
o que me conecta comigo? o que me conecta com as coisas?
Duas perguntas que abrem vastos territórios de sentidos experimentados durantes as proposições e as provocações feitas por Clóvis Domingos.
1º momento - SALA FECHADA.
iniciam-se alguns exercícios, livres - aquecimentos, alongamentos... relembranças e atualizações do já inventado e conhecido corpo de então. pôr o corpo atento: consigo mesmo, com o espaço da sala. cores.
então, começam a ocorrer processos de percepção do outro. um jogo: fazer e observar. ver e ser visto. alguns comandos: variar fluxos, qualidades, possibilidades de movimento. tirar o outro de zonas confortáveis. desestabilizar, desestruturar, reorganizar, limpar, desterritorializar.
2º momento - PRÉDIO CCUFMG
os corpos extravasam. há um grande vazio no vão do pátio. alargam-se as paisagens. um outro tempo se instaura momentaneamente - dos ruídos longínquos, da brisa da chuva interrompida. corredores, basculantes, vidros, salas fechadas, parede, parapeito. cores.
experimenta-se inclinações, coloca-se limites para o caminhar: o corpo continua se abrindo. é preciso limitar para expandir. estamos quase na rua.
3º momento - A RUA.
entro na rua com uma espessa carga de percepções. mal mal vejo as coisas, quase faço teatro. em questão de instantes, vários mundos se abrem em partes à medida que me desloco. sou uma mônada, meus mundos variam de acordo com as fugazes percepções ou os fluxo nos quais me engajo no presente. há apenas uma totalidade - meu corpo.
encontro janelas, uma esquina. me imagino no pequeno elevado do prédio embaixo da janela em estado vago - penetro e componho imagens. meu corpo se instaura entre dois postes. vou deixando a cidade me afetar. aos poucos, sou atravessado por ela. começo a perceber grandes dimensões.
rapidamente entro em várias sequências de jogos de movimento, de percepção. exploram-se passagens, estados estáticos. a cidade é estática, pura passagem.
vejo um corpo composto por vermelho e mistura de azuis do outro lado da avenida. criam-se jogos de alinhar e desalinhar direções, ver e ser visto, aproximar e separar. finalmente a cidade é encontro.
aproveito para flertar com transeuntes desconhecidos. componho com eles inocentemente. abro para o que se atualiza a cada instante. quantas cores há cidade! quem sabe uma lista de cores mais usadas? um inventário? cartografias? para onde os vermelhos vão? será que os rosas permanecem dentro de lanchonetes? e quantos os pretos, esperam ônibus indefinidamente? os laranjas escorregam pelas lojas de roupa.
nossa tarefa é ver o invisível, cotidianamente.
4 comentários:
que lindo, davi. um belo relato perceptivo, pleno de imagens. que bom ter você no obscena! que bom você aqui no blog. escreva mais, escreva sempre.
beijo
percebo conexões! continuem postando coisas sobre o trabalho...eu estou aqui.
percebo conexões! continuem postando coisas sobre o trabalho...eu estou aqui.
Davi, muito bom teu relato! Tuas impressões são importantes para minha pesquisa que envolve ações de invasão coletiva e individual na cidade.
Escreva sempre!
Clóvis.
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