
Como propus trabalhei com os tijolinhos/bloquinhos de brinquedo. Pretendia trabalhar com quatro conjuntos, mas somente achei três caixas do brinquedo. Após acordar o corpo no Marília que hoje nos cedera o palco para trabalhar, hahahah!, fomos para rua. Descemos para a praça da estação, Nina eu liça William. Clóvis e Joyce foram para a rodoviária, Marcelo Didi e Saulo para a Guaicurus. Idelino encontrou-se conosco na praça e Clóvis também. Antes de chegar na praça paramos um pouco debaixo do viaduto de santê para ver o movimento BATALHA – 35 anos de hip hop.
Observei o espaço. A praça estava com as luzes apagadas, segundo o guarda a Cemig desligara. Será que o governo cortou por falta de pagamento?
Fui para frente do monumento onde um homem estava montando sua cama. Bem ali a seus pés eu montei meu castelo com os bloquinhos. O espaço fora extremamente generoso comigo, havia três folhas de revistas femininas soltas no chão, catei-as para serem meus ‘terrenos’, em cada uma construí meu castelo de bloquinhos. As imagens perfeitas construídas e sobrepostas. O micro e o macro o concreto e o virtual. Sobreposição de fascínios. Este brinquedo é bem diferente do que eu desejara este para minha surpresa não tinha a pintura de tijolinhos janelinhas portinhas. Este era uns bloquinhos de madeira com uma cartela de adesivos para colar. O motivo deste primeiro era um aeroporto.
Eu compunha o meu castelo e este morador o dele. Eu criava minha relação com a praça e ele ali estendia seus panos para descansar.
O segundo foi aos pés de uma árvore à direita donde eu montara o primeiro. O motivo deste era um clube – piscina sauna balanços escorregadores.
O terceiro depositei-o fechado sob as águas dos chafarizes à esquerda do monumento. Este eu deixei para que alguém além de mim pudesse construir este castelo. Molhado. Encharcado.
Deixei ali meus castelos virei as costas e fui observar Willam em sua caminhada pela praça. Vestido de gueixa tem várias calcinhas na cabeça, na boca, nos braços e anda solenemente pela praça. Pergunto ao senhor que vende refrigerante, cerveja, água... _ que é isso? Ele diz que Will está trabalhando, vendendo calcinhas, mas que aquelas não eram pra qualquer uma não. _são pequenininhas né. Se bem que esticam, ah! Mas num é toda mulher que gosta não.
_ é minha fia cada um se vira como pode pra ganhar um dinheirim né!?
Saí e fui pro bar vomitar minhas lágrimas para Clóvis Nina e Idelino.
Estas palavras são para Clóvis.
Os meus desacertos enredo-os eu a ti que generosamente e performaticamente os escuta e ouve.
E Ela disse assim:
_ bem, tudo começou quando... nossa! Que merda! Num é isso.
- na verdade estou cansada.
Semana retrasada algo acontecera. Ela decepcionara-se novamente. Os velhos erros em novos e eternos dias e atos. Prólogos de términos previsíveis. Não há mais razão para estar com ele. Isso é o que mais dói.
_ meu castelo eu construí sozinha.
E sozinha ela vê que é preciso desconstruí-lo. O quão nocivos que ela e o outro podem ser. Isso sim ficou muito claro. As almas não correspondidas e não correspondentes após aqueles anos de convívio. Acreditar. Fazer-se ser de tal e tal forma e assim formatar o outro. Dia a dia.
_ é preciso consciência. É preciso estar só. Limpar-me do que desejei ser para ele.
Só assim ela será outra. E... Agora eu desejaria sorte a ela em novas e possíveis conquistas amorosas, mas até a mim soa hipócrita essa ação viciada de desejar que somente um amor cure outro... não quer que homens a comam, nem mulheres, experimenta agora a plena e profunda solidão da carne. Logo quem?! É de admirar-se... logo você que sempre teve homens a seu redor. Agora é só. Nem mesmo permitindo-se brincar com os sentimentos alheios como fazia de costume em noitadas em butecos. Nem mesmo isso ela se permite mais. Fechou-se. Encasulou-se. Esta em prece. Ora por si. E pelos demais. Trabalha. Duro. Há alguns meses não sente o gosto do domingo. Mas, agora é de tudo isso que ela precisa: trabalho.
Dessa forma deitou-se no chão e deixou que o outro copiasse suas formas cobrindo-as de pétalas vermelhas sob o escrito:
_eu construí sozinha meu castelo.
O TRABALHO DE DESPACHO PARA IDELINO
Logo pela manhã leu o esquema de trabalho proposto pelo amigo obscênico. Num ímpeto levantou-se, virou para a esquerda abriu o armário e catou sem pestanejar um vestido vermelho meio espanhola os sapatos de salto da formatura três colares – branco vermelho preto – três esmaltes – dois tons de vermelho e um branco – uma cachaça e duas xícaras de esmalte – brancas – uma vela vermelha e um verde – cores de São Judas Tadeu seu santo de devoção.
Após ceder seus fracassos a Clóvis monta estes objetos no chão como um corpo que ali não habita mais e secou-se deixando somente os panos e ornamentos que o compunham. Ali uma mulher morreu. Jogou cachaça nos pés dessa figura e brindou a morta e bebeu a morta.
Por fim Idelino levantou-se em com extrema cerimônia recolhe os restos da morta e guarda-os como um tesouro em sua bolsa. São as cinzas de uma ‘sonhadoura’. De alguém que fascinara-se com a idéia da comunhão, fascinara-se com a idéia da metade reencontrada. E assim, distraída, caiu.
"_ Eu tinha umas azas brancas brancas brancas
Que em me eu cansado da terra esguia-as
Subia aos céus ..."
Três policiais ficaram a assistir e só se aproximaram quando o grupo se afastou.
E assim os obscênicos afastaram-se em direção ao Marília e de lá para o Maleta comemorar o aniversário de Tia Nina.
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