agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

quinta-feira, novembro 22, 2012

Coletivo TeiaMUV entrevista Obscena


O Coletivo TeiaMUV (Salvador/BA) trabalha com Performance Urbana e Dança Contemporânea, sendo integrado por Isaura Tupiniquim, Mab Cardoso, Maira Di Natale e Milianie Lage Matos, todas licenciadas em Dança pela UFBA. Atualmente, desenvolve o Projeto Teia e uma das etapas é um mapeamento de coletivos, no Brasil e no exterior, que trabalham com Performance Urbana.

ENTREVISTA*:
O que levou vocês a pensar a cidade como dispositivo para as ações artísticas?
Quando o Obscena começou, em 2007, havia um incômodo em relação ao modo como o teatro que fazíamos atingia as pessoas. Mesmo ocupando espaços alternativos e fazendo teatro de rua, tínhamos a sensação de que estávamos falando para um público já “ensinado”. Naquela ocasião havíamos lido o epílogo do Teatro Pós-Dramático, do Lehmann, e a idéia de uma “política da percepção”, de provocar uma “interrupção” no cotidiano mesmo do cidadão, do transeunte, nos instigava muito. Posteriormente, com a crescente privatização do espaço público em Belo Horizonte e a percepção cada vez mais nítida desse espaço como um espaço de passagem, no qual as relações estão esvaziadas, automatizadas, começou também a nos interessar a investigação de modos de provocar encontros que pudessem ir da ludicidade e do poético ao embate e ao manifesto, pois há, também, o interesse de produzir (em nós e no outro) outras percepções sobre o espaço urbano, sobre a arquitetura da cidade, seus lugares de “jogo”, suas “dramaturgias”. Uma vez que funcionamos como uma rede colaborativa de investigação teórico-prática, as pesquisas e interesses de cada um de nós têm uma certa autonomia e temos questões que, mesmo que perpassem os outros, podem ser mais específicas. Então, para um há o interesse em investigar os tempos/durações, os fluxos e ritmos que a cidade imprime às nossas ações. Para outro, interessa mais a heterogeneidade que é própria do urbano e a percepção das diferentes reações, do que o acaso e o inusitado produzem na relação com nosso trabalho. Para outro ainda, é a possibilidade de uma intervenção direta do transeunte sobre a “obra”, de uma resposta imediata, o que atrai nesse contato corpo-a-corpo com a cidade e o cidadão. Interessa o estado constante de risco, o caráter “perigoso” da rua. Para outro, as possibilidades do corpo em relação com a arquitetura e com o objeto, com as cores e as formas, é o que o instiga. O que nos parece muito claro é que não há o interesse, em nossa pesquisa, de funcionar como vitrine, como uma tela para a contemplação. Por isso, a opção pela intervenção urbana, ou seja, a opção pela provocação e pelo encontro.

Quais estratégias compositivas vocês utilizam no processo de criação para as Performances Urbanas?
É base da pesquisa que o Obscena desenvolve a criação em rede colaborativa, o que significa que o nosso trabalho é desenvolvido a partir de trocas e de um diálogo constante não somente entre os pesquisadores do Obscena, mas também entre o Obscena e outros coletivos de arte/artistas. Significa também que, além dessa “contaminação coletiva”, existe também uma desorientação hierárquica que se baseia na horizontalidade das relações criativas, permitindo uma autonomia dos pesquisadores. 
No aspecto propriamente poético, são eixos norteadores o work in process, a obra processual, e a noção de “experimentar o experimental”, que vem muito de nossa investigação das estratégias compositivas de determinados artistas plásticos, como Artur Barrio – uso de materiais precários, ações não representacionais – e Hélio Oiticica – experimentação de elementos plásticos, como as cores e as formas, e o estudo de “arquiteturas/ambientes” – além de Lygia Clark, com a discussão da casa-corpo e dos espaços arquiteturais, além do uso de objetos relacionais. Além da pesquisa da obra e pensamento desses artistas, faz parte de nossa pesquisa, elementos de view points, a psicogeografia urbana e a deriva, o corpo-instalação e a prática de exercícios perceptivos. Há a procura constante de um imbricamento entre teoria e prática, no nosso trabalho.

Vocês percebem algum tipo de reverberação, subjetiva e/ou objetiva, das suas ações artísticas na cidade? Como elas se dão?
Como havíamos dito acima, uma das coisas que nos instiga bastante na opção pela cidade como espaço de jogo para o nosso trabalho é justamente as reverberações imediatas, as diversas re-ações do transeunte em relação às ações que, muitas vezes, o atingem de modo muito singular. Algumas pessoas mergulham na ação, dela participam. Como foi o caso de uma moradora de rua, Elisângela Barbosa, durante a ação “Parangolé Coletivo” que ela integrou, nos acompanhando pela rua afora para construir arquiteturas efêmeras conosco. Foi tão forte para ela que Rosângela foi conosco para nosso local de residência e dividiu um pouco de sua história, voltando outras vezes. Outras são afetadas em sua subjetividade, a ação fala ao íntimo da pessoa, ela encontra conexões profundas com sua história, com suas questões pessoais, como ocorreu, por exemplo, na ação “Cadeiras”, quando uma mulher, ao ouvir a leitura de um trecho de “Um teto todo seu” (Virginia Woolf), disse: “essa aí é a minha vida”. Outros reagem com agressividade, sentem-se ofendidos, cutucados. É exemplar disso a reação de um homem durante a ação “Classificação Zoológica da Mulher”: ele ficou tão incomodado que começou a ameaçar as mulheres que participavam da intervenção. Outras vezes, no entanto, a rua pega aquilo que fazemos e joga fora. A rua é perigosa, instável, fora de controle. Não adianta vir com idéias maravilhosas, com conceitos fantásticos... pode acontecer do transeunte olhar aquilo e simplesmente desconstruir a idéia, negar a ação. Não tem como controlar a reação das pessoas, o que aquilo que fazemos vai provocar no outro. Mas sem dúvida o embate corpo-a-corpo com o cidadão possibilita uma percepção muito clara dessa reverberação. Além disso, como decidimos compartilhar nossas reflexões, registros, etc. por meio do nosso blog, ainda há essa reverberação também: muitas vezes as pessoas se interessam pelo nosso trabalho a partir daí e nos procuram, integrando nossa rede de colaboração.

Existe(m) algum(ns) artista(s) ou autor(es) dentre os quais você deseje indicar/compartilhar conosco?
Indicamos tanto os artistas/autores que alimentam diretamente nossa investigação – Artur Barrio, Lygia Clark, Hélio Oiticica, Guy Debord, Hans-Thies Lehmann, Josette Féral, Eleonora Fabião, Michel Foucault, David Sperling, André Mesquita, Paola Bernstein, Wlademir Dias-Pino – como os artistas/coletivos que já trocaram conosco: Marcelle Louzada e Letícia Castilho (performers de Belo Horizonte/MG), Luiz Carlos Garrocho e Denise Pedron (pesquisadores e estudiosos da cena contemporânea), Os Conectores (Belo Horizonte/MG), VagoColetivo (Belo Horizonte/MG), N3Ps (Belo Horizonte/MG), Coletivo Quando Coisa (Ouro Preto/MG), Líquida Ação (Rio de Janeiro/RJ) e As Incríveis Laranjas Podres Performáticas (Londrina/PR).

 *Todas as respostas foram compostas colaborativamente.

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