agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

terça-feira, dezembro 18, 2012

Heitor e as cartas coloridas

Fiquei emocionado ao saber que algumas de minhas cartas escritas para a participação do Obscena na Manifestação NÓS DA PAZ (ocorrida no último sábado) foram entregues às pessoas na Praça da Liberdade pelas mãos de uma criança. Heitor, 07 anos, sobrinho de Nina Caetano, performou como manifestante e entregador de mensagens.


Foto de Juliana Barreto


O interessante é que em minhas cartas para a ação CIDADE DOS AFETOS, escrevi que a cidade sofria de "Adultorexia" e havia perdido sua dimensão lúdica e brincante, por isso precisava de remédios, policiamento e orações. E também propus um ritual de cura (influência direta de uma ação proposta por Saulo Salomão nesse ano), na verdade uma mudança de atitudes e comportamentos por cada um de nós: como conversar  com as pessoas, abraçar crianças e praticar pequenas sutilezas e gentilezas urbanas/humanas.

Eu mal poderia imaginar que seria uma criança a responsável pela circulação de meus textos. São "nós" que foram se juntando e que para mim ampliam a potência dessa ação/intervenção. Outro pedaço curioso disso tudo: quando segurei os envelopes coloridos, meu corpo teve uma enorme vontade de brincar. Corpopensamento. Corpoacontecências. Depositei os envelopes no chão e fui inventando formas, trajetórias e cruzamentos para aquelas cartas de um baralho agora infantil. Um delicioso jogo de criar e montar desenhos. Até que resolvi fotografar essas criações, essas "creanças".

Dias depois, quando fui publicar tais imagens no blog, lá vieram mais brincadeiras: a cada imagem eu criava pequenas frases. Pareciam propagandas e manifestos num convite à construção de uma Cidade dos afetos. E à apropriação dessa arquitetura do Humano. A cidade somos nós! Um "devir-criança" já aparecia ali também. O tempo todo vivi um processo lúdico até as cartas encontrarem o menino performer. Será que as afetações do meu corpo ao brincar com as cartas deixaram nelas uma infância virtualizada? Que magia será essa? Será a força do acaso ou a beatitude dos acontecimentos? Ou os dois? Ou nenhum dos dois?

Agora desejo aproximar a criança com o artista. Posso? Vamos lá: espírito de liberdade e transgressão, presença, entrega, intuição, sensação, caos, imaginação, curiosidade, perigo, inquietude, experimentação e coragem para abraçar e tentar transformar o mundo como se ele fosse uma caixinha de papelão. Ainda existem crianças e artistas desse jeito? Sim. Heitor me confirma isso.

Eu brinquei. Heitor brincou? Espero que a cidade brinque! E pense na importância dessa mobilização realizada. Quando brincamos, celebramos o encontro coletivo e fazemos paz. Bom mesmo é brincar junto. Como no Obscena. Como nossas ações poético-urbanas no espaço público. Alteridades reconhecidas. Arte e vida partilhadas. Brincadeira também é coisa séria.

3 comentários:

Balaio da Vivi disse...

muito legal, Clóvis! e o texto, uma delícia! continue brincando... beijoca.

Davi Pantuzza Marques disse...

maravilhoso, clóvis! esse trabalho seu com o afetocidade é tão bonito! queria também ter estado na praça com as crianças e heitor.

forte abraço,

Clóvis Domingos disse...

Davi, você me inspira com seu comentário:

" afetocidade!
Queria ter estado na praça
Estado de graça
ludi-cidade...
Heitor e as cartas
As cartas e as cores
As cores e os "nós"
Davi e sua voz"...