agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

outro olhar sobre a cidade: de cores e formas



há uma semana, o pesquisador clóvis domingos pediu-nos um inventário de camisetas coloridas e lisas, para utilizarmos em uma intervenção que iria propor. o inventário foi registrado neste blog e, ontem, dia do nosso encontro coletivo, partimos para a ação. embaixo das cores, camisetas brancas. na parte de baixo do corpo, jeans ou cáqui.
quem tinha várias camisetas trouxe, quem tinha uma, trouxe a sua. quem tinha convidados, também os trouxe. além dos obscênicos, estavam presentes denise pedron, wagner souza, flávia machado e viviane ferreira. também presente, daniel botelho, fotógrafo que veio acompanhar a ação e dialogar conosco a partir de seu olhar.
chovia. inicialmente, clóvis propôs uma preparação corporal. começamos nos aquecendo individualmente, cada um a partir de suas próprias práticas. alguns caminhavam e outros se alongavam. observar o outro, clóvis propôs aos caminhantes. escolher um para observar. como ele prepara o próprio corpo. propor pausas. movimentos. ritmos diferentes.
quebrar seus hábitos corporais. outras intensidades, imagens, planos. o outro, na pausa, também deveria observar o próprio corpo: tensões, respiração. o que é essa pausa?
aos poucos, trocar de lugar. o observador passa a ser o observado. ao outro, cabe manter a energia produzida em trabalho... trabalhamos eu e leandro acácio. interessante que o meu corpo, já movido, queria continuar em movimento. e propor para ele, era propor para mim também. meu corpo ia junto, a voz traduzia os estados do corpo. o peso. o leve. o fogo. o vento.
aos poucos, o comando se misturou e pulava de um para o outro. observar e ser observado. um jogo em que o corpo é que comandava. extravasamos a sala e ganhamos o ccufmg. corredores, escadas, outras salas. as pausas. o sentir o corpo. sentir o espaço.
de olhos fechados, leandro e eu descemos as escadas de madeira. por ela, escorregamos. ganhamos o andar térreo. aqui, já não éramos mais nós dois. éramos o conjunto. a ligação e a escuta já nos ultrapassavam. ganhamos a rua. em sintonia com as outras cores.
na rua, meu primeiro fluxo foi justamente movido pelas cores. eu vermelha seguir os vermelhos que passavam.
o segundo fluxo: o movimento. atravessar a rua. na faixa de pedestre. o sinal verde/vermelho. os ritmos dos outros corpos. pausa no meio da faixa. caminhar lento. encostar meu corpo em outro. novamente a sintonia com leandro. outro corpo se agregou ao nosso. e mais outro. e mais outro. logo éramos um trenzinho atravessando. alguém gargalhou na rua. e sua risada ecoou em nossos corpos que também riram e no riso se desfizeram.


o fluxo seguinte foi energético. a energia do amor. davi e eu. os corpos se aproximavam. queriam andar juntos.
comando de clóvis: invadir um ponto de ônibus. nos dirigimos à praça da estação. muitos ocuparam o ponto do lado contrário ao da praça. também fui para lá. mas logo, senti necessidade de atravessar e sozinha, fui para o ponto do outro lado, em frente à estátua.
de lá, eu via davi. e ele me via. nos comunicávamos com o olhar. com sorrisos e gestos. sentei no chão da praça e o chamei para sentar comigo. davi se deslocava pela rua. parou no canteiro do meio e de lá me olhava. aos poucos, os outros foram ocupando o canteiro. primeiro clóvis. depois joyce. e outros. compunham uma paisagem que eu, sentada, apreciava enquanto apreciava davi que se aproximava cada vez mais.
ele veio. sentou-se ao meu lado. seu corpo junto ao meu. sentados, começamos a observar a cidade. as cores que passavam. os prédios. o céu de fim de tarde. o vento que soprava e refrescava nossos corpos. a beleza da tarde.


a delícia de ter o corpo do outro ao lado. as mãos se tocavam. os olhos se olhavam.
veio clóvis e se sentou conosco. depois lica. joyce. viviane. denise. erica. wagner... apreciávamos a cidade. nós a víamos, como nunca antes. seus prédios. formas e cores.
uma pausa no ritmo da cidade.


Um comentário:

Clóvis Domingos disse...

Nina, que belo relato! O mais interessante foi tua percepção dos diferentes fluxos que se apresentaram a você no percurso da ação, incluindo aí o poder da Pausa.
O estar presente, ver, apreciar, e não apenas figurar ou impor uma presença na cidade!
Quanto à foto escolhida na tua postagem, eu a fiz muito capturado pela proximidade dos corpos e cores que se encontravam com você e Davi.
Um abraço,
clóvis