agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

terça-feira, outubro 04, 2011

O homem-bomba e a mulher-burka passeiam pelo centro da cidade parte II



Fui pensar sobre o passeio do homem-bomba com a mulher-burca de mãos dadas no centro da cidade. O que queríamos com aquilo? Fomos apenas passear e deu no que deu. Cataclisma, carnaval. Não é prá rir, mas nem sério seria. Do meio do tudo e do nada, de repente sobraram plagio-combinações de textos de Marcelino Freire, Wally Sailormoon, Evandro Mesquita, Blitz, É o Tchan, Zeca Baleiro, meus... Loucuras e besteiras que explodiram nesses dias em meu peito. Divido com vocês alguns trechos esparsos. Ainda continuo pensando sobre o assunto.

O homem-bomba e a mulher-burca passeiam pelo centro da cidade parte II

Uma salvação, qualquer que seja.

Jihad, kadafi, Idi Amin, Shahid, Shareed, Té. Abraão, Paquistão, Moab, Ali-babá, Abimelec, Gessen, Si nar, Meriba, Al Qaeda, Hezbollah, Saddam Hussein, Admá.

Acho que não sou nada. Eu era homem. Nem homem eu sei se era. Você não é nada. Porque não me deixaram ser. Difícil. Por que não morri? Fiz tanta besteira em tudo o que é praça. Eu não preciso disso agora. Eu sou o ódio. Ódio, eu sou. ME SEGURA QU’EU VOU DAR UM TROÇO.

Meu amor vou te buscar. Amor, meu lindo amor.

Seria seu singelo, ouvinte, noivo, não sei.

Eu tenho aqui em minhas mãos uma carta. Uma carta de uma ouvinte que nos escreve e assina com o singelo pseudônimo de Mariposa Apaixonada de Guadalupe. Ela nos conta, que o dia que seria o dia do dia mais feliz de sua vida, Arlindo Orlando, seu noivo – um caminhoneiro conhecido da pequena e pacata cidade de Iracema do Norte – sumiu, desapareceu, escafedeu. Ó lindo Orlando volte, de onde quer que você se encontre, volte para o seio de sua amada. Ela espera ver aquele caminhão voltando de farol baixo, de pára-choque duro. Agora uma canção. Canta pra mim, eu não quero ver você triste assim...

Estou a dois passos do paraíso, não sei se vou voltar

Estou a dois passos do paraíso, talvez eu fique, eu fique por lá

Estou a dois passos do paraíso. Não sei porque que eu fui dizer bye bye...

Anuncio o fim do meu tempo, que é agora. Você tem menos de sete... cinco minutos...

Vou morrer agora. Todos vão morrer agora. Morto. Seria a morte o poder supremo? Morreria. Amém. Morreria. Amém. Por que Deus não me ensinou a evitar, meu Deus? Agonia desse tamanho?

Eu era homem-bomba também. Quero dizer, sou. Sou um mártir. Egoista? Terrorista? Um homem-bomba nas relações sociais. Não me disseram se depois que a gente morre a gente continua sendo o que era antes. Por que tudo é “até a morte”. “Você será homem-bomba até a morte”. “Morrendo para vencer”. Homem burca e mulher bomba. “Até que a morte os...” BUM!

Não a morte como um fim, mas a morte como um “além-vida”. A própria morte. A ansiedade da própria morte. A caminho da morte incerta. Amém. Meu bem.

Matar-se é de certo modo, assim como no melodrama, confessar. Confessar que se foi ultrapassado pela vida ou que não se tem como compreendê-la. O que se chama uma razão de viver, é , ao mesmo tempo, uma excelente razão de morrer. Uma salvação, qualquer que seja.

Matar a si mesmo e matar os outros para alcançar a redenção. BUM!

Na realidade, não existe experiência da morte. Num sentido estrito, só experimentamos o que foi vivido e se tornou consciente.

Confusão, confusão em minha língua sem razão. Acredita? Pode crer. Coração suando frio. Paz, paz, paz.

Senhor, uma Graça. Qualquer palavra. Qualquer.

E vai descendo, e vai descendo, e vai descendo, vai descendo e vai descendo...

E olha o quibe, e olha o quibe, e olha o quibe, olha o quibe e olha o quibe.

Ali-babá, BUM! Ali-babá, BUM BUM! Ali-babá, Ali-babá, Ali-babá!

E rela a tcheca, BUM! e rela a tcheca, BUM BUM!

E rela a tcheca, rela a tcheca e rela a tcheca!

Vou acabar! BUM! Vou acabar! BUM BUM!

Vou acabar, vou acabar, vou acabar!

rs... BUM!

6 comentários:

Nina Caetano disse...

me segura que eu vou dar um troço! adorei esse texto bomba que estilhaça fragmenta o pensamento.
também estou querendo explodir conceitos certezas consequências
o que pode uma ação sem consequência?

Clóvis Domingos disse...

Nossa, Leandro, que texto mais corporal e experimental....EXPLODI NELE EM MIL DELÍCIAS!!!! Uma total experiência com a linguagem.
Quero mais!!!!
é isso aí: tem que pagar para ver e para saber. Carne, perigo e ousadia.
Abraços, Clóvis.

Davi Pantuzza Marques disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Davi Pantuzza Marques disse...

leandro e nina,

penso que tem uma diferença entre ação sem consequência e experimentação. essa última é uma maneira prática de se investigar determinados elementos. a experiência vai nos mostrando ao longo do caminho o que se deseja, para onde ir, o que explorar. que, claro, não deixa de ter implicações éticas. já a primeira é uma maneira de pensar que também é um procedimento para tentarmos abolir a relação de significação que "chapa" os sujeito, o submete ao objeto, sem dar-lhe chances de ser sempre outro, ambiguo, instigantes, interessante. esse é o campo da representação, da satisfação de expectativas já dadas, conhecidas, estabelecidas.

a ação sem consequência pressupõe necessariamente uma experimentação. mas isso não quer dizer que a experimentação necessariamente escape do regime opressor sujeito objeto.

vamos continuar essa conversa?

Nina Caetano disse...

nossa, davi! é isso mesmo, estou pirando desde a mesa redonda do fórum com essas questões... é pano pra manga!
continuemos!
besos

BANANEIRAS disse...

corajosos, que bonito!,