agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

terça-feira, agosto 28, 2012

Ritualizar é performar



17 de Agosto:




E-mail de Nina para o agrupamento: 

queridos!
ontem realizamos a prática proposta pelo clóvis - que foi maravilhosa! - e, dando seguimento, na semana que vem será a minha: ritualizando o cotidiano.
a idéia é que cada um de nós traga pelo menos um objeto de uso cotidiano e ritualize o uso do objeto ou as ações que faz com ele: ações como escovar os dentes, calçar os sapatos etc.
o que é ritualizar? seria carregar de intencionalidade? propor outras dinâmicas? alterar o ritmo? tornar visível o seu uso? alterar o seu espaço?
enfim, as questões/proposta estão lançadas...
até quinta!
beijos
n.
Decidi pesquisar uma ação bem simples: calçar sapatos. Como ritualizar essa ação do dia a dia?
Só experimentando.
 
Rascunhos de uma experimentação: 23 de Agosto
Local: Pátio Interno do CCUFMG
Posição: estou sentado.
- Primeiro: experimentar  a ação normalmente.
- Começo uma repetição da ação e algo se altera, surge um circuito de um pé para o outro.
- Agora experimento bem lentamente a ação.
- Tento mesclar ritmos diferenciados, mas acho estranho demais. Parece uma ação teatralizada.
- Me vem uma imagem agora: eu "tirando os sapatos" diante de outra pessoa. Sem dizer nada. O que pode acontecer?
- Me levanto e vou até a dois homens perto de uma pia e faço essa experimentação. Eles me ignoram. Nada acontece.
- Volto e me sento. Muitos batimentos cardíacos...
- Outra imagem aparece: eu carregando muitos pares de sapatos e a cada momento ir trocando um e também criando uma instalação no chão e terminando descalço. Será que faço na praça?

TEMPO

- Olho para minha frente e vejo Lissandra deitada e coberta. Sapatos dispostos no chão. Vou e me sento perto dela e brinco de intercalar pé e sapato.

SAPATO LICA//SAPATO CLÓVIS//UM PÉ//SAPATO CLÓVIS//SAPATO LICA//OUTRO PÉ.
Faço composições.

Outra mirada mais devagar: Como um pé é algo estranho!!! Perco a forma ou algo se de-forma. Acho que foi o excesso de olhar até se perder o "conhecido".

Volto e me sento novamente.

Agora amarrar, desamarrar e calçar muitas vezes - sensação de obsessão.
Fico quieto.
Pausa.
Uma ação repleta de micro-ações nela.
Tempo de duração: 50 minutos.
 
Questão: Como será agora fazer a ação na rua?
Depois estudando: 
Encontro depois uma citação de Renato Cohen no livro: "PERFORMANCE COMO LINGUAGEM": "a live art vai buscar a ritualização dos atos comuns da vida: dormir, comer, movimentar-se, beber um copo de água passam a ser encarados como atos rituais e artísticos". (pg.38).

Ritualizamos e de alguma forma performamos nessa proposta de Nina. Estabelecemos uma relação diferenciada e extra-cotidiana com os objetos. Isso criou estranhamentos e maravilhamentos para nós mesmos e para os outros. Deslocamentos no espaços físicos e perceptivos.

Naquela noite, em casa, quando tirei meus sapatos, voltou uma estranha sensação. Mas ela durará até quando?


Um comentário:

Anônimo disse...

Meu querido e queridos , penso em rito não como a repetição cega de sequencias diárias que nos dão suporte psicologigo e e objetivo tais como ( sendo raso ) o " ir atrás de comida " e o comer " , mas a intimidade faltal das coisas : nelas pode haver um gap !
O ponto do estranhamento e talvez dai o novo : vi de fora vi de longe me vi te vendo ......no rito ; o rito não busca se perder mas ratificar então que tal calçar as sandálias do pescador ?