agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

sábado, setembro 29, 2012

Irmã Joana e Laila Dominique! Ah... essas mulheres!







Laila Dominique divulaga Show da banda DEPRESSÃO POS-DRAMATICA


Performatividade Política: TRANSVALORAÇÃO dos valores! 
Ética da alegria e da afirmação da vida.
O que podemos? 
Fazer um mundo do mundo sem que o mundo nos diga como.
"Obscênidades amorosas" nas mil pistas eletrizantes 
fora da cena, na rua do íntimo, na gruta da cidade.




quinta-feira, setembro 27, 2012

Corpos em TRANSA, TRANSE e TRÂNSITOS: A Performatividade Política do Sonoridades Obscênicas

Após a segunda experimentação do Sonoridades Obscênicas ( no Centro Cultural São Geraldo) e agora com a nova proposta para a Casa de Passagem (com o Sonoridades na Pista, dia 29) senti o desejo de escrever um pouco sobre a "performatividade política" que percebo nesse trabalho/espetáculo/vivência. Política porque uma performatividade (fazer-dizer) que se abre aos acasos, acolhe os acontecimentos, desloca conceitos e espaços, dialoga corporalmente com as pessoas e traz a cidade (outra forma de fazer política) para ser pensada/questionada através de uma bricolagem de linguagens artísticas.

Para Von Hantelmann "podemos definir política  a atividade que desloca um corpo do lugar que lhe estava atribuído, que subverte uma função, que mostra o que não havia para ser visto, que faz entender como discurso o que era percebido como ruído".  Para mim isso acontece no Sonoridades Obscênicas. Um convite a instauração de um CORPOCIDADE. Um trabalho artístico, que mais do que mostrar a cidade na qual vivemos, instiga a produzir novas FORMAS DE SER, ESTAR E OCUPAR ESSA CIDADE.

Nesse trabalho de criação horizontal e coletiva (todo mundo opina, traz ideias e desejos) existem algumas camadas compositivas muito potentes. São camadas performativas que articulam elementos como a TRANSA, o TRANSE e os TRÂNSITOS. (A inspiração para a escrita desse texto me veio a partir da leitura da postagem de Clarissa Alcantara : "Transe em Trânsito").

foto de Thiago Franco


Então agora "deixa eu cantar, que é para o mundo ficar odara" (caetano):

TRANSA porque o Sonoridades trata da relação dos corpos dos cidadãos com a cidade e com os espaços, e isso de forma humana, carnal e até mesmo sexual. Uma defesa de uma cidade erótica mesmo. Penetrada, tocada e vivenciada. Tateada. Diferente da privação sensorial que vivemos na cidade. E nas canções e textos há sempre um desejo de se "transar" com o espaço, transar com as pessoas, uma política de um corpo que deseja gozar...daí a dança, as canções com conotação sexual e de duplo sentido.
 Uma ode ao prazer, à alegria, à liberdade, um despudoramento...

são "sonoridades profanas, recolhidas em nossas intervenções urbanas" (texto de abertura). "amamos os derivantes, os desviantes, o cigarro, a bebida, a boemia" (texto de abertura).

Uma invasão corporal na cidade. Sexual e poética:

" vou invadir o corpo da cidade com minhas cartas (...) uma invasão poética: sujar a cidade de palavras e sentimentos humanos" (CIDADE DOS AFETOS).

Deseja-se uma transa com a cidade:

"fazer arte correndo o risco de nem ser arte, nem ser nada...ser apenas uma trepada com a vida e com o perigo" (texto final).

Transa porque os corpos brincam, celebram, jogam com o público (TÁ ARDENDO ASSOPRA), dançam e se divertem para valer...


