O ano começou e Erica já em sua nova vida – operária. Sim. Operária do fazer teatral. Ela, aos cinco dias do mês de janeiro já estava a produzir, organizar, despachar, orçar e ‘planilhar’ todas as informações, cotações e disposições referentes aos projetos que é responsável no trabalho ‘seu de cada dia!’ Sente-se útil, mas a quem? Sente-se produzindo, mas para quem? Sim. É necessário não perder o tino. Isto não é uma reclamação e sim uma constatação. É uma mulher que precisa se manter e se manter significa ganhar dinheiro para entregá-lo a quem se deve, mesmo que devamos a quem nem sabemos quem é...
Os trabalhos do OBSCENA só começam em fevereiro e ela já se inquieta. Percebe que está lendo pouco, percebe que o tempo é cada dia mais escasso e as exigências são e serão maiores. É necessário progredir. 2008 fora um ano forte, de muita luta e muitos conflitos, mas e 2009? Ela está bem diferente. Envelheceu. Amadureceu. Perdeu e ganhou. Iludiu-se e voltou ao seu equilíbrio precário. Mas, quem é essa mulher que se apresenta em 2009? Quem é você Erica neste novo ano? Ela não sabe. Sua construção contínua continua. Há frutos já a se colher da pesquisa empreitada em 2008, observações pertinentes e proveitosas, mas ela se inquieta.
Os encontros recomeçam. Já há dificuldade no dia de encontro, ela decide fazer um curso técnico, Design de Interiores, é para trabalhar com cenografia, as ‘questões plásticas’ estão no seu foco deste novo ano. Estas já se faziam presentes em 2008 e agora tudo está mais claro em torno deste desejo. A imagem, ou melhor, a fabricação da imagem! É nisto que Erica quer investir. Ela cada dia mais se distancia da interpretação/atuação. Ela quer liberdade de expressão e não virtuosismo das formas. Sua saúde não anda nada bem. Erica sente-se fraca em fevereiro, isto a faz resguardar-se. Jura que não quer mais colocar seu corpo a serviço dos trabalhos até então desenvolvidos, mas os demais companheiros a questionam: _mas como você vai fazer o ‘mercado da buceta’ sem se instalar nele? Ela fica agressiva e ajeita jeitos desajeitados de reformular o que não tem como, não neste caso. Isto ela comprova no trabalho junto ao ARENA. No mês de Março o OBSCENA fez uma troca com os alunos dos projetos ARENA DA CULTURA/PBH, do qual Lissandra foi professora. Ao montar o ‘mercado da buceta’ Erica não resiste e se coloca na instalação, para sua alegria e alívio dos companheiros de trabalho. Seu medo passou. Sua força estava ali o tempo todo. Ela ama este trabalho, mas uma fraqueza diante da vida e dos seus intempéries a fizeram crer, momentaneamente, que não havia mais o que fazer no OBSCENA... BOBAGENS!
Alguns integrantes saíram este ano, Fernando e Didi. Mas, João está firme. Somos 9.
As bonecas prosseguem. Dia 25 de abril foi dia delas se exporem na Praça 7. Incrível como as mulheres se indignam. Os homens param, olham, cobiçam, lêem, mas elas ficam nervosas. Passam. Riem nervosamente. Reclamam. Ignoram. Enfim, um misto de reconhecimento e repulsa. As meninas nos são caras. Elas sempre estão de rosa, assim como nossa exposição. É possível flagrar uma e outra com caixas da Barbie, estampas da Barbie, acessórios da Barbie. Tudo é Barbie. A mulher deve ser tão bonita, legal e transada quanto a Barbie, assim a vida muito mais rosa, não acham?
Após este trabalho Erica percebeu que é necessário trazer as mulheres transeuntes para dentro da sua exposição, seu nicho. Recuperar uma ação proposta em 2008, na qual ela convidou as mulheres do público para brincar de casinha pode trazer para sua ação mais efetividade do que a proposta do ‘mercado da buceta’ com a frase/comando: ‘Destrua Esta Imagem’. É necessário colocar as mulheres para repetir as ações inúteis do dia-a-dia e verificar se a partir disto se gera um pensamento crítico sobre as mesmas. A simples ação de brincar com os objetos em miniatura e cor-de-rosa pode trazê-las para um estado mais conectado consigo mesmas e assim a percepção da cultura patriarcal capitalista impregnada em seus corpos. Não há o desejo de se criar um fórum após a brincadeira para discutir seus valores e sim gerar nas mulheres algo que a princípio não se note, mas que silenciosamente se instale um incômodo e que este prossiga deteriorando imagens estáticas. Este é o desejo de Erica.
3 comentários:
Que bom ler teu texto, Erica, gosto muito da tua escrita. Bom te ver perguntando, desejando e tecendo novos rumos para tua pesquisa no Obscena, a qual considero uma das mais fortes, pelo elo "artevida", e pela tua força de artista e mulher.
ai, nega!
fico feliz. com sua escrita. com seus desejos e questões. com você dentro do trabalho. sinto que juntas - bonecas obscênicas - podemos ir longe nas questões que nos inquietam, construir imagens cada vez mais concretas e instigantes para nós mesmas. obrigada.
é meu povo, tamo aí de novo! rs!
FORÇA SAÚDE E FÉ NO TRABALHO!
Bjocas Obscênicas!
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