agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

terça-feira, agosto 28, 2012

Ritualizar é performar



17 de Agosto:




E-mail de Nina para o agrupamento: 

queridos!
ontem realizamos a prática proposta pelo clóvis - que foi maravilhosa! - e, dando seguimento, na semana que vem será a minha: ritualizando o cotidiano.
a idéia é que cada um de nós traga pelo menos um objeto de uso cotidiano e ritualize o uso do objeto ou as ações que faz com ele: ações como escovar os dentes, calçar os sapatos etc.
o que é ritualizar? seria carregar de intencionalidade? propor outras dinâmicas? alterar o ritmo? tornar visível o seu uso? alterar o seu espaço?
enfim, as questões/proposta estão lançadas...
até quinta!
beijos
n.
Decidi pesquisar uma ação bem simples: calçar sapatos. Como ritualizar essa ação do dia a dia?
Só experimentando.
 
Rascunhos de uma experimentação: 23 de Agosto
Local: Pátio Interno do CCUFMG
Posição: estou sentado.
- Primeiro: experimentar  a ação normalmente.
- Começo uma repetição da ação e algo se altera, surge um circuito de um pé para o outro.
- Agora experimento bem lentamente a ação.
- Tento mesclar ritmos diferenciados, mas acho estranho demais. Parece uma ação teatralizada.
- Me vem uma imagem agora: eu "tirando os sapatos" diante de outra pessoa. Sem dizer nada. O que pode acontecer?
- Me levanto e vou até a dois homens perto de uma pia e faço essa experimentação. Eles me ignoram. Nada acontece.
- Volto e me sento. Muitos batimentos cardíacos...
- Outra imagem aparece: eu carregando muitos pares de sapatos e a cada momento ir trocando um e também criando uma instalação no chão e terminando descalço. Será que faço na praça?

TEMPO

- Olho para minha frente e vejo Lissandra deitada e coberta. Sapatos dispostos no chão. Vou e me sento perto dela e brinco de intercalar pé e sapato.

SAPATO LICA//SAPATO CLÓVIS//UM PÉ//SAPATO CLÓVIS//SAPATO LICA//OUTRO PÉ.
Faço composições.

Outra mirada mais devagar: Como um pé é algo estranho!!! Perco a forma ou algo se de-forma. Acho que foi o excesso de olhar até se perder o "conhecido".

Volto e me sento novamente.

Agora amarrar, desamarrar e calçar muitas vezes - sensação de obsessão.
Fico quieto.
Pausa.
Uma ação repleta de micro-ações nela.
Tempo de duração: 50 minutos.
 
Questão: Como será agora fazer a ação na rua?
Depois estudando: 
Encontro depois uma citação de Renato Cohen no livro: "PERFORMANCE COMO LINGUAGEM": "a live art vai buscar a ritualização dos atos comuns da vida: dormir, comer, movimentar-se, beber um copo de água passam a ser encarados como atos rituais e artísticos". (pg.38).

Ritualizamos e de alguma forma performamos nessa proposta de Nina. Estabelecemos uma relação diferenciada e extra-cotidiana com os objetos. Isso criou estranhamentos e maravilhamentos para nós mesmos e para os outros. Deslocamentos no espaços físicos e perceptivos.

Naquela noite, em casa, quando tirei meus sapatos, voltou uma estranha sensação. Mas ela durará até quando?


sexta-feira, agosto 24, 2012

GUEST POST: RITUALIZAR AÇÕES COTIDIANAS A PARTIR DE OBJETOS (OU COM)


