do projeto Às margens do feminino: texturas teatrais da beira. Ações voluntárias.
Temos o Marília como espaço para o encontro fixo e para as ocupações realizadas ao longo do ano e abertas para o público. Para ensaios, biblioteca e espaço para armazenagem de materiais, alugamos, como sede, a casa de Erica.
Somos hoje: Nina, Saulo, Lica, Moacir, Marcelo, Mariana, William, Idelino, Didi, Clóvis, Erica e Patrícia. Somos menos mulheres agora...


Obscena, segunda-feira, dia 11 de fevereiro de 2008.
Preâmbulos...
Esse é um falso relato... na verdade, não é falso, mas é atrasado. De fato, somente Saulo se lembrou da proposta e foi fiel a ela. Somente ele construiu relato do nosso primeiro encontro.
A desculpa de todos: encontro administrativo!

O Encontro.
Primeiro encontro do ano. Teatro Marília, nossa nova casa conquistada... O Obscena cresceu e se modificou. Aprovou projeto na lei e temos uma pequena verba para garantir nossa pesquisa ao longo do ano.
Somos muito e mais virão. Quem se comprometerá com o desenvolvimento desse projeto, que prevê ações bem específicas?
Hoje, então, a reunião acabou sendo mesmo administrativa... para lembrar as diretrizes do projeto, para bater o martelo, para pensar na divisão do dinheiro e nos interesses individuais de pesquisa. Decidir quem vem e como vem. Decidir quem fica...
Viemos hoje: eu, Saulo, Lica, Didi, William, Idelino, Mariana e Patrícia... Cadê Moacir e Marcelo?
Mariana está grávida, Patrícia vai operar a filha... aguardamos Clóvis e Nega. Idelino já veio! Somos menos mulheres agora...
Não conseguimos fechar tudo. Para a próxima semana, ainda teremos um restinho de resoluções administrativas, mas já decidimos entrar nos estudos de fundamentação.
Pensando que muitos são novos, sugeri um retorno ao epílogo do texto do Lehmann, que trata da dimensão política no teatro pós-dramático. A idéia é deixar todos mais ou menos no mesmo patamar de saberes, socializando a discussão...


Obscena, quinta-feira, dia 31 de maio de 2007.
Preâmbulos...
É uma ação, é uma interrupção. Estava pensando que não me importa muito a eficácia política do teatro, mas a eficácia política da minha expressão, da minha ação como artista no mundo. O que quero dizer?
Fiquei aqui pensando, a partir da discussão que Rosenfeld coloca sobre o teatro agressivo (ou catártico, de uma maneira geral) e das questões que Lehmann levanta sobre a dimensão política do teatro pós-dramático, que talvez o teatro não tenha mesmo possibilidade de modificar/transformar o espectador em homem de ação. Mas teria ele essa função?
Composição de ações... Sejamos mais modestos: parece-me que só é possível fazer com o teatro – bem como com qualquer outra arte – o que é possível fazer com a ação: agir. Se essa ação é expressão do meu posicionamento político, social, ideológico, ético, estético... então talvez incomode, mexa um pouco no estado das coisas...
Parece-me ser essa a dimensão da eficácia política de qualquer forma de manifestação artística: sua eficácia como arte, pois não seria social na arte justamente a sua forma?


Encontro.
Hoje experimentamos a proposta do curral de vacas, feita pela Lica: mulheres, em sua função de mulheres, viram vacas...


