agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

quinta-feira, agosto 21, 2008

Retalhos de Amor Partido : dor e despacho sobre o corpo da cidade

Guaicurus. Rua sem saída. Sou testemunha de um ato artístico único. Uma mulher, Érica, corta pedaços de pano e vai " vestindo" cantos, postes, lixeiras e escadas do grande corpo da cidade. A seda vai sendo cortada e violentada. Uma mulher e uma tesoura. Há perigo nessa combinação. Junta-se ao fato dela estar sentada numa encruzilhada deserta. Mais perigo e desconfiança. Uma evangélica passa por ali e olha de soslaio. Duas mulheres em lados opostos. Uma está salva pelo Pai, já a outra é uma perdida de amor e dor. O feminino rasgado. Abandonar "representações do feminino domesticado". Castelos destruídos, a rua é agora o lugar da cura e do encontro com aquilo que não se responde.

Érica me conta que está abandonando colares e presentes pessoais. Objetos de amor. Objetos carregados de representação simbólica. Histórias e memórias.O Outro que vive e respira em objetos guardados como se o amor fosse durar para sempre. Objetos-amuletos- como guias firmadas na fé de um ritual. Amar é uma questão de fé e perseverança e mulheres amam demais, além da conta. Tá firmado, assim se declara na magia da umbanda. Está afirmado- é o que alguém diz para o outro quando coloca uma aliança no dedo ou acrescenta mais nomes ao seu nome.

O fato é que através de objetos ou roupas o ausente se faz presente, por isso guardamos os objetos com tanto cuidado e carinho ou então jogamos fora com tanta raiva.
E assim Érica despacha sua dor colorindo o corpo da cidade. Trabalho anti-espetacular, anti-representacional, é a vida dela. Ninguém que passar pelas ruas vai compreender o sentido de pedaços de seda amarrados e abandonados pela cidade. Ninguém saberá dessa narrativa de dor e abandono. Ato de uma mulher agenciando pedaços de histórias de outras mulheres. É uma conspiração feminina silenciosa.

Ao final da experiência a mulher me diz "Isso me ajuda muito"!!!!!
Eu é que me sinto privilegiado por testemunhar uma mulher enfrentando suas frustrações amorosas. Isso será arte?
Percebo um diálogo de vários procedimentos nessa pesquisa e acredito que temos muito a colaborar com o trabalho do outro. Acompanhar os procedimentos dos outros está me inquietando muito e criando novas investigações.
Voltando pela avenida Afonso Pena identificamos a passagem de Nina por ali: o contorno de uma morta no chão da cidade. E assim obscenamente vamos intervindo no corpo da cidade. Vários procedimentos-tecidos rasgados criando desterritorializações e estranhamentos.

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