agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

domingo, setembro 29, 2013

Novas (velhas) sonoridades obscênicas da cidade


Novas (velhas) sonoridades obscênicas da cidade - texto escrito antes da apresentação do dia 25:

Voltamos à alegria dos corpos que dançam, cantam, giram e inflamam. Mais um novo convite do CCUFMG para uma apresentação do “Sonoridades Obscênicas”. Tudo começou há dois anos com um convite do mesmo CCUFMG para participarmos do “Música e Poesia”. E agora, o que trazemos de novo e o que mantemos? Quais seriam as novas sonoridades e gestualidades da cidade?

Entre conversas e experimentações (que foram muito poucas, mas urgentes e intensas) surgiram novos quadros/paisagens cênicas: vamos abrir com “Cidade em obras” uma polifonia de sons de construção, meio canteiro de obras, remetendo às eternas intervenções estatais que acontecem na cidade e dificultam nossa mobilidade. Objetos como vassoura, cones de trânsito, ferramentas e apitos revelam esses sons e barulhos que se tornaram nossos infernais companheiros nos últimos meses. Além de formarem instalações cotidianas provisórias sinalizadoras de impedimentos de trajeto corporal pelos espaços. Então a Av. do Contorno se tornou, por exemplo, Av. do Transtorno. Espaço e tempo transtornados e alterando nossos fluxos e humores.

 Foto de Clóvis Domingos

Uma nova sonoridade a ser destacada agora: a multivocalidade urbana dos protestos e manifestações que aconteceram na Jornadas de Junho em várias cidades brasileiras. Escrevi e lerei o poema-manifesto “Pode crer” que será acompanhado depois de um trecho de “Opinião” na voz de Nara Leão e corpos marchando com cartazes em branco. Uma provocação, pois podem ser lidas diferentes mensagens, ao mesmo tempo que pode significar ser apenas um momento em branco, uma folha perdida, uma onda que passou... Será?

Nos “classificados da cidade”, com a leitura de Clarissa e Admar, surgiu uma máquina corporal-sexual coletiva com corpos encaixados e excitados, formando uma imagem muito interessante. Eu, como o Anjo, farei poses religiosas (fechar os olhos/tapar os ouvidos/calar a voz/gesto de clamor e perdão por aqueles “pecadores”) e depois encarnarei a “ordem e a moral” tocando um sino e interrompendo aquela orgia, feito a madre superiora quando flagra as crianças brincando sexualmente nos corredores do colégio interno. Um misto de controle/descontrole/descontrola.

Outro momento re-inventado: o da “homenagem ao Wando”, que brincaremos com o trocadilho “vândalo” e falarei que falta eros na cidade, falta prazer no Poder, e por isso nos jogam gás e pimenta quando queremos “transar” com o espaço público. E nós jogamos calcinhas como símbolos de alegria e festa. Corpos que desejam gozar e transformar! Chega de PM (polícia militar), queremos PA (polícia do Amor).

Lissandra trouxe um poema tão raivoso para ler e de repente Joyce, a DJ, soltou um som: “calma” e disparamos a rir feito loucos, num momento de epifania pura, acontecimento, acaso e encontro. Foi uma quebra fantástica, uma aparição, subverteu uma paixão triste. Um tempero maravilhoso. Uma linha de fuga. Flávia deseja dar uma repaginada em nossos figurinos. Vem luxo por aí!!!

Continuaremos cantando pontos de macumba porque neles reverenciamos as entidades protetoras das ruas. Penso que a macumba, a oferenda na esquina (coisa rara de se encontrar hoje na cidade tão asséptica) também é uma instalação, um dispositivo cênico, plástico e de importante teor político diante do perigo de uma cidade considerada somente cristã. E nessa hora lembro da ação “Salve Padilha, Cheia de Graça” que realizo com a Erica Vilhena há três anos consecutivos. Pelo menos uma vez por ano acontece uma caminhada vermelha pela cidade. Poetizar espaços pela violência aos símbolos cristalizados e instituídos. Violentar representações mercadológicas e patriarcais da mulher, dos corpos e da própria gestualidade civil e cordial ( usamos máscaras sociais) da cidade.
Penso que esse trabalho de experimentação cênico-musical promove algumas “práticas de visibilidade” contra a violência e o silenciamento impostos aos corpos. Seja pela repressão sexual, moral, governamental e policial. Somos corpos proibidos!!! Sonoridades é festa, êxtase, excesso, catarse, deboche e libertação. Carnaval fora de época programada pelo Estado, mas vivenciado por corpos indisciplinados no agora de nossas existências.

Sonoridades é um terreiro (de samba e de umbanda), caldeirão mágico, espaço da alegria e brincadeira, do prazer para corpos que se encontram, se afirmam como demasiadamente humanos, famintos e potentes e se “está ardendo, não assopra”. Mas deixa queimar...

2 comentários:

Nina Caetano disse...

ah, que vontade de ter visto/participado desse sonoridades, minha gente! que delícia te ler, clóvis. instiga a gente.
já viu a antologia do vinagre? acho que vai te interessar...
http://www.mediafire.com/view/3fkqdb8gri47elt/VINAGRE_UMA_ANTOLOGIA_DE_POETAS_NEOBARRACOS_2ed_junho2013.pdf

Balaio da Vivi disse...

lindo texto, Clóvis! bjo.