agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

sábado, novembro 17, 2012

Carta à Presidenta



Foto de Whesney Siqueira


Excelentíssima Sra. Presidenta Dilma Rousseff, 

Eu, Nina Caetano Guarani Kaiowá me dirijo à presidenta dessa gloriosa nação outrora chamada Pau-Brasil, para lembrá-la do compromisso que a senhora, na qualidade de nossa chefe maior, tem com
 a constituição de nosso país e com seus povos originais.
Quero lembrá-la do compromisso que a senhora tem, como chefe maior dessa terra manchada com o sangue sagrado dos mil povos, de garantir aos seus descendentes a terra que nutre a permanência não somente de sua cultura, mas de suas condições de sobrevivência.

Sou professora, sou performer, sou artista. a única ferramenta que tenho são minhas palavras e meu corpo. E não posso deixar de lembrar, quando vejo a foto de um índio KAIOWÁ morto, espancado, enforcado, baleado. não posso deixar de lembrar de um espetáculo: Caixa Postal 1500. 
Peço-lhe, excelentíssima Presidenta, que me permita contar essa história, tão bem gravada em meu corpo. O ano é 1999. Há 13 anos atrás, portanto. Eu fazia meu último papel como atriz. E eu, naquela época, já era uma GUARANI KAIOWÁ. Já naquela época, o índice de suicídio entre esses índios aculturados desterritorializados era um dos maiores do mundo. Sem direito à sua terra, na qual podem gerar alimento para os seus e condições dignas que permitam a eles sobre-viver sem ter que recorrer à prostituição e/ou à mendicância, os kaiowá vêm perdendo, progressivamente, sua identidade, sua auto-estima. Nem são vistos ou se reconhecem como brancos, nem são valorizados e então se reconhecem como índios. Eles vagam em busca da Terra sem Males.
Caixa Postal 1500, espetáculo realizado no desejo de discutir os 500 anos do "descobrimento", terminava com Bernardo Kaiowá, o último jovem da tribo, matando-se enforcado, enquanto uma batalha de hinos de futebol terminava em sangrenta guerra de torcidas.
Eu, Nina Caetano Guarani Kaiowá, cidadã brasileira, performer, professora, artista, comprometida em minhas ações com o nosso país, sinto uma tremenda indignação ao ver essa situação não somente perdurar, mas piorar.
E digo: Está na hora, Senhora Presidenta dessa gloriosa nação outrora chamada Pau-Brasil: está na hora de agir e evitar que esse GENOCÍDIO - não somente dos kaiowá, mas de todas as 240 etnias restantes - continue.
Sou, como a senhora, uma mulher guerreira, de traje vermelho. E digo: somos todos guarani kaiowá. Indigne-se.
Mui respeitosamente, Nina Caetano Guarani Kaiowá
No Ano 456 da Devoração do Bispo Sardinha

Um comentário:

Clóvis Domingos disse...

Que atitude mais política, hein, Ninon? Sim, devemos nos dirigir às pessoas que governam esse país. Uma bela carta, um posicionamento pessoal e ao mesmo tempo coletivo, uma forma de continuar a gritar, manifestar e performar.

Mais uma vez minha voz se junta à sua.