Pode-se dizer que a aplicação prática dada ontem pelo Obscena criou um lugar propício para a instauração do “comportamento restaurado”, diante da  repetição de ações cotidianas em espaços que, socialmente, não são “próprios” daqueles atos. O “comportamento restaurado”, segundo Richard Schechner, é o processo chave de todo tipo de performance, no dia-a-dia, nas curas xamânicas, nas brincadeiras e nas artes. O “ser” performance é um conceito que se refere a eventos definitivos e delimitados, marcados por contexto, convenção, uso e tradição. Tratar o objeto, ou obra como performance significa investigar o que esta coisa faz, como interage com outros objetos e seres, e como se relaciona. Na vida cotidiana, pode-se dizer que ritualizar é refazer minuciosamente, ou seja, exibir de maneira intencional as possibilidades, podendo chegar ao extremo, sublinhando uma ação para aqueles que a assistem.
Nina escolheu um lugar: a praça. Sentou-se no banco embaixo de uma árvore, colocou sua toalha e pasta de dente ao lado e pôs-se a agir, escovando os dentes em meio às pessoas que passavam por ela. Apesar de a ação ser em um espaço público, Nina não pareceu estabelecer relação direta com os transeuntes, seu foco era outro: deslocar uma ação íntima, privada para o lócus compartilhado, deixando parte de sua intimidade diária à mostra. O ato continuum era o que parecia almejar. Embora a ação fosse a mesma, os eventos sucessivos eram diferentes em tempo e ritmo, por que eram marcados de forma diferenciada. Em outras palavras, a particularidade de cada gesto de Nina estava não apenas na materialidade testada, mas na atividade da perfomer e em sua interatividade com os objetos deslocados:

Comportamentos restaurados são comportamentos vivos tratados como um cineasta trata um pedaço de filme. “Esses pedaços de comportamentos podem ser rearranjados ou reconstruídos: eles são independentes do sistema causal (pessoal, social, politico, tecnológico), que os levou a existir.” (SCHECHNER, R. O que é performance?. In O Percevejo, ano 11, 2003, n. 12, p. 25 a 50)

 A deslocação espacial causava o estranhamento, pois a higienização bucal em vias públicas geravam dados ao olhar passante. Obviamente, estranho não pareceria às outras pessoas que moram na praça, que estão nela e fazem dela o seu cotidiano, fazendo suas necessidades, tendo suas afeições, bebendo e comendo naquele espaço diariamente. Para eles as ações da Nina e da Joice eram banais, se misturavam em meio aos andarilhos[1].  Joice lavava os pés, ambas buscavam o lugar da higienização pessoal. Isto me fez pensar que estar limpo parece ser o grande ritual diário dos seres humanos, não só por si, mas pelo convívio com os outros. Estamos na era da higienização excessiva, a Imagem pede, determina. Por isto talvez, que os “ditos” não limpos estão sendo levados para fora da cidade, para longe, pois eles não se enquadram nos padrões diários da boa limpeza como bom costume, dos cheiros excessivos dos perfumes, porque, talvez, eles se sintam à vontade com o próprio cheiro, enquanto nós não nos damos a possibilidade de sentir, de cheirar, de suar, ou seja, negamos o nosso corpo cotidianamente.
Já dentro do Centro Cultural da UFMG havia certo conforto e um risco menor, os espaços institucionais permitiam uma abertura às ações, não me causava estranhamento nem aos outros olhares. Como a proposta podia partir do interno-externo, parecia que o trabalho dos performers caminhava para uma experiência íntima, independente do outro. Vi Clarissa fazendo uma espécie de altar com os seus cigarros, todos ao redor. Um santuário de fumaça. O sentido estético era bem forte em seu trabalho, havia uma clara composição dos materiais. Os cigarros acendiam, um a um. Clarissa desejava o fogo, queria queimar, queimou os cigarros, a caixa, a carteira. Não parou. Parecia que levava ao extremo o seu prazer de acender, de fumar. Os cigarros entronizados por ela verteram, o vento derrubou o altar. Uma pena, o vento poderia ter esperado os cigarros ardendo mais um pouco, pelo menos o tempo de eu tirar as fotos. Apesar de sua forte dimensão estética, vi que sua consciência não estava em fazer arte para o outro olhar, mas para si, em uma disposição de materiais que poderia mover, que mandaria. Este é o nosso poder sobre o objeto, podemos fazer o que quisermos com ele. O objeto está ao nosso serviço, ele se entrega na lógica do fluxo que damos. O cigarro se desnudou em suas mãos e em sua boca. A performer estampava o seu desejo, manuseava o poder que tinha sobre o ato de fumar.
Clovis trocava os sapatos em tempos-ritmo diferenciados, em recombinações do calçar os sapatos, em pedaços de outras ações que viravam outras coisas, outros desejos: “(...) comportamento restaurado pode ser aprimorado, guardado e resgatado, usado por puro divertimento, transmutado em outro, transmitido e transformado.” (SCHECHNER, 2003, P.35).
Lica usava como ferramenta o próprio corpo, diferente dos outros em que o objeto era passaporte para a ação, seu cobertor era apenas um utensílio para o mote maior: o ato de acordar. Este era o foco. Portanto, seu corpo era o principal meio de ritualizar, de transpassar, de agir. Pode-se dizer assim, que ser ou não um ritual depende tanto do desejo em si mesmo, quanto o que é feito. Portanto, a fluidez do exercício deveu-se à propensão dos fazedores e na fluidez das atividades comuns em relação ao tempo real e ao espaço diferenciado, deslocado.
                                                                                                     Marcelo Rocco  



