Este texto está sendo construído assim...
Algumas anotações avulsas
para a construção de um pensamentoCORPOcasa:
1- Sonoridades Obscênicas e CASA BRANCA –
áreas/lugares a se construir: no Sonoridades percebi que muitas casas se
juntam/acumulam: KASA KIANDA (objetos recolhidos por Saulo e Leandro), CASA DO
VIZINHO (Viviane foi na casa dela buscar um vaso de planta) e CASA DO CENTRO
CULTURAL SALGADO FILHO (utilizamos um jogo de sofás cinza maravilhoso).
Utilizamos o dentro e o fora. Contornamos a sala da apresentação buscando o
público. Meu corpo vibra o espaço que habito. Parece que ocupamos tudo.
2- Na
Noite Branca (convite do coletivo Thislandyourland)
construímos uma CASA DE ENCONTROS
(Gosto do nome porque sugere malícia, delícia e preguiça) num pedaço do Parque
Municipal. Eu e Nina começamos com uma pequena sala vermelha e deixamos um
corredor de passagem. Nesse duo meu corpo foi meio abajur para a Ninon ler,
comer e escutar música. Corpo-instalação? Depois com a lanterna passeei pelo
corpo dela.
Imagem de Whesney Siqueira
3- Com
a chegada de mais obscênicos a obra se amplia. Ganhamos uma sala de estar e um
quarto fechado. Ficou assim: sala de entrar+ quarto-tenda+ sala vermelha+ casa
do vizinho. Alguém entrou e ao ver projeções num tecido branco, afirmou: “aqui
tem até televisão”.
4- CASA
DE ENCONTROS: a porta colada num corpoMULHER (Lissandra). Porta de lado. Houve
um momento em que a porta rondou a casa. Obra esquisita. Casa Aberta e VAZADA.
Se pode dançar, ler, comer, sentar, o corpo é material para projeções visuais,
ondas sonoras. Passa uma novela da autora Virgínia Woolf.
5- CASA
DE ENCONTROS. QUAIS? Com a natureza e o espaço livre. Encontro com as pessoas.
Encontros com os ACONTECIMENTOS. Objetos: meu corpo, nossos corpos, animados,
desanimados, desavisados, enviesados, animais... Meu corpo dança! A casa se
transforma em boate. Viva a dj CHAI TE MI MUGANGA!!!
6- A
construção e ocupação desordenada me assustam. Casas sem projeto apresentado. UNIDADES HABITACIONAIS TEMPORÁRIAS.
UHT. Isso me lembra a TAZ – Zonas Autônomas Temporárias. Casas em tempo
definido, durações mínimas, vamos aproveitar essa obra efêmera, gente?
7- Tecidos
como delimitadores de diferentes espaços. Mas são véus PENETRÁVEIS. Não há fora
nem dentro. Tudo no “entre”. Meu corpo entra e habita esse lugar. Sinto que
está confortável. Quem chega é bem recebido. Que AMBIENTE bacana, muitos dizem.
8- “O
ambiente se insere num espaço existente ou reconstruído criando uma relação
envolvente e agregando qualidades perceptíveis além da visão. O público se
encontra dentro da obra e vivencia o espaço. O conjunto de elementos se instala
em uma proposta na qual a interação corpórea, física e tátil é agregada à
experiência visual”. (LINKE, 2008, p.24.
INTER/LOC/AÇÃO).
9- Somos
BRICOLADORES ou bricoleurs. Juntamos o que encontramos e temos. Diferente de um
projeto de arquitetura, queremos o imprevisto, o acidental e o acaso. Para JACQUES,
em A ESTÉTICA DA GINGA, 2001, pg.106 e 107: “O bricoleur, ao contrário do homem das artes (no caso, o arquiteto),
jamais vai diretamente a um objetivo ou em direção à totalidade: ele age
segundo uma prática fragmentária, dando voltas e contornos, numa atividade não
planificada e empírica. A construção com pedaços de todas as proveniências, a
bricolagem, será, portanto, uma arquitetura do acaso, do lance de dados. Uma
arquitetura sem projeto”.
10- E
no SONORIDADES OBSCÊNICAS: uma bricolagem de textos, canções e linguagens?
Acredito que sim.
11- E
senti em meu corpo a ginga de Oiticica. Aprendeu a bricolar testemunhando as
construções provisórias dos moradores das favelas. E o SAMBA também, né? Ajuda
aí!!!
12- Isso
é uma casa nessa noite quente e branca? Sim, mas uma casa para pouco tempo.
Entre e aproveite! Duas mulheres chegam e uma dança intensamente até se cansar
e agradecer dizendo: “finalmente achei meu lugar!”. Volto a Ines Linke: “nas
práticas de instalação, é comum que as diferentes formas de espacialização se
sobreponham e se agreguem. Elas não somente dependem da natureza do espaço
original ou da proposta do artista, mas também da maneira como o público
interage com a obra. A situação espacial promove uma visualidade e um sentido
do corpo que corresponde ao que GROSSMANN (1996) chama de Momento arte, o
acontecimento que resulta da interação entre presença, proposta e
participação”. (pg. 24 e 25).
13- Viviane
instala seu quarto-tenda. Um lugar privado ou público? Não sei. Mas um lugar
místico e muito interessante para aquela CASA DE ENCONTROS. Outra categoria de
encontro: deparar-se com a sua espiritualidade. E no mesmo quarto, houve um
momento com a presença de Leandro que lia trechos de um livro para as pessoas
que se aproximavam. Parecia um “mago”. Entrei e me consultei com a cigana. O
corpo arrepiava. O fora entrava. Dentro de um mosqueteiro azul eu escutava a
mensagem dos orixás. Isso é uma CASA VERMELHA E PRETA? Que temporalidade é
essa, de uma sonoridade num outro bairro vindo ecoar numa casa branca e
provisória num parque? Onde está o centro dessa cidade? Há centro e margem? E
as pessoas viam a consulta acontecendo, como uma casa de vidro.
14- “A
bricolagem é uma reciclagem arquitetural sobretudo aleatória, que nasce da fragmentação
de antigas arquiteturas. A recomposição desses fragmentos, restos e pedaços,
misturados com muitos outros, tem sempre como resultado uma forma completamente
diferente daquela de onde eles provêm. A incessante reconstrução com fragmentos
de materiais já utilizados, detentores de uma história construtiva própria,
constitui a temporalidade dessa outra maneira de construir. Sua poesia reside
justamente na dimensão aleatória do resultado, sempre inesperado e
intermediário. São os acidentes de percurso que constituem a forma da
construção”. (JACQUES, 2001, pg. 107).
15- Que
espaços construímos numa noite que bricolou o vermelho, o preto e o branco?
Para mim ESPAÇOS DE PERFORMAÇÃO.
Isso porque criamos ambientes que cruzaram o festivo e o místico, a rua e a casa,
o sagrado e o profano, o silêncio e o som, a invasão, a INVENÇÃO. Uma
multiplicidade de micro-eventos. Com usos e apropriações dos espaços de forma
cotidiana e poética. Campos relacionais abertos. E uma alegria imensa de se
sentir VIVO. Corpo que encontra outros corpos pela “beatitude dos
acontecimentos” (Clarissa Alcantara). Quero mais! Tivemos o céu por cobertura e
testemunha.
2 comentários:
como sempre, clovito, seu texto me provoca novas questões, acorda percepções. atenção. ouço atenta.
Que delícia de texto. Foi uma dádiva nossa noite branca. Cores e nomes. Tudo claro, tudo claro a noite, assim que é bom.
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