agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

sexta-feira, setembro 18, 2009

bonecas domesticadas




não, ontem não foi uma intervenção. não fizemos uma interrupção. não provocamos nenhuma ruptura. nem em nós mesmas. claro, podemos culpar o espaço. não havia fluxo de passantes, a praça da estação é uma praça que leva à contemplação... que leva à autorização.


evento tem que ser autorizado.


ordenado.


como dialogar com o espaço no qual nos propomos a interferir?


estávamos apresentáveis ontem. autorizadas. ordenadas. domesticadas.


sintomático todo o aparato da lei e da ordem presentes no local. todas as formas de dominação do poder. homens fardados. motos. máquinas. guindastes. tudo a serviço da ordem. e nós, sob o monumento em homenagem à ordem e ao deus pau. pai. domesticadas. pequenas. fêmeas.


penso que não pode existir mais uma definição a priori da forma de ocupação que não venha do diálogo direto com o espaço escolhido para a ação. penso que temos que, urgentemente, considerar o elemento "câmera/registro" em nossa ação. Como lidar com esta obsessão pela imagem que nossa imagem causa? como reverter isso em questão para o trabalho? devolver a imagem para as pessoas? hipertrofiar a presença das câmeras? questão presente na primeira experiência de baby dolls e que retorna, cada vez mais forte.


para alguns espaços, mais amplos, talvez o giz não seja a forma única, e mais eficiente, de escrita. quais os meios possíveis para a interferência escrita nos espaços? em espaços como esse? placas, avisos, faixas? cartazes? talvez eu também devesse ter um carrinho, com materiais escritos diversos. palavras recortadas. colagens.


ontem explorei a escrita contornando os corpos. e a palavra que se desdobra em outras. preciso fazer mais isso. ainda estou em estudo. ainda estou em processo.


precisamos novamente nos colocar em risco. sinto que a ação precisa mover-se. literalmente. pelo centro da cidade. pelas estações de metrô. pelos bairros e periferias.


mover-se e nos mover.


sim, proponho percursos pelas estações de metrô. cartografias para essas mulheres objetos.


carrinhos e sacolas carregadas. um elemento de estranhamento? um corpo/parte de corpo plastificada? como as embalagens, envoltas em filme plástico? um objeto estranho porque deslocado do seu habitat natural: a casa, a prateleira? erica a carregar vassouras, calcinhas na cabeça? lica a passear de noiva?


proponho a ação sem licença, nas travessias para o metrô, nas rampas de acesso. nessa arquitetura vazada.


a cada vez, os percursos se encontram numa mesma estação.


baby dolls, a qualquer hora, em qualquer bairro desta cidade.

2 comentários:

Davi Pantuzza Marques disse...

Muito interessantes suas inquietações, Nina. Não pude presenciar o que ocorreu na praça da Estação, mas já deu pra se ter uma ideia.

Quando você coloca a questão do espaço isso me interessa particularmente. Realmente o espaço da Estação é de se perder. A imensidão nos deixa muitas dúvidas sobre os pontos de vista, as perspectivas. Lendo o que você escreveu, fiquei pensando se, num espaço como esse, o objetivo final da intervenção tenha ficado enfraquecido. Quer dizer, talvez seja interessante pensar nas potências do deslocamento, no caminho antes do estabelecimento dos nichos de cada performer (a exposição de bonecas propriamente) - nesse caso, apenas a noiva carrega essa possibilidade mais claramente. Como dividir com o passante, o transeunte uma imagem em deslocamento? Como provocar subversões com o corpo em movimento, do corpo ambulante?

Outra coisa interessante que você aponta: Por que fazer as intervenções nesses grandes espaços, imensos ou abarrotados de gente? Fiquei pensando nessas ruas mais apertadas, mais periféricas sim. Você já conferiram a Pouso Alegre nos quarteirões próximos ao Galpão Cine Horto? Lá está lotado de salões de beleza...

Enfim, dá pra continuar batendo bola.

Beijos,
Davi

... disse...

Quinta pela primeira vez pude acompanhar baby dolls.
Achei muito interessante o trabalho.
Porém realmente, com essa ação na praça da Estação fica uma pergunta: o trabalho é para ser visto ou para que as pessoas vejam, se sintam tocadas, incomodadas?
Porque a Praça da Estação? Algo tão monumental, grandioso, intocável?
Porque apenas o público central?
Beijos,
Cris