TRANSE porque tem uma dimensão ritual muito forte, quase religiosa. Canções e pontos de umbanda são evocados, o "povo da rua", os de fora são convidados a entrar. EXU, o orixá mensageiro, abre os trabalhos e permite que a mensagem possa chegar pelos poros, pêlos e sentidos....as palavras soam, ecoam, vibram, arrepiam....os sons dos atabaques, as roupas com vermelho e preto....transe puro! E máscaras (COREOGRAFIA CROQUETE) que assustam, seduzem e evocam mistérios e ritos ancestrais.

parece um cabaré-show!!!! Há algo místico, uma gira nômade, macumba contemporânea (Clarissa), lugar meio terreiro, meio casa, meio puteiro, meio teatro, meio RUA...Ambiente misto, mescla, mistura, ajunta, alia, aliança, guia. Sonoridades africanas!!! Os bares fudidos do centro da cidade, os desafortunados com fome de sexo e sedentos por álcool.....corpos que transam com o transe de uma cidade múltipla. Há tantas cidades numa só cidade.

TRÂNSITOS de linguagens artísticas, suportes, pesquisas individuais e coletivas dos corpos-desejos do obscenos. Tem CLASSIFICADOS (corpos e materiais à venda) da cidade e das garotas de programa, denúncias sobre a educação da mulher (QUEM É ESSA MULHER?), CIDADE DOS AFETOS.... e tem: dublagem, poesia, dança, teatro, video, canto..... na música transitam: ópera, funk, pagode, samba, rock, pop e bossa nova (PUTA QUE PARIU).

Trânsitos nos quais os corpos performam a transa e o transe..."corpos indisciplinares sem nenhuma moral" (texto de abertura). Daí nessa experimentação ser tão difícil pedir calma e controle aos performers sonoros....muito se escapa, algo excede, perigo o tempo todo....sempre algo vivo, pulsante, às vezes caótico, no instante, um momento de cura para todos nós nessa cidade, uma vez que "Somos corpos proibidos" (texto final).

Um bloco alegre e obsceno nas ruas. Contaminação.

POIS:

Tudo transa.
Tudo transe.
Transita
transforma
Gravita
ondas
ondas
ondas
sons
sons
giras
gestos
gritos
graves
claves
aves
soltas
nuas

BLOCOS DE CARNE NA RUA!!!!!


terça-feira, setembro 25, 2012

TRANSE EM TRÂNSITO

Obscena + N3Ps + trânsitos performáticos 
 + sonoridades casa de encontros em noite branca e ondas ondas ondas fora da cena


um e-mail para o N3Ps...
Em 11 de setembro de 2012 16:10, Clarissa Alcantara <clarissaalcantara@hotmail.com> escreveu:


nômades 
fora dos índices dos compromissos, informados e desenformados, numa passada rápida, sem que o pensamento pese coisa alguma, queria inventar junto algo para a rede dos coletivos nesta proposta dos trânsitos performáticos feita pelo clóvis (quando obscênico).
como se produz um íntimo êxtimo em plena rua da cidade?
ou como desterrar o íntimo no êxtimo e vice-versa? 
ou como desterrorizar o íntimo-êxtimo para aterrorizar o morto-vivo da cidade? 
como transita o íntimo na cidade? no êxtimo?

um sopro que não sai de fôlego algum é respiro do mínimo.


uma resposta Viva!
Em 20 de setembro de 2012 00:58, Viviane de Cássia Ferreira <vivaraelyn@gmail.com> escreveu:



