Procedimento: CLASSIFICADOS
Marcelo Rocco, proponente.
Saulo e Didi, executantes.
O universo gay. A transexualidade. A prostituição. As drogas. O álcool. O submundo. O preço das coisas e das pessoas coisificadas: está tudo nos classificados.
Seres humanos à venda. E no momento final, quando Saulo e Didi já não podiam e tinham condições de arcar com mais nenhuma representação desponta o humano. Numa ação a principio sórdida mas extremamente forte e rica: Didi de pernas para o alto e bunda arreganhada e Saulo a entuchar em seu cu a ponta do revolver: do espetáculo à confissão da memória familiar, da opressão paterna à opressão do outro em cena, o jogo que se estabelece enfim e os coloca no x da questão: quem vai comer o cu de quem? Porque no final é justamente o que fica: quem fodeu e quem foi fodido. Neste momento vejo potente a questão que se desponta na pesquisa de Marcelo. Lembro-me do tcc – boate lilás – momentos potentes como estes havia: o sorteio da putinha pelo menor preço oferecido; a bunda masculina a rebolar e os homens heteros a babar... rupturas em forma de alegoria. A carnavalização da cultura brasileira. Devemos sempre festejar mesmo sendo fodidos. Por isso ressalto essa passagem do procedimento, havia em Didi a alegria estúpida de ser fodido, a crueldade máxima: a idiotice estampada em nossos corpos carentes de afeto e alienados de si que mesmo ao serem ‘fodidos e mal pagos’ saem gabando-se, pois não há mais contato além deste e resta-nos a fudeção.
O que resta a prostituta que empina o rabo para a porta do quarto à espera de algum peão que a coma para que ela dê de comer aos filhos?
O que resta a um transexual num país como o nosso? Há assistência médica/psicológica digna?
O que resta às mães solteiras?
Estamos todos com o cano da arma no cu e não notamos.
Continuamos rindo idiotamente relevando o urgente.
FIM
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