agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

quinta-feira, setembro 04, 2008

calcinhas e doenças

11/08/2008

Saída. Malinha, roupa e corpo. Caminhada até esquina. Troca como entrega. Vestir e desvestir em público. Alongar os músculos. Alertar os olhos. Caminhada. A rua pode atacar a gente. A gente pode acatar a rua. A gente pega ônibus, olha as horas, dobra esquina, reclama no trânsito, faz ocorrência, atravessa na linha, sobe degrau, circula a praça, trabalha, vai pra casa. A gente faz tudo sem saber por quê.

A gente não gosta, não conhece e não sabe novidade. A gente vai.

No sinal, vendendo calcinhas. Usadas, novas, no saco, no corpo. Ninguém quer comprar. Olhe a calcinha! Veja a calcinha! O tempo em verde para agir. Não há resposta visível. Não há retorno. Vendo grávidas lingeries. O carro vai e leva pendurado no retrovisor. A calcinha me condena? O motorista joga fora.
Um cara, que apareceu na feira passada, retorna. Ele quer filmar. Ele acha que vou lá todo dia. Ele é louco. Ele põe a namorada pra ouvir o texto. Ele recolhe a calcinha jogada pelo taxista. Ele fica aflito com a polícia. Ele fica com medo da câmera. Agora gostaria de conversar com ele. Ele é mais fácil do que eu. Falar de mim é pior.

Idelino fez uma intervenção com a câmera. Ele se escondeu mostrando-se. Gostei muito. Disse para o cara que estava registrando manifestações de rua em geral. Gostei da sensação de ser registrado, mas não ser protegido pelo cinegrafista. Só pra lembrar, o dia em que saí atrás de Lica, ouvi uma mulher falando ao telefone mais ou menos assim: “Tem uma mulher louca ali vestida cheia de objetos. E não tem ninguém filmando ela”. A câmera pode dar o aval de artista. A câmera serve de roupa.

Sobre a mostra, precisamos de mais organização, eu acho.

Seria o mesmo sinal. Quero vender doença venérea (atravessado por Saulo). Na calcinha, na camisinha, na seringa. Quero uma calcinha de cada mulher obscena; uma que não volte mais. Rumo tomado também a partir deste diálogo com um transeunte:
É sobre doença? (espichei a calcinha)
Mas não tem nada escrito! (reaproximei a calcinha. Olhou de perto)
Ah, é sobre doença!

E a mulher, onde está? O feminino vende. O feminino atrai. Homem com elementos femininos vende doença venérea com mais facilidade. Quero realizar. Talvez em outro lugar que não Belo. O tempo que não me deixa.

Tenho sífilis, cancro mole, candidíase, herpes simples genital, gonorréa, condiloma acuminado / HPV, Linfogranuloma venéreo, granuloma inguinal, pediculose do púbis, hepatite b, AIDS. Quem quiser, é só descer do carro e pegar. Tem que pagar, porque nada disso eu ganhei de graça.

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