Caros Nômades, especialmente Clóvis, a quem respondo aki tb sobre a experiência com a Noite Branca:
Desinformada sobre a proposta dos Trânsitos Performáticos, porém repleta de desejos e necessidades de Desterrorizar meu Íntimo no êxtimo da  cidade, vi na proposta da Noite Branca a oportunidade de desencadear tal  processo.
Convidada para compor jto ao Obscena Agrupamento Independente de Pesquisa Cênica a obra "Área a Construir" do Grupo 
Thislandyourland (Ines Linke e Louise Ganz), integrante do evento "Noite Branca" realizado pela Fundação Clóvis Salgado, construí minha habitação temporária na área pré-determinada no Parque Municipal  Américo Renné Giannetti, de Belo Horizonte - MG na área verde sobre o grande tapete vermelho utilizado no cenário das "Sonoridades Obscências" (autorizada gentilmente pela Nina), onde tb havia dependurado um mosqueteiro de filó azul. De casa, levei meu Oráculo dos Orixás; sal grosso para proteger a área; 2 tapetes menores (um vermelho, onde me sentei e outro azul, q coloquei à frente, embaixo do mosqueteiro, para q se sentasse o/a Consulente); 2 taças rituais vermelhas para brindar o Amor; caso alguém me motivasse a fazê-lo (tenho sofrido tanto por Amor...); 1 lata preta de Whisky Jack Daniels (madrugada e vício se adoram) forrada de vermelho por dentro, onde coloquei, em homenagem a Deusa em sua face/fase sábia, anciã, Hécate, Senhora das Trevas e dos Mortos, pois estávamos na Lua Minguante e além disso aterroriza-me mtas vezes minha própria imagem de mulher + velha q tem um jovem Amor;  1 frasco de óleo essencial de flor Dama-da-Noite, enaltacendo seus mistérios de Mulher ; 1 colar de pérolas, simbolizando lágrimas de dor q enobrecem e purificam;  1 cálice de estanho com água pura, representando  o mundo dos sentimentos, o poder lunar  e a intuição;  3 moedas antigas buscando criar conexões com o mundo material e   minha antiga saia de cigana vermelha, usada em evento aberto na Praça da Liberdade, há 10 anos, idealizado por mim e entendido à época como importante Frustação.
Meu Abre-Alas em mtas coisas nessa Vida, nosso Amigo Clóvis foi o 1º a consultar as Cartas. Mostrou-se satisfeito sem exageros e garantiu-me q as pessoas não se sentiriam mal dentro do mosqueteiro q ao nosso ver trazia + magia à atmosfera. Saí da Tenda com Clóvis e bastou para q eu perguntasse a primeira pessoa  q vi: - Deseja ler a Sorte? para q os trabalhos durassem até a hora de ir embora. Sem meu costumeiro Terror de sofrer para discernir entre Loucura e Misticismo; com meu jovem Amor real dando  perdido feio na Noite Branca, repleta de lindas e jovens musas no Bosque; sem R$ 1,00 para satisfazer qualquer desejo ou necessidade; senti-me completamente íntegra no exercício de produzir um íntimo êxtimo no coração verde da Cidade. Dores, dúvidas, amores, terrores  de outros tantos, tb foram desterradas na Tenda Mágika e o trânsito entre o q está morto ou vivo, o q desejamos fazer viver ou morrer na maior parte das vezes era impossível definir. Madruga e dúvida se adoram.
Se repararam, ninguém comentou nada sobre os objetos  no improvisado altar de lata. Não senti sede, fome ou vontade de fumar, pois  Clarissa me assistiu docemente na própria Tenda e foi com ela, e depois com a nova amiga Biê, que brindei alegremente ao Amor. Estava feliz, sentia-me plena, forte e pronta para recomeçar. Os/As Consulentes pareciam encantados em ter a oportunidade de sem ter sido premeditado, fazerem gratuitamente consultas aos Orixás. Mtos aproveitaram para fazer confidências e desabafar, desterrorizar.  Um gurpo de 4 amigos entaram jtos e sentaram sobre o gde tapete vermelho. 1 por vez consultou-se embaixo do mosqueteiro. Às vezes comentavam o aviso dos Deuses, reconhcendo-os com entusiasmo como mto coerentes.Foi uma noite obscênica mágika.
Espero q isso responda em parte à provocação inicial da Clarissa e do Clóvis. Preparemos novas invasões para Desterrorizar o Íntimo no Êxtimo.
Beijo a todos com carinho e sincero agradecimento por estar em um espaço tão privilegiado como estes "autorizados" pelo N3Ps.
Viva


há que se alumbrar...
Em 20 de setembro de 2012 03:36, Clarissa Alcantara, escreveu: 

Maravilhas onde se mesclam, sem alarde, proposições VIVAs.
Desterrados desterrorizamos nosso sobrevoo silencioso e íntimo ao extremo da rua.
Assim, inauguramos o "Quarto êxtimo: a desterrorização do íntimo", em plena madrugada no parque.
Quero dizer à Viva, nômade clandestina vivaz, viajante náufraga vidente, dizer aqui e junto a todos, que seu corpoemaprocesso, corpo posto em uso e disposto ao usufruto, produtor do desejo de seu próprio acontecimento, acelara-nos em transformações imprevistas, pondo à altura dos olhos, em contato com a pele, em frequência audível, com aromas inusitados, a mais sutil provocação: este viver ao extremo, intensivamente potente em máxima fragilidade, fora do alcance das significações, produz afetações ardentemente curativas. Como funcionam pequenos milagres? O que pode esta dama da noite?

que eu alumbre
que tu alumbres
que ele alumbre
que nós alumbremos
que vós alumbreis
que eles alumbrem






sexta-feira, setembro 21, 2012

a luz azul passeia.