Obscena, quinta-feira, dia 24 de maio de 2007.
Preâmbulos...
Nas últimas semanas a gente vem discutindo o epílogo do Théâtre Posdramatique, do Lehmann. Quem somos a gente? Somos, hoje, no Obscena, eu, Nina Caetano, dramaturga da Maldita. Da Maldita são também Lica Guimarães e Joyce Malta, atrizes, e Amaury Borges, diretor. Participam, ainda, alunos egressos do DEACE/UFOP, que foram meus orientandos lá: Erica de Vilhena, Túlio Drumond, Moacir Prudêncio e Marcelo Rocco, além de uma atriz formada no Cefar (Palácio das Artes), Cris Moreira e um ator do Oficinão 2006 do Galpão Cine Horto, Saulo Salomão.
Eu havia proposto, a partir do seminário do texto do Lehmann, uma prática de “interrupção”. Tal prática deveria ser realizada não para nós, no conforto de nossa sala de pesquisa, mas para os transeuntes da obra que toma conta das vizinhanças da Gruta...
E a pergunta: instalação/atuação?
Pois bem: todos apresentamos materiais cênicos e alguns deles suscitavam questões como, por exemplo, a proposta do “dia do abraço”: foi possível a interrupção? Como garantir a eficácia (comunicativa? Política?) na relação com o público passante?
Tal proposta foi realizada por um ator que, vestido de maneira comum, saía pelas ruas anunciando o dia mundial do abraço e congregando todos a distribuírem afetos. Na análise feita, observamos que o caráter “logocêntrico” que a proposta tomou dificultava sua realização. Na semana seguinte, uma atriz propôs a mesma questão, com alterações já visando uma reação afetiva. Passou a circular com a cabeça tampada por um tambor de plástico, braços nus, pedindo a todos que passavam um abraço: interrompendo caminhos, abraçando-se a postes. Dessa vez, alguns abraços (e xingamentos) ocorreram. A reação suscitou algumas questões sobre o caráter “teatral” das nossas ações: tal caráter é desejável? Ou realizamos “teatro invisível”?
Pareceu desejável explorar a teatralidade das instalações propostas. Decidimos, então, aprofundar na proposta da Lica (das vacas) e do Marcelo (das pessoas chiques). Tal aprofundamento seria feito coletivamente. A proposta, inicialmente individual, passa a ser exercitada colaborativamente.

Encontro.
Hoje recebemos mais uma pessoa no Obscena, convidada por Marcelo Rocco: a atriz Marisa, formada pelo Cefar com a peça “Balcão”, do Genet.
Hoje, também, experimentamos a proposta do Marcelo. Apesar das condições não serem ideais, foi bem interessante o exercício. Como condições ideais, pensamos, inicialmente, em um horário de maior trânsito. Infelizmente, o horário que nos reunimos é posterior ao horário de movimento nas redondezas.
Na primeira vez que fez sua apresentação, Marcelo delimitou toda a obra com escritos que definiam lugares de uma casa muito chique: piscina, jardim de inverno, suíte do casal, biblioteca, sala, cozinha, quarto de empregada, lavanderia, play ground etc. Não havia, necessariamente, relação entre o lugar delimitado e o espaço da obra (a piscina não era um grande buraco...). Nesses lugares, deveríamos circular vestidos de maneira muito chique e realizar as ações cotidianas desses espaços: tomar vinho na sala, deitar-se no quarto, tomar banho de piscina etc.
No segundo dia (quando todos fomos participar), só havia roupas femininas. Logo, fomos só as mulheres. As pessoas chiques viraram, logo, dondocas, peruas, socialites, a circular solitárias, pela obra. Notamos, logo, a ausência do elemento que indica nosso nível social: os empregados para nos servir. Começamos a querer ser servidas. Então, algo aconteceu: uma moça que tinha parado para observar, se ofereceu para ser nossa empregada e entrou na cena. Ficou do início ao fim do trabalho, só indo embora quando nos retiramos para a Gruta. Outro elemento que fez falta foram as placas delimitadoras. Nesse dia, elas já tinham sumido da obra e trabalhamos com a lembrança delas, criando espaços a partir da ação ocorrida neles. Mesmo assim, achamos que as placas eram necessárias, até para gerar outras relações a partir de outros usos de objetos ou de ações de estranhamento.
Apesar disso, algumas explorações foram bem interessantes: Lica resolveu ir ao quarto de empregada para procurar uma e ficou presa lá, propondo uma relação de estranhamento com o cubículo pequeno e apertado, a ponto de chegar num absurdo. Sua ação chamou logo a atenção dos transeuntes, que riam de sua experiência traumática e bastante reveladora das relações sociais...
Destacamos a necessidade de termos flexibilidade no nosso horário, para garantir experiências diurnas que possibilitem um trânsito maior de pessoas ao realizarmos as instalações.
Para quinta próxima, vamos nos encontrar uma hora mais cedo (às seis) e aprofundar a proposta do curral de vacas, feita pela Lica: mulheres, em sua função de mulheres, viram vacas...

