agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

sábado, março 21, 2015

pirateando...

Estamos colocando em prática nossas políticas, micro-políticas, nossas afirmações das diferenças? Ou estamos querendo achatar-nos a uma identificação? E onde nossos corpos não se encaixam? O que fazemos com esse vazio entre?

Imagem: Cris Bierrenbach

quinta-feira, março 19, 2015

Como ativar um pirata-pesquisador?


Sobre a leitura do texto de Iliana Dieguez "Cenários Liminares - teatralidades, performance e política", proposto por Frederico:

Como escancarar e fazer ver aquilo que nos arrebata?
Como praticar uma transdisciplinaridade em nossas ações artísticas? Como combater as vozes solenes, moralizantes, ordeiras? Como fazer suspender nossos automatismos e explorar nossos espaços liminares, em nós mesmos?
Penso que, para isso, é importante questionar-se e fazer-se perguntas como: ainda não estou centralizando o meu pensamento em torno do que faço? O que isso colabora para a prática de um agrupamento? Será que preciso sempre dos exitosos para autenticar meu fazer?
Como funciona uma pesquisa em um coletivo com diferentes funcionamentos e maneiras de produzir?  Como explorar novos métodos, mais cartográficos, mais rizomáticos?
Se há método de pesquisa, trata-se de mergulhar nos afetos que permeiam os contextos e as relações que o pesquisador almeja investigar, permitindo-lhe se inserir na pesquisa e afetar-se com o objeto pesquisado, para produzir um traçado singular do que se propõe a estudar. A cartografia tem como trabalho metodológico a invenção e a implicação do pesquisador, uma vez que baseia-se no pressuposto de que o conhecimento é processual e inseparável do próprio movimento da vida e dos afetos que a acompanham. Na produção cartográfica, é preciso estar atento às desestabilizações que, no processo de trabalho, acometem tanto o pesquisador quanto seu objeto de estudo, seu campo de investigação. . Bem como trata Carmem Gadelha[1]



[1] GADELHA, Carmem. Por uma História do teatro Contemporâneo. In: MUNDIM, Ana Carolina; CERBINO, Beatriz; NAVAS, Cássia. Mapas e percursos, estudos de cenas. Belo Horizonte: Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas – ABRACE. 2014, p.148.

Este não-método trai as dicotomias em favor da genealogia, busca o descentramento, anseia pelas superfícies onde sujeito e objeto perdem unidade porque as grandezas combinadas formam uma trama de indiferenciações, fugindo ao quantificável e às hierarquias. O território é o da multiplicidade, sempre desterritorializado e reterritorializado mais além ou aquém, em jogos com as singularidades. As novas conexões impõem o intercâmbio entre o dentro e o fora (...) e se negam à sobrecodificação, à determinação histórico-conceitual.


Há um resultado a ser obtido? Vou escrachar. Será que isso é assim ou assado? Melhor escrachar!
Como combater as coordenações cínicas e tiranas da utilidade das coisas? Será que podemos ter menos expectativas? Será que o que enfraquece os encontros seriam os atrasos, ou seria a neurose da pontualidade? Um bom funcionamento depende do que? O que é comprometer-se? Será que estou comprometido porque chego no horário, não me atraso, não me ausento?
Escrachar, pôr em evidência. 
Há um regulamento? Há de sempre ficar repisando o que já foi feito? Como ultrapassar nossas auto-afirmações? Elas são necessárias? Será que vamos ficar para sempre repassando o que é que se faz e deixa de ser feito? Quando é que inventamos algo diferente? Vamos parar sempre nossos vôos para ficar falando que não estamos aprofundando? Não seria melhor aprofundar logo de uma vez, contagiar com seu naufrágio?

É preciso ressaltar que esta cartografia é um investimento em uma jornada rumo ao desconhecido. Uma abordagem sobre o corpo e suas potências produtivas, uma vez que não se sabe o que realmente pode um corpo em processo, quais são os seus limites inventivos. As linhas que o rizoma sugere faz fugir dualismos, centralidades e binarismos. Trata-se de produzir na ordem da imprevisibilidade, no risco de corpo que age; precisa-se partir da desnaturalização das leis da normalidade; investir na potência de transformar e dar visibilidade a outros encontros, outros modos de subjetivação que afirmem a vida e a arte em toda sua adversidade. Vale ressaltar, conforme Gislei Lazzarotto[1],



[1] LAZZAROTTO, Gislei Domingas Romanzini. Experimentar. In: FONSECA Tania, M.G. Fonseca (org). Pesquisar na diferença: um abecedário. Porto Alegre: Ganlina. 2012, p. 101 e 102.

Para experimentar vista-se de não senso. Abandone a cronologia e habite o tempo que flui no movimento de pensar. Opte por seguir pelas passagens de novos sentidos e faça do absurdo a matéria do pensamento. Crie palavras para acolher os afetos que se produzem neste percurso. Deixe o método, a explicação e a interpretação desamparados. (...)Trata-se de ultrapassar o que se coloca como limite entre sujeito e objeto para problematizar a relação produzida neste movimento. Implica construir um modo de pesquisar que acolha a experiência que insiste em expressar a multiplicidade que nos constitui. (...) O laboratório está em você. Ande com o pensamento e percorra os afetos que lhe tocam ao pesquisar.

Este entrelaçamento que dissolve funções e refunde funcionamentos rizomáticos entre produto e processo, sujeito e objeto, como também entre teoria e prática, faz do work in progress, de Renato Cohen, e sua elaboração sobre a obra em processo, uma ferramenta importante para a realização de pesquisas:

A criação pelo work in progress opera-se através de redes de leitmotive, da superposição de estruturas, de procedimentos gerativos, da hibridização de conteúdos, em que o processo, o risco, a permeação, o entremeio criador-obra, a iteratividade de construção e a possibilidade de incorporação de acontecimentos de percurso são as ontologias da linguagem. O uso de linhas de força (leitmotive criativos, narrativas) de “irracionalidade”, a incorporação do acaso/sincronicidade, são operações do work in progress, no qual o paralelismo entre o processo e o produto são matrizes construtivas da linguagem. [1]

Como trabalhar em coletivos de pessoas? Como tornar nosso espaço de pesquisa um mar aberto, desconhecido? 



[1] COHEN, Renato. Work in progress na cena contemporânea: criação, encenação e recepção. São Paulo: Perspectiva. 2013, p. 1, 2.