A luz azul passeia. Recorta uma paisagem enluarando. No quadrado de luz, recostam-se duas pessoas. Elas conversam e sorriem relaxadas, mas não as ouvimos. O homem na guitarra improvisa a sua melodia enquanto a mulher que observa folheia o livro. Ela diz:
(enquanto ela narra, pode-se alterar, se for desejável, a luz da paisagem, talvez dando a ela os tons luminosos do sol).
“O Sol ainda não nascera. O mar não se distinguia do céu, a não ser pelo encrespado que cortava sua superfície, como um tecido que se enrugasse. Aos poucos, à medida que o céu clareava, uma faixa escura estendeu-se no horizonte, dividindo o céu e o mar. Então, o tecido cinzento coloriu-se de manchas movendo-se uma após outra, junto à superfície, perseguindo-se mutuamente, sem parar.
(pode-se também jogar com a projeção de paisagens, talvez substituindo a luz pura, a partir de algum momento. Sugere-se uma sucessão de cores ondas árvores folhas raiosol)
Aproximando-se da praia, cada uma dessas ondas erguia-se, acumulando-se para então quebrar-se e espalhar pela areia um fino véu de água branca. A onda parava, e partia novamente, suspirando como uma criatura adormecida, cuja respiração vai e vem sem que disso se aperceba. Aos poucos, a faixa escura do horizonte acabou por clarear, tal como se a borra numa velha garrafa de vinho se tivesse acomodado, restituindo à garrafa a sua cor verde. Atrás dela, também o céu ficou translúcido, como se os sedimentos brancos que ali se encontravam tivessem afundado, ou como se um braço de mulher oculto por detrás da linha do horizonte tivesse erguido uma lâmpada que espalhasse, por todo o céu, raios de várias cores, branco, verde, amarelo, como se fossem as varetas de um leque. Então, ela levantou ainda mais o lampião, e o ar pareceu tornar-se fibroso e apartar-se daquela superfície verde, bruxuleando e chamejando em flamas vermelhas e amarelas, como às que se elevam de uma fogueira. Docemente, as fibras da fogueira fundiram-se numa só brasa, uma incandescência que levantou o peso do céu cor de chumbo que a cobria, transformando-o num milhão de átomos de um macio azul. Docemente, transluziu a superfície do mar, e as ondas ali se deixaram ficar, murmurando e brilhando, até que as faixas escuras quase desapareceram. Docemente, o braço que segurava a lanterna elevou-se ainda mais, até uma chama brilhante se tornar visível; um disco de fogo ardendo na fímbria do horizonte, acendendo o mar inteiro em ouro.
A luz incidiu sobre as árvores no jardim, tornando, primeiro, esta folha transparente, e só depois aquela. Lá no alto, um trinado de pássaro. Depois pausa. E logo abaixo, outra ave soltou seu gorjeio. O sol aguçou os contornos da casa e pousou como ponta de um leque sobre uma cortina branca do quarto de dormir, deixando ali uma impressão digital azulada. A cortina estremeceu ligeiramente, mas, dentro da casa, tudo era penumbroso e sem substância. Fora, os pássaros cantavam uma melodia sem sentido.           