[1] Apenas um desvio do olhar, sem juízo de valor, mas não pude deixar de perceber que os guarda-municipais não deixavam ninguém deitar nos bancos, mas viam-se casais em situações íntimas, de carícias sexuais e isto não parecia incomodar. Acredito que a relação de poder que se estabelece nos bancos (de não poder deitar) tem a ver com o fato dos andarilhos não terem dinheiro, o seja, os atos sexuais disfarçados podiam ser públicos, o que deve permanecer escondida é a pobreza, talvez porque ela gera culpados, responsáveis por ela.

Estudo sobre o MASTURBE SEU URSO na Escola Guignard

forum.outerspace.terra.com.br


Título: "PARA DAR LÍNGUA A AFETOS QUE PEDEM PASSAGEM: conversas com o lambe-lambe Masturbe Seu Urso".
Aluna: Débora Augusta Rossi Fantini
Orientadora: Profª. Maria Manuela Graça da Cruz Tenreiro
Leitor: Clóvis Domingos dos Santos

Dia 29/08/2012 - quarta-feira
Horário: 19 horas
Local: Auditório
Escola Guignard.
Belo Horizonte/MG.

domingo, agosto 19, 2012

Humanizamos uma cidade de pedra

Realizamos ações artísticas no Evento HUMANIZE UMA PEDRA na Vila das Pedras em Belo Horizonte. Eu e Lissandra fizemos OS IRMÃOS LAMBE-LAMBE e Leandro como o Homem Bomba, compôs imagens e situações interessantes num espaço de pedras, que parecia um campo de guerra. Destaco o texto escrito como convite do evento e que circulou por várias redes sociais:

"Com o objetivo de chamar a atenção da população de Belo Horizonte para a política excludente que tem sido adotada pela prefeitura da cidade, convocamos todos a um exercício coletivo de humanizar a cidade: HUMANIZE UMA PEDRA!

Nos últimos anos, a população de rua de Belo Horizonte tem sido vítima de uma série de medidas excludentes, que nada se preocupam com o acolhimento, a reintegração e a dignidade da população de rua.

Há na cidade um déficit de vagas em abrigos, o Centro de Referência da População de rua foi fechado, e o número de mendigos assassinados nos últimos anos cresceu consideravelmente – e pouco ou quase nada se fala sobre isso.

Como se não bastasse a ausência de políticas de acolhimento, existem diversas denúncias de que fiscais da prefeitura se encarregam de confiscar os bens e também os documentos dos moradores de rua – o que aumenta a situação de vulnerabilidade deste grupo.

Agora, muitos viadutos da cidade foram cobertos por pedras anti-mendigos, uma medida que escancara o que a prefeitura quer fazer com os mendigos: expulsar da cidade, expulsar do nosso campo de visão.

Queremos, pois, promover a discussão sobre esse assunto.

Para isso, convocamos a todos à intervenção HUMANIZE UMA PEDRA, agendada para sábado, dia 18 de agosto, a partir das 10:00h, no viaduto da Cristiano Machado, à altura do n.7600.

Traga sua toalha e lanche para o piquenique, traga tinta guache (que sai com água) para colorir uma pedra, traga flores, traga um amigo. Adote uma pedra, humanize uma pedra, humanize a cidade!"








 Fotos de Whesney Siqueira

Convocados, lá fomos nós, coletivos artísticos, a colaborar com nossa arte e presença. Humanizamos com a nossa OCUPAÇÃO de um não-lugar, transformando-o num lugar de encontros, conversas, cores e manifestações artísticas. Isso é arte, política e afirmação da nossa potência de ação. Houve a SUBVERSÃO de um espaço configurado (com a colocação de pedras como barreiras) para o não-encontro e que pela nossa ocupação humana/artística pôde ser habitado, ainda que por poucas horas.

