agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

terça-feira, setembro 27, 2011

Conduza-me


14/09 - Às seis começamos. Limpei o salão, já me aquecendo com o cuido do espaço, cuidar está muito relacionado com a condução, quem conduz cuida do conduzido e este cuida em saber em quem confia, assim fiam junto ações, experimentam a junção de seus corpos, criam dinâmicas de apoios e improvisam no espaço. Ambos estabelecem códigos de confiança e intimidade, o tempo de trabalho afina a escuta. Isolar a visão abre minha percepção, isto é claro quando a faixa cai e tenho de ficar de olhos fechados, se não entendo o que o corpo de Lucas me propõe abro para ver o movimento, a venda isola também a luz, daí tenho de ampliar minha percepção do espaço. Meu pique de trabalho está baixo, meu corpo muito preso e preguiçoso, tenho de intensificar os exercícios físicos para dar mais gás às nossas experimentações, percebo que desejo ocupar mais e mais espaços, dançar horas e horas neles, mas o fôlego está curto, para próxima semana tenho de criar uma rotina de caminhadas e alongamentos para recuperar ou recriar minha potência física.
Percebemos que as articulações dos pés têm de estar bem lubrificadas para a dança ficar mais leve, meu corpo fica mais leve quando uso bem os pés, principalmente a ponta quando ele me conduz e os três apoios quando estou mais distante do seu corpo, fico mais equilibrada e mais segura no espaço. Para o próximo encontro trabalharemos mais exercícios de base e enraizamento, Lucas quer experimentar outras dinâmicas como o Contato de Improvisação, eu ainda não me sinto apta...

21/09 – Esta semana decidi retornar com meu antigo treinamento físico: caminhada de 1h e meia, alongamentos e contra minha vontade abdominais, que isso fique muito claro, rs! O corpo agradeceu, estava muito parada ultimamente, só trabalho trabalho... e nada de condicionamento físico. A mente também agradeceu. A cada encontro percebo o quanto fica mais tranqüilo aceitar a condução e criar com ele e, o quanto meu corpo está se atrevendo no espaço, que não vejo. Vez em quando ele me gira, assim como duas crianças de mãos dadas, eu grito, rio, é uma sensação muito boa e arriscada, não vejo nada, mas nossos dedos se seguram como garras e o corpo se solta. Quando paramos eu danço mais leve, creio que é porque perco totalmente a referência espacial, me sinto dançando num vácuo.
Lucas mantém algo que para ele é essencial e sempre toca neste ponto em nossos encontros: a delicadeza, a intimidade e o cuidado ao tocar meu corpo, é algo como sagrado, delicado, um toque que chega com muita sutileza e que ao mesmo tempo demonstra firmeza e confiança. Desta forma estamos criando códigos de comunicação sutis, enquanto nos alongamos e aquecemos mantemos os olhos nos olhos, gerando desde este momento cumplicidade. Neste encontro trabalhamos muito enraizamento e para leveza a dança dos ventos, os pés são fundamentais para o trabalho. Aos poucos vou arriscando mais, neste me soltei mais pelo espaço e deixei ele me guiar quando algum obstáculo aparecia, confiei, dancei só, aliás ele tem me deixado dançar só e vai se chegando, isso faz com que eu o perceba melhor também, dá para sentir sua movimentação à minha volta, cada encontro fica mais clara a comunicação entre nós e isso faz com que nos desafiemos mais e não nos acomodemos.
Tenho notado certas diferenças em meu feminino desde o princípio desta experimentação, estou menos ansiosa, há no contato com o masculino algo que gera um aterramento em certas histerias do meu feminino, o fato de Lucas ser quase da mesma altura que eu também me proporciona uma relação literalmente mais horizontal com um homem, percebi que convivo muito com homens bem mais altos que eu, aliás não é tão complicado ser mais alto que eu com meus 1,59m. Enfim, não tenho de olhar para cima e sim para frente, ele não tem de se abaixar para chegar até mim, estamos fisicamente próximos e isso é bom, me traz uma outra perspectiva, gera em mim outra forma de olhar o masculino. Outra alteração é no meu humor, sou conhecida pelo estopim curto, mas tenho aprendido a contemplar, esperar e a ser mais dócil, mesmo com toda minha acidez, há uma leveza na dança, mesmo que esta seja pesada, há um desprendimento que tem aplacado minha agressividade e trazido mais clareza aos meus atos, um novo eixo, um novo centro. Minha relação de posse com as coisas e pessoas também tem se desmanchado, tanto por este quanto pelos meus outros exercícios obscênicos, é essencial abrir mão do controle, deixar a situação se mostrar e só assim agir/reagir, tranquilamente ou imparcialmente ou cautelosamente.
Sexta próxima dançaremos na Praça da Estação, por volta das 17h, será nosso primeiro dia de RUA! 
Até lá!

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