Uma
“conversAÇÃO” ou “conversa-sensação” com uma
artista-pesquisadora sensacional, com quem tenho o prazer de estar
sempre conversando e trocando: Débora Fantini. Ela escreve e pesquisa
sobre arte pública, corpo, cidade, política, filosofia e
manifestações artísticas periféricas.
Aqui
nessa postagem faço uma colagem de nossas impressões e sensações
sobre o Sonoridades Obscênicas. Uma forma de tornar pública uma pequena conversa. Desejo de proximidade com pessoas que acompanham nossa pesquisa.
27 de
Setembro:
Débora,
tudo bem?
e então?
o que achou do sonoridades obscênicas? o que sentiu, percebeu? vamos
comentar e trocar? bjos, clóvis.
28 de
Setembro:
Ei!
Eu me
senti muito bem no sonoridades! Foi divertido, me fez rir, cantarolar
e dançarilar na cadeira, ficar alegre. Acho que tem a ver com aquela
ideia de party-cipação - mesmo pra alguém que tava na
plateia,sentado na cadeira.
A Joyce
brincando com a enxada, a vassourinha, a coreografia dos mascarados,
o diálogo no celular, os textos, o anjo observando de fora (de
repente, eu pensei no Guernica!?), as músicas, os remixes, as
tecnologias digitais, as dublagens, os cartazes, as pixações, os
classificados etc etc etc Cada um, todo mundo. É tanta coisa que até
me esvaziou, sabe? Não no sentido do Guernica, dessas imagens que
nos esvaziam de tanto preenchimento, sem deixar lugar pra nós, pra
nada. Mas de não me encher de significado. Sabe? Não me
enche!
Bem, vazio também no sentido de não ter assim uma
análise crítica pra fazer, pelo menos não agora (sem que possa
prometer uma pro futuro). Fiquei feliz de finalmente ter visto o
obscena ao vivo de novo, porque só tinha visto o baby dolls numa
marcha de dia dos mulheres (se bem que também dancei no Dançar é
uma revolução duas vezes, e tb foi desse esvaziamento bom).
Ah,
uma coisa: acho que no sonoridades ficou mais perceptível o que é
essa "forma" do agrupamento...
Beijo
Débora
28 de
Setembro:
Débora
querida,
obrigado
pelo comentário. Você escreve tuas sensações e sensação é algo
poderoso demais porque é sensibilidade e corpo. Escapa da
racionalidade e pensamento crítico. Três palavras/expressões tuas
me capturaram: alegria, esvaziamento e forma. Gosto de pensar nisso:
alegria é potência. Esvaziado é espaço livre, inclusive a várias
percepções e leituras. Livre também de uma imposição conceitual.
E forma é contorno, entorno, jeito de fazer e circular. Uma forma
livre e esvaziada (por isso alegre) que cada um pode ocupar de acordo
com seu desejo. Tão bonito isso!!!
A
imagem do GUERNICA que você menciona é muito engraçada. Busquei a
imagem e ao vê-la também vi (revivi) ou "re-vi e vi"
aquela noite do Sonoridades. Uma dimensão de excesso, formas,
misturas, geometrias e espaços. Além de expressões, gritos,
sobreposições e algo que parece que nos devora. Tudo tão junto que
fica difícil ver os detalhes. Lembrei de uma expressão "recepção
tátil".... será que foi isso que aconteceu com você naquela
noite? A experimentação sonoro-corporal perfurou teus poros e tua
pele? Para mim foi um momento de libertação e alimento. Algo se
moveu em mim, sobre mim, além de mim, com os outros, com o espaço,
com a cidade, com as forças, com a vida, com a arte.
Foi uma
delícia dançar com você e mais, já te encontrar descalça e tão
disponível. Bailamos. Naquela "noite de baile, balé,
bala,balada e bafo" certamente ficamos mais felizes!
Um abraço
e obrigado pela troca, clóvis.
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