segunda-feira, março 10, 2008

Relatório: 10 de março de 2008

Relatório: 10 de março de 2008

Nesse encontro o grupo decidiu a data e local para que a integrante Patrícia pudesse iniciar o treinamento corporal que ela denominou de Dança Criativa. Ela disse que o material para esse treinamento seria o movimento e o instrumento: o corpo. Tudo isso, a partir de improvisações. O objetivo é trabalhar com o sentido sinestésico. Em seguida, todos os integrantes deram seus depoimentos pessoais sobre último encontro e a integrante Érica nos fez uma proposta: para o próximo encontro cada um deveria levar uma narrativa decorada, pois, a partir dela, iríamos estabelecer um dialogo com objetos, que a Érica iria levar. Todos concordaram e fomos conhecer todos os locais do Teatro Marília.

didi

terça-feira, março 04, 2008

ampliando o leque!

A partir da exposiçao da Rosana, no encontro de ontem,fui atravessado por uma questao,diante do "sub-tema" que pretendo me posicionar: a discriminaçao,repressão,na Umbanda,acontece em via dupla.Acabei me recordando que as mulheres adeptas á esta prática religiosa,também sofrem repressão.A grande maioria que pratica,além de praticarem em oculto,temendo a represalia da sociedade,vizinhos,etc;temem represália também dos maridos,temem o medo de serem descobertas por estes e serem proibidas de praticar o culto,assim como temendo serem violentadas por tal atitude!A fala da Rosana me despertou também para este fato!que acho possivel fazer cruzamento com o ponto de partida ja proposto!
O que acham a respeito?
Idelino

À Obscênica

Ávida
Mulher obscênica anda grávida
Grupo que não pára de crescer
Obsceno ser
Ou não ser
Eis o tupi
Atores ita Mara ti

Oba obs cena cê / cena na / obs cê são
Oba obs cena cê / cena na / obs cê são

Vivências inegáveis no sujeito coletivo
Nem nasceu já ouve crivo
No ventre faz teatro
No ventre poesia
No ventre tem conceito
No ventre estreito
Que alarga aos poucos
Até o obsceno dia chegar
Sair, viver, amamentar

Oba obs cena cê / cena na / obs cê são
Oba obs cena cê / cena na / obs cê são

De luz
Que não contrasta com clareza
De luz
Que não suporta dia escuro
E um grupo sem certeza
Reveza o pão de cada dia
Vasilha espalhada sobre o vidro
Querido

