agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

domingo, março 27, 2011

As geografias impressas nas roupas e nos corpos

No último encontro, Davi falou um pouco do Movimento Situacionista e da busca de uma cidade enquanto espaço lúdico, de lazer e de encontro. Propôs fazermos um estudo das geografias urbanas localizando trajetos, fluxos, cortes, interrupções, velocidades e relações.

Saímos eu, Erica e Joyce. Silenciosamente caminhávamos e nos envolvíamos internamente e também externamente no corpo da cidade. De alguma forma criávamos uma presença diferenciada, talvez pela indeterminação de nossa caminhada, nossa ação atencional contrastava com a velocidade e naturalidade dos transeuntes, como estudiosos do espaço nossas presenças eram percebidas de forma diferente, estranha e enigmática.

Num primeiro momento o que me chamou a atenção foram alguns espaços vazios: um ponto de ônibus, uma guarita da polícia, um banco de praça, um canto da rua etc. Conseguia localizar estes "lotes vagos" no centro nervoso da cidade.

Fomos parar na Rodoviária da cidade e um pequeno grupo de crianças comendo em meio a muitas malas espalhadas capturou nossa percepção. Brinquei dizendo que se tratava de um piquenique. Tomamos um café e observamos como aquele grupo conseguiu criar um lugar, uma paisagem, um micro-organismo num lugar de passagem e velocidade como a rodoviária. Ali rapidamente percebia as chegadas, despedidas, encontros, esperas etc.

Do lado de fora da Rodoviária acompanhávamos o ritmo acelerado de alguns, um lugar de travessia, mas para outros um lugar de abandono, muitos ali dormiam, esperavam, pediam esmolas, se prostituiam... De repente as camisas das pessoas passam a me capturar o olhar e vejo numa estampa o desenho arquitetônico de uma cidade. Pronto: se transforma numa obsessão encontrar nas estampas das camisas dos passantes alguma inscrição de uma cidade ou de um lugar. Até que meus olhos encontram minha própria camisa que anunciava a cidade de Salvador.
Um corpo privado carregando uma imagem de um corpo/espaço público. Peça a Erica para fotografar esta inscrição.


Depois vejo um homem com uma camisa escrita "Jesus". Vou até ele e peço para fotografar a camisa. Depois pergunto-lhe: Jesus é público ou privado? Ele me diz que é público, para todos, não somente para uns. E volto a indagar: e seu corpo é público ou privado? Ele não sabe responder. Corpos carregam e veiculam lugares públicos e me interessa interagir com as pessoas.


Mais uma vez as camisas (e agora seus discursos, imagens e representações) se tornam uma possibilidade de pesquisa. Serão os poderes das marcas sobre nossos corpos?

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