agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

segunda-feira, março 14, 2011

Os "Sem - Lugar" (descoberta de uma deriva)

A deriva proposta por Nina foi um exercício interessante de descobrir um pouco dos fluxos, espaços e relações da cidade. A preparação para a deriva foi do Davi: exercícios psicofísicos muito potentes, que nos conectavam uns com os outros e criavam uma energia corporal extra-cotidiana. Procedimentos para uma atitude atencional na exploração e descoberta da cidade.

Saí debaixo de chuva. Caminhando pelas marquises. Proteção e desproteção. Andando vagamente. Fluxos outros me levavam... Até que me deparei com uma igreja evangélica e o som das pregações e das músicas me capturou. Entrei. Uma igreja pouco habitada, uma pregação que não se entendia, muitas palmas e percebi que nos últimos bancos habitavam pessoas que pareciam buscar ali um refúgio, um abrigo físico, uma morada temporária. Pessoas desabrigadas, pareciam moradores de rua, descansavam nos bancos, uns dormiam, outros conversavam. Junto deles algumas sacolas com seus pertences. E percebi também os olhares incomodados e desconfiados de alguns fiéis. Gente sem lugar encontrava um pouso. Ali tinha água, banheiro, música, acomodações e talvez uma sensação de pertencimento.

Fiquei ali um bom tempo, me protegendo da chuva e absorto a observar uma pequena e imunda comunidade a conviver nos últimos lugares de um templo religioso.

E foi com esta imagem que trabalhei mais tarde quando Nina solicitou de cada pesquisador a criação e materialização cênica de uma imagem que ficou da experiência da deriva. Fiz na sala uma pequena fila com cadeiras, sendo que a última estava tombada no chão. Nas primeiras distribuí fragmentos de canções e falas que escutei na igreja, até chegar na última cadeira que exigia que a pessoa se abaixasse para ler (caso ela desejasse) o que estava escrito.

"DEIXA A LUZ DE DEUS BRILHAR!
BATER PALMAS
BATEM PALMAS
BATEMOS PALMAS!!!

UM SEM - LUGAR DESCANSA NESTA CASA" (texto na cadeira tombada).

O mais interessante é que convidei a cada pesquisador para visitar esta instalação solitariamente e assim pude observar como cada um se relacionava com a proposta: uns sentaram, outros só passaram, uns rezaram, bateram palmas, teve gente que chorou, uns leram a última frase, outros não, enfim, tentei propor uma trajetória corporal.

Neste último exercício do dia identifiquei um trânsito entre o espaço da rua e o espaço do prédio do Centro Cultural da UFMG. Entre o fora e o dentro, o público e o privado, o objetivo e o subjetivo, o macro e o micro, a trans-criação de um lugar em outro, a criação de um novo lugar.

2 comentários:

Davi Pantuzza Marques disse...

obrigado por apresentar mais outras polaridades, clóvis!

"Entre o fora e o dentro, o público e o privado, o objetivo e o subjetivo, o macro e o micro"

elas me interessam muito atualmente. são esses jogos e questões como "o que se faz no espaço público?" "como habitá-lo?" "o que se mostra/esconde?" "onde há permanências/passagens?"...

abraço,

VIRUNDANGAS disse...

massa demais Clóvis... que bom é pensar nessas polaridades todas!!