agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

domingo, novembro 02, 2008

sobre a educação da mulher

Debaixo do viaduto Santa Tereza algo acontece. São sete horas da noite e pessoas vão chegando com baldes cheios de água. Uma mulher recebe os baldes e os coloca num semicírculo, em torno de um poste. Páginas de revista. Mulheres nuas, arreganhadas. Significado de nomes para o bebê. Cuidados com a gravidez. Peças de tricô. A mulher constrói um tapete. Depois um altar. Uma nave. Sobre as páginas, miniaturas de objetos do lar: mesas, cadeiras, panelas. Tudo nesse universo do Mercado da buceta, o experimento da obscênica Erica, é rosa. Brinquedos de menina já numa construção da mulher.
Em frente ao tapete, um caixote de madeira, desses de mercado. Ela finaliza seu ritual. Sobre a roupa que veste outras roupas nas quais não cabe. Essa mulher de corpo apertado martirizado "enroupado" sobe em seu pedestal de mãe mulher, nas mãos uma vassourinha, um rodinho e uma pazinha. Brinquedos de menina. Debaixo do viaduto Santa Tereza, às sete horas da noite, sobre um caixote de feira, sobre um salto. Um altar. Ela pede que destruamos a imagem. Difícil tocar nela. Mais fácil destruir os objetos. Mas algo acontece.
Aproxima-se desse altar uma senhora de rua a quem inquieta essa imagem meio nossa senhora meio santo de terreiro com aquela calcinha cobrindo a cabeça. A senhora, Celina, diz “é coisa de quem não tem deus”. Ah, a senhora Celina... gloriosa intervenção no rumo dessa ação provocativa. Ela se incomoda, avança, toca, interroga, provoca e é provocada. Mas sua ação também incomoda as certezas de uma senhora burguesa que está tentando entender e mastigar tudo isso. Celina toca, avança a mão sobre a cabeça da atriz, a calcinha a deixando inquieta. A outra, a senhora burguesa, parece também ter ímpetos de ação que se diluem na sugestão de chamar a televisão e tentativas de ordenação “Não toca, você está atrapalhando. Não está vendo que é arte?” “A senhora podia ter pelo menos educação e me chamar num canto se queria falar comigo”, responde Celina altaneira.
Ah, gloriosa Celina... Também saio de lá provocada, desejosa.
Baby dolls.

Nina Caetano

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