O beijo



Próximos daqui, Bernard, Neville, Jinny e Susan (mas não Rhoda) afagam os canteiros com as suas redes. Caçam as borboletas que pousam nas flores. Varrem a superfície do mundo. As redes estão cheias de asas esvoaçantes. “Louis! Louis! Louis!”, eles gritam. Mas não podem me ver. Estou do outro lado da sebe. Entre as folhas existem apenas diminutos orifícios para espreitar. Oh, Deus, fazei com que passem! Fazei com que deponham suas borboletas sobre um lenço no chão. Fazei com que contem as suas borboletas com manchas pretas e amarelas, as suas vanessas e borboletas-da-couve, mas que não me vejam. Sou verde como um teixo à sombra da sebe. Estou enraizado no centro da Terra. O meu corpo é um caule. Espremo o caule. Uma gota poreja na cavidade da boca, vagarosa, densa, e, aos poucos, vai-se tornando maior, cada vez maior. Agora, qualquer coisa cor-de-rosa passa pelo orifício. Agora, o raio de luz de um olho desliza pela fenda. A luz que dele emana incide sobre mim. Sou um menino num traje de flanela cinza. Ela me encontrou. Um toque na nuca. Beija-me. Tudo se desmorona.
Eu corria depois do café – disse Jinny. – Vi folhas que se mexiam num buraco na sebe. Pensei: “É um pássaro em seu ninho”. Afastei os ramos e olhei, mas não vi pássaro nem ninho. As folhas continuavam a mover-se. Fiquei assustada. Passei correndo por Susan, Rhoda, por Neville e Bernard, que conversavam no galpão. Enquanto corria, cada vez mais depressa, eu gritava. O que movia as folhas? O que move meu coração, minhas pernas? Foi então que aqui cheguei e te vi, verde como um arbusto, como um ramo, muito quieto, Louis, com os olhos vítreos. “Estará morto?”, pensei, e te beijei. Por baixo do vestido-rosa, o meu coração saltava como as folhas que, sem nada que as faça mexer, não param de oscilar. Agora, sinto o aroma dos gerânios; agora o cheiro do húmus. Danço. Ondulo. Sou lançada sobre você como uma rede de luz. E deixo-me ficar deitada sobre você, tremendo.
Pela fresta na sebe, eu a vi beijando-o – disse Susan. – Ergui minha cabeça do vaso de flores e espreitei pela fenda da sebe. Vi-a beijando-o. Vi Jinny e Louis beijando-se. Agora, vou embrulhar minha angústia dentro do meu lenço. Vou amassá-la numa bola apertada. Antes das aulas, irei sozinha ao bosque das faias. Não ficarei sentada à mesa fazendo cálculos. Não vou sentar perto da Jinny e do Louis. Vou levar minha angústia e depositá-la nas raízes, sob as faias. Vou examiná-la, pegá-la entre meus dedos. Não me encontrarão. Comerei nozes e procurarei ovos em meio aos espinheiros, meu cabelo ficará emaranhado, e vou dormir sob as sebes, bebendo água das poças, e vou morrer lá.
Susan passou por nós – disse Bernard. – Passou pela porta do galpão com seu lenço todo amassado numa bola. Não chorava, mas seus olhos, tão bonitos, estavam apertados como os de um gato antes do pulo. Vou atrás dela, Neville. Vou atrás dela com todo o cuidado para estar a seu alcance, com meu interesse, para confortá-la quando toda aquela fúria explodir e ela pensar: “Estou sozinha”. Agora ela atravessa o campo com toda a calma, para nos enganar. Agora chega à encosta: pensa que ninguém a vê e começa a correr com os punhos cerrados. As unhas cravam-se na bola em que o lenço se transformou. Corre para o bosque das faias, para longe da luz. Quando chega, abre os braços e entra na sombra como se nadasse. Mas está cega depois de tanta luz, e acaba por tropeçar e cair junto às raízes das árvores, onde a luz aparece e desaparece, inspira e expira. Os ramos movem-se para cima e para baixo. Aqui, a agitação é muita. Há sombra e a luz é indecisa. Tudo está pleno de angústia. As raízes formam um esqueleto no solo, com folhas mortas amontoadas nos cantos. Susan espalhou sua angústia. Pousou o lenço nas raízes das faias e soluça, dobrada sobre si mesma no ponto onde caiu.

quarta-feira, setembro 19, 2012

Condomínio Noite Branca oferece ÁREA A CONSTRUIR


Este texto está sendo construído assim...



