agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

quinta-feira, setembro 27, 2012

Corpos em TRANSA, TRANSE e TRÂNSITOS: A Performatividade Política do Sonoridades Obscênicas

Após a segunda experimentação do Sonoridades Obscênicas ( no Centro Cultural São Geraldo) e agora com a nova proposta para a Casa de Passagem (com o Sonoridades na Pista, dia 29) senti o desejo de escrever um pouco sobre a "performatividade política" que percebo nesse trabalho/espetáculo/vivência. Política porque uma performatividade (fazer-dizer) que se abre aos acasos, acolhe os acontecimentos, desloca conceitos e espaços, dialoga corporalmente com as pessoas e traz a cidade (outra forma de fazer política) para ser pensada/questionada através de uma bricolagem de linguagens artísticas.

Para Von Hantelmann "podemos definir política  a atividade que desloca um corpo do lugar que lhe estava atribuído, que subverte uma função, que mostra o que não havia para ser visto, que faz entender como discurso o que era percebido como ruído".  Para mim isso acontece no Sonoridades Obscênicas. Um convite a instauração de um CORPOCIDADE. Um trabalho artístico, que mais do que mostrar a cidade na qual vivemos, instiga a produzir novas FORMAS DE SER, ESTAR E OCUPAR ESSA CIDADE.

Nesse trabalho de criação horizontal e coletiva (todo mundo opina, traz ideias e desejos) existem algumas camadas compositivas muito potentes. São camadas performativas que articulam elementos como a TRANSA, o TRANSE e os TRÂNSITOS. (A inspiração para a escrita desse texto me veio a partir da leitura da postagem de Clarissa Alcantara : "Transe em Trânsito").

foto de Thiago Franco


Então agora "deixa eu cantar, que é para o mundo ficar odara" (caetano):

TRANSA porque o Sonoridades trata da relação dos corpos dos cidadãos com a cidade e com os espaços, e isso de forma humana, carnal e até mesmo sexual. Uma defesa de uma cidade erótica mesmo. Penetrada, tocada e vivenciada. Tateada. Diferente da privação sensorial que vivemos na cidade. E nas canções e textos há sempre um desejo de se "transar" com o espaço, transar com as pessoas, uma política de um corpo que deseja gozar...daí a dança, as canções com conotação sexual e de duplo sentido.
 Uma ode ao prazer, à alegria, à liberdade, um despudoramento...

são "sonoridades profanas, recolhidas em nossas intervenções urbanas" (texto de abertura). "amamos os derivantes, os desviantes, o cigarro, a bebida, a boemia" (texto de abertura).

Uma invasão corporal na cidade. Sexual e poética:

" vou invadir o corpo da cidade com minhas cartas (...) uma invasão poética: sujar a cidade de palavras e sentimentos humanos" (CIDADE DOS AFETOS).

Deseja-se uma transa com a cidade:

"fazer arte correndo o risco de nem ser arte, nem ser nada...ser apenas uma trepada com a vida e com o perigo" (texto final).

Transa porque os corpos brincam, celebram, jogam com o público (TÁ ARDENDO ASSOPRA), dançam e se divertem para valer...


TRANSE porque tem uma dimensão ritual muito forte, quase religiosa. Canções e pontos de umbanda são evocados, o "povo da rua", os de fora são convidados a entrar. EXU, o orixá mensageiro, abre os trabalhos e permite que a mensagem possa chegar pelos poros, pêlos e sentidos....as palavras soam, ecoam, vibram, arrepiam....os sons dos atabaques, as roupas com vermelho e preto....transe puro! E máscaras (COREOGRAFIA CROQUETE) que assustam, seduzem e evocam mistérios e ritos ancestrais.

parece um cabaré-show!!!! Há algo místico, uma gira nômade, macumba contemporânea (Clarissa), lugar meio terreiro, meio casa, meio puteiro, meio teatro, meio RUA...Ambiente misto, mescla, mistura, ajunta, alia, aliança, guia. Sonoridades africanas!!! Os bares fudidos do centro da cidade, os desafortunados com fome de sexo e sedentos por álcool.....corpos que transam com o transe de uma cidade múltipla. Há tantas cidades numa só cidade.

TRÂNSITOS de linguagens artísticas, suportes, pesquisas individuais e coletivas dos corpos-desejos do obscenos. Tem CLASSIFICADOS (corpos e materiais à venda) da cidade e das garotas de programa, denúncias sobre a educação da mulher (QUEM É ESSA MULHER?), CIDADE DOS AFETOS.... e tem: dublagem, poesia, dança, teatro, video, canto..... na música transitam: ópera, funk, pagode, samba, rock, pop e bossa nova (PUTA QUE PARIU).

Trânsitos nos quais os corpos performam a transa e o transe..."corpos indisciplinares sem nenhuma moral" (texto de abertura). Daí nessa experimentação ser tão difícil pedir calma e controle aos performers sonoros....muito se escapa, algo excede, perigo o tempo todo....sempre algo vivo, pulsante, às vezes caótico, no instante, um momento de cura para todos nós nessa cidade, uma vez que "Somos corpos proibidos" (texto final).

Um bloco alegre e obsceno nas ruas. Contaminação.

POIS:

Tudo transa.
Tudo transe.
Transita
transforma
Gravita
ondas
ondas
ondas
sons
sons
giras
gestos
gritos
graves
claves
aves
soltas
nuas

BLOCOS DE CARNE NA RUA!!!!!


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