A vida chama. Acordo à nove e onze da manhã, 9+11=20=2, o duplo, a parceria, la vie. Mais um casal chega às últimas conseqüências da violência doméstica: a filha de uma conhecida, 16 anos, é assassinada pelo marido em frente a filhinha de pouco mais de um ano. A vida chama. O que eu farei, através do meu trabalho de ações/situações criadas pela cidade para depor contra tal realidade que assola a humanidade. Pessoas se matam diariamente, destroem a vida do outro aos poucos ou a retiram dum só golpe, como se deu ontem com esta moça. E como ela outras mais pelo Brasil e mundo.
O que seu trabalho significa? Alguém na rua me pergunta. É necessário que eu escreva uma legenda para que chegue mais fácil? As mulheres são as que mais questionam, os homens sacam, comentam. Nós estamos emburrecidas mulheres? Pergunto-me aonde estão as mulheres? Pois nas bonecas nós tropeçamos todo santo dia.
É necessário lutar. Minha arma de combate: minha ação nas ruas. Montar a ‘santa dona de casa martirizada’ em BH tem sido esclarecedor quanto à forma feminina de pensamento difundida na cidade. O culto à beleza da carne da mulher como artifício propulsor de vendas e manutenção da indústria capitalista é evidente nos corpos e atitudes femininas. Saltos. Calças jeans com lycra, cabelos ‘suuuper liso’ prancha de cerâmica e escovas hidratantes à base de inúmeras matérias primas: frutas, fermentados, chocolates... mulheres em série, como aponta firmemente a ação de Joyce. A realidade que vivemos é tão emburrecedora, a alienação é geral e para mim é necessário criar ostensivamente ações e situações que tragam à tona fortes interrogações acerca do que construímos como sociedade diariamente. Quais ações temos em relação a sociedade na qual vivemos? Nossa atitude cidadã está tão anulada que somos levados a crer que não há nada a se fazer senão trabalhar cegamente, pagar as contas, gerar mais filhos e tudo isto em prol de uma grande máquina desumanizadora de gente.
A vida chama.
Nêga.
3 comentários:
ai, Nêga!
é isso... às vezes até desanimo, parece tudo em vão. as mentes não se alteram um milímetro. a quem podemos atingir?
talvez, só a nós mesmas
Erica, Nina, Joyce...
vocês atingem, tenham certeza.
incrível o trabalho.
pesquisa riquíssima.
como disse à Érica, gostaria de participar de alguns debates do grupo. Fica também o convite para o intercâmbio com Donceveo (www.donceveo.blogspot.com).
Grande abraço,
Ana Luisa Santos
Olá, Ana!
Que bom receber sua visita aqui no Blog! Fico feliz em saber que o trabalho toca, mas para quem está do lado de dentro, como eu, é necessário manter o estado de alerta para não caírmos no 'mais do mesmo'!
Obrigada!
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