Próximos daqui,
Bernard, Neville, Jinny e Susan (mas não Rhoda) afagam os canteiros com as suas
redes. Caçam as borboletas que pousam nas flores. Varrem a superfície do mundo.
As redes estão cheias de asas esvoaçantes. “Louis! Louis! Louis!”, eles gritam.
Mas não podem me ver. Estou do outro lado da sebe. Entre as folhas existem
apenas diminutos orifícios para espreitar. Oh, Deus, fazei com que passem! Fazei
com que deponham suas borboletas sobre um lenço no chão. Fazei com que contem
as suas borboletas com manchas pretas e amarelas, as suas vanessas e
borboletas-da-couve, mas que não me vejam. Sou verde como um teixo à sombra da sebe.
Estou enraizado no centro da Terra. O meu corpo é um caule. Espremo o caule.
Uma gota poreja na cavidade da boca, vagarosa, densa, e, aos poucos, vai-se
tornando maior, cada vez maior. Agora, qualquer coisa cor-de-rosa passa pelo
orifício. Agora, o raio de luz de um olho desliza pela fenda. A luz que dele
emana incide sobre mim. Sou um menino num traje de flanela cinza. Ela me encontrou.
Um toque na nuca. Beija-me. Tudo se desmorona.
Eu corria
depois do café – disse Jinny. – Vi folhas que se mexiam num buraco na sebe.
Pensei: “É um pássaro em seu ninho”. Afastei os ramos e olhei, mas não vi
pássaro nem ninho. As folhas continuavam a mover-se. Fiquei assustada. Passei correndo
por Susan, Rhoda, por Neville e Bernard, que conversavam no galpão. Enquanto
corria, cada vez mais depressa, eu gritava. O que movia as folhas? O que move meu
coração, minhas pernas? Foi então que aqui cheguei e te vi, verde como um
arbusto, como um ramo, muito quieto, Louis, com os olhos vítreos. “Estará
morto?”, pensei, e te beijei. Por baixo do vestido-rosa, o meu coração saltava
como as folhas que, sem nada que as faça mexer, não param de oscilar. Agora, sinto
o aroma dos gerânios; agora o cheiro do húmus. Danço. Ondulo. Sou lançada sobre
você como uma rede de luz. E deixo-me ficar deitada sobre você, tremendo.
Pela fresta na
sebe, eu a vi beijando-o – disse Susan. – Ergui minha cabeça do vaso de flores
e espreitei pela fenda da sebe. Vi-a beijando-o. Vi Jinny e Louis beijando-se.
Agora, vou embrulhar minha angústia dentro do meu lenço. Vou amassá-la numa
bola apertada. Antes das aulas, irei sozinha ao bosque das faias. Não ficarei
sentada à mesa fazendo cálculos. Não vou sentar perto da Jinny e do Louis. Vou
levar minha angústia e depositá-la nas raízes, sob as faias. Vou examiná-la,
pegá-la entre meus dedos. Não me encontrarão. Comerei nozes e procurarei ovos em
meio aos espinheiros, meu cabelo ficará emaranhado, e vou dormir sob as sebes, bebendo
água das poças, e vou morrer lá.
Susan passou
por nós – disse Bernard. – Passou pela porta do galpão com seu lenço todo
amassado numa bola. Não chorava, mas seus olhos, tão bonitos, estavam apertados
como os de um gato antes do pulo. Vou atrás dela, Neville. Vou atrás dela com
todo o cuidado para estar a seu alcance, com meu interesse, para confortá-la quando
toda aquela fúria explodir e ela pensar: “Estou sozinha”. Agora ela atravessa o
campo com toda a calma, para nos enganar. Agora chega à encosta: pensa que
ninguém a vê e começa a correr com os punhos cerrados. As unhas cravam-se na
bola em que o lenço se transformou. Corre para o bosque das faias, para longe
da luz. Quando chega, abre os braços e entra na sombra como se nadasse. Mas
está cega depois de tanta luz, e acaba por tropeçar e cair junto às raízes das
árvores, onde a luz aparece e desaparece, inspira e expira. Os ramos movem-se
para cima e para baixo. Aqui, a agitação é muita. Há sombra e a luz é indecisa.
Tudo está pleno de angústia. As raízes formam um esqueleto no solo, com folhas
mortas amontoadas nos cantos. Susan espalhou sua angústia. Pousou o lenço nas
raízes das faias e soluça, dobrada sobre si mesma no ponto onde caiu.
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