agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

terça-feira, setembro 06, 2011

Conduza-me – quarta-feira, dia 31 de agosto de 2011


Ele me pede para chegar 30 minutos mais tarde, perto das 20h a porta da Gruta se abre. Eu estava mais aberta à sua presença, de certa forma ansiosa para a prática, ao longo da semana pensei muito sobre minha feminilidade e suas más formações ou seus desequilíbrios... dançar com este Rapaz me possibilita reaproximar-me dum corpo masculino, observando quais formas de tocá-lo, senti-lo e trocar com este de maneira harmoniosa e produtiva.

Durante estes sete dias que separaram nossa prática identifiquei inúmeras falhas no meu entendimento do que é ser mulher, do que é ser mulher em relação a um homem, o que é sustentar meu corpo frente a este masculino sem sucumbir, sem achar que devo me submeter para ganhar sua atenção, sem me iludir e forjar um príncipe encantando. Sua estatura se harmoniza com a minha, nossos corpos são pequenos e fortes, fica mais fácil acompanhar seu ritmo, seu quadril está próximo ao meu e percebo o fluxo da dança com mais clareza.

Ele estava decidido: _ me passa seu computador e HD pra eu fazer a lista de músicas.

Adorei!

Começamos com Billie Holiday e Louis Armstrong, uma doce canção, ele me conduziu com as pontas dos dedos e eu me soltei, quanto mais leve era o toque mais fácil era compreender qual direção seguir, qual ritmo empreender, onde me colocar, em qual parte de seu corpo eu deveria me orientar, foi preciso, suficiente. Em seguida um heave metal, ele então segura firmemente meus dedos com os seus e me puxa, corremos pelo salão, os dedos se agarram e é mais fácil quando ele está lado a lado comigo, nossos pés não se cruzam assim, seguem paralelos. A experiência foi maravilhosa, pus-me a pensar quantos e quantos passeios públicos podemos usar para sair correndo e correndo, os olhos vendados, tudo é possível, a adrenalina sobe sobe sobre... eu me rio, falo palavrões e meu corpo se solta no espaço, só os dedos só os dedos.

O chão é um local generoso de exploração, apoios, encaixes e sobreposições – criação de formas carnais afetivas e dinâmicas.

Sobre a intimidade. Esta é concretamente colocada, sinto-me em postas. Ele está muito perto, percebe todos os movimentos do meu corpo, quando me travo, quando me perco, quando me empolgo, não há como fugir ou fingir, é humano, é ritmo, é pulso. Percebo as imagens femininas em mim construídas pela cultura machista patriarcal é visível, são estas falhas e ausências minhas que preciso reorganizar. Preciso destruir e reconstruir outros símbolos, signos para estas relações, para as minhas afecções. Enfim, amanhã é feriado ainda não sei se dançaremos.

2 comentários:

Clóvis Domingos disse...

Mais um belo relato dessa experiência, desse dançar, desse estar com o Outro...quem é que pede para ser conduzido? A Erica mulher ou a Erica na totalidade? Será que ainda são os signos de uma cultura machista pairando sobre os corpos? Pedindo ao homem para ser conduzida? Ou, o que percebo nesse teu relato, é um ENCONTRO, uma condução que pode ser dos dois e depois de nenhum dos dois, mas de um "entre" vocês dois...Lembrei da MARINA que tem uma canção que diz: "eu não sei dançar, tão devagar, eu não seu não..." Acho maravilhosa essa ação e te desejo mais danças, giros e descobertas.

Erica, a Nêga Regina. disse...

Sim, creio que há reverberações de ambas Ericas, a total e a mulher formada em mim. Caminho em direção a um encontro com este corpo outro, neste momento sinto que por não mais resistir à condução não sou conduzida e sim gero possibilidades de troca com o que esse corpo masculino me propõe, me impulsiona... ação e reação.