1- Você propôs (na Ocupação
Performatite) para os coletivos artísticos, uma ação e intervenção muito
instigante para se experimentar no espaço da cidade: um Bloco do Silêncio. Num tempo no qual as cidades são muito ruidosas
e verdadeiras Torres de Babel, como o silêncio foi vivenciado nessa
experiência? Provocou algum estranhamento? Alterou o ritmo da caminhada dos
participantes? Quais as "texturas" percebidas nesse silêncio
performático?
Foto de Clarissa Alcantara
Bom, eu prefiro falar sobre as
texturas que esse evento ondular causou em mim e no fora (o espaço da cidade).
A ideia de um bloco do silêncio me veio pela ideia de um cardume silencioso que
passa em meio ao caos da cidade. A textura que me chamou mais a atenção foi a
de que um grupo de pessoas caminhando em silêncio pôde se tornar algo
ritualístico e o respeito que as outras pessoas tiveram por esse movimento. E
mais: um bloco silencioso de pessoas acabou gritando em meio ao caos.
2- Você é um pesquisador do silêncio e no N3PS sempre acompanhamos tuas
pesquisas, leituras e indagações. Recordo-me de você me contando sobre teus
estudos do silêncio na obra de Beckett e na música. O que te atrai tanto
no silêncio?
O que mais me atrai no silêncio seria
a escuta. O espaço que o silêncio abre para a percepção do exterior e das sutilezas
que não percebidas normalmente e tão facilmente. Eu acho o silêncio um lugar
possível para se perceber melhor as intuições que o Acaso traz nos
acontecimentos. Eu gosto de pensar o silêncio aliado à minha pesquisa de ator,
acredito quando este tem um silêncio dos pensamentos ele consegue estar mais
dentro do agora... mais dentro dos instantes.
3- Nas performances e intervenções urbanas, muitas vezes os artistas silenciam
frente às perguntas dos transeuntes sempre pedindo
explicações sobre aquele acontecimento. A não - explicação e o silêncio são
formas de provocar o transeunte e forçá-lo, de algum modo, a criar sua
interpretação e relação com aquela obra pública. Fico pensando: mesmo num
silêncio verbal, não haveria um corpo que "fala"? Ainda assim não
haveria ruídos e sons? Ou haveria um silêncio do corpo e do gesto? Isso se
daria pela pausa? É possível silenciar um corpo?
Essa pergunta é muito difícil. Eu
sempre me pergunto isso e fico com essa questão muito pulsante. E na verdade
quando eu penso o silêncio, eu penso em multiplicidade e não ausência de som...
Porque na verdade tudo que se movimenta, que está vivo faz som. Então quando
você experimenta o silêncio e cala verbalmente, na verdade você possibilita a
escuta de tudo que se movimenta, fala, age e está vivo. Eu acho que é
impossível calar um corpo. Se você pensar que calar seja matar, deixar sem
movimento, sem fala, sem qualquer intervenção do fora. O silêncio é também
som...
2 comentários:
Maravilha ler essa reflexão sobre o Bloco do Silêncio. Foi mesmo uma experiência que possibilitou uma escuta muito potente do entorno da cidade (no caso Ouro Preto). Muito bom revisitar a sensação desta ação por meio de conceitos, ideias, dúvidas.
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