agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

segunda-feira, junho 11, 2012

A cidade é violenta?

Comecei por esses dias a leitura de um livro muito interessante: "O CHOQUE DO REAL - estética, mídia e cultura”, (Rocco, 2007) da Beatriz Jaguaribe, que é professora da Escola de Comunicação da UFRJ. O livro nos convida "a explorar como novos códigos do realismo produzem versões contrastantes da realidade social. Nestas produções, as fronteiras entre realidade e representação, ficção e vivência, imaginação e evidência tornam-se porosas e negociadas".

Lembrei-me hoje dessa instigante leitura quando estava no ônibus à caminho do trabalho. Escutava a conversa entre dois moradores do meu bairro, que atualizavam os últimos fatos e acontecimentos. Eram narrativas de violências e crimes (ocorridos no bairro) que ambos ficaram sabendo pelas redes de televisão. E assim iam reproduzindo o que haviam visto e escutado (via operações midiáticas) e concordando com o fato de que a cidade é muito violenta e perigosa e que não há possibilidades de segurança e proteção. O homem chegou a afirmar: "a realidade está feia". Depois a mulher disse que por isso prefere ficar bem quieta dentro de casa e longe dos perigos, dos assaltos e das pessoas. O homem respondeu: "você está certa!" Pude concluir a força dos discursos e estratégias midiáticas que produzem a desconfiança sobre os outros e a recusa de se ocupar e vivenciar os espaços públicos e abertos. Diminui-se assim a possibilidade de trocas, con-tatos e encontros humanizadores.

Para JAGUARIBE (2007:101): "nos cenários de incerteza urbana minados pela violência e cultura do medo, a produção de retratos contundentes da realidade em viés realista funciona como uma pedagogia do real e da realidade que potencializa narrativas de significação em tempos de crise”.

Já na página 102: "defino o choque do real, como sendo a utilização de estéticas realistas visando suscitar um efeito de espanto catártico no leitor ou espectador. (...) O impacto do choque decorre da representação  de algo que não é necessariamente extraordinário, mas que é exacerbado e intensificado. São ocorrências cotidianas da vivência metropolitana tais como violações, assassinatos, assaltos, lutas, contatos eróticos, que provocam forte ressonância emotiva".

Considero uma perda significativa de experiência, ficar restrito e fechado dentro de casa, quando se pode SAIR, PASSEAR, CONHECER LUGARES E PESSOAS, ENFIM, QUANDO SE PODE CAMINHAR POR UMA CIDADE E SE DEPARAR COM SUA HETEROGENEIDADE E SEUS MOVIMENTOS.

Acredito que não acessamos o real, mas podemos acessar diferentes fragmentos de realidade, isso no sentido, de percepções. E que muitas vezes são subjetivas, antes de serem coletivas. Mas nunca absolutas e sim, despedaçadas. E interessante que essa dada realidade que tentam nos fazer acreditar nela, se produz a partir de um IMAGINÁRIO MIDIÁTICO (Nina falou disso uma vez no Obscena). Nos contam uma história e acreditamos nela, muitas vezes, sem nenhuma ação crítica.



Toda essa discussão me apaixona muito, por trabalhar artisticamente nas ruas (propondo exercícios poéticos e de desorientação) e como cidadão, por usufruir dos espaços públicos e estar sempre encontrando pessoas encantadoras e lugares prazerosos. Afirmar que a cidade é violenta, para mim, trata-se de um equívoco. Podem acontecer fatos violentos sim (há complexidades infinitas em qualquer acontecimento e que demandam análises mais demoradas e responsáveis), e que merecem discussões sérias e medidas de prevenção e combate, mas, porquê não escutamos notícias positivas e afirmativas da cidade na qual vivemos?

5 comentários:

Balaio da Vivi disse...

Parabéns pelo texto.
Reflexão oportuna.
Penso tbm que precisamos habitar a cidade (suas ruas) de arte. Pq acredito mesmo que "a arte pode nos salvar".
Na literatura, há poesias e crônicas construídas a partir da realidade - do que o autor dela extrai de beleza e delicadeza.


Um abraço.
Viviane.

Balaio da Vivi disse...

Gostei muito do seu texto. Tomarei a liberdade de compartilhá-lo no meu Facebook, sim?

Leandro Silva Acácio disse...

Ei, brother,

belíssimo texto e muito importante essa discussão agora. É bacana poder pensar sobre essa "velha senhora" - a (nossa) cidade - também pelo viés do convívio, do prazer, do que ela com certeza tem de bom.

Erica, a Nêga Regina. disse...

Ei Cró! Tenho assistido muito TV ultimamente e de fato os telejornais preocupam-se ostensivamente em reproduzir assentar a violência urbana, sim, ela existe, mas a maior parte da população é composta por pessoas que estão interessadas na paz, então por que não intensificar a ação destas ao invés daquelas outras que dedicam-se ao crime? Creio que há notícias que devem ser propagadas sim, mas somente a propagação das mesmas não é o bastante, este movimento só gera na população o medo e a incerteza diante do outro, afasta as possibilidades de 'con-tato' como vc menciona e, nos torna cada vez mais hostis. Eu mesma me pego às vezes duvidando dos que me rodeiam, amedrontada ao invés de impulsionada a vivenciar e explorar a cidade como meu local de moradia e pertencimento... enfim, reflexões preciosíssimas!

Clóvis Domingos disse...

Caríssimos comentadores dessa postagem, primeiramente, obrigado pelas trocas e percepções. Isso é só um início de conversa. Se pensarmos como cada um de nós se relaciona com a cidade, penso que já estamos ganhando muito. Uma ilusão é acreditarmos que os espaços estão PRONTOS e instituídos. Espaços são construídos, e mais por carne e gente, que pela arquitetura, ou blocos de pedra. A ideologia de uma cidade violenta não nos deixa tecer redes de solidariedade e senso de comunidade. Assim estamos juntos de outros corpos perambulando pelas ruas, mas não irmanados, pelo contrário, às vezes mais nos sentindo SOLITÁRIOS e invisíveis.