Isso me lembrou a ideia de TAZ , ZONA AUTÔNOMA TEMPORÁRIA, do Haikim Bey, e seu convite de um ataque não direto ao poder instituído, mas sim às ideias e à ordem estabelecida. Aquele labirinto de pedras, um deserto na cidade, pela ação coletiva de alguns, pôde se libertar das garras do poder e ser ocupado de forma criativa, lúdica e colorida. Isso é a ação da sociedade civil que se organiza e o melhor, se MANIFESTA.

Lissandra estreou na ação do Lambe e disse que gostou muito. Vivemos bons encontros e mais uma vez conversamos sobre a cidade e como podemos humanizá-la. O quadro da ação "Procuro-me" tinha tudo a ver com o acontecimento. Uma cidade se procura em meio à pedras....à corações de pedra, como se manifestou um participante.

sábado, agosto 18, 2012

Como Abraçar o Acontecimento?


Como abraçar o Acontecimento?
E o que me acontece?

EU PRECISO.

eu preciso
de um abraço
gente sincera
olhos nos olhos
boa comida
livro amigo
dormir junto
sorrisos
silêncio 
..........................................................
...........................................................
.................sim e não..............................
que alguém me ajude
a completar essa lista de precisão. (Clóvis por e-mail ao coletivo).

Um convite ao Obscena: invadir a rodoviária.
Lugar de chegadas, partidas e despedidas.
E nesse vai e vem: produzir abraços
Encontros.
Ritualizar uma ação.
Mas o que é um abraço?
Privado e público?
Multiplicar afetos.
Abraços curtos ou demorados?
Contatos dos corpos
Ou tapas nas costas?

O QUE PODE UM ABRAÇO? (Clarissa).

EU PRECISO. Eu preciso aprender a acender o fogão à lenha, a trocar o botijão de gás, controlar a minha ansiedade, aprender a falar não e sim nas horas certas, aprender a viver junto, reaprender English, aprender como aguar determinadas plantas, a soltar pipas, acordar cedo e caminhar, eu preciso dos amigoooos! (Marizabel, por e-mail).

Eu preciso de um abraço.
Um abraço pode levar a um beijo? O que muda depois de um abraço? (Matheus).
Você tem ideia de quanto tempo dura o efeito avassalador de um abraço dado, recebido ou trocado? (Lissandra).

No desembarque dos afetos.
Abraçamos um lugar.
Criamos um acontecimento.
Interromper? Destacar um gesto? Repetir com tempos diferenciados?
Repetição ou diferença?
O que potencializa o desejo do abraço no outro? O fluxo/ritmo? O espaço onde ocorre? (Nina).
Multiplicar abraços num local de chegadas e partidas. Melhor local para se abraçar. (Marizabel).
Abraços. Abrir os braços. Deixar entrar.
Entrega.

Eu só sei que preciso. De:

bom papo
carinho
música boa tocando no rádio
cochilo depois do almoço
dos amigos
tudo e nada
ficar nu
ver o céu
solidão
multidão
... (Leandro por e-mail).

Eu preciso.
Essa ação precisa de mais gente?
Intensificação da vida?
Ferir com delicadeza o cotidiano?
Por quê tantos abraços ainda continuam grudados em mim?

A impressão que tenho é que os abraços poderiam reverberar mais
O abraço poderia correr mais risco. (Marizabel).
Como abraçar o Acontecimento do Abraço?
Como não precisar?
Eu preciso?
Como afirmar aquilo que nos acontece?
Como abraçar os sustos e as pequenas mortes do cotidiano?
Como afirmar a vida no AGORA?
Por quê tantos abraços ainda continuam grudados em mim?
Como não precisar?
 
eu preciso que nada seja preciso
do impreciso acordar sem lembrar 
dormir sem acumular
de viver o lindo de morrer
da percepção instantânea 
dos abraços aquecidos
dos olhares úmidos
dos gestos mínimos
de toda a imperfeição
da diferença impura
da contínua variação do vermelho, do verde, do amarelo, do azul, do violeta
da cor inexistente
do tempo incerto
da instabilidade do vento
da insegurança da terra
da fragilidade do humano
do sutil sobrevoo da vida
do amor que nada precisa (Clarissa por e-mail).









