agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

sexta-feira, junho 08, 2012

A cidade tateada - uma deriva sensorial

Na semana passada, Lissandra propôs aos pesquisadores obscênicos uma deriva pela cidade. Ação realizada em duplas e a cada momento (durante quase uma hora) um participante tinha seus olhos vendados e era acompanhado (não guiado) pelo outro. Fiz essa experimentação com a Joyce, querida companheira de pesquisa. Foi uma aventura e a descoberta de muitas sensações e percepções.

A visão é, a meu ver, o sentido mais preponderante, mais hegêmonico, que mais nos guia e nos informa sobre tudo e todos. Ainda mais na atualidade, em que vivemos a CULTURA DA IMAGEM. Em relação à cidade e seus espaços, a visão é um sentido norteador e organizador e que mais acentua e alimenta a ideia de uma cidade-outdoor. (PAOLA BERENSTEIN). Daí a profusão de anúncios, convites, cartazes, sinalizadores etc. Tudo isso faz parte dos projetos dos urbanistas. Uma cidade sempre vista de cima (seja um prédio) ou de frente, sempre numa perspectiva mais geral, caótica e às vezes, anestesiada. Então temos uma relação visual com a cidade. Mas uma visualidade também domesticada e distraida. Muito vertiginosa.

Na deriva foi interessante porque realizei uma exploração tátil (toquei o chão, os canteiros de obra da Av. Santos Dumont com o BRT) e um pouco auditiva com os espaços percorridos. Os ruídos ganharam muito mais força e intensidade, tive medo de atravessar a rua, mesmo sendo acompanhado. Senti corporalmente os sons, as velocidades, as conversas das pessoas, as músicas etc. Muitas afetações. Ao invés de um urbanismo funcional, praticamos um urbanismo sensorial ou poético. Ou até mesmo político, aqui na acepção de LEHMANN ao se referir à uma "política da percepção". E a cidade se revela outra ou "outras".

Fora a sensação de DESORIENTAÇÃO ESPACIAL, não saber mais se localizar nos lugares, o que foi uma experimentação maravilhosa. A vivência da cidade-veia, percorrida por dentro, múltipla, muito mais viva e pulsante. Seria tão bom convidar mais pessoas, moradores da cidade, para viver isso com a gente!

Ao acompanhar a Joyce, foi interesante vê-la pisando lentamente no chão, sentindo os buracos, os bueiros, os vãos no baixo, as DESESTABILIZAÇÕES, a falta de apoio, sentindo o corpo experimentar um certo desequilíbrio e houve um momento maravilhoso: um homem se aproximou e buscou contato com a gente, principalmente com ela que tinha os olhos vendados. Ele cantou e falou coisas numa língua totalmente estranha e diferente. Mas com uma sonoridade contagiante. Puro presente para nós!

Voltamos para a sala do CCUFMG e fizemos uma escrita automática da ação vivenciada. Depois numa conversa com todos, falei do choque que foi quando depois de muito tempo sem ver, tirei a venda e olhar a cidade foi um impacto, demorei um pouco a me acostumar, a visão estava turva e imprecisa e foi tudo muito novo naquele momento.

Outra percepção: esse exercício me descansou mentalmente. A visão é também um sentido de CONTROLE, nos coloca poderosos mesmo, e na vivência, abandonei um pouco o mental ( o pensamento lógico) e frequentei outras paisagens mais físicas e sensoriais. Muito interessante! Essa pesquisa do Obscena é algo que vai mudando minha relação com os espaços da cidade.

3 comentários:

Cris Rangel disse...

perceber de novo. de outro jeito.é sempre uma viagem. saudações saudosas.axé

Anônimo disse...

ai, Clóvis, há tanto não leio um texto tão bom assim.... ficar bonita dá trabalho!!

Clóvis Domingos disse...

Caríssimas Cris e Marizabel...
que bom ter vocês por aqui, acompanhando a gente, nos lendo, nos provocando e fortalecendo essa teia obscênica. Sim, novos olhares sobre o dado como conhecido, cotidiano e decifrado. Mais do que olhares, novas formas de APREENSÃO SENSORIAL/CORPORAL dos espaços.
A cidade-corpo é libidinosa, ela deseja ardentemente ser tocada e tateada por todos nós.

Obrigado pelos comentários!
Bjos, Clóvis.