Este ano um incômodo me acerca: a estrutura sociocultural que rege a educação feminina. Os meios e ferramentas utilizadas para construir a identidade necessária para a manutenção das relações de poder entre os gêneros masculino e feminino. Comecei pesquisando histórias de mártires como Joana D’Arc., e algumas santas... Por influência do sincretismo religioso que compõe minha brasilidade escolhi a história de Santa Bárbara. Uma pagã que encontrou na imagem do Deus único e seu benevolente filho a devoção de sua vida, mas sendo filha de Rei e tendo a mão em oferta à casamentos rendosos seu Pai, depois de mandar prendê-la e torturá-la dia e noite até que por fim, em praça pública, decapita a filha em nome de sua superioridade social cultural e de gênero.
Começamos então a pôr em prática nossas pesquisas e num primeiro momento propus o seguinte procedimento:
- uma série de objetos foram ofertados aos demais OBSCÊNICOS;
- estes estavam divididos em grupos de dois ou três, em acordo com a consonância de suas pesquisas;
- cada um devia simplesmente relacionar-se com o objeto, com o espaço e com uma narrativa trazido pelos mesmos.
O objetivo era perceber o modo como cada um reage aos objetos ofertados, mesmo estes não estando em total consonância com suas pesquisas e anseios; captar ações programadas; suscitar a diferenciação entre agir e representar.
Assim percebi que nosso corpo é extremamente dócil e programado. Os objetos suscitam em nós ações pertinentes à utilização dos mesmos no dia a dia ou mesmo trazem locais estabelecidos em nós. Temos o ‘dom’ de estagnar os conceitos para formar imagens seguras. As imagens só se mantêm seguras quando não desvirtuamos a utilização dos objetos e espaços à nossa volta. Não, a questão aqui levantada não é a resignificação de espaços e objetos, não é esse o ponto. E sim, a busca da compreensão do objeto e espaço como reverberações da composição sociocultural de nós indivíduos ditos OBSCÊNICOS.
Quando partimos para nossa primeira mostra utilizei como suporte a narrativa da história de Santa Bárbara e convoquei a todos os pais e mães de ‘meninas’ que se manifestassem diante às formas e lições de educação pertinente ao gênero feminino. Os pais e mães, mas principalmente ‘mães solteiras’, manifestaram-se com interesse. Muitas vezes direcionei a discussão, mas ao mesmo tempo consegui mobilizar mais de trinta pessoas acerca de algo tão banalizado: a construção do ser mulher.
As colocações de meus colegas de pesquisa ampliaram meu conflito: _Você quer ensinar algo? (William); _Algumas questões por você colocadas direcionaram muito a discussão! (Maroca e Moacir); _Não havia um personagem, mas havia um status em relação ao público. (Nina); _Sua proposta aglutinou as pessoas. (Lica) e por aí vai...
Diante da primeira pergunta percebo que não há o que ensinar e sim criar um meio de expor em forma de ‘espaços’ a cultura que educa a mulher e assim convocar uma ação por parte dos visitantes: desconstruir, consumir, aniquilar essas imagens/objetos/conceitos acerca do feminino.
Diante da segunda e terceira colocações dos meus companheiros OBSCÊNICOS retiro-me de cena e ofereço então aos visitantes um locus para usufruírem, um mercado no qual irão realizar a ação mais aclamada da história da humanidade: adquirir uma buceta para domesticá-la, consumi-la, engravidá-la e alargá-la.
Fazendo uso da última colocação assumirei a ‘composição de espaços’ como foco de minha pesquisa, uma vez que creio na comunhão para realização de qualquer mudança que seja. E esta comunhão será espacial, concreta objetiva, desejo através da ação provocar a reflexão e não o inverso. Não desejo fazer os participantes refletirem acerca da educação destinada ao gênero feminino e sim agir sobre os espaços/imagens que ofertarei a eles.
Creio que meu desejo é reverberação dos desejos alheios com os quais venho trocando desde ano passado. Portanto a ação de cada um neste locus é de extrema importância. Desconstruam essa imagem, tragam-na para seus estômagos e devolvam-na reestruturada, remixada, revirada e transgredida.
Desta forma convido-os ao MERCADO DA BUCETA.
Dia 11/08 por volta das 20h – Pça da Estação.
Experimento: ‘o castelo da princesa’
Objetos: brinquedo ‘pequeno arquiteto’ – bloquinhos de montar casa/castelos;
Ação: compor no espaço da praça casa/castelos – construção destruição abandono aquisição e aglutinação ao espaço urbano.
Dia 18/08 por volta das 20h – Rua Guaicurus, quarteirão fechado atrás do Centro Cultural da UFMG
Experimento: ‘a noite de núpcias’
Objetos: retalhos de seda + revistas de mulher nua
Ação: compor no espaço do chão da rua uma colcha para a noite de núpcias e abandoná-la para que ‘esta zona de meretrício’ a incorpore.
Nomes: BARRIO (ações/situações/obras), BOYES (ações/situações/obras), BACHELARD (A poética do espaço), TOM ZÉ (Estudando o samba), Lar’s Von Tier (Dog Villie e Dançando no escuro), barriga (um modelo não representacional para o ator contemporâneo)...
Venham todos, venham todos conferir!!!!
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