agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

terça-feira, maio 24, 2011

Eros e a Ágora

Em resposta a minha última postagem no blog na qual perguntei como poderíamos recuperar uma relação mais erótica com a cidade, tive a alegria de receber uma resposta, na verdade, um belo texto do pensador e professor de Filosofia Whesney Siqueira.

Decidi transcrever o texto no blog por perceber a potência do pensamento na produção e discussão de questões tão importantes como a vida dos homens na cidade. Que bom dialogar com a Filosofia, Antropologia e com a psicanálise. Que bom ter um interlocutor como você, Whesney!!!

"Eros e a Ágora"


Whesney Aparecido de Siqueira

Eros, do grego, quer dizer da aproximação amorosa que se liga à atração física, mas não somente sexual como muitos acreditam. É um amor apaixonado que contempla a beleza. Um amor diferente das outras duas definições grega, Philia (amizade) e Ágape (amor em um sentido mais amplo, um afeto desinteressado).

A Psicanálise, em Freud, apesar de não definir Erótica, trata dessa palavra em diferentes partes, como qualidade ou caráter de um estado. Lacan, dirá que sexualidade e erótica não são coincidentes e que não é possível estabelecer padrões eróticos a serem alcançados, uma vez que ela se define em cada sujeito através das condições de gozo singulares delineadas pela fantasia inconsciente. Portanto, podemos definir Erótica como diferentes formas de gozo (Holck, 2004).

E, a Ágora, era a praça praça pública dos gregos, livre de edificações, um lugar em que o cidadão grego tinha para conviver com outros e, assim, discutir nesse espaço política, filosofia etc. Também era o espaço onde se faziam os tribunais populares, ou seja, um espaço de convivência e cidadania da pólis, expressão máxima da democracia. Diferente do que hoje se tornou as cidades modernas ocidentais.

No espaço urbano contemporâneo temos preponderância imagética e grande parte do que há nesse urbano está direcionado e pensado para a sociedade consumista. Os centros urbanos se tornaram lugares de passagem onde as pessoas ou trabalham ou vão e voltam do emprego. Ou seja, um profundo ativismo laboral. Hannah Arendt, no livro “A Condição Humana”, vai demonstrar características da vida ativa e da vida contemplativa. Nessa análise vamos entender melhor o que tornou a nossa Ágora moderna tão distante da Ágora grega.

Deixamos de contemplar a vida para desprender energia na produção de bens de consumo. Passamos de “zoo politikon” (Animais políticos, na Grécia) para “homofaber” (homem fabricador, na modernidade) e finalmente chegamos hoje na contemporaneidade como “zoo laborans” (animal consumidor); e assim, a todo custo, temos que produzir para comprar mais, para estocar mais, sendo essa ação totalmente inconsciente. Já não sabemos porque queremos comprar, mas queremos, e recebemos assim o status de animais, pois animalesca é a nossa forma de agir. Caminhamos pelo espaço público e nos entregamos instintivamente às vitrines. Não temos tempo e nem desejo de conversar e discutir o real valor da vida e dos objetos, porque a vida se tornou virtual e o valor se tornou fetiche.

E, assim, Hannah Arendt, fará uma interessante reflexão sobre o papel da tecnologia que facilita a produção em larga escala de bens de consumo e o ideal de felicidade que outrora fizera os homens se elevarem à condição humana, criando a política, a filosofia, a arte, a religião e as ciências e que hoje se declina elegendo o labor e o consumo como bem supremo de se alcançar a felicidade. Se a vida ativa é caracterizada pelas três atividades – o labor, a obra e a ação.A Vida do espírito”, é outro livro em que Arendt vai novamente repensar as questões levantadas em A Condição Humana, mas, agora, no âmbito da vida contemplativa. Assim, as principais atividades humanas seriam – o pensar, o querer e o julgar. Pensamento que só acontece com a possibilidade de elaboração individual e conjunta; o querer que é o desejo que o impulsiona a ser humano; o julgar que o possibilita fazer juízos sobre as diferentes realidades que existem fazendo-o comunicar e chegar a acordos, tornando-o assim, convivente em sociedade.

A vida ativa se pautada pela consciência é de extrema importância para que o humano seja humano. O homofaber, é o que faz do homem o fabricador das coisas, modificador do mundo em que vive, fazendo assim, se sentir pertencente e corresponsável junto aos outros homens. Mas, é na vida contemplativa que esse homem criará a consciência ética atentando assim para a relação de alteridade para com o todo.

Portanto, recuperar o sentimento amoroso do eros para com o público se faz urgente. A Ágora, nos faz chegar à condição humana, que não é dada, mas construída numa relação dialética entre agir sobre e, ser afetado. Buscar a verdade pelo eros e através da observação e do diálogo julgar bem, pensar e querer restabelecer o desejo da voz e do pensamento no Ethos da cidade.


Referência bibliográfica:

Holck, Ana Lucia Lutterbach Rodrigues. A erótica e o Feminino, Rio de Janeiro. Dinisponível em: <http://www.proex.pucminas.br/sociedadeinclusiva/IVseminario/normalizacao_monografias.pdf> Acesso em: 24.maio.2011.



2 comentários:

Danilo disse...

Como sempre muito boa seus escritos!
Parabéns meu caro!

Davi Pantuzza Marques disse...

Belas referências, Whesney! Há algumas reflexões de um filósofo, tradutor de Deleuze, Peter Pal Pelbart, que se aproxima dessa condição de "zoo laborans" que estamos cultivando. A ideia é essa mesma: tornamos seres bestializados, condicionados a modelos de vida pasteurizados e comprados; nosso corpo se tornou indiferente a tudo e estamos perdendo a capacidade de nos afetar, de trocar. A experiência de viver numa cidade de passagens, outdoors, lojas, vitrines, lixos, engarrafamentos vai nos tornando insensíveis, impermeáveis. De fato, é preciso reinventar uma forma erótica, carnal, afetiva e lúdica de habitar a nós mesmos e a nossa cidade.

abraço,