agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

sábado, junho 16, 2012

Salve Padilha Cheia de Graças!

Aos 8 meses de gestação saio pelas ruas, mais especificamente ao longo da Guaicurus/BH, para derramar pétalas nas portas dos 'sobe e desce' da nossa cidade que NÃO AMO RADICALMENTE e assim homenagear as Profissionais do Sexo. 
Esta ação me foi proposta por Clóvis Domingos ano passado, quando a fizemos coincidentemente no dia 02/06 data de comemoração internacional desta classe trabalhadora. Ação que de certa foram fora engolida pelo Trio Elétrico da CUT que lá estava a prestigiar as 'meninas' com a fala de um pastor que muito sabiamente fazia um histórico bíblico poético da importância destas mulheres para nosso sociedade. De Maria de Magdala à Gabriela Leite a luta continua por uma vida digna, com direitos trabalhísticos e de saúde.
Como desta vez era um dia comum tive o privilégio que ser seguida por algumas e vê-las pelas janelas em revoadas, curiosas daquilo que ocorria ali embaixo: _é macumba? _é teatro? _tá amarrado em nome de jesus!
Já no início, na esquina da Guaicurus com Rio de Janeiro, fui saudada por uma moradora de rua que chorosa perguntava à Deus 'por que?' e me pedia a benção, derramei sobre ela uma chuva de pétalas e ela girou girou... e, por fim me abraçou e não sei bem quem abençoou a quem, só sei que dali em diante eu estava certa que a rua se abria para mim! Como disse já há oito meses eu não trabalhava junto ao Obscena, muito devido à gravidez, sim, dizem que gestação não é doença e realmente não é, mas que muda a vida da gente, MUDA! Minha energia se converteu toda para meu útero e ao longo dos últimos meses minha única ação foi me concentrar nesta vida que se formava dentro de mim, nas reverberações desta mulher sobre mim e de mim sobre ela. Gestar é algo magnífico, é algo grandioso! Senti-me até então como num casulo, a tecer os fios desta trama, desta nova vida nova e assim tecendo também uma nova Erica, mais ciente de si e do próximo, mais humana, mais de carne e osso! E, ao me deparar com esta mulher na esquina a me receber e a abrir a rua para mim senti-me novamente uma atuante em minha cidade, senti-me novamente capaz de intervir nos fluxos desta louca urbanidade e assim gerar interrupções poéticas pelo concreto afora.
Ano passado a roupa para Padilha foi preta e vermelha e este ano alteração para branca e vermelha e desta forma também alterei minha energia durante a ação, estive mais leve, mais suave desta vez! As pétalas também foram sortidas em suas cores, isso trouxe certamente mais sutileza à nossa presença na rua. Bom, grande parte das mulheres que ali trabalham são mães e nesse fluxo eu me conectei com elas, de mulher para mulher, todas sabemos/sentimos bem o que é isso!
Bom, subimos a Guaicurus derramando as pétalas nas portas dos prostíbulos e a corrente de homens a entrar e sair não se altera, fluxos e fluxos deste comércio que torna a cidade atrativa para as profissionais que assim como Gabriela Leite constatou nos idos anos 70 "Belo Horizonte é ótima para se ganhar dinheiro, os programas são curtos, no máximo 10 min. e, a demanda é grande". Assim também confirmou uma profissional que me seguiu durante a ação e que no final se aproximou para conversar, ela veio do RJ pois soube que BH era rentável. Ela questionou o porquê da minha ação uma vez que não sou puta... eu disse que era por respeito e admiração (entre outras coisas) e, ela se assustou, segundo ela é muita exposição, eu sorri. 
O contato com as mulheres foi tão intenso que até sermão eu ganhei, uma senhora evangélica me seguiu por um tempo e assim que teve oportunidade pregou para mim e para meu bebê, derramei pétalas em seus pés e ela se protegeu, tá amarrado. Jesus tem uma grande obra para sua vida é só aceitá-lo, assim ela falava! Outras mulheres agradeciam as pétalas, sentiam-se prestigiadas, outras tinham medo, curiosidade... algumas se irritavam e depois cediam e catavam algumas no chão para esconder nos sutiãs... Algumas pessoas se aproximaram com gestos e símbolos de terreiro me saudando e pedindo a benção, cruzando seus braços, riscando no chão a meus pés e as pétalas nos abençoavam mutuamente. Os homens em sua maioria gritavam, queriam casar com a noiva de vermelho e branco, riam, _chuta que é macumba! Outros se aproximaram, abençoavam... enfim, uns se incomodavam e comentavam uns com os outros, se inquietavam com a ação! 

Por hora é isso que sai de mim, muito mais houve... sou pequena pra dizer! Obrigada Companheiros Obscênicos pela experiência!

Axé!



3 comentários:

Nina Caetano disse...

que belo seu relato, nêga! comovente... quando fala de sua mudança-gestação de novas mulheres, ai! e que forte foi mesmo essa ação, que forte é você! beijos

Clóvis Domingos disse...

Nega querida e companheira de ação e vida...te ler me faz me sentir mais vivo! SALVE PADILHA: Uma ação corajosa, que deseja provocar os códigos e símbolos, uma ação poética que muitas vezes encontra agressividades, e que você responde com PÉTALAS E PERFUME DE ROSAS....PURA ALTERIDADE! e Heloisa, tua pequena, estreando no Obscena, nossa, tudo muito forte e lindo! Uma ode de amor às mulheres das ruas e às ruas das mulheres!

Erica, a Nêga Regina. disse...

Queridos, minha força vem daqueles que amo, respeito e admiro e o Obscena e suas ações/situações são essenciais em minha vida! Heloísa nascerá em meio a pessoas ÚNICAS e sou extremamente grata ao universo por essa dádiva em minha vida! Obrigada Crovito e Tia Nina pela parceria singular e por todas as inquietações provocadas ao longo destes anos de convivência! Axé!