Algumas anotações avulsas para a construção de um pensamentoCORPOcasa:   
                            
1-      Sonoridades Obscênicas e CASA BRANCA – áreas/lugares a se construir: no Sonoridades percebi que muitas casas se juntam/acumulam: KASA KIANDA (objetos recolhidos por Saulo e Leandro), CASA DO VIZINHO (Viviane foi na casa dela buscar um vaso de planta) e CASA DO CENTRO CULTURAL SALGADO FILHO (utilizamos um jogo de sofás cinza maravilhoso). Utilizamos o dentro e o fora. Contornamos a sala da apresentação buscando o público. Meu corpo vibra o espaço que habito. Parece que ocupamos tudo.

2-      Na Noite Branca (convite do coletivo Thislandyourland) construímos uma CASA DE ENCONTROS (Gosto do nome porque sugere malícia, delícia e preguiça) num pedaço do Parque Municipal. Eu e Nina começamos com uma pequena sala vermelha e deixamos um corredor de passagem. Nesse duo meu corpo foi meio abajur para a Ninon ler, comer e escutar música. Corpo-instalação? Depois com a lanterna passeei pelo corpo dela.

                                                         Imagem de Whesney Siqueira


3-      Com a chegada de mais obscênicos a obra se amplia. Ganhamos uma sala de estar e um quarto fechado. Ficou assim: sala de entrar+ quarto-tenda+ sala vermelha+ casa do vizinho. Alguém entrou e ao ver projeções num tecido branco, afirmou: “aqui tem até televisão”.

4-      CASA DE ENCONTROS: a porta colada num corpoMULHER (Lissandra). Porta de lado. Houve um momento em que a porta rondou a casa. Obra esquisita. Casa Aberta e VAZADA. Se pode dançar, ler, comer, sentar, o corpo é material para projeções visuais, ondas sonoras. Passa uma novela da autora Virgínia Woolf. 

5-      CASA DE ENCONTROS. QUAIS? Com a natureza e o espaço livre. Encontro com as pessoas. Encontros com os ACONTECIMENTOS. Objetos: meu corpo, nossos corpos, animados, desanimados, desavisados, enviesados, animais... Meu corpo dança! A casa se transforma em boate. Viva a dj CHAI TE MI MUGANGA!!!

6-      A construção e ocupação desordenada me assustam. Casas sem projeto apresentado. UNIDADES HABITACIONAIS TEMPORÁRIAS. UHT. Isso me lembra a TAZ – Zonas Autônomas Temporárias. Casas em tempo definido, durações mínimas, vamos aproveitar essa obra efêmera, gente?

7-      Tecidos como delimitadores de diferentes espaços. Mas são véus PENETRÁVEIS. Não há fora nem dentro. Tudo no “entre”. Meu corpo entra e habita esse lugar. Sinto que está confortável. Quem chega é bem recebido. Que AMBIENTE bacana, muitos dizem.

8-      “O ambiente se insere num espaço existente ou reconstruído criando uma relação envolvente e agregando qualidades perceptíveis além da visão. O público se encontra dentro da obra e vivencia o espaço. O conjunto de elementos se instala em uma proposta na qual a interação corpórea, física e tátil é agregada à experiência visual”. (LINKE, 2008, p.24. INTER/LOC/AÇÃO).

9-      Somos BRICOLADORES ou bricoleurs. Juntamos o que encontramos e temos. Diferente de um projeto de arquitetura, queremos o imprevisto, o acidental e o acaso.  Para JACQUES, em A ESTÉTICA DA GINGA, 2001, pg.106 e 107: “O bricoleur, ao contrário do homem das artes (no caso, o arquiteto), jamais vai diretamente a um objetivo ou em direção à totalidade: ele age segundo uma prática fragmentária, dando voltas e contornos, numa atividade não planificada e empírica. A construção com pedaços de todas as proveniências, a bricolagem, será, portanto, uma arquitetura do acaso, do lance de dados. Uma arquitetura sem projeto”.

10- E no SONORIDADES OBSCÊNICAS: uma bricolagem de textos, canções e linguagens? Acredito que sim.

11-  E senti em meu corpo a ginga de Oiticica. Aprendeu a bricolar testemunhando as construções provisórias dos moradores das favelas. E o SAMBA também, né? Ajuda aí!!!