sexta-feira, agosto 17, 2012

Eu preciso

é interessante perceber o modo como a discussão sobre o performativo vem alimentando as práticas do obscena nos últimos meses. e foi uma pena que, por questões pessoais, eu tenha perdido o encontro da última quinta, pois discutiu-se a dissertação do leandro acácio, "O teatro performativo: a construção de um operador conceitual". e, à luz dela, algumas práticas que realizamos de forma coletiva e que já foram aqui relatadas ou registradas (as cadeiras, parangolé coletivo, o jogo pensando naquilo e nisso, te vejo em fotografia, derivas sensoriais...).
na última quinta, agendou-se, também, as próximas práticas performativas a serem realizadas. a primeira fizemos ontem, a partir da proposição de clóvis domingos.
a única coisa que sabíamos é que era para irmos, cada um, com a camiseta de uma determinada cor: vermelho, azul, verde, roxo, laranja... e também que clóvis havia enviado um poema no qual descrevia as coisas de que precisava, entre elas de pessoas que ajudassem a continuar a lista de precisão... isso instalou um "surto" de listas de outros pesquisadores.
mas clóvis vai falar melhor sobre isso, então não vou me alongar nesse aspecto da ação.
sei que quando lá chegamos todos - eu de vermelho, clóvis de verde, leandro de rosa, marizabel de roxo, clarissa de laranja, lissandra de azul e matheus de preto - o propositor lançou seus objetos: sairíamos dali para a rodoviária, onde, na plataforma de desembarque, deveríamos criar fluxos de passagens, de um vai-e-vem que culminasse em encontrosabraços.
sem representação, sem teatralizar ou exagerar a ação, deveríamos nos abraçar e deixar que esses abraços aos poucos começassem a se alongar... poderíamos nos sentar, observar o desembarque. e devo dizer que foi uma maravilha um maravilhamento. e também que os abraços já se alongaram de cara, pois adoramos nos abraçar.
e foi um alimento especial observar as pessoas que esperavam outras que chegariam de ônibus, vindas de outras cidades. e observar essas que chegavam e eram recebidas com abraços. às vezes, era quase como se nós também fôssemos abraçar/ser abraçados. muitas vezes senti essa vontade, como no momento em que uma senhora veio me perguntar de onde viera aquele ônibus bonitão que acabara de desembarcar alguns passageiros. era de itajubá.
mas o mais interessante foi o que aconteceu depois de um tempo de realização da ação, quando esta tornou-se visível. em frente à plataforma, em uma loja, as pessoas começaram a nos notar.
tornamo-nos instigantes para elas, pois começamos a despertar nelas o desejo, e elas nos abraçaram e uma disse: eu preciso de um abraço hoje.
e eles se abraçaram, pela primeira vez, embora trabalhem juntos.


me lembrei de um outro momento, em que se abraçaram dançando dois performers de dois coletivos distintos: everton lampe, do quando coisa, de ouro preto; e evee ávila, do líquida ação, do rio de janeiro; (dentro do circuito performatite, também já fartamente relatado neste blog).

quinta-feira, agosto 16, 2012

Humanize uma pedra!

Intervenção vai ser realizada neste sábado, dia 18!


segunda-feira, agosto 13, 2012

ONDAS

OBSCENA + N3Ps



Vídeo realizado com imagens das ações feitas no primeiro encontro prático do projeto ONDAS. Uma rede colaborativa de criação e reflexão, reunindo o N3Ps - nômades permanentes pesquisam e performam, o Obscena - agrupamento independente de pesquisa cênica, e artistas convidados, para juntos realizarem uma montagem cênica, livremente inspirada no poema-romance As ondas (1931)  de Virginia Woolf,  a partir da investigação do processo colaborativo e da  ocupação performativa de espaços urbanos.
Edição de imagens e som: Joyce Malta
Músicas 'onda sonorus': Henrique Rocha, Wagner Alves, Clarissa Alcantara

sábado, agosto 11, 2012

Ressonâncias do Performatite - três perguntas para Eloisa Brantes


1 - Você me emocionou muito ao se referir à performance e à intervenção urbana como ações artísticas que nos convidam à ética e à alteridade. Entendo que a obra se faz com a participação do outro, do transeunte da cidade e que ao mesmo tempo que provocamos também somos provocados. Você falou em "reflexividade". Uma ação performática é uma troca, um diálogo, um jogo, uma aventura, algo que se desvela no instante mesmo, no imprevisto, nos coloca no terreno da abertura ao outro.
Seria essa a dimensão política desse tipo de intervenção humana e artística?


