agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

segunda-feira, outubro 15, 2012

"ENQUANTO ELES TRABALHAM, EU BRINCO" - Jogo e Performance



Aos Laranjas Podres e aos Líquidos:


Realizando as ações enviadas por vocês (“Estátua” pelos Laranjas Podres Performáticas e “Leitura Molhada ou Surra D’água” pelo Líquida Ação) no projeto “TRÂNSITOS PERFORMÁTICOS – alimentando a rede”, tivemos a possibilidade de se pensar, discutir e experimentar a dimensão lúdica da arte da performance.

Nas ações partilhadas hoje no Obscena, senti muito forte meu devir criança e descobri que toda criança é um performer: sempre brincando, investigando, explorando e “estranhando” lugares e conceitos dados.

Aprender performance é meio como desaprender muitas coisas que nos foram ensinadas: padrões, comportamentos, crenças etc. É meio ser criança sempre na aventura que convoca o corpo e os sentidos a se colocarem atentos, perceptivos e abertos aos acontecimentos. Desaprender para re-aprender num movimento constante.

Penso em Clarice Lispector: “Eu sei de muito pouco. Mas tenho a meu favor tudo o que não sei e – por ser um campo virgem – está livre de preconceitos. Tudo o que não sei é a minha parte maior e melhor: é a minha largueza. É com ela que eu compreenderia tudo. Tudo o que não sei é que constitui minha verdade”. (Diálogo do Desconhecido).

Criança, performer, não-saber. Atualmente o espaço e o tempo nas cidades encontram-se constrangidos e despontecializados. Vigiados e cerceados. Pressa, velocidade, objetividade, individualismo, consumo e aglomeração são elementos que inter-FEREM  na tessitura dos con-TATOS humanos, algumas vezes, empobrecendo-os.

Se vivemos na era da produtividade desmedida, o que significaria sairmos pela cidade para brincarmos com água (molhando uns aos outros) ou nos transformarmos em estátuas e de repente pararmos qualquer forma de movimento, interrompendo o fluxo vertiginoso das pessoas?
Para mim uma possibilidade de revolução. Pois não há nada mais revolucionário do que um corpo que brinca! Mas para algumas pessoas da cidade “isso parece loucura! Coisa de gente sem serviço! Pura anarquia ou irresponsabilidade!”

Pronto, gente! Eis aí uma subversão dos usos e apropriações do tempo e do espaço nas cidades a partir de uma prática artística performática.
As ações de hoje – na verdade deliciosas TRAVESSURAS URBANAS – nos levaram à instauração, ainda que momentânea, de uma Cidade Lúdica. Lugar de prazer, alegria, desejo, diversão em grupo; enfim, fizemos bagunça mesmo!

A ação Estátua me surpreendeu, Laranjas! De início pensei que seria algo muito trivial e até teatral, mas foi só botar o pé na rua que fui tendo importantes percepções. Um jogo delicioso de parar, poder sentir o espaço e ver o desenho da arquitetura e dos movimentos dos passantes, fora causar uma certa estranheza nos lugares ou complicá-los pela simples pausa corporal vivenciada.

Isso porque na cidade, tempo e aceleração cada vez mais juntos nos ameaçam com a possibilidade de um colapso nervoso ou uma depressão pelo sentimento de não correr atrás das coisas e não conseguir acompanhar o ritmo frenético dos fatos e acontecimentos. Viver um tempo subjetivo se torna cada vez mais difícil. E mais: um tempo com sentido para nós mesmos, um tempo para brincar, um tempo para descansar, um tempo para amar... Talvez falte mais ludicidade na vida da cidade, isso porque falta na vida de cada um...

Mas hoje, Líquidos e Laranjas Podres, nós do Obscena, trabalhamos brincando e brincamos trabalhando. Uma linha de fuga poética e a sensação de um tempo saboreado no presente com a percepção e criação de espaços expandidos que se tornaram mais arejados com a realização das ações transitadas entre nós. Performance como jogo, provocação e descontração. Des-tensionamento no (do) corpo citadino.

Como rimos hoje e como muitas pessoas se divertiram também! A cidade como “espaço potencial”, lugar possível para uma brincadeira de estátuas e uma surra d’água. 

E que venham mais infâncias para nossos dias!

E que surjam mais desaprendizagens para nossas vidas!

Um abraço,

Clóvis.

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