
há uma semana, o pesquisador clóvis domingos pediu-nos um inventário de camisetas coloridas e lisas, para utilizarmos em uma intervenção que iria propor. o inventário foi registrado neste blog e, ontem, dia do nosso encontro coletivo, partimos para a ação. embaixo das cores, camisetas brancas. na parte de baixo do corpo, jeans ou cáqui.
quem tinha várias camisetas trouxe, quem tinha uma, trouxe a sua. quem tinha convidados, também os trouxe. além dos obscênicos, estavam presentes denise pedron, wagner souza, flávia machado e viviane ferreira. também presente, daniel botelho, fotógrafo que veio acompanhar a ação e dialogar conosco a partir de seu olhar.
chovia. inicialmente, clóvis propôs uma preparação corporal. começamos nos aquecendo individualmente, cada um a partir de suas próprias práticas. alguns caminhavam e outros se alongavam. observar o outro, clóvis propôs aos caminhantes. escolher um para observar. como ele prepara o próprio corpo. propor pausas. movimentos. ritmos diferentes.
quebrar seus hábitos corporais. outras intensidades, imagens, planos. o outro, na pausa, também deveria observar o próprio corpo: tensões, respiração. o que é essa pausa?
aos poucos, trocar de lugar. o observador passa a ser o observado. ao outro, cabe manter a energia produzida em trabalho... trabalhamos eu e leandro acácio. interessante que o meu corpo, já movido, queria continuar em movimento. e propor para ele, era propor para mim também. meu corpo ia junto, a voz traduzia os estados do corpo. o peso. o leve. o fogo. o vento.
aos poucos, o comando se misturou e pulava de um para o outro. observar e ser observado. um jogo em que o corpo é que comandava. extravasamos a sala e ganhamos o ccufmg. corredores, escadas, outras salas. as pausas. o sentir o corpo. sentir o espaço.
de olhos fechados, leandro e eu descemos as escadas de madeira. por ela, escorregamos. ganhamos o andar térreo. aqui, já não éramos mais nós dois. éramos o conjunto. a ligação e a escuta já nos ultrapassavam. ganhamos a rua. em sintonia com as outras cores.
na rua, meu primeiro fluxo foi justamente movido pelas cores. eu vermelha seguir os vermelhos que passavam.

o segundo fluxo: o movimento. atravessar a rua. na faixa de pedestre. o sinal verde/vermelho. os ritmos dos outros corpos. pausa no meio da faixa. caminhar lento. encostar meu corpo em outro. novamente a sintonia com leandro. outro corpo se agregou ao nosso. e mais outro. e mais outro. logo éramos um trenzinho atravessando. alguém gargalhou na rua. e sua risada ecoou em nossos corpos que também riram e no riso se desfizeram.

o fluxo seguinte foi energético. a energia do amor. davi e eu. os corpos se aproximavam. queriam andar juntos.
comando de clóvis: invadir um ponto de ônibus. nos dirigimos à praça da estação. muitos ocuparam o ponto do lado contrário ao da praça. também fui para lá. mas logo, senti necessidade de atravessar e sozinha, fui para o ponto do outro lado, em frente à estátua.
de lá, eu via davi. e ele me via. nos comunicávamos com o olhar. com sorrisos e gestos. sentei no chão da praça e o chamei para sentar comigo. davi se deslocava pela rua. parou no canteiro do meio e de lá me olhava. aos poucos, os outros foram ocupando o canteiro. primeiro clóvis. depois joyce. e outros. compunham uma paisagem que eu, sentada, apreciava enquanto apreciava davi que se aproximava cada vez mais.
ele veio. sentou-se ao meu lado. seu corpo junto ao meu. sentados, começamos a observar a cidade. as cores que passavam. os prédios. o céu de fim de tarde. o vento que soprava e refrescava nossos corpos. a beleza da tarde.
a delícia de ter o corpo do outro ao lado. as mãos se tocavam. os olhos se olhavam.
veio clóvis e se sentou conosco. depois lica. joyce. viviane. denise. erica. wagner... apreciávamos a cidade. nós a víamos, como nunca antes. seus prédios. formas e cores.
uma pausa no ritmo da cidade.

Um comentário:
Nina, que belo relato! O mais interessante foi tua percepção dos diferentes fluxos que se apresentaram a você no percurso da ação, incluindo aí o poder da Pausa.
O estar presente, ver, apreciar, e não apenas figurar ou impor uma presença na cidade!
Quanto à foto escolhida na tua postagem, eu a fiz muito capturado pela proximidade dos corpos e cores que se encontravam com você e Davi.
Um abraço,
clóvis
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