Oba obs cena cê / cena na / obs cê são
Oba obs cena cê / cena na / obs cê são

segunda-feira, março 03, 2008

Marcha Mundial das Mulheres

Ontem, 03 de março de 2008
Marcha Mundial das Mulheres
Puta que pariu! Que conversa! Por onde começar? Pela Hozana. Hozana nas alturas!
Socialista no discurso, a militante se opõe radicalmente aos preceitos do capitalismo selvagem, como ela classificou. Ela parece acreditar que a gênese das recriminações contra as mulheres na atualidade encontra-se também na organização em torno do capital. Radical e coerente, me parece! Porque o corpo da mulher, explicava ela, também historicamente, nunca a pertenceu, mas sim ao Estado, à Igreja, que hoje decidem sobre o aborto; pertence ao marido, que espanca(va) e estupra(va) diariamente a mulherzinha submissa, nunca se sabe o que já é passado; pertence ao espetáculo, que expõe sua imagem como mercadoria, pra usar Debord e Marx; ao capital, que vende cerveja, peito e bunda como se se tratasse da mesma coisa, ou seja, gato por lebre é uma questão de lucro; pertence ao lar, que domestica a mulher desde menina moça com seus brinquedos de cuidar, lavar e cozinhar; ah, pertence também ao homem, que expurga suas perversões no objeto de desejo, na puta, na enfermeira, na vaca, etc. e pronto, pra não causar exaustão com exemplos.
As ações da Marcha priorizam ataques a órgão e instituições, antes de priorizar o “sujeito do sexo feminino” alienado do próprio corpo. O discurso variava entre algo ligado à medicina e aos movimentos com tendências esquerdistas. Em relação à esquerda, ouvi bastante termos como: companheiras (o mais marcante), espaço reprodutivo e espaço produtivo do trabalho, sujeito político, alienação, mais-valia, fetichismo da mercadoria (Marx teve orgasmo na cova, aposto!).
Conversamos, principalmente, sobre a situação da mulher hoje. Pra mim, que não sou mulher, valeu muito perceber o quanto é fácil ser machista sem perceber. Aliás, em relação à situação da mulher, percebe-se quando e o que quer.
Segundo Hozana, as mulheres, em termos gerais, ocupam o espaço reprodutivo do trabalho. Um homem que se dizia feminista queria subir no trio elétrico pra discursar, porque deu dinheiro para a Marcha. A liberação do aborto diminuiria a mão-de-obra barata nos países periféricos e emergentes. Moradoras de rua, quando grávidas, conseguem viaduto grátis pra dormir. As mulheres carregam nas costas um mundo que foi construído de costas para as mulheres. Um pastor evangélico disse para a noiva no dia do casamento que ela deveria ser submissa ao seu marido. Não existe violência doméstica, pois ninguém espanca sofá, geladeira, fogão, etc. Pessoas, sim, violentam pessoas. Mulheres entram na prisão com droga na vagina e no cu, porque têm medo dos maridos presos. O homem é quem ganha com o machismo e a prostituição. “Ser mulher é ser sempre uma escrava de quase tudo. Sou feliz como mãe. Como mulher, não”; isso eu li num cartaz. Escrita forte e angustiante!
Cheguei a sentir vergonha de ser homem por um instante. Passou. Somos frutos também da história. Também não existe culpa no sexo em si. De mais a mais, homem não é tão ruim assim.
Uma questão. O que cada um aqui, mulher ou homem, pensa disso?
“Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas. Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas... Elas não têm gosto ou vontade, defeito ou qualidade; têm medo apenas...”

marcha mundial das mulheres

03 de março de 2008


Nesse encontro houve uma palestra sobre uma das integrantes de um movimento social: Marcha Mundial das Mulheres. Sessenta e oito países participam dessa marcha. É um movimento de caráter feminista, classista, anti-capitalista, de cunho social. O objetivo desse movimento é acabar com a desigualdade social, com a opressão em que as mulheres sofrem.
Durante a palestra lemos alguns depoimentos de mulheres sobre a sua concepção do que é ser mulher. Fizemos uma análise da mulher na esfera social contemporânea, apontando para a banalização de seu corpo como suporte de propagandas comerciais, “o corpo da mulher como vitrine, açougue”. A mercantilização da mulher como produto, vítima de desrespeito, de preconceito. Hoje em dia buscamos a mulher perfeita, aquela que segue arrisca os padrões, a moda social, e com isso vem perdendo toda sua essência, deixando lacunas para serem preenchidas pelas angustias, solidão, pelas banalidades rotineiras do cotidiano.
Onde está a justiça, o estado, os deveres da mulher? E a autonomia de seu corpo frente ás mídias? Como ter voz ativa nesse mundo? Vivemos num mundo de opressão de gênero( homem contra homem) versus machismo ( homem contra mulher).
Foram levantados alguns filmes como: “Dez Mulheres de Cabu”, “Cidade dos Silêncios”, “Maria Cheia de Graça”. A reunião finalizou com aplausos e agradecimentos à palestrante.