agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

sexta-feira, outubro 04, 2013

EngaioLados: a clausura estrangeira



O corpo é o corpo – grita Antonin Artaud,

"Existe por si/ E não precisa de órgãos/ o corpo nunca é um organismo,/ os organismos são os inimigos do corpo,/ as coisas que nós fazemos/ amanham-se sozinhas/ sem o concurso de qualquer órgão,/ todo órgão é um parasita,/ cumpre uma função parasitária/ destinada a manter vivo um ser/ que não deveria existir (...) A realidade ainda não está de pé porque os órgãos verdadeiros do corpo humano ainda não estão formados e devidamente colocados." (O Teatro da Crueldade)

O corpo precisa desorganizar-se, pois já não agüenta mais todo e qualquer adestramento, vindo do racional e iluminista mundo exterior ou do assujeitamento interior. Todos os juízos já inventados o acorrentam, mais, mais e mais. E para trazer à tona a potência de resistir do corpo, o que é preciso?  Em uma caminhada lenta pelos arredores do Sesc Palladium, durante o Festival de Performance Perpendicular - como resistir?, lançamos  nossos corpos no abismo do desconhecido e vivenciamos uma intensa relação com o estranho, a alteridade, com aquilo que sempre estará fora do nosso tempo, da nossa consciência, dos nossos eus, dos nossos controles. A rua e o nosso encontro com as pessoas nos ultrapassa, corrompe uma ideia de vida, estará sempre fora do nossos mundos de forma estrangeira, como aquilo que excede o nosso pensar, torna expresso o nosso sentir..

É preciso desmanchar o “eu” cristalizado para que outras forças ganhem corpo, para que então uma outra vida seja possível. É uma operação, uma cirurgia, um desvio de si para que outros “eus” se revelem em ato efêmero e descontínuo, ininterrupto, produzindo uma série contínua de metamorfoses e variações. Somos inclassificáveis e, no percurso da nossa caminhada, encontramos pessoas com as mais distintas reações, encontros cujos movimentos sempre ultrapassam as significâncias já existentes e os controles racionais.

Interessante também  foi um depoimento colhido por Sabrina Andrade e Flávia Fantini, que acompanhavam as ações. Elas relatam uma mulher que nos encontrou no percurso e fez muitas perguntas, perguntas que ela não teve respostas. Lembro de sua primeira pergunta: qual o objetivo disso que vocês estão fazendo? Sabrina e Flávia comentaram que depois do nosso encontro, esta mulher as abordou dizendo ter visto uma câmera dentro de uma gaiola e que esta a gravava, colhendo a opinião e reação do público para montarmos um espetáculo teatral e que o vídeo provavelmente seria exibido no final...

Maquinações! Revolução molecular, revolução de moleque travesso, porque é da ordem do mínimo múltiplo comum. Inventar novas operações: para correr o risco é preciso riscar! Para que os mares abram, é preciso entrar. É preciso desterritorializar e reterritorializar o nosso pensamento num contínuum. Tornar a vida mais sensível tem disto.

Um comentário:

Clóvis Domingos disse...

Muito interessante teu texto, Matheus!O encontro das pessoas com o estranho é sempre inusitado e perturbador e daí a necessidade de significar. Criam-se infinitas dramaturgias e jogos de linguagem. Mas sempre um encontro na violência dos corpos dissonantes. Vivemos num filme de imagens assépticas, harmônicas e românticas. Esses dois estranhos devem ferir a quem os olha. Será? Lembrei também do texto do Baumann quando ele reflete sobre o incômodo causado pela presença dos estranhos e as paranóias atuais da vigilância e do controle. Sorria, você está sendo filmado!!!

um abraço, a conversa continua.... Clóvis.