12-  Isso é uma casa nessa noite quente e branca? Sim, mas uma casa para pouco tempo. Entre e aproveite! Duas mulheres chegam e uma dança intensamente até se cansar e agradecer dizendo: “finalmente achei meu lugar!”. Volto a Ines Linke: “nas práticas de instalação, é comum que as diferentes formas de espacialização se sobreponham e se agreguem. Elas não somente dependem da natureza do espaço original ou da proposta do artista, mas também da maneira como o público interage com a obra. A situação espacial promove uma visualidade e um sentido do corpo que corresponde ao que GROSSMANN (1996) chama de Momento arte, o acontecimento que resulta da interação entre presença, proposta e participação”. (pg. 24 e 25).

13-   Viviane instala seu quarto-tenda. Um lugar privado ou público? Não sei. Mas um lugar místico e muito interessante para aquela CASA DE ENCONTROS. Outra categoria de encontro: deparar-se com a sua espiritualidade. E no mesmo quarto, houve um momento com a presença de Leandro que lia trechos de um livro para as pessoas que se aproximavam. Parecia um “mago”. Entrei e me consultei com a cigana. O corpo arrepiava. O fora entrava. Dentro de um mosqueteiro azul eu escutava a mensagem dos orixás. Isso é uma CASA VERMELHA E PRETA? Que temporalidade é essa, de uma sonoridade num outro bairro vindo ecoar numa casa branca e provisória num parque? Onde está o centro dessa cidade? Há centro e margem? E as pessoas viam a consulta acontecendo, como uma casa de vidro.

14-   “A bricolagem é uma reciclagem arquitetural sobretudo aleatória, que nasce da fragmentação de antigas arquiteturas. A recomposição desses fragmentos, restos e pedaços, misturados com muitos outros, tem sempre como resultado uma forma completamente diferente daquela de onde eles provêm. A incessante reconstrução com fragmentos de materiais já utilizados, detentores de uma história construtiva própria, constitui a temporalidade dessa outra maneira de construir. Sua poesia reside justamente na dimensão aleatória do resultado, sempre inesperado e intermediário. São os acidentes de percurso que constituem a forma da construção”. (JACQUES, 2001, pg. 107).

15-   Que espaços construímos numa noite que bricolou o vermelho, o preto e o branco? Para mim ESPAÇOS DE PERFORMAÇÃO. Isso porque criamos ambientes que cruzaram o festivo e o místico, a rua e a casa, o sagrado e o profano, o silêncio e o som, a invasão, a INVENÇÃO. Uma multiplicidade de micro-eventos. Com usos e apropriações dos espaços de forma cotidiana e poética. Campos relacionais abertos. E uma alegria imensa de se sentir VIVO. Corpo que encontra outros corpos pela “beatitude dos acontecimentos” (Clarissa Alcantara).  Quero mais! Tivemos o céu por cobertura e testemunha.

‎"eu quero poder falar com vida, sem que a palavra pareça... folha? falsa? fraca?"


Uma douce courant... interrompe. 
belo tango. ações corporais. 
Fred e Lica giram numa quasedança. 
Leandro e Saulo compõem com Wagner um só animal. ele bate palmas. 
a dramaturga escreve, sob a luz da lanterna. faz parte da cena? 
gritos gorgolejos da música lembram à Lica as mulheres galinhas de strange fish. ela dança as mulheres com Saulo em um salão de baile cheio de corpos. 
Clarissa examina Matheus. Depois examina Admar. Ela examina rostos em meio à dança.
 Why? Why? Why? Uai! Uai... Why... É a palavra do corpo. O corpo é frase.

terça-feira, setembro 18, 2012

Sonoridades Obscênicas – Eu fui BETHÂNIA



A noite de sexta passada foi realmente obscênica. A apresentação do SONORIDADES OBSCÊNICAS no Centro Cultural Salgado Filho foi um sucesso e uma delícia. Na vivência desse trabalho tão irreverente e divertido, também pude perceber a dimensão política presente na proposta artística, se buscando pensar a cidade e os espaços nos quais vivemos. 

Fora as novas experimentações que ocorreram, como a minha ideia de uma homenagem ao cantor Wando, um grande obsceno. Que bom poder criar, experimentar e concretizar! Ensaiamos um pouco na véspera, mas sempre fica algo a ser vivenciado no instante do encontro com as pessoas. Uma incompletude, uma falta de definição exata de algumas coisas e isso gera mais atenção e estado de presença na apresentação.