    Foto de Clarissa Alcantara


Sim. A dimensão provocativa da performance pode acontecer de muitas formas, mas acho que no caso da intervenção urbana existe um espaço de risco que envolve o outro de maneira mais radical. Tem um deslocamento do lugar do artista na sociedade. Quem passa por uma intervenção já faz parte dela, mesmo que seja perguntando “o que é isso?” A obra se instaura nessa instabilidade em relação a tudo que acontece. A ação não tem limites definidos, a forma entra na lógica do devir. Existe uma dinâmica de inclusão que alimenta a intervenção e transforma a percepção do performer em relação a si mesmo, o que ele faz, o que atua sobre ele, até que ponto ele suporta o que provoca, ou provoca aquilo que suporta, etc. Então é impossível negar a presença do outro, por mais difícil que seja, pois nem sempre a reação das pessoas é agradável, as vezes incomoda. Mas quando incomoda fica mais interessante, pois tira o artista do pedestal protegido da “obra”.  Para mim, uma questão importante é : como se relacionar com o outro sem se impor nem se diluir? Será possível atuar com o outro em sua diferença? A reflexividade tem a ver com essa dificuldade de não igualar as coisas nem as pessoas, nem julgar o certo ou errado, mas fazer uso de tudo, deixar-se usar também, compartilhar o acontecimento em sua singularidade, entrar no campo da imprevisibilidade. O performer é agido ao agir, tem um estado de receptividade que passa pela afirmação máxima da vida, pela abertura de infinitas possibilidades de existência ali - naquele momento em que você mesmo se torna algo que ainda desconhece. Grotowski fala de um “estado de nascimento” do ator. Tem essa dimensão ritual da ação que revela o que antes estava oculto ou era desconhecido. Mas diferente do ator no teatro, na intervenção em espaço público o performer não está no centro deste processo de revelação, ele aciona situações que desdobram possibilidades de vida. É um mergulho no devir das coisas, que coloca em jogo os limites do corpo, da cidade, da sociedade, da cultura, etc. como campo de forças em que o outro atua tanto quanto você, mesmo se isto não fica explícito. Acho que o mais legal da intervenção é a sutileza do que realmente nos abala, tem a ver com desconstrução das estruturas de linguagem, aquilo que Guattari fala de banho caósmico nas matérias de sensação, a partir das quais tornar-se-á possível uma recomposição, uma recriação, um enriquecimento do mundo, uma proliferação não apenas das formas mas das modalidades de ser.  O que eu chamei de reflexividade lá na mesa do Performatite passa por essa ética-estética da alteridade.


2- Você fez uma bela provocação: nem sempre a Performance pode ser considerada uma PERFORMATITE, no sentido de inflamação, incômodo, de um vírus que transforma as pessoas, os espaços, os conceitos etc. O grande perigo seria a performance já estar capturada e domesticada, não é mesmo? Ou institucionalizada?

Acho que a domesticação das manifestações artísticas é uma tendência “natural” do mercado. Pois é preciso atuar em campo seguro, o consumidor de arte quer garantias em relação ao produto (mesmo se isto for uma performance), assim como o estudante, o professor e as instituições de ensino querem garantias em relação à eficácia dos processos de transmissão e produção do conhecimento. Até aí tudo bem, mas o problema é quando a gente situa a performance como zona de atravessamentos entre arte e não arte, isto desmancha as especificidades que sustentam o lugar das coisas. Acho que tudo pode ser capturado e domesticado rapidamente na sociedade de consumo em que vivemos, a performance também. Mas existe uma dimensão processual da performance que coloca em jogo a relação do artista com a sua própria vida. Essa dinâmica arte-vida é complexa. Eu gosto muito de desenvolver os espaços do erro, o acidente, aquilo que não aconteceu conforme eu esperava, esses desvios são importantes no processo de pesquisa. Não falo de pesquisa apenas no campo acadêmico, falo de pesquisa como algo que move a própria elaboração artística como algo infinito, pois uma performance é apenas parte de outras coisas que são colocadas em questão pelo performer enquanto ser social e político. Acho que essa inquietação não é institucionalizável, mas pode e deve dialogar com as instituições que também precisam disso. Tem aí uma capacidade de resistência e de reinvenção do lugar das coisas, a subversão na performance passa por isso que tudo afirma na medida em que transforma, atravessa formas, traça transversais que apontam outras possibilidades de vida e nisso contagiam, comunicam o que ultrapassa o entendimento.

