agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

domingo, novembro 02, 2008

Relato(´rio) Obscênico 02 de Novembro


















Relato (´rio) Obscênico, 20 de Outubro de 2008.



Viaduto Santa Tereza. Eu, Erica. Uma mulher de 29 anos enfim. Entrando de fato em meu retorno de saturno. Ontem, o assassinato da menina Eloá. E eu a construir minha ação/situação sem me ater a esse dado. Esse fato fatídico. O namorado que mata a namoradinha de 15 anos por não aceitar a perda. Mais uma vez estamos diante dos encantos da buceta. Não. Não estou tripudiando sobre a dor e desgraça alheia. Não mesmo. Estou apenas suscitando o valor da carne. A paranóia da carne. A posse travestida de amor, paixão.
Pois bem, cheguei eu com minha bugigangas. Está claro ainda. Vejo um caixote no passeio do parque. Vou até ele. Joyce já está a descer a rua. Faço menção para que fique próxima a mim. Estou um tanto quanto receosa. Há uma mulher mais velha a falar com uns meninos no banco, aos fundos do local onde depositei minhas peças de trabalho. Neste momento eu trabalho. Meu corpo se fortifica com a exposição na rua. Não conheço quem passa e ninguém me conhece, o anonimato que nos aproxima. Vou até um butequim e peço ao senhor que encha, por favor, o meu balde, desejo que todos tragam um. Aos poucos os obscênicos vão chegando, peço que encham seus baldes. Joyce e Nina me ajudam a desfolhar as revistas. Hoje eu enclui as imagens de revistas sobre mulheres: pornô, crochê, gravidez e nomes de bebês... cada uma pertencente a um corredor do grande ‘mercado da buceta’, sim este mesmo que fora responsável pela morte da menina Eloá. Tristeza. Aos pés da estrutura de ferro - que não faço idéia do que represente - instalo minha ação/situação: um tapete das imagens das revistas, o caixote, sedas por sobre a madeira. Os brinquedos de casinha em cor-de-rosa compõem o interior do castelo que está erguido à frente da imagem principal. Uma evolução de invólucros:à frente o castelo como uma muralha de proteção, à seguir um piso/tapete das páginas das revistas, por sobre este os móveis de plástico rosa, boneca e bonequinho, ao fundo o altar coberto com as sedas, um corpo de mulher sobre o salto, roupas que transfiguram o corpo natural, traz nas mãos assim como um buquê de noiva os objetos da rotina caseira – rodo, vassoura e pá, em miniatura. Coloco-me ali e peço aos obscênicos que destruam aquela imagem. Meu pedido é sincero, mas ainda não tem a força suficiente para passar de desejo a realização. Este é um ponto de reflexão do experimento.
A senhora que falava com os meninos que ali habitam vem para ver o que se passa. Num primeiro momento usa o escudo da religião para nos falar. Depois relaciona com a morte da menina Eloá. Ela se aproxima do meu corpo, tenta ler a faixa do ‘dia das mães’ que trago entre os dentes. Já babo. Ela levanta a calcinha sobre meus olhos, mas uma senhora branca e pequeno burguesa se intromete: _ não mexe não que ela é estudante de teatro, isso é arte. Que merda, penso eu. Quando ia conseguir a reação desejada essa estúpida me atrapalha, mas enfim, é o outro lado da moeda não é mesmo?!
A polícia passa.
Há incômodo entre os que estão a me olhar, a ‘macumba’ é sempre a culpada de nossos atos obscênicos, engraçado isso.
Continuo ali. Lica já me jogou água. Nina retirou o buque das minhas mãos, Joyce mandou água na casinha. Um rapaz muito ligeiro chutou o castelinho!!!
Continuo ali.
Frio.
Já não sinto direito os braços, estáticos. Essa sensação de inércia é muito boa. As pessoas me perguntam o que faço ali. Não há o que falar. Simplesmente estou.
Um moço de roupa social achou que a calcinha na cabeça era a que estava na buceta, foi checar minha bunda e viu a marca da minha cueca. Fez questão de salientar para todos que eu estava com os fundos protegidos apesar da tanga sobre os olhos. Escroto.
A polícia vem novamente e pára. O moço vai até eles e dedura os meninos que ali habitam. Obviamente: batida. Seguro minha ação/situação, assim não há como os policiais serem agressivos com os meninos. As pessoas se dispersam e nós também.
Sinto-me renovada.
Sinto-me envergonhada.
Sinto-me depenada.
Sinto-me inquieta.
Há que se fazer isso mais e mais.
.SARAVÁ.

2 comentários:

meninamulher disse...

gostei do blog,das imformaçoes...bj day
souumhomemdepaixoes.zip.net

Walmir disse...

Olha aí, mana, que esse caminho da Obscênica encontra com as ressonâncias do caminho dos funkeiros, mais ainda, da mulheres do funk. A mulher que vc falou - a burguesíssima que protege as artes - tem contra-espelho num depoimento da moça Raquel em documentário da Denise Garcia sobre o funk carioca: "Pras mulheres e pros homens também, né, porque, no caso dos homens, chega e fala para as mulé, chega e fala “Ah, vamus ali”. As mulé antigamente, antigamente antes de surgir o funk, ia numa boa, aceitava, vamos no meu prédio, vai e assim tava indo, agora surgino o funk, não. Especialmente a música da Tati, que está dizendo muita coisa, alertando as mulheres".
Acho bonita a resistência-escracho do funk, principalmente das funkeiras. E, ainda mais, vejo com gosto e desgosto que, embora a grande mídia não contemple o funk e o considere como ante-sala de droga e criminalidade, se você for ao trio-fino Morumbi/Barra/Mangabeiras vai ouvir o funk rompendo a noite, todas as noite.
OLHAÍ A tATI:
Tapinha atrás tapa na frente - Tati Quebra Barraco

O homem é assim pensa que é o rei da malandragem
meu negocio é papo reto você quer é sacanagem
Fala até demais do meu jeito de agir
ja cansei de ser otária a Tati tem que reagir
Nós mulheres somos assim não damos ponto sem o nó
ja arrumei mais um jeitinho pra tudo ficar melhor
Escute a minha forma pra você ficar comigo
você finge que me ama e eu finjo que acredito
Tapa na frente tapinha atrás ai gatinho ta bom de mais
Tapa na frente tapinha atrás ai gatinho ta bom de mais
Tapinha atrás tapa na frente que jeitinho envolvente.

pAZ E BOM HUMOR SEMPRE, MANA
Walmir
http://walmir.carvalho.zip.net