agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

sábado, junho 30, 2012

Ressonâncias do Performatite - três perguntas para Clarissa Alcantara


1 - Você propôs um ato-processo ( pelo N3PS) no início dos trabalhos práticos de invasão e ocupação da cidade no PERFORMATITE. Recordo-me você dizendo: "é para inflar, inflar, inflar até INFLAMAR os corpos. Aí se vai para a cidade como um abcesso supurado". Como foi essa experienciação? O que ela inflamou depois?

Inflama aqui, inflama agora. Inflama na minúcia de uma rede gigantesca, feita de invisibilidades minoritárias, inflando corpos estranhos, mal acabados, sem nome, sem rosto, sem definição/significação. Infla um sentimento que resiste raro, de tão cansado de ser banalizado - "o que significa amar alguém? (...) não há amor que não seja um exercício de despersonalização" - voz desse filósofo que também não quer mais ouvir seu nome... Uma experienciação, de fato, não uma experiência para ser acumulada. O que vivemos, vivemos ainda, pois é nisso e disso que vivemos. Não são lembranças de três dias, são acontecimentos de vida inteira que na rua daquela histórica cidade, no extremo da sua exterioridade, atualizam o êxtimo de nossos quartos íntimos. O que sentimos, não sentimos sozinhos. Nossas questões são do mundo, é assim que fazemos um mundo. Nossos desejos são da humanidade, é assim que produzimos o humano, esse abcesso supurado.


2- Tuas imagens fotográficas são simplesmente arrebatadoras e arrepiantes. Você performa fotografando. Qual a relação, para você, entre fotografia e performance ou intervenção urbana? Para mim é um trabalho além do registro da ação, vejo como um CORPO PERFORMÁTICO que também provoca e altera a dinâmica das ações/invasões. Des-vela, complica, borra as fronteiras.....quando me deparo com tuas imagens, as ações performáticas se PRESENTIFICAM em meu corpo e desestabilizam minha percepção. São corpos com linhas de força muito potentes.

O que tu vês, Clóvis, implica num descomplicar o visto. Então, desestabilizado do já visto, abre-se, diante dos teus olhos, o desconhecido "si mesmo". Não há imagem de si mesma. Toda visão é uma imagem que sim já registro de outrem. Fotografar, para mim, é performar a presença insidiosa de uma ausência que transfigura. Quem nos olha, afinal? Um corpo que se compõe extensivo à máquina, é uma máquina de produção desejante, que ao registrar tantas imagens desvela a multiplicidade de linhas informes dos corpos, enfim, sem imagem. Não sei mais dizer da Fotografia e da Performance como lugares instituídos da Arte. Não sei mais dizer da Arte, porque da Vida nada se diz quando, de fato, ela acontece no extremo vivido, na superação do excesso, intempestiva e gloriosa,  silenciosa verdade-da-arte. Um olho nú, feito o da câmera fotográfica, desnuda as imagens delas mesmas. A percepção, enfim, alarga-se para além do "si". Ouço dentro um grito, enquanto vejo fora a cidade e a cidade me vê: "Não há separação entre o observador e o observado"! Essa voz grita sem identidade, retumbando o mundo inteiro no ínfimo corpo inflamado. 
O que você me propõe aqui, Clóvis, com suas explosivas perguntas, é um fazer sem limites onde não se separa mais o pensar da ação/invenção/invasão de nossos pensamentos. 
Corpo performático que provoca e altera nossas dinâmicas. 

3- Você sempre me emociona pela força do teu olhar/percepção sempre poético e agudo sobre a arte e a vida. Trabalhar e conviver com você é sempre um salto rumo ao desconhecido, inusitado e desestabilizador. Na mesa de discussões do PERFORMATITE, você aproximou, de uma forma muito bonita: AMOR E PERFORMANCE. Falou de uma necessária suspeita do ego, quando num encontro (seja artístico ou não) com a Diferença. Encontro de(nas) peles.

Busco um trecho no teu livro (CORPOALÍNGUA: PERFORMANCE E ESQUIZOANÁLISE. Editora CRV, 2011) que me é muito caro, na pagina 180: "Para além dos fundamentos, os afundamentos da pele trazem à superfície o que se ousa chamar pelo nome: o amor. Singularidade que se prolonga, multiplicidades que englobam umas as outras". Multiplicidades obscênicas é o nome de nosso projeto atual. Penso que multiplicidade é além da Diferença. Num encontro performático acho que singularidades ( do artista e dos transeuntes) se multiplicam  e se misturam. O que você teria a dizer sobre isso? Será que quando performamos e nos deparamos com os outros, permitimos que "nasçam acácias em nosso peito febril'?

Tocar na pele é trocar de pele? A pele, o maior de nossos órgãos, contorna mesmo o quê? Ora, o corpo que carrego! E o corpo que carrego, o que pode, o que pode, realmente, este corpo? O corpo que nos singulariza nos identifica uma imagem? O que representa? Que ideias carrega? O ego, o grande "formador de identidades", reprodutor de imagens, forjado a ferro e fogo como um fundamento, como dele não suspeitar quando, do afundamento das peles, para além do rosto, vem à superfície o que da/na pele desliza, escorre, escapa, foge ao controle? Eu te toco quando te abraço a cada encontro e nesta discernibilidade intensa, apreendo teus múltiplos e, tu, os meus. Amo-te, e só aí te chamo pelo nome. E teu nome e meu nome já não mais nos nomeia, nem o "eu" nem o "tu" encontram seus territórios, pois assim juntos, sem que estejamos misturados, pomo-nos embriagados, imbricados, nascidos acácias à luz de um desconhecido, uma imanência impura que, no "entre" do nós, no peito febril deste obsceno encontro, a singularidade acontece. É possível. É real. Que estupendo evento/performance são os encontros quando da vida somos a arte! Pergunto-te, querido meu, o que será a multiplicidade além da Diferença? Aprendo, observando e intensificando a percepção para muitos lados, que a "pura diferença", só é possível quando a diferença não está mais subordinada ao idêntico. A diferença que aponta o diferente porque não é idêntico, não é diferença pura. O idêntico, o igual, faz o "um". No entanto, quando o "um" é extraído de uma multiplicidade (n - 1), são singularidades que se multiplicam como pura diferença, o que não significa que haja aí mistura, o que daria no mesmo, um idêntico. Quando performamos, quem são os "outros"? Com o que nos deparamos, com o mundo, com o fora? Provocamos multiplicidades que nos extraem, fogem, escapam à identidade da cena cotidiana, diferenças puras obscenizantes, no entanto, deixamos aí de ser mundo? Somos "os outros", essa humanidade estrangeira. É no mais absoluto fora que achamos, enfim, o mais imperceptível dentro. O que fazemos, fazemos. Algo acontece, desejamos isto, estamos à altura disto. Voos ao gosto de cada gesto.  Entender, fundamentar, estruturar, intelectualizar, para acumular, assegurar, fixar, controlar pode, sim, ser a maior de nossas desgraças... Não há estrutura de ego que escape disto. Neste caso, sim, "falar de amor é em si um gozo", como gosta de dizer o Lacan, escrachando o amor que só sabe amar o que é idêntico a si, mesmo quando na diferença. 
Amor e Performance estão juntos quando, sim, são afirmação da vida. Esse encontro com a bendita alegria!  Singular, desconhecida, sem lembrança.
Amo o que em ti me desaparece!

Um comentário:

Anônimo disse...

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