3- Foi uma delícia me aproximar dos artistas-pesquisadores do Líquida Ação. E o que o PERFORMATITE provocou no teu coletivo? Não participei do banho no Chafariz em Ouro Preto (proposta de vocês), me relataram que foi um ritual maravilhoso. Quais foram tuas sensações e percepções?

O encontro com os obscênicos, o N3Ps, o Quando Coisa e os Laranjas Podres nos encheu de energia para continuar investindo em modos diferenciados de produção artística através de colaborações e parcerias. Saímos do Performatite dizendo SIM É POSSÍVEL. As propostas de cada coletivo tão diferentes estavam conectadas com  questões contemporâneas que envolvem arte e cidade. Os processos coletivos de elaboração das ações em Ouro Preto foi um aprendizado. A confiança gerada pela escuta de todos durante as ações foi emocionante. O ambiente de troca realmente se estabeleceu de maneira intensa e acho que isto proporcionou um diálogo político, social e estético com a cidade de Ouro Preto. As imagens da Clarissa e os vídeos da Nina gritam a beleza desse encontro. O banho final diante do chafariz seco celebrou o acontecimento, consagrou nossas cabeças em pacto-impacto estético.


segunda-feira, agosto 06, 2012

Teatro e Performance - Entrevista com Denise Pedron

Segue link para o segundo número da Revista Lamparina (EBA/UFMG). Nesta edição, foi publicada uma entrevista com a artista, pesquisadora e professora Denise Pedron. A entrevista foi realizada em Belo Horizonte/MG, no dia 21 de setembro de 2010 e foi concedida ao pesquisador do Obscena, Leandro Silva Acácio.


domingo, agosto 05, 2012

Ação dos Irmãos Lambe no Evento Preconceito Zero

Ontem, à  tarde, dia 04 de Agosto, aconteceu o evento "Preconceito Zero" na Praça Duque de Caxias em Santa Teresa. Os obscênicos Lissandra, Clarissa, Fred e Matheus faziam parte do grupo organizador dessa criativa manifestação contra qualquer forma de discriminação e exclusão humana. Cada participante que chegava trazia uma sombrinha e após determinado tempo haviam coloridas sombrinhas espalhadas pelo chão compondo uma bela instalação.




Foi pela manhã que surgiu o desejo de se realizar a ação Irmãos Lambe-lambe nesse evento. Liguei para Leandro, que trabalhava, e somente depois do almoço consegui falar com ele. Fui para a praça com minhas coisas e roupas e com a ajuda de Clarissa e Matheus conseguimos a máquina fotográfica do Obscena. Foi Fred quem buscou em sua casa uma roupa preta para o Leandro, já quando este aceitou fazermos a ação. Ficamos entusiasmados de realizar um Lambe com sombrinhas.

Trocamos de roupa dentro do carro dele e de lá saímos com nossas sombrinhas para mais um encontro com as pessoas da cidade. Dessa vez a experimentação foi mais rica para os participantes: eles podiam escolher como desejavam serem fotografados, o lugar etc. Possibilitava uma PARTICIPAÇÃO CRIADORA mais intensa e livre, uma autoria do trabalho. Éramos os propositores e nos interessava essa dimensão participativa das pessoas. E o espaço de atuação do participante se tornou maior, sem a cadeira e o quadro que antes utilizávamos.




 

Outro acontecimento: algumas pessoas desejaram serem fotografadas juntas e assim inauguramos a produção de fotografias com duplas. Fotografamos e conversamos com 14 pessoas e delas escutamos opiniões e reflexões sobre preconceito e cidade. Aproveitamos para conversar sobre acessibilidade: física, social e cultural. 

 O espaço é uma organização humana, extensão da existência da vida. Os espaços construídos, na maioria das vezes, não consideram a DIVERSIDADE HUMANA e partem da ideia de que todos são iguais, numa homogeneização das pessoas. Muito da violência existente na cidade decorre da intolerância em se coabitar com a diferença. O outro, não idêntico a mim, se torna uma ameaça e daí surgem atos de agressão e exclusão.

Para nós foi uma deliciosa aventura participar desse importante e performático evento e podermos descobrir  novas possibilidades para nossa intervenção artística humana/ urbana.

Fotografias de Whesney Siqueira.