
Praça Sete
Lica já havia abandonado a ‘noiva’ quando cheguei. Estavam na rua rio de janeiro. Mulher coisa, vaca, maravilha. Muitas sacolas de loja, muita embalagem de plástico, descartáveis, potes, uma infinidade de apetrechos domésticos e domesticantes. Vez ou outra esta deitava-se no chão e Nina escrevia a mulher morta que ali jazia. Seu inventário. Seu testamento. Sua condição sócio econômico e cultural. Nossas graças e desgraças.
Eu mantive meu olhar mediado pelo vídeo e câmera do celular. Por isso fiquei igualada ao público. Muitas pessoas filmam e fotografam a ação das pesquisadoras, é bom desfrutar desse voyeurismo. Os homens lêem e se excitam. A carne é muito mais forte que o verbo. Certamente. Mas Nina persiste e Lica também. Carne e verbo em exercício de comunhão.
Será que os homens entendem? Será que eles associam os objetos domésticos acoplados ao corpo dela com a domesticação das mulheres ou eles acham que uma fantasia de um protesto feminista?
Algumas mulheres repreendem a ação. Outras ficam curiosas e se aproximam. Uma na praça sete interferiu todo o tempo falando com Lica como se ela estivesse fazendo um programa de TV e fosse seus 15m de fama... Nina a convidou para deitar-se, mas mesmo muito falante não teve coragem de dar seu corpo à prova. Verbo e carne em total desarmonia.
FIM
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