Os figurinos foram repaginados (sempre inventamos algo) e quando Clarissa me colocou uma pulseira vermelha no pulso, me senti Bethânia na hora e celebrei a oportunidade de “brincar” de ser cantor...Também me senti Caetano, Cauby e Arnaldo Antunes.

“Sonoridades” é um evento performático, uma macumba urbana contemporânea e que pede criadores inquietos e ousados. Como “performer” me senti contente e feliz por compartilhar arte e vida com um coletivo tão talentoso. É nesse novo artista que acredito, pois:

Privilegia-se, na nova cena, o criador – em presença –, sua voz autoral, em que se acumulam as funções de direção, criação da textualização de processo e linkage da mise-en-scène. Desloca-se, na verdade, os procedimentos da performance, em que criador-atuante partituriza seu corpo, sua emoção, subjetividade, suas relações com a escala fenomenal, com o espaço, tempo, materiais, para a extensão grupal, a operação cênico-teatral (COHEN, 1998, p.28. Work In Progress na Cena Contemporânea).

Foi uma noite mágica e sentimos que alegramos o público presente. Uma casa vermelha foi construída com objetos, sons, melodias e muita poesia. Agora é levarmos nossa gira para o Centro Cultural São Geraldo.

quinta-feira, setembro 13, 2012

Participação do OBSCENA na NOITE BRANCA


Oi Obscena!

Convidamos vcs para ocupar uma parcela de uma grande área verde com
localização privilegiada no centro de  Belo Horizonte.
Serão doadas áreas particulares de 2,50 x 2,50m do dia 14.09. (18h) ao dia 15.09. (6h), para pessoas interessadas na construção de unidades habitacionais temporárias.
 
Área a Construir terá uma infraestrutura de estacas e ferramentas. Os
interessados devem trazer seus materiais para personalizar suas
habitações.
 
O projeto Área a Construir  do grupo Thislandyourland integra o evento
Noite Branca realizado pela Fundação Clóvis Salgado.
 
 
 


Título da obra: Área a Construir
 
Autor(es): Thislandyourland (Ines Linke e Louise Ganz)
 
Ficha técnica:
Concepção geral:
Ines Linke e Louise Ganz
 
Iluminação
Jésus Lataliza & Daniel Hazan
 
Participantes Convidados:
Obscena Agrupamento Independente de Pesquisa Cênica
Plásticas da Escola Guignard – turma da tarde – 2o. período
Público interessado

segunda-feira, setembro 10, 2012

SONORIDADES OBSCÊNICAS NOS CENTROS CULTURAIS



Depois da estreia no Centro Cultural da UFMG, em 2011, no evento “Música e Poesia”, agora chegou a vez do agrupamento Obscena fazer escutar e ecoar suas SONORIDADES OBSCÊNICAS nos Centros Culturais de Belo Horizonte.

Um pocket show com música, dança, poesia, experimentação e muita alegria. De alguma forma, nesse divertido show, se encontram as pesquisas do agrupamento, reunindo os sons da rua, dos becos, dos bares, dos vendedores ambulantes  e dos habitantes da nossa cidade. Um encontro afetivo e mítico com o espaço público. Uma intervenção cênico-sonora.

Do popular ao erudito, do funk ao chão, do brega ao clássico, neste trabalho, a cidade   GRITA, CANTA, DECLAMA, DANÇA, CHORA, BEBE E SILENCIA. São sonoridades profanas recolhidas nas intervenções urbanas e derivas do agrupamento.

Os integrantes do Obscena: Clóvis Domingos, Joyce Malta, Leandro Acácio, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Viviane Ferreira, Clarissa Alcantara e Saulo Salomão têm a alegria de contar nessa noite com as participações para lá de especiais dos artistas Wagner Alves, Admar Fernandes e DJ Black Josie.

A NOITE PROMETE SER OBSCÊNICA!!!


Agenda:

Dia 14/09- Centro Cultural Salgado Filho (20h).
Dia 21/09- Centro Cultural São Geraldo (20h).