agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

domingo, julho 08, 2012

la chair é rouge, hélas! e je li todos os livros



"Em tudo o que tocava
Deixava sua marca registrada:
Uma estrelinha cor de maravilha
Fúcsia, bordô
Ninguém sabia o nome daquela cô..."
(Filó, a fadinha lésbica- Bufólicas)








"Certa noite... de muita escuridão 
De lua negra e chuvas 
Amarraram o jumento Fodão a um toco negro. 


E pelos gorgomilos 
Arrastaram também 
A Garganta Alva 
Pros baixios do bicho."
(A cantora gritante - Bufólicas, Hilda Hilst)





"Teve, bem antes do que deveria, de casar-se com uma mulher da vizinhança, que lhe deu um filho bem mais depressa do que era conveniente. Essa travessura o levou a tentar a sorte em Londres. Tinha, ao que parece, gosto pelo teatro; começou segurando cavalos à entrada do palco. Logo conseguiu trabalho no teatro, tornou-se um ator de
sucesso e viveu no centro do universo, encontrando
todo mundo, conhecendo todo mundo, praticando
sua arte nos tablados, exercitando o espírito humorístico nas ruas e até ganhando acesso ao palácio da rainha.
Enquanto isso, sua extraordinariamente dotada irmã, suponhamos, permanecia em casa. Era tão audaciosa, tão imaginativa, tão ansiosa por ver o mundo quanto ele. Mas não foi mandada à escola."



"Pegava um livro de vez em quando, talvez um dos de seu irmão, e lia algumas páginas. Mas nessas ocasiões, os pais entravam e lhe diziam que fosse remendar as meias ou cuidar do guisado e que não andasse no mundo da lua com livros e papéis. Com certeza, falavam-lhe com firmeza, porém bondosamente, pois eram pessoas abastadas que conheciam as condições da vida para uma mulher e amavam a filha — a rigor, é bem mais provável que ela fosse a menina dos olhos do pai. ..."  
("A irmã de Shakespeare", em Um teto todo seu - Virginia Woolf)






"Talvez ela rabiscasse algumas páginas às escondidas no depósito de maçãs do sótão, mas tinha o cuidado de ocultá-las ou atear-lhes fogo. Cedo, porém,
antes de entrar na casa dos vinte anos, ela deveria
ficar noiva do filho de um negociante de lã da vizinhança. Reclamou como o casamento lhe era odioso, e por isso foi duramente surrada pelo pai.
Depois, ele parou de repreendê-la. Implorou-lhe, em vez disso, que não o magoasse, não o envergonhasse nessa questão do casamento. Ele lhe daria um colar de pérolas ou uma linda anágua, disse, e havia lágrimas em seus olhos. 
Como poderia ela desobedecer-lhe? Como poderia partir-lhe o coração? Somente a força do próprio talento levou-a a fazê-lo: fez um pequeno pacote com seus pertences, deixou-se escorregar por uma corda numa noite de verão e tomou a estrada para Londres. Ainda não tinha dezessete anos."






"Judith tinha o mais vivido pendor, um dom como o do irmão, para a melodia das palavras. Como ele, tinha uma predileção pelo teatro. Ficou à entrada de um; queria representar, disse. Os homens riram-lhe no rosto. O gerente — um homem gordo e falador — soltou uma gargalhada. Ele berrou alguma coisa sobre poodles dançando e mulheres representando — nenhuma mulher, disse ele, tinha qualquer possibilidade de ser atriz. E insinuou. . . vocês podem imaginar o quê. Ela não conseguiu obter nenhuma formação em seu ofício. Poderia ao menos procurar jantar numa taberna ou perambular pelas ruas à meia-noite?" 






"Apesar disso, seu talento era para a ficção, e desejava com ardor alimentar-se abundantemente da vida dos homens e mulheres... Finalmente — pois era muito jovem e tinha o rosto singularmente parecido com o do
poeta Shakespeare, com os mesmos olhos cinzentos e sobrancelhas arqueadas —, finalmente, o empresário
Nick Greene compadeceu-se dela. Judith viu-se grávida desse cavalheiro e então — 


quem pode medir o fogo e a violência do coração do poeta quando capturado e enredado num corpo de mulher? — matou-se numa noite de inverno, e está enterrada em alguma encruzilhada onde agora param os ônibus em frente ao Elephant and Castle." 
("A irmã de Shakespeare", em Um teto todo seu - Virginia Woolf)



"Pela primeira vez 
Mostrou-lhes a bronha 
Sem cerimônia. 
Foi um Oh!!! geral 
E desmaios e ais 
E doutos e senhoras 
Despencaram nos braços 
De seus aios. 
E de muitos maridos 
Sabichões e bispos 
Escapou-se um grito."
(O reizinho gay - Bufólicas)




Filó, a Fadinha lésbica Que à noite virava fera 
E peidava e rugia 
E nascia-lhe um troço 
Fúcsia 
Lilás 
Maravilha 
Bordô 
Até hoje ninguém conhece 
O nome daquela cô" 




"E nunca mais se viu 
Alguém-Fantasia 
Que deixava uma estrela 
Em tudo que tocava 
E um rombo na bunda 
De quem se apaixonava..." 
(Filó, a fadinha lésbica - Bufólicas, Hilda Hilst).

7 comentários:

Clóvis Domingos disse...

Nossa, Ninon, que relato mais poético e que forma interessante de unir textos maravilhosos com imagens de você na ação...é como se a gente te escutasse falando essas coisas tão fortes e deliciosas. Tempo que volta...eterno presente.

Coletivo Líquida Ação disse...

beleza de rouge sang Hilst!
elo

Corpografico disse...

Nina, por várias vezes eu quis ser seu espsctador. Delícias bufólicas.

Anônimo disse...

Nina, deu até vontade de ler esta Hilda Hilst. Ler as suas leituras dela, por sobre as imagens na tela, pinta de imagens os textos.
Deveria ser colaboradora dela. Bjs!!

lissandra guimarães disse...

linda ninon poética provocante!
adoro você rouge!

Nina Caetano disse...

a idéia era um pouco essa, clovito! tentar materializar a experiência (coisa impossível) daquele dia... o tempo que volta! a hilda é demais mesmo e fomos, fred, espectadores uns dos outros... delícia de ação! também me deleitei com você(s). ah, lica, adoro te ver!

Leandro Silva Acácio disse...

Vendo essa colagem linda, me lembrei de la belle de jour.
la belle rouge.
Acordacordacordacordacordacor...